sexta-feira, 23 de abril de 2010

Capitulo treze - Segunda Temporada.

Achados e Perdidos.



--- E ele me viu e entrou no carro! Ele sabia que eu estava alí e entrou no carro! Se isso fosse um culto satanico, ele estaria escolhendo a mão esquerda!
Mick e Peter se entreolharam. As palavras cultos satanicos saíram de forma esquisita da boca de Arthur.
--- Pois é, mão esquerda. --- disse Mick, terminando de beber seu capuccino.
Peter deu os ombros.
--- E o que você esperava, Arthur? Que ele corresse para seus braços e te beijasse?
Arthur franzil a testa.
--- Foi ontem a operação onde você retirou seu coração e o substituiu por um cubo de gelo? Só pra saber --- disse Mick, também meio confuso pelo tom adotado por Peter.
--- Arthur, essa é a escolha dele. É a forma que ele encontrou de sair dessa vida. Ele não está alí por que ele goste.
--- É pra pagar a faculdade e blá blá blá --- Arthur imitou, com a mão, uma boca abrindo e fechando repetidas vezes.
Peter balançou a cabeça positivamente.
--- Eu... Eu queria ajuda-lo. Eu poderia conseguir um esmprego para ele. --- Arthur parecia esperançoso.
--- Claro, por que um barista tem... --- Mick se interrompeu por causa de uma pessoa que havia acabado de passar pela porta, fazendo o sino acima dela soar.
--- Eu acho que poderia conseguir alguma coisa pra ele na... Arthur?
Peter também tinha reparado que alguem entrara no café, mas não dera importancia. Apenas notou quem havia entrado quando viu Mick e Arthur vidrados na pessoa que estava parado á poucos metros de distancia.
Peter o encarou, e a leve recordação assaltou-lhe a mente. Elevador da ArtDeco. C. Macfadyen.
Arthur estava sem palavras. Colin era a ultima pessoa que ele esperava aparecer alí.
--- Hey, Tom, ou Colin... E aí? Capuccino? --- Mick já havia voltado ao estado normal, e se incomodou com o estranho silencio que se instalara no café.
Colin sorriu.
--- Eu não como nada de manhã, mas obrigado. --- disse, recusando a bebida.
Ele olhou para Peter, e também lembrou de quando havia encontrado-o dentro do Elevador.
--- Sr. Calledon, olá.
Peter estranhou a maneira formal que havia sido chamado. Não estava na empresa, e Colin não era um funcionário.
--- Peter --- corriugiu Peter.
--- Não, Colin --- brincou Colin.
--- Não --- Peter estava se atrapalhando --- Mim Peter.
Mick o encarou-o.
--- Mim Peter? Qual a sua tribo? Viados do canavial?
Colin sorriu com o comentário, e se sentiu mais á vontade. Quase inteiramente á vontade. O olhar indagador de Arthur o deixava meio sem geito. Ele cruzou os dedos sobre a barriga.
--- O que está fazendo aqui? --- disse Arthur, saindo do seu transe.
--- Mick, olha a hora. --- disse Peter, consultando o relógio --- Temos tanta coisa pra fazer antes das onze horas! Temos que escolher as cortinas do seu apartamento.
Mick não sacou o código.
--- Mas ainda são nove e meia.
--- Por isso mesmo --- disse Peter, se levantando --- Escolher cortinas é uma experiencia única, inovadora. Não podemos perder tempo.
Peter beslicou a perna de Mick, que estava de bermudas.
--- PORRA PETER, POR QUE... Ah sim, cortinas, claro. Eu quero azuis celeste pra combinar com a tevê de plasma que você vai me dar.
Peter revirou os olhos. Mick estava crente que ia ganhar uma tevê de plasma.
--- Hãã... Me liga depois, Art. --- disse Mick, imitando um telefone com os dedos.
Peter sorriu e foi em direção á porta. Deu três tapinhas de leve no ombro de Colin quando passou por ele.
Mike parou e deu um abraço em Colin.
--- Que bom que voltou --- disse ele, enquanto saía pela porta.
Colin sorriu e agradeceu. Em seguida, olhou nos olhos de Arthur.
--- Seria bom se eu voltasse --- disse ele, com um sorriso melancólico.




