sábado, 12 de dezembro de 2009

Capitulo Cinco - Segunda Temporada.

Idas e Vindas.


Era um ensolarada manhã de sabado. O sol brilhava forte no céu sem nuvens.
Luigi praticamente corria na calçada, em direção ao Archier. O motivo da sua agonia nas ultimas três semanas havia finalmente cessado. Ou quase.
Mais um dia. Apenas um dia.
O dia seguinte era o dia em que Peter finalmente voltaria de viagem. Depois de semanas de espera, ele finalmente voltaria, e Luigi se veria longe da aflição de ficar longe do seu bem mais caro e precioso.
Quando cruzou a porta do Café e o sino soou acima da sua cabeça, sua alegria deu uma significativa diminuida.
Arthur estava atrás do balcão, olhando para o nada. Parecia estar em estado catatonico.
Will também estava lá, e nada dizia. Parecia estar compartilhando o mesmo estado de espirito do amigo.
Luigi se aproximou cautelosamente e perguntou:
--- O que houve?
Will olhou para ele e para Arthur, conjecturando se seria ele a dar a noticia.
Arthur fez que "sim" com a cabeça.
--- Colin foi embora.
--- Que pena. Mas quem é Colin?
Antes que Will pudesse responder, Arthur foi mais rápido.
--- Tom. Ele foi embora.
Luigi ainda estava pensando em Colin.
--- Tom é Colin?
--- Sim --- respondeu Will --- Colin usava o nome Tom. É o nome de guerra dele.
--- Ah sim...
Luigi olhou para Arthur --- parecia que o nome lhe causava imensa agonia. Luigi foi para trás do balcão e abraçou Arthur pelos ombros.
--- Não fique assim, querido. Dê um tempo á ele. Eu tenho certeza que ele vai voltar.
Arthur revirou os olhos.
--- Voltar? Para que? Para eu ficar limpando os cortes nas costas dele quando os travestis o agredirem novamente?
--- Não. Ele vai voltar por sua causa.
Arthur olhou para Luigi, fechou os olhos e esfregou as temporas.
--- Eu não sou você --- disse Arthur --- E Colin não é o Peter.
Luigi não teve argumentos contra isso. Luigi achava que era melhor enfrentar a dor do que camufla-la.
Ao ouvir o nome, Luigi se lembrou.
--- Ele volta hoje --- disse.
--- Peter? --- respondeu Will --- Já passaram as três semanas?
--- Já. Finalmente passaram.
Arthur levantou a cabeça e disse para eles:
--- Que legal. Colin vai, Peter volta. Quem mais vai voltar ou vai embora ainda hoje?
Will respondeu melancólico.
--- Seth volta e não volta. Volta para a vida, mas não para a minha vida.
Arthur e Luigi se entreolharam e reviraram os olhos.
Aquela ladainha de Will estava começando a deixar todo mundo cansado. Arthur tinha que ouvir que Seth tinha explicações a dar. Luigi era o alvo das perguntas que procuravam a resposta do comportamento de Seth. A sorte era que Mick não ouvia nada disso, pois Will sabia que ele não daria importancia.
Uma idéia passou pela mente de Luigi como um lampejo. Sabia que Peter o mataria, mas pra que continuar com aquele teatrinho? Will tinha direito de saber.
--- Will... O Seth está...
Ele parou no meio da frase. Seria a coisa realmente certa á fazer?
Arthur levantou a cabeça querendo prestar atenção no que Luigi ia dizer.
--- O que tem ele? --- perguntou Will.
Luigi respirou fundo e escolheu as palavras que iria dizer.
--- Ele está doente. Ele tem... --- Luigi não conseguia olhar diretamente para Will, e virou-se para Arthut --- Leucemia.
Arthur piscou diversas vezes, querendo entender o significado das palavras, e se virou para Will, prestanto atenção á sua reação.
Will franzia a testa, sua coluna estava completamente ereta e suas mãos estavam paralisadas. Seu olhar era como se visse algo impossivel de se ver.
--- Que? O que você está dizendo?
Luigi já tinha falado mesmo, não podia se calar agora.
Ele respirou fundo antes de responder.
--- Há um ano mais ou menos, ele procurou a mim e o Peter para nos contar, mas pediu...
--- OQUE?! UM ANO? VOCÊS ESTÃO ESCONDENDO ISSO DE MIM Á UM ANO?
Will não acreditava no que ouvia.
Os poucos clientes que estava no Archier se viraram em direção ao balcão quando ouviram os gritos.
--- Will, por favor, fale baixo --- pediu Arthur.
Will respirou fundo, e Luigi já estava arrependido de ter falado.
--- Ele pediu para que não te contassemos --- disse ele --- ele não queria fazer você sofrer.
Will ficou em silencio por uns dois minutos --- mas pareceu que foi uma eternidade.
Olhando para o chão, ele disse pausadamente:
--- Fale. Agora. Tudo.
Luigi olhou para Arthur, que dizia com a expressão " Conta logo, eu também quero saber "
--- Ele teve a certeza da doença semanas antes de terminar com você. Ele não tem parentes compatíveis, e não quer ficar esperando um doador. Ele não queria que você sofresse com ele, por isso terminou o relacionamento, sumiu da sua vida.
Quando Will levantou a cabeça, seus olhos mostravam a incredualidade misturada com traição.
--- Você e o Peter esconderam isso de mim durante um ano? Vocês viram eu sofrendo durante um no e não fizeram nada para impedir?
Arthur apenas assistia a cena, atonito.
--- E você queria o fizéssemos o que? " Oi Will, o Seth está morrendo, quer beber café hoje depois do trabalho? "
Will levantou do banco onde estava sentado e olhou para Luigi.
--- Vocês deviam ter me avisado! Caralho, Luigi, eu fiquei um ano me perguntando o que havia acontecido! Que porra de amigos vocês são?!
Will pegou seu casaco que estava em seu colo e o vestiu. Virou as costas e se dirigiu até a porta.
Voltou antes de chegar até ela.
--- Quer saber? Eu acho que sua relação com o Peter já deu o que tinha que dar. Se vocês ficarem juntos por mais um ano, vai ser por sorte.
Saiu praticamente correndo, e bateu a porta quanto cruzou-a.
Um pequeno risco branco de formou no vidro.
--- Está rachado? --- perguntou Arthur.
--- Eu pago outro --- disse Luigi, encarando a porta.
--- Ainda bem, porque é um vidro caríssimo.
Luigi assentiu, apesar de não ter ouvido o que Arthur dissera. Sua mente estava focado no advogado enfurecido que havia rachado o vidro de tanta raiva que ele estava sentindo.



