segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Capitulo Seis - Segunda Temporada.

Novo Começo Não tão Novo.



O sol entrava forte e radiante pelas frestas feitas pela cortina de seda.
Eles já estavam acordados fazia alguns minutos, mas não ousaram quebrar o silencio. Seus dedos estavam entrelaçados; um ouvia os batimentos do coração do outro; eles respiravam no mesmo ritmo.
A casa estava silenciosa.
Peter estava deitado no peito de Luigi, quando este olhou para ele e piscou.
--- O que foi? --- disse Peter.
Luigi sorriu e respondeu.
--- Quer dizer então que agora você está sem emprego?
Um sorriso melancólico apareceu no rosto de Peter.
--- É o que parece. Tenho que ir na ArtDeco para descobrir. Mas você parece feliz com isso.
Luigi deu os ombros.
--- Só acho que agora você vai poder ter o seu proprio escirtório de decoração, como você sempre quis.
Peter abaixou uma sobrancelha e repuxou os lábios para o canto.
--- Eu não tinha pensado dessa forma.
Desde que Peter terminara a faculdade de decoração, sua idéia e vontade sempre foram a de abrir o seu próprio escritório. Mas como qualquer universitário que termina a faculdade, Peter não tinha muito dinheiro e não queria pedir a ajuda do seu pai. Ele começou como estagiário na ArtDeco e assim permaneceu por onze meses. Depois de ser contratado com toda a papelada assinada, ele se tornou um dos melhores decoradores da empresa. Agora, quatro anos depois, a idéia que havia adormecido em sua mente voltou á vida.
Peter sentou-se na cama olhou sugestivamente para Luigi.
--- E você poderia ter a sua propria galeria de arte.
Luigi olhou para ele como se estivesse falando grego.
--- O que? Não Peter --- ele deu uma risada e se ageitou nos travesseiros --- Não é a hora ainda.
--- Porque não? Luigi, pense: Você quer ficar quanto tempo fotografando modelos magricelas e depois ficar retocando suas imperfeições?
--- E você acha que é fácil abrir uma galeria?
--- Bom, facil não deve ser --- Peter pareceu pensar melhor --- Mas era a sua idéia principal quando viemos morar juntos.
Luigi considerou a idéia por um minuto.
--- Não. Ainda não. Quem sabe no proximo ano ...
--- Proximo ano ainda?
--- Peter, estamos á menos de duas semanas no natal. Não vai demorar.
Foi aí que Peter percebeu que a idéia de Luigi ficaria por mais um tempo guardada.


Alguns minutos depois, quando já tinham conversado sobre diversos assuntos, Peter lembrou-se de algo.
--- Então... Você contou para o Will?
Luigi abaixou os olhos como uma criança que era pega fazendo algo errado.
--- Eu... Eu só achei que era o certo a fazer. Eles só ficava se lamentando...
--- Eu sei. Acho que era o certo mesmo, eu devia ter feito isso. Como ele ficou?
Luigi puxou pela memória --- aquilo parecia ter acontecido á tanto tempo atrás.
--- Bom, a vidraça do Archier ficou rachada quando Will bateu a porta. Isso descreve bem?
Peter balançou a cabeça positivamente.
--- Nada melhor do que uma vidraça rachada.
Luigi deu um sorriso e avançou para cima de Peter, fazendo-o deitar na cama.
--- Não vá para longe novamente, por favor? Eu quase pirei sem você aqui.
Peter sorriu e deu-lhe um beijo.
--- Okay, prometo que não faço mais isso.
Luigi deitou a cabeça na barriga de Peter.
--- Okay.
Minutos depois, Peter se levantou da cama e ainda nu foi para o banheiro.
Ele tinha algumas coisas á fazer naquele dia.
Segundos depois ele voltou ao quarto.
--- O que você ainda fazendo aí ainda? --- ele foi até a cama e segurou os pulsos de Luigi --- Eu fiquei quatro semanas fora de casa, e você tem a obrigação de ficar comigo todos os minutos possiveis.
Luigi sorriu e se levantou da cama.
--- Sim, mestre.
Eles se beijaram e foram para debaixo do chuveiro.
Ficaram o resto da manhã lá.



Mick estava terminando de colocar seu laptop dentro da mochila quando ouviu alguem descendo as escadas. Pensou que fosse Luigi, mas descartou a idéia --- o som era de duas pessoas descendo as escadas.
Quando seus olhos focalizaram os cabelos douradas e molhados de Peter, sua reação foi automatica. Ele largou a mochila no sofá e correu em direção ao amigo.
--- Peter! Ah, Peter!
Mick se lançou para os braços de Peter e fechou as pernas em volta dele.
Mick não sabia se chorava ou se ria.
--- Também é bom ver você, Mick --- disse Peter.
Olhando aquela cena, um pensamento antigo passou pela mente de Luigi.
Mick é o Peter quando ele era mais novo. A unica diferença é que Peter não era fútil.
A semelhança entre eles eram muitas; ambos tinham a cor do cabelo bem claro, olhos azuis (Só que os olhos de Peter eram bem mais bonitos do que de Mick) e a pele bem clara. As personalidades eram totalmente diferentes, mas é bem possivel que eles pudessem se passar como irmãos.
Depois de Mick soltar Peter, os três foram para a cozinha.
--- Eu queria ter falado com você ontem --- disse Mick, enquanto eles andavam --- Só que eu imaginei que você estaria muito ocupado --- Mick olhou sugestivamente para Luigi e para Peter.
Luigi sorriu e disse:
--- Tinhamos muitas coisas a tratar.
--- Muitos assuntos para colocar em dia --- Peter acrescentou.
--- E muitas outras coisas para "colocarem" não é mesmo? --- disse Mick, dando uma risada baixa.
Luigi e Peter se olharam como se estivessem conversando por telepatia. A expressão um do outro dizia a resposta para a pergunta.
--- Mick, não usamos mais camisinha á uns dois anos --- disse Peter, se servindo de café.
--- Nem lubrificante --- disse Luigi.
Mick piscou compulsivamente e fez o sinal de "não" com a mão.
--- Chega, é informação demais para mim --- disse ele, sem graça.
Luigi sorriu e olhou ara o relógio. Estava atrasado para o trabalho.
--- Tenho que ir --- disse ele, conferindo se as chaves do carro estavam no seu bolso.
Ele deu um beijo no rosto de Mick e um beijo na boca de Peter.
--- Eu te amo.
--- Também te amo.
Mick só olhava a cena, sem dizer nada.
Luigi saiu da cozinha e segundos depois o som da porta da sala chegou até eles.
Quando finalmente ficaram a sós, Peter queria saber de tudo que Mick tinha aprontado nessas ultimas semanas.
--- Nada demais. Quer dizer, saí com alguns caras, vi o meu professor sair de um darkroon, toneladas de trabalho pra fazer... Você sabe, nada demais.
Peter se fixou em um ponto da frase.
--- Professor sair de darkroon? Que história é essa?
Mick foi até Peter e passou um braço sobre o seu pescoço.
--- Peter, meu amiguinho, você ficou fora tempo demais. Vamos ao Archier, Arthur está com saudades.