As palavras do medico ainda soavam frias na mente de Will.
Debilitado como ele está, o coma é algo inevitável...
E realmente foi. Seth não aguentava tanta medicação, e foi colocado na unidade de terapia intensiva.
Will não sabia, mas Mark dissera á Peter que o estado de Seth não era nada bom.
O cancer está muito avançado, disse ele, Se ele aguentar mais duas semanas, será muito.
Duas semanas, pensou Peter.
Ou menos do que isso.
Will estava sentado na cadeira ao lado da cama de Seth.
Seth tinha uma expressão tranquila. Se não fosse pelas agulhas introvenosas ligados ao seu braço, poderia se dizer que Seth estava dormindo tranquilamente.
Três batidas na porta cortaram o silencio.
--- Oi --- disse Mick, entrando no quarto.
Will esbolsou um sorriso.
--- Pode entrar --- disse ele, e indicando a cadeira ao seu lado.
Mick sentou-se e colocou a mão no joelho de Will.
--- E ae rapaz... Suave na nave? De boa na lagoa?
Will franziu a testa com as novas palavras que Mick havia aprendido.
--- Só pra descontrair --- disse Mick, explicando-se --- Hospitais são tão...
--- Aterrorizantes? Horrendos?
--- Pesados, talvez. A sensação de desesperança é sufocante.
Will voltou á olhar para Seth.
--- Você nem faz idéia.
Mick entendeu o que Will queria dizer, e passou o braço em volta dos ombros.
--- Você vai ficar bem. Você já comeu?
--- Bebi um pouco de café, não tenho fome.
--- Por falar em café, Colin voltou.
Will respondeu sem tirar os olhos de Seth.
--- De vez?
--- Acho que sim --- disse Mick, sorrindo.
Will deu os ombros.
--- Um volta, outro vai. Você compra um apartamento, Peter e Luigi planejam ir viajar. Quando foi que nossas vidas viraram a sessão de achados e perdidos?
Mick apoiou a cabeça no ombro de Will.
--- Ninguem está perdido.
O sorriso melancólico apareceu na face de Will.
--- Tem certeza? Nem todos pensam assim. Esses médicos me olham de forma desanimadora. Por mais que o pai do Peter seja um bom profissional, ele não consegue tirar aquela expressão do rosto.
--- Que expressão?
--- A expressão de "Quando o carro funenário vai chegar? Temos que desocupar esse quarto"
Mick sorriu sem humor algum.
--- Não é assim. Não vai ser assim.
Com um olhar penetrante, Will perguntou á Mick.
--- Não vai?
Mick ficou em silencio, sem saber o que responder.




peetcallendon diz:
E aí, como foi o sexo de reconciliação???

Arthur viu a janela de Peter se abrir na tela do seu computador. Já era mais de onze horas, e para se distrair, Arthur resolveu fazer login no programa de mensagens instantaneas.

Art.changeyourshoes diz:
Não houve sexo. Não ouve nada. Nunca houve, para falar a verdade.

peetcalledon diz:
...

Arthur não responder. Peter tentou de novo.

peetcalledon diz:
Então pra que ele foi lá hoje de manhã?

Art.changeyourshoes diz:
Só pra me dar esperança, e depois toma-la. E para me explicar quem era o cara barrigudo que eu vi dentro do carro naquela noite.

peetcalledon diz:
E quem era ?

Art.changeyourshoes diz:
O melhor cliente dele. Segundo Colin, ele o faz sentir uma pessoa especial.

peetcallendon diz:
Coisa que vocÊ poderia fazer também.

Art.changeyourshoes diz:
Foi exatamente o que eu disse! Adivinha o que ele respondeu...

peetcalledon diz:
Você saber que eu sou péssimo para advinhações ¬¬'

Art.changeyourshoes diz:
Ele disse que eu não posso pagar a faculdade dele.

Uma mensagem, que não era nem de Peter nem de Luigi, apareceu no meio da conversa.
" Lui W. acaba de ser inserido na conversa "

Art.changeyourshoes diz:
Luigi?

Lui W. diz:
Oi Art. Peter já me colocou á par da situação =/
Oi Amor! ^^

peetcalledon diz:
Oi querido! *_*

Art.changeyourshoes diz:
Legal. Eu conversando com um casal feliz ¬¬'

peetcalledon diz.
UHAUHAUAHUAHAUHAUHAUHAUHA.

Lui W. diz:
paokspoakspoakspokapskakspakspakspakp.

Art.changeyourshoes diz:
* suspiro *

Lui W. diz:
Cara, entenda o que ele quis dizer! Não que ele não possa te fazer feliz, é só que ele quer se formar na universidade.

Art.changeyourshoes diz:
Eu poderia ajuda-lo.

Lui W diz:
Como? Você acha que ele ia querer ser sustentado por você?

Art.changeyourshoes diz:
O Peter te sustenta.

Lui W diz:
O.o

peetcalledon diz:
O_o
Como é que é?

Arthur passou a mão nos cabelos e suspirou fundo.
Olhou para a tela e respondeu.

Art.changeyourshoes diz:
Gente, não quero brigar com vocês. Vou sair.

peetcalledon diz:
Aonde vc vai?