Enquanto fechava o ziper da sua mala, Peter agradecia por estar indo embora daquele navio. Fez uma anotação mental para que nunca viajasse de cruzeiros --- a vida dentro de um navio era angustiante. As unicas coisas que ajudavam era que Peter podia sair e andar pela cidade o quanto quisesse.
Ouviu passos atrás de si e se virou. Christopher já estava pronto para ir pro aeroporto.
O clima entre eles já parecia ser mais normal, pois parecia que Christopher já tinha entendido que não ia rolar nada entre ele e Peter.
Mas Christopher sempre arrumava maneiras de demonstrar interesse. Durante aquela viagem, as tentativas de ficar com Peter foram inúmeras --- desde um simples flerte até um beijo forçado no pescoço dele.
--- E aí --- começou ele --- Ansioso para voltar para casa?
--- Mais do que nunca --- respondeu Peter, sincero --- Estou contando nos dedos.
Christopher sentou-se na cama, ao lado da mala que Peter havia acabado de fazer.
--- Então você e o... Está tudo bem estre vocês?
Peter fingiu não perceber o cuidado que Christopher estava tendo para não dizer o nome.
--- Luigi? Sim, acho que sim. Quer dizer, ele me ligou hoje de manhã, vai me buscar no aeroporto... Está tudo normal.
--- Tem certeza? Porque passar o aniversário de namoro separados não é para qualquer casal.
Peter suspirou fundo. Para que tocar naquele assunto?
--- Foi apenas um ano. Teremos mais para comemorar daqui pra frente.
--- Nunca se sabe...
Peter o encarou com olhos de impaciencia.
--- Está dizendo o que?
Christopher se levantou e foi em direção á porta do quarto.
--- Peter, nunca diga nunca. Talvez, daqui á alguns anos, você esteja com outra pessoa. Sei lá, comigo talvez.
E lá vamos nós de novo...
Peter respirou fundo e encarou Christopher mais uma vez.
--- E talvez daqui á alguns anos, você esteja morando com um cara legal. Nunca se sabe.
--- Então quer dizer que vamos morar juntos daqui uns anos? Ual, que legal.
Peter se virou rapidamente, colocou a mala de rodinhas no chão e disse, eufórico.
--- Desisto.
Quando sentiu a mão de Christopher agarrar seu braço estupidamente com força, Peter sentiu as unhas dele na sua carne.
--- Mas eu não --- Christopher disse, impondo sua vontade. Em um movimento rápido, soltou o braço de Peter e segurou sua cintura, e com a outra mão segurou em seu pescoço, forçando um beijo de despedida.
Uma cena esquisita. Peter tentando se livrar de Christopher, enquanto este o segurava e colava seus lábios com os de Peter.
As desvantagens de não dar a mínima para academia e musculos definidos era que sua força comparada á alguem com musculos é praticamente zero. Juntando toda a força e podia, Peter segurou na barriga de Christopher e se lançou para o lado oposto, conseguindo se livrar daquele beijo forçadamente ridiculo.
--- Você é um idiota! --- disse Peter.
Vendo a repulsa nos olhos de Peter, Christopher tomou ar e escolheu as palavras.
--- Sabe de uma coisa, Peter? Eu tentei ser seu amigo. Eu até ajudei Luigi quando você sumiu, indo se esconder naquele hotel de quinta categoria. Mas eu cansei. Cansei de esperar, achando que um dia você seria meu.
Peter tinha medo de ouvir as palavras que viriam á seguir.
--- Conte os dias. Logo você estará implorando o meu carinho.
Com os olhos carregados de furia, Christopher saiu do quarto, batendo a porta quando cruzou-a.
Peter estava atonito. Não sabia o que pensar.
Olhou para o relógio em seu pulso e respirou.
Mais algumas horas, e estarei em casa. Voltarei á realidade. Voltarei para minha casa, para a minha vida e para Luigi.