--- E o filho pródigo retorna para o lar! --- disse Arthur, enquanto abraçava Peter calorosamente.
Mick estava ligando a maquina de capuccino e preparando três copos para cada um.
--- Quero saber tudo da viagem --- disse Arthur sentando-se atrás do balcão --- Fofocas de navio, quem pegou quem, TUDO!
Peter sorriu e bebeu um gole bem grande do capuccino --- estava com saudades daquelas rodas de conversa com os amigos. Pena que dois estavam faltando.
--- Depois, depois --- disse Peter --- Mas primeiro eu quero saber do que aconteceu por aqui.
Mick e Arthur se entreolharam.
--- Quem começa? --- disse Mick.
--- Você, claro --- disse Arthur.
Mick se arrumou na cadeira e começou a falar.
--- Bom, estava eu lá, na Times, ficando com um cara suuuper gostoso.
--- Que novidade. Quantos centimetros? --- disse Arthur.
--- Cala a boca, sim? Dezessete.
Peter sorriu e bebeu mais capuccino.
--- E eu estava esperando para que algum darkroon ficasse livre, e quando a porta finalmente se abre, meu professor da faculdade saí de lá com um cara! Fiquei pasmo.
--- Ele é bonito? --- disse Peter.
Mick pensou durante alguns instantes.
--- Sim, até que é sim. Mas não tem cara de gay.
--- E o que você vai fazer? --- perguntou Arthur.
--- Bom, se ele não melhorar as minhas notas, vou usar esse acontecimento ao meu favor.
Peter não gostou muito dessa idéia.
--- Você não precisa disso para ter boas notas, Mick --- ele até parecia um pai falando para o filho --- Você tem talento e inteligencia para conseguir notas altas.
--- Você até poderia ser a encarnação da Chanel --- falou Arthur, rindo.
--- Mas ele não me dá notas altas! Sei lá, acho que ele não gosta muito de mim.
--- Ele não deve gostar de gays-louros-passivos-estilistas --- Arthur estava se divertindo com aquilo.
Mick fuzilou Arthur com os olhos.
Peter então se lembrou de um assunto.
--- E você, Arthur? Fiquei sabendo de um tal de Colin...
Arthur passou a mão pelos cabelos e suspirou fundo.
--- Isso mesmo, Colin. O cara mais legal que eu já conheci.
--- Fale-me sobre ele --- pediu Peter.
--- Bom... Eu conheci ele na noite anterior da sua viagem. Para encurtar um pouco a história, eu me apaixonei por um garoto de programa.
--- Um garoto de programa que também se apaixonou por você --- disse Mick.
--- Um garoto de programa que foi embora deixando apenas um pedaço de papel com duas palavras.
Peter pegou na mão de Arthur e puxou o lábio para o canto.
--- Não fique assim, ele pode voltar.
Arthur não parecia acreditar muito nisso.
--- Será? Ele se prostitui para pagar a faculdade. Faculdade de quatro anos de duração.
--- Não tem como você procura-lo? --- Peter queria dar esperança ao amigo.
--- Acho dificil. Sabe como é essa coisa de pontos e tals...
Peter balançou a cabeça e não disse mais nada. Sua mente ficou á deriva durante alguns minutos.
Seus olhos começaram á vagar pela livraria-café, e finalmente se deteram no vidro da vitrine.
Seguindo os olhos de Peter, Arthur adivinhou no que o amigo estava pensando.
--- Luigi pagou outro vidro.
--- Eu sei --- disse Peter, meio ranzinza --- E com o meu cartão de crédito.
Mick sorriu sem humor algum.
--- Acho que eu tenho que falar com ele. Dar alguma explicação.
--- Ele parecia bem furioso quando saiu daqui naquele dia --- disse Arthur --- Dê um tempo para ele. Sabe como é, deixar a raiva passar.
Mick estava olhando para o vidro quando uma forma familiar surgiu em seu campo de visão.
--- Acho que você não tem esse tempo, Pet --- disse Mick.
Quando o sino acima da porta soou, os olhos de Arthur e de Peter seguiram o som.
Deram de cara com Will, parado perto da porta.
Estava num estado deplorável. Seu blazer estava totalmente amassado, e sua calça estava com a barra encostando no chão. Fiapos eram arratados pela calçada, fazendo a barra se desgastar.
O que mais chamou a atenção de Peter foi o olhar de Will para ele. Peter havia pensando que veria dor, furia e muita raiva. Mas não havia nada. Apenas o nada, como se Peter fosse um estranho.
Sem dizer nada e com os olhos fitando aparentemente o vazio, Will saiu do Archier como um raio.
Peter fez o mesmo. Levantou da cadeira e saiu em disparado pela porta.
--- Will, espere! --- disse ele quando visualizou as costas do amigo, á alguns metros longe.
Will nem se virou. Continuou andando praticamente correndo.
Peter apertou o passo e em poucos segundos estava quase nas costas de Will.
O bom de ser alto é que você alcança todo mundo.
Quando estava á centimetros de Will, Peter pegou em seu ombro, com a intenção de para-lo. Não foi bem essa a reação --- Will se virou e gritou com Peter.
--- Não encoste em mim, Calledon!
As pessoas em volta olharam para Will, curiosas.
--- Callendon? Que isso? Você nunca me chama assim!
Will não estava acreditando.
--- Como você ainda tem coragem de vir falar comigo? Você... você é um idiota, sabia!?
Peter cruzou os braços diante do peito, sabia que aquela era uma reação esperada.
Para a surpresa de Peter, os insultos não sairam da boca de Will como Peter esperava. Will apenas se virou e voltou a andar.
--- Will, eu preciso conversar com você!
Will parou no meio do caminho e se virou.
--- Para você é Willian. Will é apenas para os amigos.
Tais palavras fizeram Peter perder o rasciocínio. Quando Will voltou a andar, Peter não fez nada. Ficou parado olhando o amigo se afastar.
Ou seria ex-amigo?



Minutos depois, Peter estava no Archier, segurando uma caneta enquanto um pedaço de papel estava pousado no balcão. Mick já tinha saído para o trabalho e Arthur estava conferindo o preço de um livro.
Peter escreveu qualquer coisa no papel e devolveu a caneta para Arthur.
--- Aonde você vai?
Peter se virou e respondeu para Arthur.
--- No apartamento do Will.


Depois de três insistentes batidas na porta, Will apareceu. Fechou a cara quando viu quem era.
Peter estava lá, com um pedaço de papel nas mãos.
--- Só pode estar de brincadeira --- disse Will, se afastando da porta e deixando-a aberta.
Aquilo era um convite para que Peter entrasse? Não importava --- Peter entrou assim mesmo.
Seguindo pelo hall, Peter se encontrou na grande sala com chão de madeira, mesa de centro e sofás em cores azuis.
Will foi até a janela e se apoiou nela. Não disse uma palavra.
O silencio estava constrangedor. Peter resolver acabar logo com aquilo.
--- Olha, eu sei o que você está sentindo...
Will o interrompeu bruscamente.
--- Sabe? Tem certeza?
Peter baixou a cabeça como uma criança.
--- Tá, eu não sei. Mas eu só queria que você soubesse que eu não fiz por mal.
Will se afastou da janela e olhou para Peter.
--- Você deveria ter me contado.
--- Eu sei, eu sei, mas...
--- Se sabe porque não contou?!
--- Seth! O Seth me pediu!
Will voltou a se afastar.
--- Sai daqui, Peter.
Peter abriu a boca para falar, mas não o fez. Apenas dobrou o papel que tinha nas mãos e colocou em cima da mesa de centro. Depois ele virou as costas e saiu sem fazer barulho.
Parecia que já tinha se passado dias quando Will se virou e notou que estava sózinho. Notou também um pedaço de papel na mesinha de centro. Pegou o papel e o desdobrou.
A letra fina e elegante de Peter mostrava apenas um endereço. Esse endereço ficava perto do centro.
A idéia que passou pela cabeça de Will era absurda. Se Peter tinha escondido dele um segredo, porque iria relevar onde...
Will tomou a decisão. Pegou a chave do carro e saiu de casa.



Luigi estava sentado no sofá, na companhia de uma grande caneca de chocolate quente, quando ouviu a porta de entrada fazer barulho. Quando virou a cabeça, Peter entrava na sala. Parecia que estava chegando de uma guerra.
Peter levantou as sobrancelhas quando viu Luigi sentado no sofá.
--- Acho que alguem está precisando de chocolate quente. Ainda tem na panela que está no fogão.
--- Não precisa, eu bebo do seu --- disse Peter, pegando a caneca das mãos de Luigi e sentando-se ao seu lado.
Então tá, pensou Luigi.
Peter deu um grande gole e devolveu a caneca para Luigi.
--- Mas que bonitinho --- disse Luigi, olhando para dentro da caneca --- Ele deixou um pouquinho para mim. Merece o premio Nobel.
Peter sorriu ironicamente e respondeu para Luigi.
--- Chato.
Luigi sorriu e passou os braços envolta de Peter, puxando-o para si.
--- E aí, como foi seu dia? --- Luigi quis saber.
--- Eu e você fizemos amor, depois eu vi os meninos, e Will não quer mais falar comigo, pelo menos por enquanto.
--- Você foi falar com ele?
--- Eu encontrei com ele no Archier. Quando ele me viu, saiu praticamente correndo. Depois eu fui até o apartamento dele e dei o endereço do Seth.
Luigi pensou por alguns instantes.
--- E você deu o endereço do Seth na esperança de que o Will entenda o gesto como um pedido de desculpas?
Peter não tinha pensado dessa forma, mas estava com preguissa de explicar.
--- Se der certo, okay.
Luigi sorriu e o abraçou ainda mais.
Enquanto estava perdido em pensamentos, Peter sentiu um solavanco e depois viu Luigi ir para a cozinha.
--- Você quer mais chocolate? --- gritou Luigi da cozinha.
Fui trocado por uma caneca de chocolate. Não estou valendo mais nada, pensou Peter.
Luigi apareceu na sala segurando a panela com o chocolate.
--- Dá pra dividir --- disse ele sorrindo.
Peter pulou do sofá e foi para a cozinha.
Quando eles terminaram de beber o chocolate, tomaram banhos juntos e dormiram tranquilamente.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Capitulo Cinco - Segunda Temporada.