Mas Peter ficou sem resposta. O programa de mensagem enviou a seguinte mensagem para Peter e Luigi.

" Art.changeyourshoes abandonou esta conversa. "

Luigi ficou olhando para a tela do laptop que estava pousado nas suas pernas esticadas na cama. Olhou para Peter, ao seu lado, na mesma posição.
--- Você não me sustenta, não é?
Peter olhou para Luigi, sem saber o que dizer.
--- Hã... Não, ué. Digo, temos...
--- Empregos e recebemos...
--- Nosso dinheiro indi...
--- Individualmente. É.
--- É. --- disse Peter, dando um ponto final na conversa.


Nem Arthur sabia o que estava fazendo alí. A idéia de sair de casa para espairecer parecia boa, mas ele não precisava estar exatamente alí.
Meses atrás. A chuva caía do ceu como um balde sendo virado de cabeça para baixo. Pensamentos diversos. E de repente, um jovem nos seus braços, fugindo de um perigo eminente, com o sangue fluindo da sua pele como agua saindo de uma mangueira de borracha.
Um trovão de assustar ecoou na rua, seguido de uma chuva imprevista. Em poucos segundos, o cabelo de Arthur estava colado na sua testa.
Ótimo. Só falta o garoto de programa. Espero que esse não esteja fazendo faculdade.
Arthur deu meia volta, na intenção de voltar para casa.
Apenas na intenção.
Do outro lado da rua, estava ele. Vestido com sua "roupa de trabalho". Sua camisa não estava molhada graças ao forro do sobretudo que protegia Colin.
Colin atravessou a rua sem saber o porque. Talvez ambos soubessem, Arthur e Colin, que eles estavam predestinados á ter algo muito maior do que imaginavam.
Segundos que parecem horas. Tomando uma atitude, Arthur caminhou decidido até Colin, parado á dois metros á sua frente.
Passou direto por ele, olhando para o chão. Para que palavras repetidas, se o sofrimento causado seria o mesmo? Qual a graça em sentir a dor de uma perda de algo que se nunca teve?
--- Hei --- disse Colin, virando-se para Arthur.
Arthur continuou andando.
--- É assim então? O cara que salva minha vida se torna um completo estranho?
Arthur parou de andar e se virou para ele.
--- Você escolheu isso. Você decidiu como as coisas iam ser. Bom, agora asssita o show.
O cabelo de Colin começava á atrapalhar sua visão.
--- Eu escolhi isso?! Acha que se eu tivesse mais opções, eu não faria a escolha certa?!
--- Você tem mais opções, Colin! Você pode...!
--- Posso o que? --- disse Colin, interrompendo Arthur --- Quais as minhas escolhas? Viver nesse seu mundinho perfeito, onde tudo é azul? Andar com seus amigos legais? Ir com vocês na Times e dançar á noite inteira? Planejar viagens á lugares onde os seus cartões de crédito de Ouro, Diamante e Platina são aceitos? É essa a escolha que eu tenho?
As meias de Arthur já estavam completamente ensopadas. Mas ele nem se importava. Ele se aproximou de Colin, ficando á centimetros do seu rosto.
--- É uma opção. Você pode tambem aceitar a ajuda deles. A minha ajuda. Você pode ter o que você quer ter, mas não precisa pegar o caminho mais dificil.
Colin abriu a boca para protestar, mas faltaram-lhe as palavras certas. Sem perceber, seu nariz se inclinou para frente, tocando o nariz de Arthur.
--- Isso não...
Colin foi interrompido pelo som estridente e irritante de uma buzina de carro. O volvo vermelho parou á uns metros deles.
--- Tenho que ir --- disse Colin, separando seu nariz do de Arthur.
--- Não tem não --- disse Arthur, passando a mão em seu pescoço.
Num movimento rápido, Colin deu um beijo rápido nos lábios de Arthur. Foi como se seu corpo tivesse sido conectado á um cabo de energia elétrica.
De olhos abertos, Arthur viu Colin entrar no carro sem olhar para trás.



Peter estava deitado de costas para Luigi, segurando seus braços diante do seu peito. Respirava levemente, pois o braço de Luigi não fazia peso em seu peito.
O celular de Peter começou a vibrar em cima do criado mudo. Andava sózinho pelo móvel, fazendo barulho quando se mechia.
Relutante, Peter abriu os olhos e tentou focalizar o visor do aparelho.
Era seu pai. Aquilo não significava boa coisa.
--- Pai? o que que foi?
Mark parecia cauteloso.
--- Venha para o hospital.
Peter se libertou do braço de Luigi e sentou no cama.
--- Ai meu Deus... Pai?
--- Calma Peter. Ele ainda está aqui. Só que... Não por muito tempo. Venha depressa, sim?
Peter ouviu o telefone ser desligado, e ficou sentado durante uns segundos.
Luigi acordou e acendeu o abajur.
--- O que foi? Quem era?
Peter se virou mecanicamente para Luigi.
--- Meu pai.
O olhar de Peter já dizia tudo.
--- Vou pegar as chaves do carro --- disse ele, se levantando da cama e saindo do quarto.