Acho que fiz besteira, pensou Luigi, enquanto tomava banho, horas depois do ocorrido no Archier.
Porque eu contei?! Peter vai querer me matar!
Luigi se perguntou se sua atitude teria sido muito precipitada. Concluiu que não havia sido.
Will só sabia reclamar da vida, do trabalho, de tudo. Se ele soubesse a verdade, talvez ele pudesse começar a viver novamente.
Ou não?
Saber que a pessoa que você ama está com os dias contados te dá forças para encarar a realidade? Ver seu amor sem nenhuma possibilidade de continuar vivo faz você ter forças para olhar pro futuro e aguentar a dor inegável e inevitável que está por vir?
Não. Acho que não, pensou Luigi.
Tentou afastar tais pensamentos da sua cabeça, e pensou naquilo que devia pensar.
Peter.
Ele finalmente estava voltando para casa. Depois de semanas só na companhia de Mick, Luigi finalmente teria seu amor de volta e alguem com que pudesse conversar.
Mick não era exatamente o tipo de pessoa que Luigi costumava conversar. No mundo de Mick só havia espaço para homens de barriga definida, moda e a importancia do tamanho do pinto dos caras que ele fazia sexo. Mick era uma ostra vazia. Nem passava pela sua cabeça algo parecido com livros importantes, filmes que todos devem assistir, ou um relacionamento baseado no amor e na confiança.
Luigi desligou o chuveiro e colocou o roupão de cor salmão. Caminhou até o quarto, deixando um rastro de gotas de agua atrás de si.
Olhou para o guarda roupa e escolheu uma camisa social preta com listras verticais, uma calça jeans azul e tenis Mad Bull vermelho.
Desceu as escadas saltitando e pegou as chaves que estavam no aparador perto da porta.
Quando abriu-a, se surpreendeu com a chuva que começava a ficar mais forte. O dia havia nascido com um ceu totalmente azul, mas a cor havia se tranformado em um cinza escuro.
Luigi respirou fundo e foi para a garagem, onde seu carro prata o esperava.