Idas e Vindas.


Era um ensolarada manhã de sabado. O sol brilhava forte no céu sem nuvens.
Luigi praticamente corria na calçada, em direção ao Archier. O motivo da sua agonia nas ultimas três semanas havia finalmente cessado. Ou quase.
Mais um dia. Apenas um dia.
O dia seguinte era o dia em que Peter finalmente voltaria de viagem. Depois de semanas de espera, ele finalmente voltaria, e Luigi se veria longe da aflição de ficar longe do seu bem mais caro e precioso.
Quando cruzou a porta do Café e o sino soou acima da sua cabeça, sua alegria deu uma significativa diminuida.
Arthur estava atrás do balcão, olhando para o nada. Parecia estar em estado catatonico.
Will também estava lá, e nada dizia. Parecia estar compartilhando o mesmo estado de espirito do amigo.
Luigi se aproximou cautelosamente e perguntou:
--- O que houve?
Will olhou para ele e para Arthur, conjecturando se seria ele a dar a noticia.
Arthur fez que "sim" com a cabeça.
--- Colin foi embora.
--- Que pena. Mas quem é Colin?
Antes que Will pudesse responder, Arthur foi mais rápido.
--- Tom. Ele foi embora.
Luigi ainda estava pensando em Colin.
--- Tom é Colin?
--- Sim --- respondeu Will --- Colin usava o nome Tom. É o nome de guerra dele.
--- Ah sim...
Luigi olhou para Arthur --- parecia que o nome lhe causava imensa agonia. Luigi foi para trás do balcão e abraçou Arthur pelos ombros.
--- Não fique assim, querido. Dê um tempo á ele. Eu tenho certeza que ele vai voltar.
Arthur revirou os olhos.
--- Voltar? Para que? Para eu ficar limpando os cortes nas costas dele quando os travestis o agredirem novamente?
--- Não. Ele vai voltar por sua causa.
Arthur olhou para Luigi, fechou os olhos e esfregou as temporas.
--- Eu não sou você --- disse Arthur --- E Colin não é o Peter.
Luigi não teve argumentos contra isso. Luigi achava que era melhor enfrentar a dor do que camufla-la.
Ao ouvir o nome, Luigi se lembrou.
--- Ele volta hoje --- disse.
--- Peter? --- respondeu Will --- Já passaram as três semanas?
--- Já. Finalmente passaram.
Arthur levantou a cabeça e disse para eles:
--- Que legal. Colin vai, Peter volta. Quem mais vai voltar ou vai embora ainda hoje?
Will respondeu melancólico.
--- Seth volta e não volta. Volta para a vida, mas não para a minha vida.
Arthur e Luigi se entreolharam e reviraram os olhos.
Aquela ladainha de Will estava começando a deixar todo mundo cansado. Arthur tinha que ouvir que Seth tinha explicações a dar. Luigi era o alvo das perguntas que procuravam a resposta do comportamento de Seth. A sorte era que Mick não ouvia nada disso, pois Will sabia que ele não daria importancia.
Uma idéia passou pela mente de Luigi como um lampejo. Sabia que Peter o mataria, mas pra que continuar com aquele teatrinho? Will tinha direito de saber.
--- Will... O Seth está...
Ele parou no meio da frase. Seria a coisa realmente certa á fazer?
Arthur levantou a cabeça querendo prestar atenção no que Luigi ia dizer.
--- O que tem ele? --- perguntou Will.
Luigi respirou fundo e escolheu as palavras que iria dizer.
--- Ele está doente. Ele tem... --- Luigi não conseguia olhar diretamente para Will, e virou-se para Arthut --- Leucemia.
Arthur piscou diversas vezes, querendo entender o significado das palavras, e se virou para Will, prestanto atenção á sua reação.
Will franzia a testa, sua coluna estava completamente ereta e suas mãos estavam paralisadas. Seu olhar era como se visse algo impossivel de se ver.
--- Que? O que você está dizendo?
Luigi já tinha falado mesmo, não podia se calar agora.
Ele respirou fundo antes de responder.
--- Há um ano mais ou menos, ele procurou a mim e o Peter para nos contar, mas pediu...
--- OQUE?! UM ANO? VOCÊS ESTÃO ESCONDENDO ISSO DE MIM Á UM ANO?
Will não acreditava no que ouvia.
Os poucos clientes que estava no Archier se viraram em direção ao balcão quando ouviram os gritos.
--- Will, por favor, fale baixo --- pediu Arthur.
Will respirou fundo, e Luigi já estava arrependido de ter falado.
--- Ele pediu para que não te contassemos --- disse ele --- ele não queria fazer você sofrer.
Will ficou em silencio por uns dois minutos --- mas pareceu que foi uma eternidade.
Olhando para o chão, ele disse pausadamente:
--- Fale. Agora. Tudo.
Luigi olhou para Arthur, que dizia com a expressão " Conta logo, eu também quero saber "
--- Ele teve a certeza da doença semanas antes de terminar com você. Ele não tem parentes compatíveis, e não quer ficar esperando um doador. Ele não queria que você sofresse com ele, por isso terminou o relacionamento, sumiu da sua vida.
Quando Will levantou a cabeça, seus olhos mostravam a incredualidade misturada com traição.
--- Você e o Peter esconderam isso de mim durante um ano? Vocês viram eu sofrendo durante um no e não fizeram nada para impedir?
Arthur apenas assistia a cena, atonito.
--- E você queria o fizéssemos o que? " Oi Will, o Seth está morrendo, quer beber café hoje depois do trabalho? "
Will levantou do banco onde estava sentado e olhou para Luigi.
--- Vocês deviam ter me avisado! Caralho, Luigi, eu fiquei um ano me perguntando o que havia acontecido! Que porra de amigos vocês são?!
Will pegou seu casaco que estava em seu colo e o vestiu. Virou as costas e se dirigiu até a porta.
Voltou antes de chegar até ela.
--- Quer saber? Eu acho que sua relação com o Peter já deu o que tinha que dar. Se vocês ficarem juntos por mais um ano, vai ser por sorte.
Saiu praticamente correndo, e bateu a porta quanto cruzou-a.
Um pequeno risco branco de formou no vidro.
--- Está rachado? --- perguntou Arthur.
--- Eu pago outro --- disse Luigi, encarando a porta.
--- Ainda bem, porque é um vidro caríssimo.
Luigi assentiu, apesar de não ter ouvido o que Arthur dissera. Sua mente estava focado no advogado enfurecido que havia rachado o vidro de tanta raiva que ele estava sentindo.



