Um Nome.
Depois da misteriosa sumida de Luigi naquela noite, Mick, Will, Arthur e Tom continuaram na Times até as 5 da manhã.
Aquela noite se mostrou bem interessante a todos.
Arthur e Tom ficaram conversando a noite inteira sobre assuntos diversos. Talvez nenhum dos dois ainda tivevesse notado, mas um precisava do outro de diversas formas.
Entre uma bebida e outra, alguns belos rapazes se interessaram por Arthur e por Tom, mas todos foram dispensados. Quem queria ficar ao amassos com um desconhecido quando se podia ficar em ótima companhia com um bom amigo?
O que mais atraía Arthur em Tom era a sua inocente fragilidade. Tom podia ser alto, usar um sobretudo preto quase toda a hora, mas Tom ainda era uma criança em fase de crescimento. Apesar da sua profissão não ser a que mais dê orgulho, essa era a unica opção que Tom tinha. Quer dizer, ele podia trabalhar em telemarketing, em alguma video-locadora ou em qualquer pizzaria da cidade, mas com esse salário ele não poderia pagar a faculdade de arquitetura e seu apartamento minusculo que ele tinha nas partes não tão bonitas da cidade.
Tom sabia que a hora de ele partir estava chegando. E estava triste por isso. Nestas ultimas três semanas, Tom havia conhecido um pequeno mundo que era novo para ele. Ele havia conhecido lugares interessantes, um grupo de amigos sem preconceito algum e, para magoa-lo ainda mais, havia conhecido um rapaz muito especial. A bondade e a cordialidade de Arthur o haviam atraído profundamente, e deixa-lo era a parte mais triste da situação.
Tom avaliava suas opções.
Poderia sumir por uns tempos, voltar á frequentar as aulas na faculdade pela manhã e passar parte da noite com homens que ele não sabia nem o nome.
Ele poderia também procurar um emprego de verdade, continuar naquele circulo social que tanto o agradou e continuar a faculdade.
Sem chances.
Tom estudava arquitetura na melhor universidade do país que oferecia esse curso. Ele havia passado por diversas provas para conseguir descontos na mensalidade, e o dinheiro que conseguia com os clientes á noite o ajudava á pagar essas mensalidades.
Mas ele ainda tinha um apartamentos, meterial da faculdade e livros didáticos. Como conseguiria manter tudo isso com apenas Um salário mínimo?
Outras questões vagavam pela cabeça de Tom.
Arthur.
Não se apaixone, pensava ele, não se apaixone, não se apaixone!
Como voltar para a ponta do abismo quando você já está em queda livre?
Tom não tinha um relacionamento fazia mais de dois anos. Apesar de nunca ter tentado, ele sabia que as propabilidades de um relacionamento dar certo eram mínimas. Qual cara iria gostar de ver o namorado fazendo sexo com outro cara?
Pelo menos não um cara legal.
Não sabia se era um sentimento recíproco, mas deixar Arthur para voltar á sua antiga vida fazia seu coração sentir pontadas afiadas de dor.
Sabia que era um destino pelo qual ele não podia evitar. Pelo menos não agora.
Will estava entediado. Havia sido arrastado por Luigi para a pista de dança, e menos de cinco minutos depois, se viu sózinho sem o amigo.
Tentou esquecer os problemas e relaxar um pouco, mas não conseguiu. Voltou para o bar e ficou alí, na companhia de seus pensamentos.
Estava cansado de pensar em Seth. Já tinha queimado neuronios demais por uma causa sem motivos.
Mas Will sabia que ainda não estava preparado para esquece-lo. Ele não queria esquece-lo por completo, pois um dia, ele ainda ia querer olhar para trás e ver que havia vivido uma historia bonita. Sem final feliz, isso ele tinha que admitir, mas quantos gays hoje em dia conseguem viver um historia épica?
Ele ainda tinha que pensar em outro assunto importante, os testes que ele não havia feito. Testes que revelariam se Will estava com alguma doença sexualmente transmissível. Ele pensava positivamente, mas alguma coisa o dizia para fazer os testes.
Se ao menos Seth estivesse comigo...
A alguns metros de distancia, um rapaz que fumava um cigarro encarou Will na cara dura. Era bonito, mas nada demais.
O rapaz fez sinal com a cabeça, para que Will fosse com ele para o DarkRoon.
Nove minutos depois, Will chupava o pinto do rapaz, enquanto este revirava os olhos e segurava a nuca de Will, mandando tudo para dentro. Quando gozou, o chão não continha nenhuma gota do seu esperma.
Mick sentia as mãos do homem musculoso na sua cintura, enquanto suas pernas se entrelaçavam com o rapaz careca e tatuado à sua frente.