A voz fina da reporter do tempo enchia o carro.
" A forte chuva que surpreendeu a todos nós não parece que vai acabar tão cedo. As principais ruas da cidade estão completamente congestionadas. Uma fileira de carros aguarda impacientemente uma trégua para finalmente começarem a andar novamente "
Legal. Só falta o lubrificante á base de areia para ficar melhor, pensou Luigi, de dentro do carro cercado por outros automóveis.
Olhou para o relógio e viu que estava quase em cima da hora. O voô de Peter estava previsto para as seis horas, e já era cinco e quinze. Luigi contou mentalmente o quanto era necessário para chegar até o aeroporto, mas como ele não era bom em matematica, não confiou no resultado da sua conta.
O carro á sua frente pareceu andar, mas por poucos segundos.
Òtima hora para ficar em um engarrafamento, pensou Luigi.



Aeromoças sempre estão sorridentes e prontas para serem solícitas. Aquelas não eram diferentes.
Peter se perguntava se aquelas mulheres não possuiam ciclo menstrual, ou qualquer motivo para ficarem estressadas ou desanimadas. Não chegou á conclusão alguma.
Uma das aeromoças, a com o cabelo cor vermelho-vivo anunciou que faltavam quarenta e cinco minutos para pousarem no aeroporto da cidade.
Quarenta e cinco minutos. Só mais quarenta e cinco minutos, Peter.
Peter sorriu quando lembrou-se de um dos seus filmes preferidos da sua infancia: A Bela Adormecida. Sua mente mostrou sua vilã favorita, a bruxa malvada chamada Malévola. Peter sempre sentiu admiração por esta personagem, pois sua atitude para com as outras sempre foi de superioridade --- sem contar que sua roupa era constituida de um vestido preto com lapelas roxas.
Peter lembrou-se de uma frase em especial dita por Malévola ao Principe Felipe. Tal frase era a seguinte:

O que são cem anos para quem ama de verdade?

Sorriu com a lembrança, mas teve que admitir que cem anos, até mesmo para os verdadeiramente apaixonados, era tempo demais. Ele passara quatro semanas no Queen Mary, e achou que não suportaria a ausencia de Luigi por mais tempo.
Pensou na princesa Aurora, com seus cabelos dourados e lábios rubros de rosa. Sabia com certeza que, se Luigi estivesse compartilhando o mesmo pensamento, Peter seria a princesa por causa do cabelo, e Luigi seria o principe, sempre pronto para resolver a situação.
Suspirou fundo e fechou os olhos. Pensou no tempo que faltava para sentir Luigi junto á ele novamente. Seu coração se acelerou com a lembrança dos lábios de Luigi colados aos seus.
Estou voltando para casa, meu amor.