Deitado no sofá sem sono algum, a mente de Arthur era um espaço vazio. Ele já devia estar cançado daquela situação. Para ele, relacionamentos não deviam ser tão dificeis assim. Por alguns minutos, ele considerou que ser heterossexual devia ser mais fácil. Ou no mínimo bissexual.
A campanhia da porta o tirou de seus devaneios temporários. Sem humor algum, Arthur se levantou do sofá para ver quem era.
Não acreditava no que via. Colin estava encharcado por causa da chuva, como se tivesse acabado de sair de uma piscina.
--- Errr... o que? --- Arthur tentou formar uma frase, mas as palavras não saíam da sua boca por causa do espanto.
Colin sorriu sem graça.
--- Eu estava lá com o cara e... Sei lá, resolvi pegar o caminho mais fácil. Não sei se vai dar certo, não sei se vou me arrepender depois, mas... É sempre uma opção aceitável.
Uma sensação de paz começou a invadir Arthur. Ele sorriu, sem saber o que dizer.
--- E tambem eu já estou cansado disso. Cansado de dormir com homens desconhecidos. Agora eu aquero apenas um homem.
Arthur enconstou a cabeça na porta, sorrindo.
--- Era exatamente isso que eu queria ouvir.
Colin sorriu, e depois olhou para a propria roupa.
--- Então... Vai me deixar do lado de fora por quanto tempo? Não que esteja ruim, mas né... hehehe.
Inesperadamente, Arthur pegou-o pelo pulso, fazendo-o adentrar na casa.
Como se os dois tivessem esperado aquilo por muito tempo, seus lábios se encontraram numa união que os uniu de forma significativa. Estranhamente, cada um conhecia intimamente os lábios um do outro. Eles se completavam como se tivessem ensaiado aquele momento há muito tempo atrás.
Mesmo com Colin todo molhado, Arthur o puxou para si, segurando-o pela cintura, enquanto Colin passava seus braços por atrás do pescoço de Arthur.
Pararam durante um momento. Sentiram que era aquilo que ambos mais queriam.
--- Apenas um homem --- disse Colin, baixinho --- Apenas você.
Foi o que bastou. Nem eles souberam quanto tempo havia se passado, mas em poucos segundos, eles estavam no quarto, descobrindo o corpo um do outro.
A chuva amenizou, se tornando apenas uma garoa fina.
Para alguns. De manhã, do outro lado da cidade, começava uma tempestade devastadora, que chegava e levava o coração de uma pessoa para o fundo do oceano.



Parados no corredor branco, Peter, Luigi e Mick não diziam nada. Estavam em pé, como se estivessem paralisados.
O coração dele não aguentou a perda de tanto sangue, dissera Mick. Não podemos fazer nada. Desculpe-me filho.
As palavras ainda ecoavam na mente de Peter.
Mas pior do que palavras, são as imagens. Se uma imagem vale por mil palavras, Peter preferia ser cego.
A imagem de uma enfermeira cobrindo o corpo sem vida de Seth foi demais para ele. A frieza demonstrada pela enfermeira era parecida com um açougueiro pegando um pedaço de carne.
Mick e Luigi perceberam que Peter não estava em seu estado normal. Pálido demais. Quieto demais. Juntos, os dois foram para o lado de Peter.
Peter olhou para eles e não disse nada.
A porta do corredor se abriu violentamente. Will entrava olhando para além dos amigos, como se esperasse encontrar Seth alí, com vida.
Peter foi ao seu encontro.
--- Will...
Mas Will não via Peter. Só deu atenção á ele quando Peter o segurou pelos pulsos.
--- Não Will, não vá lá.
Parecia que Will ia ter um ataque a qualquer momento.
--- Ainda dá tempo, Peter! Ainda dá tempo de ir lá e...
O olhar de Peter o calou.
--- Não dá mais tempo. Ele... Ele já está dormindo.
Will tentava se soltar de Peter, mas não conseguia. Peter o segurava pelos pulsos e bloqueava a passagem.
Luigi e Mick se aproximaram cautelosos.
--- Não, vocês não entendem! Ainda há tempo para... Me solta Peter!
Peter começava a apertar o pulso de Will mais fortemente. Aquela não era a hora para Will sair correndo descontroladamente pelo hospital.
--- Vocês não sabem de nada! --- disse ele, gritando em plenos pulmões --- Peter, eu ainda sei que dá tempo...
Sem perceber, os joelhos de Will dobraram, de encontro ao chão.
Não podia mais conter as lágrimas. E pior, não podia mais enganar a si mesmo.
Entregou-se a dor. Deixou-a inundar seu coração, afogando todos os sentimentos mais verdadeiros que guardava.
Não sentia mais Peter segurando pelos pulsos. Não sentia mais nada á sua volta.
Sua mente parecia ter se desligado.
Will ficou á deriva. O oceano escuro e frio e puxava para baixo, e ele não fazia o menor esforço para subir até a margem.
Se desligou de tudo. Não tinha coragem de voltar.