Hoje a noite é minha.
Mick aproveitava: Com uma mão, massageava o peito do rapaz tatuado, e com a outra segurava a nuca do cara que estava atrás, sentindo a barba por fazer arranhar seu pescoço.
Querendo sua total atenção, o tatuado puxou Mick para si, dando-lhe um beijo rápido e uma passada maliciosa em suas costas.
Vendo tal atitude, o rapaz musculoso segurou na barriga de Mick, querendo-o para si, e colocou a mão por dentro da calça de Mick.
Um fato comprovado é que passivas não gostavam que ativos colocassem a mão em seus pintos, e Mick não era diferente.
Para que enfiar a mão aí, se eu posso fazer isso nele e ainda chupa-lo sem compromisso algum?
Mick virou-se para o musculoso e sussurou " Eu já volto, vou me livrar do careca " e se afastou, segurando a mão do rapaz tatuado.
As intenções de Mick já eram bem claras: Dar um perdido no dragão-musculoso e fazer o careca-tatuado ter ótimas lembranças daquela noite.
--- Vem comigo --- disse Mick para o tatuado --- a um lugar mais...
O tatuado olhou na direção que Mick estava o levando.
--- Escuro --- disse ele, completando a frase.
Mick sorriu maliciosamente e fez com que "sim" com a cabeça.
Chegaram á porta do DarkRoon e Mick colocou a mão na maçaneta, tentando gira-la.
Em vão. Aquele DarkRoon, assim como todos os outros, estavam ocupados.
--- Vamos ter que esperar, eu acho --- disse o tatuado, tentando inicar uma conversa.
Mick estava impaciente. Punheta não resolve todos os problemas, não!
Desde que começara a morar com Peter e Luigi, a vida sexual de Mick tinha dado uma "freada". Não que tivesse perdido sua liberdade, mas chegar ás seis da manhã, depois de ter passado a noite inteira com um desconhecido, era algo que poderia incomodar um pouco á Luigi.
--- Meu nome é Benjamim --- disse o rapaz.
Mick sorriu forçadamente e levantou as sobrancelhas.
--- Ah.
--- E você...?
Mick viu aonde ele queria chegar.
Espero que ele não pense que vai passar disso, pensou ele.
--- Mick --- disse.
Quando Benjamim ia dizer algo, a porta se abriu e um casal de homens saiu.
Um deles limpava o pescoço com a mão, e o outro terminava de passar o cinto pelo passante da calça.
Mick ficou paralisado.
O homem que mechia no cinto era alto, tinha os cabelos em pouca quantidade, bem pretos. Sua pele era morena-clara, e no seu rosto logo notava-se uma barba que começava á se formar.
Mick não acreditava no que via.
Ele conhecia aquele cara. Já tinha visto sua maneira de andar, seu modo de falar, e sua maneira á se dirigir aos alunos.
Aos alunos.
Mick tinha aula com aquele cara todos os dias. Mas ele não era um colega de classe.
Ele era um professor.
Professor Richard. O mesmo professor que deu nota Dois ao trabalho de Mick. O mesmo professor que dissera á Mick para desistir da faculdade de moda e fazer outra coisa.
Mick ainda não acreditava.
O professor Richard? Gay?! Como? Desde Quando?
A mente de Mick pipocava de pensamentos.
Richard olhou para o casal que esperava para entrar no DarkRoon, e reconheceu o garoto magro de cabelos louros que o encarava sem acreditar no que via.
Michelangelo Bernal. A bicha-estilista que eu dou aula todos os dias.
Richard não se abalou, nem demonstrou espanto algum.
--- E aí --- disse para Mick, quando começou a se afastar de mãos dadas com o homem que havia saído do DarkRoon com ele.
Benjamim não estava entendendo nada. Mick ainda estava de olhos arregalados, sem dizer nenhuma palavra.
Benjamim começou a estralar os dedos na frente do rosto de Mick, tentando acorda-lo.
Mick piscou duas vezes, rapidamente, e voltou á realidade.
--- O que houve? --- perguntou Benjamim.
--- Nada --- disse Mick, colocando a mão no bolso de Benjamim e retirando o pacote de preservativos do seu interior --- Vamos. Agora.
Entraram no DarkRoon e fizeram o que tinham que fazer.
Enquanto Benjamim segurava na cintura de Mick e mandava tudo para dentro, Mick só pensava em outra pessoa.
Surpreendeu-se imaginando as mãos e o pinto de Richard tocarem o seu corpo.