Enquanto fechava o ziper da sua mala, Peter agradecia por estar indo embora daquele navio. Fez uma anotação mental para que nunca viajasse de cruzeiros --- a vida dentro de um navio era angustiante. As unicas coisas que ajudavam era que Peter podia sair e andar pela cidade o quanto quisesse.
Ouviu passos atrás de si e se virou. Christopher já estava pronto para ir pro aeroporto.
O clima entre eles já parecia ser mais normal, pois parecia que Christopher já tinha entendido que não ia rolar nada entre ele e Peter.
Mas Christopher sempre arrumava maneiras de demonstrar interesse. Durante aquela viagem, as tentativas de ficar com Peter foram inúmeras --- desde um simples flerte até um beijo forçado no pescoço dele.
--- E aí --- começou ele --- Ansioso para voltar para casa?
--- Mais do que nunca --- respondeu Peter, sincero --- Estou contando nos dedos.
Christopher sentou-se na cama, ao lado da mala que Peter havia acabado de fazer.
--- Então você e o... Está tudo bem estre vocês?
Peter fingiu não perceber o cuidado que Christopher estava tendo para não dizer o nome.
--- Luigi? Sim, acho que sim. Quer dizer, ele me ligou hoje de manhã, vai me buscar no aeroporto... Está tudo normal.
--- Tem certeza? Porque passar o aniversário de namoro separados não é para qualquer casal.
Peter suspirou fundo. Para que tocar naquele assunto?
--- Foi apenas um ano. Teremos mais para comemorar daqui pra frente.
--- Nunca se sabe...
Peter o encarou com olhos de impaciencia.
--- Está dizendo o que?
Christopher se levantou e foi em direção á porta do quarto.
--- Peter, nunca diga nunca. Talvez, daqui á alguns anos, você esteja com outra pessoa. Sei lá, comigo talvez.
E lá vamos nós de novo...
Peter respirou fundo e encarou Christopher mais uma vez.
--- E talvez daqui á alguns anos, você esteja morando com um cara legal. Nunca se sabe.
--- Então quer dizer que vamos morar juntos daqui uns anos? Ual, que legal.
Peter se virou rapidamente, colocou a mala de rodinhas no chão e disse, eufórico.
--- Desisto.
Quando sentiu a mão de Christopher agarrar seu braço estupidamente com força, Peter sentiu as unhas dele na sua carne.
--- Mas eu não --- Christopher disse, impondo sua vontade. Em um movimento rápido, soltou o braço de Peter e segurou sua cintura, e com a outra mão segurou em seu pescoço, forçando um beijo de despedida.
Uma cena esquisita. Peter tentando se livrar de Christopher, enquanto este o segurava e colava seus lábios com os de Peter.
As desvantagens de não dar a mínima para academia e musculos definidos era que sua força comparada á alguem com musculos é praticamente zero. Juntando toda a força e podia, Peter segurou na barriga de Christopher e se lançou para o lado oposto, conseguindo se livrar daquele beijo forçadamente ridiculo.
--- Você é um idiota! --- disse Peter.
Vendo a repulsa nos olhos de Peter, Christopher tomou ar e escolheu as palavras.
--- Sabe de uma coisa, Peter? Eu tentei ser seu amigo. Eu até ajudei Luigi quando você sumiu, indo se esconder naquele hotel de quinta categoria. Mas eu cansei. Cansei de esperar, achando que um dia você seria meu.
Peter tinha medo de ouvir as palavras que viriam á seguir.
--- Conte os dias. Logo você estará implorando o meu carinho.
Com os olhos carregados de furia, Christopher saiu do quarto, batendo a porta quando cruzou-a.
Peter estava atonito. Não sabia o que pensar.
Olhou para o relógio em seu pulso e respirou.
Mais algumas horas, e estarei em casa. Voltarei á realidade. Voltarei para minha casa, para a minha vida e para Luigi.


Acho que fiz besteira, pensou Luigi, enquanto tomava banho, horas depois do ocorrido no Archier.
Porque eu contei?! Peter vai querer me matar!
Luigi se perguntou se sua atitude teria sido muito precipitada. Concluiu que não havia sido.
Will só sabia reclamar da vida, do trabalho, de tudo. Se ele soubesse a verdade, talvez ele pudesse começar a viver novamente.
Ou não?
Saber que a pessoa que você ama está com os dias contados te dá forças para encarar a realidade? Ver seu amor sem nenhuma possibilidade de continuar vivo faz você ter forças para olhar pro futuro e aguentar a dor inegável e inevitável que está por vir?
Não. Acho que não, pensou Luigi.
Tentou afastar tais pensamentos da sua cabeça, e pensou naquilo que devia pensar.
Peter.
Ele finalmente estava voltando para casa. Depois de semanas só na companhia de Mick, Luigi finalmente teria seu amor de volta e alguem com que pudesse conversar.
Mick não era exatamente o tipo de pessoa que Luigi costumava conversar. No mundo de Mick só havia espaço para homens de barriga definida, moda e a importancia do tamanho do pinto dos caras que ele fazia sexo. Mick era uma ostra vazia. Nem passava pela sua cabeça algo parecido com livros importantes, filmes que todos devem assistir, ou um relacionamento baseado no amor e na confiança.
Luigi desligou o chuveiro e colocou o roupão de cor salmão. Caminhou até o quarto, deixando um rastro de gotas de agua atrás de si.
Olhou para o guarda roupa e escolheu uma camisa social preta com listras verticais, uma calça jeans azul e tenis Mad Bull vermelho.
Desceu as escadas saltitando e pegou as chaves que estavam no aparador perto da porta.
Quando abriu-a, se surpreendeu com a chuva que começava a ficar mais forte. O dia havia nascido com um ceu totalmente azul, mas a cor havia se tranformado em um cinza escuro.
Luigi respirou fundo e foi para a garagem, onde seu carro prata o esperava.



A voz fina da reporter do tempo enchia o carro.
" A forte chuva que surpreendeu a todos nós não parece que vai acabar tão cedo. As principais ruas da cidade estão completamente congestionadas. Uma fileira de carros aguarda impacientemente uma trégua para finalmente começarem a andar novamente "
Legal. Só falta o lubrificante á base de areia para ficar melhor, pensou Luigi, de dentro do carro cercado por outros automóveis.
Olhou para o relógio e viu que estava quase em cima da hora. O voô de Peter estava previsto para as seis horas, e já era cinco e quinze. Luigi contou mentalmente o quanto era necessário para chegar até o aeroporto, mas como ele não era bom em matematica, não confiou no resultado da sua conta.
O carro á sua frente pareceu andar, mas por poucos segundos.
Òtima hora para ficar em um engarrafamento, pensou Luigi.



Aeromoças sempre estão sorridentes e prontas para serem solícitas. Aquelas não eram diferentes.
Peter se perguntava se aquelas mulheres não possuiam ciclo menstrual, ou qualquer motivo para ficarem estressadas ou desanimadas. Não chegou á conclusão alguma.
Uma das aeromoças, a com o cabelo cor vermelho-vivo anunciou que faltavam quarenta e cinco minutos para pousarem no aeroporto da cidade.
Quarenta e cinco minutos. Só mais quarenta e cinco minutos, Peter.
Peter sorriu quando lembrou-se de um dos seus filmes preferidos da sua infancia: A Bela Adormecida. Sua mente mostrou sua vilã favorita, a bruxa malvada chamada Malévola. Peter sempre sentiu admiração por esta personagem, pois sua atitude para com as outras sempre foi de superioridade --- sem contar que sua roupa era constituida de um vestido preto com lapelas roxas.
Peter lembrou-se de uma frase em especial dita por Malévola ao Principe Felipe. Tal frase era a seguinte:

O que são cem anos para quem ama de verdade?

Sorriu com a lembrança, mas teve que admitir que cem anos, até mesmo para os verdadeiramente apaixonados, era tempo demais. Ele passara quatro semanas no Queen Mary, e achou que não suportaria a ausencia de Luigi por mais tempo.
Pensou na princesa Aurora, com seus cabelos dourados e lábios rubros de rosa. Sabia com certeza que, se Luigi estivesse compartilhando o mesmo pensamento, Peter seria a princesa por causa do cabelo, e Luigi seria o principe, sempre pronto para resolver a situação.
Suspirou fundo e fechou os olhos. Pensou no tempo que faltava para sentir Luigi junto á ele novamente. Seu coração se acelerou com a lembrança dos lábios de Luigi colados aos seus.
Estou voltando para casa, meu amor.