Vinte e cinco minutos! Vinte e cinco minutos!
A fila de carros começava a andar mais rápido, para o alivio de Luigi. Ele queria estar no saguão do aeroporto assim que Peter aparecesse --- Luigi queria e a cena fosse perfeita, como nos filmes. Peter passando pelas portas, enquanto Luigi o aguardava. Depois os olhos dos dois se encontrariam, fazendo com que eles corressem em direção um do outro.
Respirou fundo e começou a acelerar.
Perda de tempo. Logo a fila parou novamente, para seu total desespero.
Que ótimo. Peter vai ficar me esperando, e eu não vou aparecer na hora!
Passou as mãos pelos cabelos que já estavam secos, tentando arruma-los no lugar.
Luigi sabia que os misticos consideravam a Visualização a parte mais importante de uma operação mágica. Na adolescencia, Luigi se interessara por esse meio de vida, e chegou até a conhecer pessoas e frequentar lugares propícios á encontros com essas pessoas, mas os estudos de fotografia roubaram quase todo o seu tempo, fazendo-o se afastar desse meio. Mas Luigi começou a visualizar a cena na sua mente, a cena perfeita dele com Peter no aeroporto.
A visualização move montanhas, disseram á ele anos atrás.


O frio na barriga que Peter sentia era natural devido a sensação das rodas do avião tocando o chão na pista de pouso, então Peter já estava quase acostumado com aquela sensação. A chuva que caia ajudaram-no a sentir tais sensações.
Alguns minutos depois de as rodas taxiarem pela pista, Peter ouviu a aeromoça-chefe dar instruções aos passageiros, mas não lhes deu atenção alguma. Sua atenção era voltada para a cidade que se estendia ao seu lado, e para o aeroporto mais á frente. Para a sua alegria, o avião chegou no aeroporto com dez minutos de antecedencia.
Depois de esperar impacientemente as instruções, Peter caminhou em direção á porta da aeronave e seguiu reto pelo corredor com carpete azul marinho que se seguia á sua frente.
Alguns minutos depois, chegou ao saguão onde devia pegar sua bagagem na esteira, e teve que esperar até que sua mala fosse trazida calmamente.
Seus amigos de trabalho já estavam se despedindo quando Peter ouviu a voz de Christopher nas suas costas.
--- Peter, até segunda.
Peter apenas se virou e sorriu. Suas atenções estavam voltadas apenas para as portas á 20 metros á sua frente. A placa acima das portas era totalmente convidativa --- estava escrito " Acesso ao saguão de saída " em várias linguas, algumas que Peter não reconheceu.
Segurou sua mala pela alça e sentiu as rodinhas deslizarem pelo chão.
Seu coração batia cada vez mais forte enquanto se aproximava das portas com letras sorridentes.


Luigi tinha a sensação que seus pulmões iam explodir de tanta força que ele estava fazendo para respirar. Há alguns minutos atrás, sabendo que ficaria no congestionamento por pelo menos quarenta minutos, Luigi agradeceu por estar na primeira pista da rua e entrou numa rua que cortava avenida que levava até o aeroporto.
Infelizmente essa rua também estava com alguns carros parados, então Luigi, numa atitude impensada, encostou o carro na calçada e pulou do carro.
Olhou no relógio de pulso e viu que tinha dez minutos para estar no aeroporto.
Tenho dez minutos. Apenas dez.
A chuva caía como agua despencando de um balde, mas isso não o deteve. Com o cabelo caindo na testa e as meias completamente molhadas, Luigi correu pelas ruas alternativas em direção ao aeroporto.