Quando, ás 5:38hrs, os portões da Times se abriram num rompante, Arthur e Tom saíram dalí cantando alto e se segurando um no outro. Ora riam, ora cantavam. Seus passos eram rápidos, mas praticamente em zigue-zague.
Tinham bebido um pouco mais do normal, mas estavam completamente sóbrios do que estava acontecendo.
A cabeça de Arthur estava começando a doer --- ele não estava acostumado aos efeitos do alcool. As imagens que seus olhos capturavam demoravam para acompanhar o movimentos de seus olhos.
Tom estava melhor. Sua cabeça não doía, mas seus olhos também estavam em camera lenta.
--- Fumamos alguma coisa? --- perguntou Arthur, rindo.
--- Não --- respondeu Tom --- você que não está acostumado com bebida.
--- Que bebida? Eu só tomei refrigerante.
Tom riu alto.
--- Refrigerante á base de gasolina, só se for!
Arthur riu compulsivamente enquanto andava.
Minutos depois, chegaram em casa. Perderam ao menos dois minutos tentando encontrar o buraco da fechadura.
Quando entraram em casa, não conseguiram fazer muita coisa. Caminharam em direção ao sofá.
Arthur foi o primeiro a ir para o sofá de tres lugares. Quando deitou, começou a esfregar os olhos com a palma da mão.
Tom ficou em pé, olhando para Arthur.
É melhor ele tomar alguma coisa.
--- Eu vou fazer café para você.
Arthur olhou para Tom sem entender. Ele estendeu os braços na direção dele e disse:
--- Não precisa. Fique aqui comigo.
Tom aceitou o "convite" e deitou em cima de Arthur. Sua cabeça estava pousada levemente no peito de Arthur. Suas pernas estavam entrelaçadas.
Arthur começou a passar a mão nas costas de Tom. As feridas já estavam completamente curadas. Apenas algumas marcas continuaram para contar a história.
Tom deu um suspiro longo e profundo. Estava pensando em muitas coisas.
--- Tom?
--- Sim?
--- Qual o seu verdadeiro nome?
Tom sorriu. Fazia semanas que estava na casa de Arthur, e tinha conseguido esconder a verdade.
--- Isso não é importante.
--- Para mim é.
--- E por que?
Arthur fez uma pausa antes de responder.
--- Porque você é importante para mim. E... Eu sinto que há uma parte da sua vida que eu não conheço.
Tom olhou para ele e deu um sorriso triste.
--- Não... Você não precisa conhecer essa parte --- Tom pegou na mão de Arthur e entrelaçou os dedos --- Você... Deu inicio á melhor parte da minha vida. Você já faz parte dela, e é isso que importa.
Tom não queria admitir, mas a hora havia chegado. Tinha que sair dalí o quanto antes. Não queria admitir á si mesmo, mas sabia que o tal sentimento existia, e era forte.
Tom se levantou do sofá e parou no meio da sala. Arthur sentou no sofá, encanrando Tom.
--- Isso... Arthur, por favor, entenda. Isso não pode...
--- Porque?! Eu não consigo ver obstáculos!
--- Mas eu consigo.
Eles estavam á ponto de gritar. Seus sentimentos estavam destruindo as barreiras que haviam construido envolta de si.
Um pensamento conhecido á Tom passou novamente pela sua cabeça. Tal pensamento havia se mostrado de manhã.
Como voltar para a ponta do abismo quando já estamos em queda livre?
Arthur levantou do sofá e foi até Tom, ficando á centimetros do seu rosto.
Olhava no fundo dos olhos dele; e conseguia sentir sua respiração.
--- Me dê apenas um motivo. Apenas um, e eu nunca mais volto á tocar no assunto.
Tom suspirou impacientemente.
--- Nunca diga nunca.
--- Responda.
Tom cruzou os braços e olhou para o chão. As palavras já estavam se formando, mas havia a incerteza em pronuncia-las.
Sabia que havia esperado tempo demais --- e que deixara a situação ir longe demais, muito mais do que os limites considerados "seguros".
--- Eu... Eu não conseguiria tocar em nenhum outro homem... E... E você não ia querer que eu o fizesse. Isso atrapalharia meus planos.
Tom sentia que estava tirando o mundo de suas costas.
Arthur entendia o que ele queria dizer. Por um momento, considerou a idéia de ignorar o fato de que Tom faria sexo com outros homens, além dele.
Arthur pegou na mão de Tom e se aproximou ainda mais.
--- Quanto á isso... Deixe que eu resolva. Eu só quero que você fique comigo. Faça sexo com outros homens, mas faça amor apenas comigo.