Capitulo doze - Segunda Temporada.

--- Não sei porque eu ainda leio o jornal --- disse Luigi, jogando o maço de folhas em cima da mesa --- Sempre a mesma coisa! Fome, morte, lipoaspiração que não dá certo, a Angelina adotando mais uma criança africana. É sempre a mesma coisa!
Peter bocejou alto esticou os braços.
--- Leia a sessão de eventos. Sempre tem coisa legal.
Luigi revirou os olhos.
--- Claro. Alguma milionária leiloando suas jóias, ou alguma galeria de arte sendo inaugurada.
Peter se levantou e ficou atrás de Luigi, com as mãos em seu ombros.
--- Você está estressado. Não dormiu bem?
Luigi deu os ombros.
--- Só estou cansado. Tenho trabalhado demais, acho que estou deixando algumas coisas passarem.
--- Você gosta de fazer um bom trabalho, por isso está sempre trabalhando. Devia relaxar um pouco.
--- Amor, eu trabalho numa revista de moda. Não dá pra relaxar. Você só trabalha algumas vezes por semana, então pode descançar o quanto quiser.
Peter revirou os olhos e tirou as mãos dos ombros de Luigi, e se afastou.
--- Pelo menos eu não estou deixando nada passar --- disse Peter, resmungando, e saindo da cozinha.
Luigi correu até ele.
--- Peet, não foi isso que eu quis dizer, você sabe.
--- Tá.
Peter ia subindo as escadas, e de repente teve uma idéia.
--- Já sei. Vamos fazer uma coisa que faz tempos que não fazemos. Vamos viajar.
Luigi inclinou a cabeça.
--- Claro. Podemos ficar um ano viajando. E quando voltarmos, vamos enfiar palitos de dentes em nossas unhas --- Luigi se virou e voltou para a cozinha.
Peter desceu as escadas e foi atrás dele.
--- Luigi, pense. Três semanas em Nova York, só eu e você. Eu, você e o Tio Sam.
Luigi começou a rir.
--- Tá falando sério?
Peter foi até ele e abraçou-o.
--- Seríssimo. Quanto tempo faz que não passamos um tempo juntos?
--- Não faz muito tempo.
--- Só eu e você. Sem ninguem.
Luigi pensou tempo demais.
--- Viu? Demorou pra responder.
Luigi sorriu e deu um beijo em Peter.
--- Mas e seu trabalho? E o meu trabalho?
--- Eu posso falar com o Christopher, uma jogada de cabelo e um piscar de olhos.
--- Que linda.
--- E você --- continuou Peter --- Fale com Vittoria. Faz tempo que você não tira férias.
Luigi estava começando a ceder.
--- Nova York?
--- Sim.
--- Four Seasons?
Peter deu os ombros e fez pouco caso.
--- Pode ser. Suíte de luxo?
Luigi sorriu.
--- E champanhe. Vamos torrar nosso dinheiro.
Enquanto eles davam risada, Mick entrou pela porta da frente.
Estava animado.
--- Amores, amores, amores. Me ajudem a fazer as malas.
Peter e Luigi se entreolharam.
--- Aonde você vai?
--- Bom, á algumas semanas eu tenho procurando um apartamento. E achei. Me mudo amanhã.
Peter franziu a testa.
--- Vai sair daqui? Vai morar sózinho?
--- Claro, querido! Achou que eu ia ficar morando com vocês pra sempre?
Eu tinha certeza, pensou Luigi.
--- Ual, Mick, que legal. Parabens! --- Peter deu um abraço nele.
--- Obrigado Peet. Agora a melhor parte: Adivinha quem vai decora-lo?
Peter deu os ombros, esperando a resposta.
Mick olhava fixamente para ele. Luigi também.
--- Você, genio --- Luigi soprou em seu ouvido.
Peter olhou significativamente para Luigi. E Luigi deu os ombros.
--- Claro. Será um prazer --- disse Peter, forçando um sorriso.