Vinte e cinco minutos! Vinte e cinco minutos!
A fila de carros começava a andar mais rápido, para o alivio de Luigi. Ele queria estar no saguão do aeroporto assim que Peter aparecesse --- Luigi queria e a cena fosse perfeita, como nos filmes. Peter passando pelas portas, enquanto Luigi o aguardava. Depois os olhos dos dois se encontrariam, fazendo com que eles corressem em direção um do outro.
Respirou fundo e começou a acelerar.
Perda de tempo. Logo a fila parou novamente, para seu total desespero.
Que ótimo. Peter vai ficar me esperando, e eu não vou aparecer na hora!
Passou as mãos pelos cabelos que já estavam secos, tentando arruma-los no lugar.
Luigi sabia que os misticos consideravam a Visualização a parte mais importante de uma operação mágica. Na adolescencia, Luigi se interessara por esse meio de vida, e chegou até a conhecer pessoas e frequentar lugares propícios á encontros com essas pessoas, mas os estudos de fotografia roubaram quase todo o seu tempo, fazendo-o se afastar desse meio. Mas Luigi começou a visualizar a cena na sua mente, a cena perfeita dele com Peter no aeroporto.
A visualização move montanhas, disseram á ele anos atrás.


O frio na barriga que Peter sentia era natural devido a sensação das rodas do avião tocando o chão na pista de pouso, então Peter já estava quase acostumado com aquela sensação. A chuva que caia ajudaram-no a sentir tais sensações.
Alguns minutos depois de as rodas taxiarem pela pista, Peter ouviu a aeromoça-chefe dar instruções aos passageiros, mas não lhes deu atenção alguma. Sua atenção era voltada para a cidade que se estendia ao seu lado, e para o aeroporto mais á frente. Para a sua alegria, o avião chegou no aeroporto com dez minutos de antecedencia.
Depois de esperar impacientemente as instruções, Peter caminhou em direção á porta da aeronave e seguiu reto pelo corredor com carpete azul marinho que se seguia á sua frente.
Alguns minutos depois, chegou ao saguão onde devia pegar sua bagagem na esteira, e teve que esperar até que sua mala fosse trazida calmamente.
Seus amigos de trabalho já estavam se despedindo quando Peter ouviu a voz de Christopher nas suas costas.
--- Peter, até segunda.
Peter apenas se virou e sorriu. Suas atenções estavam voltadas apenas para as portas á 20 metros á sua frente. A placa acima das portas era totalmente convidativa --- estava escrito " Acesso ao saguão de saída " em várias linguas, algumas que Peter não reconheceu.
Segurou sua mala pela alça e sentiu as rodinhas deslizarem pelo chão.
Seu coração batia cada vez mais forte enquanto se aproximava das portas com letras sorridentes.


Luigi tinha a sensação que seus pulmões iam explodir de tanta força que ele estava fazendo para respirar. Há alguns minutos atrás, sabendo que ficaria no congestionamento por pelo menos quarenta minutos, Luigi agradeceu por estar na primeira pista da rua e entrou numa rua que cortava avenida que levava até o aeroporto.
Infelizmente essa rua também estava com alguns carros parados, então Luigi, numa atitude impensada, encostou o carro na calçada e pulou do carro.
Olhou no relógio de pulso e viu que tinha dez minutos para estar no aeroporto.
Tenho dez minutos. Apenas dez.
A chuva caía como agua despencando de um balde, mas isso não o deteve. Com o cabelo caindo na testa e as meias completamente molhadas, Luigi correu pelas ruas alternativas em direção ao aeroporto.


Transito. Atrazo na hora de sair de casa. Relógio que devia estar marcando a hora errada. Perda das chaves do carro. Peter estava contando quantos motivos Luigi teria para se atrasar. Olhou para o relógio que estava fixado no quadro de voôs e respirou fundo.
Já eram seis e quinze e nada de Luigi.
Bom, Peter tinha falado com ele horas antes, e Luigi garantira que estaria lá para busca-lo. Dez minutos eram irrelevantes.
--- Está parecendo uma noiva que foi deixada no altar. Mas não se preocupe, seu noivo chegou.
Peter revirou os olhos quando reconheceu o dono daquela voz. Christopher ostentava um sorriso irritante no rosto.
--- Mas vamos para a nossa lua-de-mel, meu amor. Que tal París?
Peter o encarou como se não acreditasse naquilo.
--- Não? --- disse Christopher, sarcástico --- Tudo bem então, que tal o Himalaia? O Congo?
Peter ainda o encarava, na tentativa de faze-lo calar a boca. Não estava conseguindo muita coisa.
--- Austrália? Podemos pular com os cangurus na companhia da Nicole Kidman. Não?
Porque não vai para o inferno? pensou Peter.
--- Ah Peter, sorria vai. Você fica mais bonitinho quando está sorrindo.
--- Você não tem mais nada pra fazer? Sei lá, assistir programas de culinária, ou comprar sapatos ?
Christopher sorriu disposto a fazer mais piadas com a situação.
--- Mas sabe que você é a noiva mais bonita já abandonada no altar? Está fabulosa com essa roupa.
Peter se virou e deu as costas para Christopher.
Antes de viajarem, Peter havia achado Christopher uma pessoa interessante e visto nele até um bom amigo. Mas agora... Tais sentimentos e considerações haviam sumido totalmente.
--- Ele não vem.
Peter ouviu a frase, mas não queria admiti-la.
Christopher deu alguns passos em direção á Peter, e ficou á centimentos das suas costas.
--- Vem, eu te levo em casa.
--- Não precisa. Ele já deve estar chegando.
--- Peter, ele não vem.
Peter se virou e deixou as palavras despencarem por entre seus lábios.
--- E você, Christopher? Para onde vai depois daqui? Para a casa do seu pai que nem se deu o trabalho de vir te buscar? Ou para casa do seu namorado? Ah é ... Esqueci que você não tem namorado. Esqueci que você é um advogado fracassado que gosta de brincar de decorador.
Peguei pesado, mas foda-se, pensou Peter.
Era dificil de ler a expressão de Christopher, pois a mesma estava constantemente mudando.
Raiva. Tristeza. Mágoa. Mais raiva. Mudavam com tanta rapidez que era dificil de saber qual era a predomindante.
As palavras de Christopher sairam gélidas e sem vida.
--- Reze para que você ainda tenha emprego na segunda, Peter Calledon.
Chamar alguem pelo sobrenome sempre indicava raiva ou demonstração de superioridade, e Peter sabia disso.
Peter não demonstrou abalo. Apenas segurou a alça da mala e saiu em direção ao estacionamento do aeroporto. No caminho para lá, olhou para seu relógio que marcava seis e vinte e cinco.
Desculpe, Luigi. Nos vemos em casa.



Encharcado da cabeça ao pés, Luigi chegou ao aeroporto praticamente sem folego e no mínimo dez quilos mais magros. Tal corrida o fez ter conciencia que devia voltar a se exercitar.
Ele entrou feito uma bala de canhão no saguão principal, e seus olhos rapidamente focalizaram o painel de informações que exibia quais aviões ainda pousariam e aqueles que já aviam pousado.
E o viu lá. O avião vindo do sul da California, marcado para chegar á seis horas havia chegado com dez minutos de antecedencia.
E Luigi viu sua cena romantica ir para o ralo quando olhou em todas as direções e não viu o homem de cabelos dourados que ele esperava encontrar. As cabeças das pessoas eram apenas borrões que se moviam rapidamente.
Uma cabeça em especial chamou sua atenção. O dono daquela cabeça estava sentado confortavelmente na poltrona, com os dedos cruzados na frente da barriga.
Olhava fixamente para Luigi, com olhos insondáveis.
Estavam a menos de dois metros de distancia.
O reconhecimento veio de ambas as partes.
Luigi.
Christopher.

Foi então que Luigi percebeu que naquela exato instante Peter devia estar á caminho de casa.
A voz pareceu cortar todas as outras vozes do saguão.
--- Está atrasado, fotografo. Ele saiu faz uns quinze minutos.
Luigi percebeu um tom na voz do outro, que não conseguiu reconhecer qual era.
--- Para você, é senhor fotografo --- disse Luigi, antes de se virar, respirar fundo e correr na direção contraria, indo em direção á saida do aeroporto.