Transito. Atrazo na hora de sair de casa. Relógio que devia estar marcando a hora errada. Perda das chaves do carro. Peter estava contando quantos motivos Luigi teria para se atrasar. Olhou para o relógio que estava fixado no quadro de voôs e respirou fundo.
Já eram seis e quinze e nada de Luigi.
Bom, Peter tinha falado com ele horas antes, e Luigi garantira que estaria lá para busca-lo. Dez minutos eram irrelevantes.
--- Está parecendo uma noiva que foi deixada no altar. Mas não se preocupe, seu noivo chegou.
Peter revirou os olhos quando reconheceu o dono daquela voz. Christopher ostentava um sorriso irritante no rosto.
--- Mas vamos para a nossa lua-de-mel, meu amor. Que tal París?
Peter o encarou como se não acreditasse naquilo.
--- Não? --- disse Christopher, sarcástico --- Tudo bem então, que tal o Himalaia? O Congo?
Peter ainda o encarava, na tentativa de faze-lo calar a boca. Não estava conseguindo muita coisa.
--- Austrália? Podemos pular com os cangurus na companhia da Nicole Kidman. Não?
Porque não vai para o inferno? pensou Peter.
--- Ah Peter, sorria vai. Você fica mais bonitinho quando está sorrindo.
--- Você não tem mais nada pra fazer? Sei lá, assistir programas de culinária, ou comprar sapatos ?
Christopher sorriu disposto a fazer mais piadas com a situação.
--- Mas sabe que você é a noiva mais bonita já abandonada no altar? Está fabulosa com essa roupa.
Peter se virou e deu as costas para Christopher.
Antes de viajarem, Peter havia achado Christopher uma pessoa interessante e visto nele até um bom amigo. Mas agora... Tais sentimentos e considerações haviam sumido totalmente.
--- Ele não vem.
Peter ouviu a frase, mas não queria admiti-la.
Christopher deu alguns passos em direção á Peter, e ficou á centimentos das suas costas.
--- Vem, eu te levo em casa.
--- Não precisa. Ele já deve estar chegando.
--- Peter, ele não vem.
Peter se virou e deixou as palavras despencarem por entre seus lábios.
--- E você, Christopher? Para onde vai depois daqui? Para a casa do seu pai que nem se deu o trabalho de vir te buscar? Ou para casa do seu namorado? Ah é ... Esqueci que você não tem namorado. Esqueci que você é um advogado fracassado que gosta de brincar de decorador.
Peguei pesado, mas foda-se, pensou Peter.
Era dificil de ler a expressão de Christopher, pois a mesma estava constantemente mudando.
Raiva. Tristeza. Mágoa. Mais raiva. Mudavam com tanta rapidez que era dificil de saber qual era a predomindante.
As palavras de Christopher sairam gélidas e sem vida.
--- Reze para que você ainda tenha emprego na segunda, Peter Calledon.
Chamar alguem pelo sobrenome sempre indicava raiva ou demonstração de superioridade, e Peter sabia disso.
Peter não demonstrou abalo. Apenas segurou a alça da mala e saiu em direção ao estacionamento do aeroporto. No caminho para lá, olhou para seu relógio que marcava seis e vinte e cinco.
Desculpe, Luigi. Nos vemos em casa.



Encharcado da cabeça ao pés, Luigi chegou ao aeroporto praticamente sem folego e no mínimo dez quilos mais magros. Tal corrida o fez ter conciencia que devia voltar a se exercitar.
Ele entrou feito uma bala de canhão no saguão principal, e seus olhos rapidamente focalizaram o painel de informações que exibia quais aviões ainda pousariam e aqueles que já aviam pousado.
E o viu lá. O avião vindo do sul da California, marcado para chegar á seis horas havia chegado com dez minutos de antecedencia.
E Luigi viu sua cena romantica ir para o ralo quando olhou em todas as direções e não viu o homem de cabelos dourados que ele esperava encontrar. As cabeças das pessoas eram apenas borrões que se moviam rapidamente.
Uma cabeça em especial chamou sua atenção. O dono daquela cabeça estava sentado confortavelmente na poltrona, com os dedos cruzados na frente da barriga.
Olhava fixamente para Luigi, com olhos insondáveis.
Estavam a menos de dois metros de distancia.
O reconhecimento veio de ambas as partes.
Luigi.
Christopher.

Foi então que Luigi percebeu que naquela exato instante Peter devia estar á caminho de casa.
A voz pareceu cortar todas as outras vozes do saguão.
--- Está atrasado, fotografo. Ele saiu faz uns quinze minutos.
Luigi percebeu um tom na voz do outro, que não conseguiu reconhecer qual era.
--- Para você, é senhor fotografo --- disse Luigi, antes de se virar, respirar fundo e correr na direção contraria, indo em direção á saida do aeroporto.