Uma hora depois, Mick, Peter e Luigi subiam as escadas do prédio que ficava no centro da cidade. Era um prédio antigo, mas tinha seu charme.
Mick abriu a porta para eles entrarem, e a mente de Peter começou a trabalhar.
Não era muito grande. A porta de entrada dava direto para a sala. No canto da sala havia outra porta, que dava para os quartos. No corredor do quartos havia uma entrada para a cozinha e para a lavanderia. E havia ainda, na sala, uma varanda bem simpática, com uma altura bem generosa. Pena que o centro da cidade não é famoso por ser colorido. Olhando pela janela, se via apenas o cinza e outras cores em tons escuros.
--- É simpático --- disse Luigi, encostado na parede.
--- Uma graça --- disse Peter --- Quando você quer que eu comece?
Mick nem precisou pensar --- já tinha tudo em mente.
--- Eu me mudo amanhã, então pode começar depois de amanhã. Eu peguei essas fotos para você ter uma idéia.
Mick pegou de dentro de uma caixa algumas folhas de revistas e entregou á Peter.
Peter abaixou as sobrancelhas.
--- Mick, isso é meio dificil de fazer.
Peter levantou as folhas, e Mick percebeu que havia entregado uma porção de fotos de homens nús.
--- Hehehe, que coisa --- ele sorriu meio constrangido --- São as folhas erradas --- ele enfiou a mão na caixa e pegou outras folhas. Desta vez ele conferiu.
--- Sim... Bom... --- Peter estava vendo as fotos --- Dá pra fazer. Em... Cinco ou seis dias eu termino.
Mick sorriu positivamente e agradeceu.



--- Então, é bye bye pro Four Seasons?
Peter estava dirigindo, e não olhou para Luigi quando respondeu.
--- Lógico que não. São só cinco dias de diferença.
--- Humpf --- Luigi puxou os lábios para o canto do rosto e cruzou os braços.
Peter suspirou fundo.
--- Vai ficar com essa cara mesmo?
--- Não estou a fim de falar, tudo bem?
Peter revirou os olhos.
--- Ótimo.
E assim eles seguiram durante o caminho de volta para casa.




O porteiro sorriu prestativamente quando avistou o carro prata de Luigi se aproximando da janela da portaria.
--- Senhor Peter, boa tarde.
Peter parou o carro e cumprimentou-o.
--- Boa tarde --- disse ele sem animo algum.
--- O senhor tem visitas. Um cara alto, branco igual algodão, careca.
Peter e Luigi se entreolharam.
Seth, pensaram.
--- Ele está acompanhado?
--- Não não --- disse o homem --- está sozinho.
Peter balançou a cabeça positivamente e sorriu.
--- Seth sózinho? Por que Will não está com ele?
Luigi deu os ombros.
--- Não sei --- disse ele, seco.
--- Tá com raiva ainda de não podermos viajar durante a proxima semana?
--- Eu só não entendo com que rapidez você muda todos os seus planos por causa de Mick.
Eles chegaram em frente a casa.
--- Então estamos discutindo por causa de Mick? --- Peter perguntou, ironico.
--- Não estamos brigando.
--- Transando também é o que não estamos fazendo, Luigi.
Luigi virou a cabeça para Peter, mas não disse nada. Soltou seu cinto de segurança e pulou para fora.
Peter ainda estava com as mãos no volante, tentando entender o comportamento estranho de Luigi.
Luigi já tinha 25 anos, não é mais uma criança para se comportar desse geito.
E porque essa implicancia com Mick? Ainda? Mick ia sair da casa, Luigi devia estar feliz com isso.
Peter saiu do carro, e quando subiu os degraus até a porta, começou a falar alto.
--- Olha, eu não sei o que deu em você hoje, mas eu acho melhor...
Peter parou atrás de Luigi.
A mesa de centro estava fora de lugar, assim como o abajur, que estava destruido no chão. Misturado com os vidros do abajur, outros cacos cortantes estavam ao chão --- uns do abajur, outros do tampo da mesa de centro, e outros de... Um porta retrato?
Mas não foi isso que chamou a atenção dos dois.
Seth estava em posição fetal, segurando uma foto de Peter e Luigi, cheio de sangue no rosto. Seus cabelos estavam grudados em sua testa com uma tinta vermelha. Ao seu redor, uma poça de sangue fazia um circulo imperfeito.
Peter correu até Seth, e nem percebeu que seu par de All Star branco haviam ganhado uma nova cor.
--- Ligue pra emergencia! --- disse Peter, desesperado.
Luigi foi até o telefone e discou o numero. Poucos minutos depois, uma voz feminina atendia.
Luigi berrava ao telefone.
--- Uma ambulancia, pelo amor de Deus!