Perdido em pensamentos, Peter não prestava atenção alguma na cidade que passava á sua volta. A chuva que começava a ficar mais forte ainda faziam os vidros do taxi ficarem embaçados.
Tentou ligar para Luigi, mas não conseguiu por seu celular estava descarregado. A unica opção era esperar para chegar em casa.
Ao seu lado estava um jornal do dia anterior, dobrado na sessão de classificados de emprego. Peter ficou imaginando se teria que colocar um anuncio em um jornal desses.
Pensou pelo lado bom. Se perdesse o emprego, não teria mais que aguentar as investidas e indiretas de Christopher.
Pensou pelo lado ruim. Ele se tornaria dependente financeiramente de Luigi. Não que dinheiro fosse um problema para eles, mas viver ás custas do seu namorado é algo que Peter não sabia como fazer.
Pensou pelo lado bom novamente. Teria tempo disponivel para seus hobbys, para sua bela casa e para seu perfeito namorado.
Pensou pelo lado ruim. Ficaria em casa o dia inteiro, ficaria neurótico por causa da sua mania de limpeza e teria que ficar esparando, todos os dias, que Luigi voltasse para casa. Peter se sentiu como essas mulheres que esperam seus maridos marinheiros voltarem do mar.
Quando deu por si, Peter já estava na portaria do seu condomínio fechado, com o porteiro sorrindo para ele.
O carro seguiu pela leve colina, e segundos depois Peter já estava na porta da sua casa.
Se perguntou se Luigi estaria lá dentro.
Bom, só há uma forma de saber.
Peter deu o dinheiro para o taxista e saltou para a chuva gelada.
Subiu os degrais e suspirou quando chegou á porta. Colocou a mão na pesada maçaneta e girou-a. Estava aberta.
Peter passou pela porta e fechou-a.
A casa estava deserta. Nenhum som. Nenhuma alma viva á vista.
Sua sala continuava a mesma de sempre. Os sofás ainda de frente para o outro, formando um corredor que seguia em direção á lareira. A estante de livros e DVD´s continuava no mesmo lugar. Tudo parecia absolutamente normal.
--- Lui? Lui, está aí?
Silencio. Nada se movia.
Peter constatou o óbviu --- Luigi estava fora de casa, sabe Deus lá aonde.
Largou a mala perto do aparador e seguiu escada acima. Um banho era algo bem vindo naquela hora.
Passou no quarto e apanhou seu roupão de cor azul marinho, e reparou que o roupão cor salmão de Luigi estava jogado na cama.
Sorriu e sentiu mais falta ainda.


Luigi implorava para que o taxista fosse o mais rápido possivel.
--- Estou na pista de 70 quilometros --- dizia o homem, que já era idoso --- E estou indo á 80!
Luigi afundava no assento de trás, impacientemente.
Já havia perdido Peter no aeroporto, mas pelo menos tinha esperança de chegar antes dele em casa. Tentou ligar para casa, mas o telefone apenas chamava. Isso deu a Luigi a esperança de que ainda dava para chegar em casa antes de Peter.
Para piorar, a chuva parecia querer dividir a cidade em duas partes. Caía do ceu como foguetes lançados em direção á Terra.
Luigi levantou as mãos aos céus quando o taxi encostou na portaria do condomínio. Antes de entrar, o taxista teve que dar passagem para outro taxi que saía do condominio.
Obviu demais. Peter já está em casa.
O taxista engatou a marcha e subiu a pequena colina, rumo em direção á maior casa daquele conjunto habitacional.

E o ponteiro dos segundos avança ...

Peter já tinha terminado seu banho e estava penteando os cabelos em frente ao espelho. Tinha feito a barba e passado desodorante. Queria estar perfeito quando Luigi chegasse em casa.
Colocou o roupão e saiu para o quarto. Uma ultima olhada no espelho antes de descer as escadas.
Foi para a porta que estava fechada e girou a maçaneta. Não entendeu quando, antes de girar a maçaneta, ela já estava sendo girada pelo outro lado.
Com a mão ainda na maçaneta, a porta se abriu sem que Peter a puxasse.
Quando levantou os olhos, se viu olhando para um jovem de cabelos castanhos, completamente molhado. Suas bochechas estavam vermelhas, resultado da maratona que aquele rapaz havia corrido para chegar alí na hora.
Não importava se ele estava atrasado. As ultimas quatro semanas não importavam. Peter sabia que aquele homem seria seu para sempre.
O coração de Peter se acelerou quando o rapaz na sua frente sorriu.

E o ponteiro dos segundos retrocede ...

Luigi entrou num rompante sala á dentro. Não se importou com as roupas molhadas que começavam a formar poças no chão. Nada mais importava.
Apenas uma pessoa importava.
Sua cabeça girou, tentando vasculhar o primeiro andar da casa, na procura por ele.
Ele não estava ali.
No mesmo segundo que olhou para as escadas, suas pernas já o levavam escada á cima, como se possuissem vida propria.
Quando chegou em cima, todas as portas do corredor estavam fechadas, mas isso não mudava nada. Luigi sabia onde seu amado estaria.
Quando chegou á porta do seu quarto, olhando para baixo, determinadamente colocou a mão na maçaneta e a girou. No mesmo instante empurrou a porta, e se deparou com o homem vestido de azul á sua frente.
Nunca viu nada mais lindo. Quando seus olhos focalizaram os olhos do outro, seu coração se acelerou. Como já pensara certa vez, anos atrás, olhos tão azuis que fariam o oceano ficar com inveja.

E o ponteiro dos segundos anda normalmente.

Todos os sentidos, de Luigi e de Peter, estavam completamente despertos. Em um abraço tão apertado, eles sentiam o cheiro um do outro, sentiam o toque de sua pele um no outro. Entre lágrimas que escorriam pelo rosto, puderam ver o motivo de suas vidas em frente um ao outro.
E finalmente o sentido mais desesperado e incontido. Quando seus lábios se tocaram, eles sentiram a perfeição. Sentiram que a eternidade era algo fácil de se encarar, desde que fosse repleta de momentos como aquele. Um beijo demorado, ansioso, desejado por ambos.
Seus lábios dançavam em uma união perfeita.
Quando se afastaram, Peter lembrou-se da Bela Adormecida, mais especificamente da frase que a Malévola diz ao principe Felipe.
Sim, eu esperaria cem anos por você, pensou ele, entre as lágrimas que insistiam em cair.
A mente de Luigi era um turbilhão de pensamentos que mudavam rapidamente. Mas todos esses pensamentos giravam em torno de uma só pessoa. Foi aí que Luigi se deu conta de que não importava o que acontecesse entre eles. Não importava se um dia Peter o deixasse, ele nunca ia querer ninguem enquanto vivesse.
Voltaram a se abraçar fortemente.
--- Você voltou para casa ... Você voltou para mim.
Peter fazia "sim" com a cabeça quando respondeu.
--- Voltei inteiramente para você. Eu nunca mais irei ficar longe de você, Luigi...
Peter nem percebeu que Luigi estava encharcado por causa da chuva. E tambem isso não importava.
--- Eu ficarei sempre com você, meu amor --- disse Luigi, segurando o rosto de Peter --- Não importa para onde você vá, não importa se você me deixar, eu sempre serei seu. Apenas seu, e de mais ninguem.
Peter tentava segurar as lágrimas, mas não conseguia.
--- Oh, Lui... --- eles estavam agora com as testas encostados uma na outra --- Senti tanta sua falta!
Luigi estava de olhos fechados, prestando atenção na doce voz do seu amado. Instintivamente, seu lábios se tocaram mais uma vez.
Peter segurou Luigi pela cintura e ambos cairam na cama.
A chuva continuou caindo forte, noite adentro, enquanto eles faziam amor apaixonadamente.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Capitulo Quatro - Segunda Temporada.

Um Nome.