Perdido em pensamentos, Peter não prestava atenção alguma na cidade que passava á sua volta. A chuva que começava a ficar mais forte ainda faziam os vidros do taxi ficarem embaçados.
Tentou ligar para Luigi, mas não conseguiu por seu celular estava descarregado. A unica opção era esperar para chegar em casa.
Ao seu lado estava um jornal do dia anterior, dobrado na sessão de classificados de emprego. Peter ficou imaginando se teria que colocar um anuncio em um jornal desses.
Pensou pelo lado bom. Se perdesse o emprego, não teria mais que aguentar as investidas e indiretas de Christopher.
Pensou pelo lado ruim. Ele se tornaria dependente financeiramente de Luigi. Não que dinheiro fosse um problema para eles, mas viver ás custas do seu namorado é algo que Peter não sabia como fazer.
Pensou pelo lado bom novamente. Teria tempo disponivel para seus hobbys, para sua bela casa e para seu perfeito namorado.
Pensou pelo lado ruim. Ficaria em casa o dia inteiro, ficaria neurótico por causa da sua mania de limpeza e teria que ficar esparando, todos os dias, que Luigi voltasse para casa. Peter se sentiu como essas mulheres que esperam seus maridos marinheiros voltarem do mar.
Quando deu por si, Peter já estava na portaria do seu condomínio fechado, com o porteiro sorrindo para ele.
O carro seguiu pela leve colina, e segundos depois Peter já estava na porta da sua casa.
Se perguntou se Luigi estaria lá dentro.
Bom, só há uma forma de saber.
Peter deu o dinheiro para o taxista e saltou para a chuva gelada.
Subiu os degrais e suspirou quando chegou á porta. Colocou a mão na pesada maçaneta e girou-a. Estava aberta.
Peter passou pela porta e fechou-a.
A casa estava deserta. Nenhum som. Nenhuma alma viva á vista.
Sua sala continuava a mesma de sempre. Os sofás ainda de frente para o outro, formando um corredor que seguia em direção á lareira. A estante de livros e DVD´s continuava no mesmo lugar. Tudo parecia absolutamente normal.
--- Lui? Lui, está aí?
Silencio. Nada se movia.
Peter constatou o óbviu --- Luigi estava fora de casa, sabe Deus lá aonde.
Largou a mala perto do aparador e seguiu escada acima. Um banho era algo bem vindo naquela hora.
Passou no quarto e apanhou seu roupão de cor azul marinho, e reparou que o roupão cor salmão de Luigi estava jogado na cama.
Sorriu e sentiu mais falta ainda.


Luigi implorava para que o taxista fosse o mais rápido possivel.
--- Estou na pista de 70 quilometros --- dizia o homem, que já era idoso --- E estou indo á 80!
Luigi afundava no assento de trás, impacientemente.
Já havia perdido Peter no aeroporto, mas pelo menos tinha esperança de chegar antes dele em casa. Tentou ligar para casa, mas o telefone apenas chamava. Isso deu a Luigi a esperança de que ainda dava para chegar em casa antes de Peter.
Para piorar, a chuva parecia querer dividir a cidade em duas partes. Caía do ceu como foguetes lançados em direção á Terra.
Luigi levantou as mãos aos céus quando o taxi encostou na portaria do condomínio. Antes de entrar, o taxista teve que dar passagem para outro taxi que saía do condominio.
Obviu demais. Peter já está em casa.
O taxista engatou a marcha e subiu a pequena colina, rumo em direção á maior casa daquele conjunto habitacional.

E o ponteiro dos segundos avança ...