Só existe um local mais deprimente do que a sala de espera de um hospital: A sala de velório. Apesar de numa sala de espera tudo ser em tons de azul e branco, com fotos de enfermeiras com o dedo indicador sobre os lábios pedindo silencio, o ar do local inspirava infelicidade. Era uma sensação estranha que habiatava aqueles lugares.
Peter estava com os cotovelos apoiados nos joelhos, sentado numa cadeira. Luigi, ao seu lado, olhava para o outro lado, com o tronco encostado na parede, e com as pernas esticadas.
A cena de Seth deitado em posição fetal, coberto de sangue, assombrava as mentes de Peter e de Luigi. Parecia que eles haviam participado de um filme de serial killers barato.
--- Ligou para o Will? --- disse Luigi, cortando o silencio.
Um médico passou arrastando uma maca vazia.
--- Sim. Já deve estar vindo. Ele estava no Archier com Arthur.
Luigi concordou e voltou á ficar em silencio.
Minutos depois, Will entrava na sala de espera com passos rápidos, quase marchando, com Arthur no seu encalço.
Seus olhos mostravam o mais profundo desespero humano.
--- Onde ele está?! Eu quero ve-lo! --- Gritava ele, metros de distancia de Peter e Luigi.
Peter se levantou e foi de encontro com Will, que estava desesperado.
--- Will, me escute...
--- Aonde ele esta? Peter, cade ele?
Peter segurou Will pelos pulsos, tentando acalma-lo.
--- Me solte, Peter! Onde está Seth?!
Arthur estava atrás dele, com as mãos em seus ombros.
--- Fale baixo, Will --- disse ele.
Will nem escutou. Seus olhos estavam colados em Peter e Luigi.
--- Ele estava na sua casa? Fazendo o que?
--- Não sabemos --- disse Luigi, ficando ao lado de Peter --- Quando chegamos ele estava...
Peter fuzilou Luigi com os olhos.
--- Ele vai ficar bem, Will, meu pai está cuidando dele, garanto que ele terá o melhor atendimento possivel.
Aquelas palavras pareceram deixar Will mais calmo. Mas logo seus olhos fixaram-se atrás dos ombros de Peter, onde um médico alto de cabelos grisalhos olhava para eles.
Mark andava calmamente, segurando uma prancheta nas mãos.
--- Ai meu Deus --- disse Will, temendo o pior.
Mark se aproximou deles, e disse calmamente.
--- Meninos --- ele comprimentou.
--- Pai --- disse Peter.
--- Senhor Mark, ele vai ficar bem? --- Will quase não segurava as palavras em sua boca.
Mark deu uma olhada na prancheta que carregava.
--- Sinceramente, não sei dizer. Seth sofreu de Sindrome Anemica, que é caracterizada pelo aceleramento dos batimentos cardíacos. E sofreu também de Sindrome Hemorragica, onde o sangue geralmente escorre pelo nariz. Juntando os dois... Seth perdeu muito sangue.
A imagem do circulo de sangue passou pela mente de Luigi como um lampejo.
--- Mas, mas, ele... Ele vai melhorar, não vai?
Peter viu o peso que seu pai carregava, e afagou-lhe o ombro.
--- Will, Seth está muito debilitado --- disse Mark --- Está muito fraco e perdeu muito sangue.
Will passou a mão pelos cabelos, e sentou numa cadeira proxima.
--- Não pode ser --- disse ele, baixinho.
--- Pai --- disse Peter --- Qual o estado dele agora?
Mark olhou para Will, cauteloso.
--- Ele está dormindo, e recebendo sangue. Coloquei uma enfermeira para ficar com ele durante toda a noite.
--- Mas está estável?
--- No momento, sim. Mas se ele não ficar bom logo, os outro dois estágios terão mais chances de se manifestarem.
Will colocou as mãos nas orelhas, querendo não ouvir aquilo.
Mark olhou signicativamente para Peter, que entendeu o recado.
Peter se lembrava que a Leucemia era caracterizada por quatro estágios --- e Seth já passara por dois.
Há mais dois, pensou ele, sem esperanças.
--- William, farei o que for possivel para ajudar seu companheiro. Mas agora eu peço que você vá pra casa descançar.
Will olhou para o médico, e aquiesceu.
Mark deu um beijo em Peter, se despediu dos outros meninos e voltou para sua sala.