Depois da misteriosa sumida de Luigi naquela noite, Mick, Will, Arthur e Tom continuaram na Times até as 5 da manhã.
Aquela noite se mostrou bem interessante a todos.
Arthur e Tom ficaram conversando a noite inteira sobre assuntos diversos. Talvez nenhum dos dois ainda tivevesse notado, mas um precisava do outro de diversas formas.
Entre uma bebida e outra, alguns belos rapazes se interessaram por Arthur e por Tom, mas todos foram dispensados. Quem queria ficar ao amassos com um desconhecido quando se podia ficar em ótima companhia com um bom amigo?
O que mais atraía Arthur em Tom era a sua inocente fragilidade. Tom podia ser alto, usar um sobretudo preto quase toda a hora, mas Tom ainda era uma criança em fase de crescimento. Apesar da sua profissão não ser a que mais dê orgulho, essa era a unica opção que Tom tinha. Quer dizer, ele podia trabalhar em telemarketing, em alguma video-locadora ou em qualquer pizzaria da cidade, mas com esse salário ele não poderia pagar a faculdade de arquitetura e seu apartamento minusculo que ele tinha nas partes não tão bonitas da cidade.
Tom sabia que a hora de ele partir estava chegando. E estava triste por isso. Nestas ultimas três semanas, Tom havia conhecido um pequeno mundo que era novo para ele. Ele havia conhecido lugares interessantes, um grupo de amigos sem preconceito algum e, para magoa-lo ainda mais, havia conhecido um rapaz muito especial. A bondade e a cordialidade de Arthur o haviam atraído profundamente, e deixa-lo era a parte mais triste da situação.
Tom avaliava suas opções.
Poderia sumir por uns tempos, voltar á frequentar as aulas na faculdade pela manhã e passar parte da noite com homens que ele não sabia nem o nome.
Ele poderia também procurar um emprego de verdade, continuar naquele circulo social que tanto o agradou e continuar a faculdade.
Sem chances.
Tom estudava arquitetura na melhor universidade do país que oferecia esse curso. Ele havia passado por diversas provas para conseguir descontos na mensalidade, e o dinheiro que conseguia com os clientes á noite o ajudava á pagar essas mensalidades.
Mas ele ainda tinha um apartamentos, meterial da faculdade e livros didáticos. Como conseguiria manter tudo isso com apenas Um salário mínimo?
Outras questões vagavam pela cabeça de Tom.
Arthur.
Não se apaixone, pensava ele, não se apaixone, não se apaixone!
Como voltar para a ponta do abismo quando você já está em queda livre?
Tom não tinha um relacionamento fazia mais de dois anos. Apesar de nunca ter tentado, ele sabia que as propabilidades de um relacionamento dar certo eram mínimas. Qual cara iria gostar de ver o namorado fazendo sexo com outro cara?
Pelo menos não um cara legal.
Não sabia se era um sentimento recíproco, mas deixar Arthur para voltar á sua antiga vida fazia seu coração sentir pontadas afiadas de dor.
Sabia que era um destino pelo qual ele não podia evitar. Pelo menos não agora.



Will estava entediado. Havia sido arrastado por Luigi para a pista de dança, e menos de cinco minutos depois, se viu sózinho sem o amigo.
Tentou esquecer os problemas e relaxar um pouco, mas não conseguiu. Voltou para o bar e ficou alí, na companhia de seus pensamentos.
Estava cansado de pensar em Seth. Já tinha queimado neuronios demais por uma causa sem motivos.
Mas Will sabia que ainda não estava preparado para esquece-lo. Ele não queria esquece-lo por completo, pois um dia, ele ainda ia querer olhar para trás e ver que havia vivido uma historia bonita. Sem final feliz, isso ele tinha que admitir, mas quantos gays hoje em dia conseguem viver um historia épica?
Ele ainda tinha que pensar em outro assunto importante, os testes que ele não havia feito. Testes que revelariam se Will estava com alguma doença sexualmente transmissível. Ele pensava positivamente, mas alguma coisa o dizia para fazer os testes.
Se ao menos Seth estivesse comigo...
A alguns metros de distancia, um rapaz que fumava um cigarro encarou Will na cara dura. Era bonito, mas nada demais.
O rapaz fez sinal com a cabeça, para que Will fosse com ele para o DarkRoon.
Nove minutos depois, Will chupava o pinto do rapaz, enquanto este revirava os olhos e segurava a nuca de Will, mandando tudo para dentro. Quando gozou, o chão não continha nenhuma gota do seu esperma.



Mick sentia as mãos do homem musculoso na sua cintura, enquanto suas pernas se entrelaçavam com o rapaz careca e tatuado à sua frente.
Hoje a noite é minha.
Mick aproveitava: Com uma mão, massageava o peito do rapaz tatuado, e com a outra segurava a nuca do cara que estava atrás, sentindo a barba por fazer arranhar seu pescoço.
Querendo sua total atenção, o tatuado puxou Mick para si, dando-lhe um beijo rápido e uma passada maliciosa em suas costas.
Vendo tal atitude, o rapaz musculoso segurou na barriga de Mick, querendo-o para si, e colocou a mão por dentro da calça de Mick.
Um fato comprovado é que passivas não gostavam que ativos colocassem a mão em seus pintos, e Mick não era diferente.
Para que enfiar a mão aí, se eu posso fazer isso nele e ainda chupa-lo sem compromisso algum?
Mick virou-se para o musculoso e sussurou " Eu já volto, vou me livrar do careca " e se afastou, segurando a mão do rapaz tatuado.
As intenções de Mick já eram bem claras: Dar um perdido no dragão-musculoso e fazer o careca-tatuado ter ótimas lembranças daquela noite.
--- Vem comigo --- disse Mick para o tatuado --- a um lugar mais...
O tatuado olhou na direção que Mick estava o levando.
--- Escuro --- disse ele, completando a frase.
Mick sorriu maliciosamente e fez com que "sim" com a cabeça.
Chegaram á porta do DarkRoon e Mick colocou a mão na maçaneta, tentando gira-la.
Em vão. Aquele DarkRoon, assim como todos os outros, estavam ocupados.
--- Vamos ter que esperar, eu acho --- disse o tatuado, tentando inicar uma conversa.
Mick estava impaciente. Punheta não resolve todos os problemas, não!
Desde que começara a morar com Peter e Luigi, a vida sexual de Mick tinha dado uma "freada". Não que tivesse perdido sua liberdade, mas chegar ás seis da manhã, depois de ter passado a noite inteira com um desconhecido, era algo que poderia incomodar um pouco á Luigi.
--- Meu nome é Benjamim --- disse o rapaz.
Mick sorriu forçadamente e levantou as sobrancelhas.
--- Ah.
--- E você...?
Mick viu aonde ele queria chegar.
Espero que ele não pense que vai passar disso, pensou ele.
--- Mick --- disse.
Quando Benjamim ia dizer algo, a porta se abriu e um casal de homens saiu.
Um deles limpava o pescoço com a mão, e o outro terminava de passar o cinto pelo passante da calça.
Mick ficou paralisado.
O homem que mechia no cinto era alto, tinha os cabelos em pouca quantidade, bem pretos. Sua pele era morena-clara, e no seu rosto logo notava-se uma barba que começava á se formar.
Mick não acreditava no que via.
Ele conhecia aquele cara. Já tinha visto sua maneira de andar, seu modo de falar, e sua maneira á se dirigir aos alunos.
Aos alunos.
Mick tinha aula com aquele cara todos os dias. Mas ele não era um colega de classe.
Ele era um professor.
Professor Richard. O mesmo professor que deu nota Dois ao trabalho de Mick. O mesmo professor que dissera á Mick para desistir da faculdade de moda e fazer outra coisa.
Mick ainda não acreditava.
O professor Richard? Gay?! Como? Desde Quando?
A mente de Mick pipocava de pensamentos.
Richard olhou para o casal que esperava para entrar no DarkRoon, e reconheceu o garoto magro de cabelos louros que o encarava sem acreditar no que via.
Michelangelo Bernal. A bicha-estilista que eu dou aula todos os dias.
Richard não se abalou, nem demonstrou espanto algum.
--- E aí --- disse para Mick, quando começou a se afastar de mãos dadas com o homem que havia saído do DarkRoon com ele.
Benjamim não estava entendendo nada. Mick ainda estava de olhos arregalados, sem dizer nenhuma palavra.
Benjamim começou a estralar os dedos na frente do rosto de Mick, tentando acorda-lo.
Mick piscou duas vezes, rapidamente, e voltou á realidade.
--- O que houve? --- perguntou Benjamim.
--- Nada --- disse Mick, colocando a mão no bolso de Benjamim e retirando o pacote de preservativos do seu interior --- Vamos. Agora.
Entraram no DarkRoon e fizeram o que tinham que fazer.
Enquanto Benjamim segurava na cintura de Mick e mandava tudo para dentro, Mick só pensava em outra pessoa.
Surpreendeu-se imaginando as mãos e o pinto de Richard tocarem o seu corpo.