Tais palavras tocaram fundo o coração de Tom. Desde que começara a se prostituir, nunca havia conhecido um homem que o tratasse daquela forma. Quase sempre era um "obrigado" depois de transarem.
--- Vamos fazer assim --- disse Tom, com uma idéia se formando em sua mente --- Vá para o Archier. À noite conversamos melhor. Ainda estamos meio altos.
Arthur sorriu diante da possibilidade de ter Tom para si.
--- Certo.
Arthur sorriu e deu um abraço apertado em Tom.
A vontade de Tom era de beija-lo até perder o folego. Mas ele sabia que aqueles lábios demorariam um pouco para se tocarem.
Arthur sorriu e foi em direção ao banheiro. Tom foi até a cozinha e preparou um café.
Meia hora depois, Arthur saiu para o trabalho.
A mente de Tom começou a maquinar a idéia.
Tom arrumou a casa, depois tomou um banho e se vestiu com o habitual sobretudo preto.
Sabia que a hora havia chegado.
Ele foi até a mesa de telefone e arrancou uma folha de papel do bloco de recados.
Com a caneta, escreveu, em uma letra muito bonita e legível, apenas duas palavras.
Parecia que estava escrevendo em seu coração, usando uma faca afiada.
Pegou o papel e foi até o quarto de Arthur. Deixou o papel em cima da cama.
Pensou se um dia ele dividiria aquela cama com Arthur. Como Arthur havia dito antes, eles fariam amor.
Quando sentiu as lagrimas se formando, ele respirou fundo. Não era hora de ficar abalado e voltar atrás. Já estava no fundo do abismo e não tinha mais como voltar.
Não sabia se queria voltar. Não sabia se, quando voltasse, ele conseguiria manter uma relação sem se magoar ou se ferir intensamente.
Saiu do quarto e voltou para a sala. Sabia que era clichê, mas deu uma ultima olhada para a simpática casa onde havia passado algumas semanas.
Respirou fundo novamente e virou ás costas, indo em direção á porta de saida.
Quando passou por ela e fechou-a, sentiu que estava trancando novamente seu coração e jogando a chave fora.
Foi embora sem olhar para trás.
O silencio reinava na pequena casa quando Arthur voltou do trabalho, á noite. Achou estranho que todas as luzes estivessem apagadas, e que o silencio fosse soberano, como se fosse o dono da casa.
Acendeu a luz da sala e olhou para os lados. Nada.
Resolveu chama-lo.
--- Tom? Está no banho?
Arthur foi até o banheiro, com o coração batento cada vez mais rápido.
Chegou lá e se decepcionou. Não havia ninguem.
Não, ele disse que ficaria!
Correu para o pequeno quarto de hóspedes, mas a situação continuava a mesma.
O quarto estava vazio. Nem mesmo o sobretudo preto dele estava pendurado no lugar onde sempre ficava.
Isso só podia significar uma coisa. Algo que Arthur não queria admitir para si mesmo.
Ele foi... Não!
Arthur não entendia o porque. Achou que eles podiam superar aquilo juntos.
Juntos?
Foi então que Arthur percebeu que talvez nunca fosse te-lo. Sabia que nunca poderia compra-lo, como vários outros homens faziam.
Tinha que admitir que estava lutando por uma causa sem fundamento.
Ele nunca poderia ser meu. Ele... Ele nunca poderia ser de ninguem.
Arthur se arrastou até o quarto. Quando acendeu a luz, se surpreendeu com o papel dobrado encima da cama.
Quando leu o que estava escrito, suas sobrancelhas se abaixaram, em dúvida. As letras eram muitos bonitas e totalmente legíveis.
Colin Macfadyen.
???
--- Mas o que...
Então Arthur entendeu o significado daquelas palavras. Aquilo era um nome e sobrenome.
Nome e sobrenome de... Tom.
Mas qual era o significado daquele gesto? Tom revelara seu verdadeiro nome na intenção de dar alguma esperança para Arthur?
Ele não sabia dizer. Mas, em seu intimo, sabia que aquilo signifcava algo que apenas pessoas especiais poderiam saber.
Garotos de programas nunca revelavam seus verdadeiros nomes. Apenas... Apenas se...
Se o que?
Arthur dobrou a folha e colocou-a no criado-mudo ao lado da sua cama.
Ele esfregou os olhos, e decidiu tomar um banho.
Quando estava embaixo do chuveiro, sentiu suas pernas sobrarem, e se sentou no chão. A agua caía em seu corpo delicadamente.
Arthur não queria pensar. Não queria considerar a idéia.
Eu o perdi? Ele... Nunca será meu?
Ficou com medo da resposta. Fechou os olhos e deixou que a agua caísse sobre ele.
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