Depois de insistirem por uns 20 minutos para que Will fosse para casa de Peter e Luigi, ele aceitou. A idéia de ficar sózinho novamente parecia assustadora.
Enquanto caminhavam pelo gramado que rodeava a entrada, eles viram Mick se aproximar rapidamente.
Assim que Will o viu, correu para seus braços, procurando orientação.
Mick começou a dizer alguma coisa á Will, bem baixo, em seu ouvido.
--- Estão com fome? --- disse Arthur.
Todos fizeram que "sim" com a cabeça.
Arthur enfiou a mão no bolso e achou o que procurava.
--- Vamos pro Archier --- disse ele, sentindo o peso das chaves em seu bolso.
Mick e Arthur foram no carro de Will. Arthur teve que dirigir, pois parecia que Will estava longe deste mundo.
Peter e Luigi foram sózinhos no carro prata.
Depois de uns minutos em silencio, Peter disse, sem olhar para Luigi.
--- Ainda não estamos falando sobre o assunto que não estamos falando?
Luigi, ao volante, deu uma risadinha.
--- Me deculpe --- disse ele.
Peter se virou para ele, e encarou-o.
--- Me desculpe por ser tão insuportável hoje. É que a idéia de viajar com você me deixou animado, e depois você cortou o plano... Mas...
--- Mas? --- Peter encorajou-o.
--- Mas hoje, quando eu olhei nos olhos de Will, e vi o desespero por poder estar perdendo a pessoa que se ama, eu vi como eu estava sendo idiota. Digo, Mick é seu amigo, e apenas pediu para você deixar o apartamento bonito. Desculpe por ter agido como se eu tivesse seis anos.
Peter sorriu e colocou sua mão na perna de Luigi.
--- Tudo bem. Eu prometo que posso terminar o apartamento de Mick em quatro dias. E aí seremos só nós dois no Four Season de Nova York.
Luigi sorriu e não disse mais nada.
--- Amor --- disse Peter --- Você notou que o apartamento do Mick...
--- Fica na mesma rua do nosso antigo apartamento? Foi a primeira coisa que eu notei.
Peter sorriu, nostálgico.
--- Saudades daquela época.
--- Sente falta das goteiras, do microondas que a porta não fechava, ou de ter comigo macarrão instantaneo por quase três semanas?
Peter riu alto com as lembranças.
--- Foi uma boa época --- disse ele.
--- Mas essa época tem seu charme --- disse Luigi --- Casa de dois andares, piscina, lareira.
Peter sorriu e pisou fundo no acelerador.



Depois que todos os meninos saíram do Archier, Arthur fechou o café e foi andando para casa, como sempre fazia. A noite estava agradável --- um ar frio bem leve, mas refrescante.
Arthur caminhava lentamente, com as mãos nos bolsos da calça. Tentava não pensar na cena que havia testemunhado á alguns dias atrás.
Colin, morando em um lugar estranho, fazendo sexo com dois homens. Seriam clientes? Arthur achava que Colin não fazia serviços na propria casa...
Perdido em pensamentos, andando por ruas conhecias e bem movimentadas (ele estava no point gay da cidade, onde garotos com cara de bebê disputam lugar na noite com homens musculosos e travestis de salto alto), ele andava de cabeça baixa. Teve tempos que aquela vida noturna o atraia bastante, mas não agora. Arthur já contava 36 anos, e pensava que a época de curtir a noite já havia passado.
Ele parou na calçada, o sinal estava verde para os carros.
Enquanto esperava para que o sinal fechasse, uma figura destacou-se entre os demais. Estava enconstado na parede do outro lado da rua, braços cruzados diante o peito, procurando alguem. Enquanto procurava pela pessoa, ele avistou, do outro lado da rua, Arthur, parado, encarando-o.
Colin sentiu-se constrangido. Da ultima vez que vira Arthur, Colin estava com as mãos ocupadas.
O coração de Arthur baria rapidamente. Mil pensamentos passavam feito raios em sua mente.
Um carro estacionou á uns dois metros da onde Colin estava. Um veiculo preto, com as janelas escuras e farois apagados.
Arthur percebeu que a pessoa que Colin procurava havia acabado de chegar.
Como se tivesse vida própria, a porta do acompanhante abriu-se, como se chamasse Colin.
Ele não tinha muitas escolhas, e Arthur sabia disso.
Mas por que escolher a opção errada?
Colin sorriu tristemente, e com os olhos querendo derramar sua lágrimas, caminhou até a porta e entrou dentro do carro.
As luzes do automóvel se acenderam, e o motorista deu a partida. De relance, Arthur pode ver o perfil do "cliente".
Cabelos grisalhos. Olhos severos. Barriga saliente. O típico pai de familia que curtia os prazeres da noite com jovens desconhecidos.
Enquanto o carro se afastava com os faróis acesos, Arthur ficou alí, parado, vendo um completo desconhecido levar para longe a pessoa mais importante da sua vida.