Peter já tinha terminado seu banho e estava penteando os cabelos em frente ao espelho. Tinha feito a barba e passado desodorante. Queria estar perfeito quando Luigi chegasse em casa.
Colocou o roupão e saiu para o quarto. Uma ultima olhada no espelho antes de descer as escadas.
Foi para a porta que estava fechada e girou a maçaneta. Não entendeu quando, antes de girar a maçaneta, ela já estava sendo girada pelo outro lado.
Com a mão ainda na maçaneta, a porta se abriu sem que Peter a puxasse.
Quando levantou os olhos, se viu olhando para um jovem de cabelos castanhos, completamente molhado. Suas bochechas estavam vermelhas, resultado da maratona que aquele rapaz havia corrido para chegar alí na hora.
Não importava se ele estava atrasado. As ultimas quatro semanas não importavam. Peter sabia que aquele homem seria seu para sempre.
O coração de Peter se acelerou quando o rapaz na sua frente sorriu.

E o ponteiro dos segundos retrocede ...

Luigi entrou num rompante sala á dentro. Não se importou com as roupas molhadas que começavam a formar poças no chão. Nada mais importava.
Apenas uma pessoa importava.
Sua cabeça girou, tentando vasculhar o primeiro andar da casa, na procura por ele.
Ele não estava ali.
No mesmo segundo que olhou para as escadas, suas pernas já o levavam escada á cima, como se possuissem vida propria.
Quando chegou em cima, todas as portas do corredor estavam fechadas, mas isso não mudava nada. Luigi sabia onde seu amado estaria.
Quando chegou á porta do seu quarto, olhando para baixo, determinadamente colocou a mão na maçaneta e a girou. No mesmo instante empurrou a porta, e se deparou com o homem vestido de azul á sua frente.
Nunca viu nada mais lindo. Quando seus olhos focalizaram os olhos do outro, seu coração se acelerou. Como já pensara certa vez, anos atrás, olhos tão azuis que fariam o oceano ficar com inveja.

E o ponteiro dos segundos anda normalmente.

Todos os sentidos, de Luigi e de Peter, estavam completamente despertos. Em um abraço tão apertado, eles sentiam o cheiro um do outro, sentiam o toque de sua pele um no outro. Entre lágrimas que escorriam pelo rosto, puderam ver o motivo de suas vidas em frente um ao outro.
E finalmente o sentido mais desesperado e incontido. Quando seus lábios se tocaram, eles sentiram a perfeição. Sentiram que a eternidade era algo fácil de se encarar, desde que fosse repleta de momentos como aquele. Um beijo demorado, ansioso, desejado por ambos.
Seus lábios dançavam em uma união perfeita.
Quando se afastaram, Peter lembrou-se da Bela Adormecida, mais especificamente da frase que a Malévola diz ao principe Felipe.
Sim, eu esperaria cem anos por você, pensou ele, entre as lágrimas que insistiam em cair.
A mente de Luigi era um turbilhão de pensamentos que mudavam rapidamente. Mas todos esses pensamentos giravam em torno de uma só pessoa. Foi aí que Luigi se deu conta de que não importava o que acontecesse entre eles. Não importava se um dia Peter o deixasse, ele nunca ia querer ninguem enquanto vivesse.
Voltaram a se abraçar fortemente.
--- Você voltou para casa ... Você voltou para mim.
Peter fazia "sim" com a cabeça quando respondeu.
--- Voltei inteiramente para você. Eu nunca mais irei ficar longe de você, Luigi...
Peter nem percebeu que Luigi estava encharcado por causa da chuva. E tambem isso não importava.
--- Eu ficarei sempre com você, meu amor --- disse Luigi, segurando o rosto de Peter --- Não importa para onde você vá, não importa se você me deixar, eu sempre serei seu. Apenas seu, e de mais ninguem.
Peter tentava segurar as lágrimas, mas não conseguia.
--- Oh, Lui... --- eles estavam agora com as testas encostados uma na outra --- Senti tanta sua falta!
Luigi estava de olhos fechados, prestando atenção na doce voz do seu amado. Instintivamente, seu lábios se tocaram mais uma vez.
Peter segurou Luigi pela cintura e ambos cairam na cama.
A chuva continuou caindo forte, noite adentro, enquanto eles faziam amor apaixonadamente.

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