Quando, ás 5:38hrs, os portões da Times se abriram num rompante, Arthur e Tom saíram dalí cantando alto e se segurando um no outro. Ora riam, ora cantavam. Seus passos eram rápidos, mas praticamente em zigue-zague.
Tinham bebido um pouco mais do normal, mas estavam completamente sóbrios do que estava acontecendo.
A cabeça de Arthur estava começando a doer --- ele não estava acostumado aos efeitos do alcool. As imagens que seus olhos capturavam demoravam para acompanhar o movimentos de seus olhos.
Tom estava melhor. Sua cabeça não doía, mas seus olhos também estavam em camera lenta.
--- Fumamos alguma coisa? --- perguntou Arthur, rindo.
--- Não --- respondeu Tom --- você que não está acostumado com bebida.
--- Que bebida? Eu só tomei refrigerante.
Tom riu alto.
--- Refrigerante á base de gasolina, só se for!
Arthur riu compulsivamente enquanto andava.
Minutos depois, chegaram em casa. Perderam ao menos dois minutos tentando encontrar o buraco da fechadura.
Quando entraram em casa, não conseguiram fazer muita coisa. Caminharam em direção ao sofá.
Arthur foi o primeiro a ir para o sofá de tres lugares. Quando deitou, começou a esfregar os olhos com a palma da mão.
Tom ficou em pé, olhando para Arthur.
É melhor ele tomar alguma coisa.
--- Eu vou fazer café para você.
Arthur olhou para Tom sem entender. Ele estendeu os braços na direção dele e disse:
--- Não precisa. Fique aqui comigo.
Tom aceitou o "convite" e deitou em cima de Arthur. Sua cabeça estava pousada levemente no peito de Arthur. Suas pernas estavam entrelaçadas.
Arthur começou a passar a mão nas costas de Tom. As feridas já estavam completamente curadas. Apenas algumas marcas continuaram para contar a história.
Tom deu um suspiro longo e profundo. Estava pensando em muitas coisas.
--- Tom?
--- Sim?
--- Qual o seu verdadeiro nome?
Tom sorriu. Fazia semanas que estava na casa de Arthur, e tinha conseguido esconder a verdade.
--- Isso não é importante.
--- Para mim é.
--- E por que?
Arthur fez uma pausa antes de responder.
--- Porque você é importante para mim. E... Eu sinto que há uma parte da sua vida que eu não conheço.
Tom olhou para ele e deu um sorriso triste.
--- Não... Você não precisa conhecer essa parte --- Tom pegou na mão de Arthur e entrelaçou os dedos --- Você... Deu inicio á melhor parte da minha vida. Você já faz parte dela, e é isso que importa.
Tom não queria admitir, mas a hora havia chegado. Tinha que sair dalí o quanto antes. Não queria admitir á si mesmo, mas sabia que o tal sentimento existia, e era forte.
Tom se levantou do sofá e parou no meio da sala. Arthur sentou no sofá, encanrando Tom.
--- Isso... Arthur, por favor, entenda. Isso não pode...
--- Porque?! Eu não consigo ver obstáculos!
--- Mas eu consigo.
Eles estavam á ponto de gritar. Seus sentimentos estavam destruindo as barreiras que haviam construido envolta de si.
Um pensamento conhecido á Tom passou novamente pela sua cabeça. Tal pensamento havia se mostrado de manhã.
Como voltar para a ponta do abismo quando já estamos em queda livre?
Arthur levantou do sofá e foi até Tom, ficando á centimetros do seu rosto.
Olhava no fundo dos olhos dele; e conseguia sentir sua respiração.
--- Me dê apenas um motivo. Apenas um, e eu nunca mais volto á tocar no assunto.
Tom suspirou impacientemente.
--- Nunca diga nunca.
--- Responda.
Tom cruzou os braços e olhou para o chão. As palavras já estavam se formando, mas havia a incerteza em pronuncia-las.
Sabia que havia esperado tempo demais --- e que deixara a situação ir longe demais, muito mais do que os limites considerados "seguros".
--- Eu... Eu não conseguiria tocar em nenhum outro homem... E... E você não ia querer que eu o fizesse. Isso atrapalharia meus planos.
Tom sentia que estava tirando o mundo de suas costas.
Arthur entendia o que ele queria dizer. Por um momento, considerou a idéia de ignorar o fato de que Tom faria sexo com outros homens, além dele.
Arthur pegou na mão de Tom e se aproximou ainda mais.
--- Quanto á isso... Deixe que eu resolva. Eu só quero que você fique comigo. Faça sexo com outros homens, mas faça amor apenas comigo.
Tais palavras tocaram fundo o coração de Tom. Desde que começara a se prostituir, nunca havia conhecido um homem que o tratasse daquela forma. Quase sempre era um "obrigado" depois de transarem.
--- Vamos fazer assim --- disse Tom, com uma idéia se formando em sua mente --- Vá para o Archier. À noite conversamos melhor. Ainda estamos meio altos.
Arthur sorriu diante da possibilidade de ter Tom para si.
--- Certo.
Arthur sorriu e deu um abraço apertado em Tom.
A vontade de Tom era de beija-lo até perder o folego. Mas ele sabia que aqueles lábios demorariam um pouco para se tocarem.
Arthur sorriu e foi em direção ao banheiro. Tom foi até a cozinha e preparou um café.
Meia hora depois, Arthur saiu para o trabalho.
A mente de Tom começou a maquinar a idéia.
Tom arrumou a casa, depois tomou um banho e se vestiu com o habitual sobretudo preto.
Sabia que a hora havia chegado.
Ele foi até a mesa de telefone e arrancou uma folha de papel do bloco de recados.
Com a caneta, escreveu, em uma letra muito bonita e legível, apenas duas palavras.
Parecia que estava escrevendo em seu coração, usando uma faca afiada.
Pegou o papel e foi até o quarto de Arthur. Deixou o papel em cima da cama.
Pensou se um dia ele dividiria aquela cama com Arthur. Como Arthur havia dito antes, eles fariam amor.
Quando sentiu as lagrimas se formando, ele respirou fundo. Não era hora de ficar abalado e voltar atrás. Já estava no fundo do abismo e não tinha mais como voltar.
Não sabia se queria voltar. Não sabia se, quando voltasse, ele conseguiria manter uma relação sem se magoar ou se ferir intensamente.
Saiu do quarto e voltou para a sala. Sabia que era clichê, mas deu uma ultima olhada para a simpática casa onde havia passado algumas semanas.
Respirou fundo novamente e virou ás costas, indo em direção á porta de saida.
Quando passou por ela e fechou-a, sentiu que estava trancando novamente seu coração e jogando a chave fora.
Foi embora sem olhar para trás.



O silencio reinava na pequena casa quando Arthur voltou do trabalho, á noite. Achou estranho que todas as luzes estivessem apagadas, e que o silencio fosse soberano, como se fosse o dono da casa.
Acendeu a luz da sala e olhou para os lados. Nada.
Resolveu chama-lo.
--- Tom? Está no banho?
Arthur foi até o banheiro, com o coração batento cada vez mais rápido.
Chegou lá e se decepcionou. Não havia ninguem.
Não, ele disse que ficaria!
Correu para o pequeno quarto de hóspedes, mas a situação continuava a mesma.
O quarto estava vazio. Nem mesmo o sobretudo preto dele estava pendurado no lugar onde sempre ficava.
Isso só podia significar uma coisa. Algo que Arthur não queria admitir para si mesmo.
Ele foi... Não!
Arthur não entendia o porque. Achou que eles podiam superar aquilo juntos.
Juntos?
Foi então que Arthur percebeu que talvez nunca fosse te-lo. Sabia que nunca poderia compra-lo, como vários outros homens faziam.
Tinha que admitir que estava lutando por uma causa sem fundamento.
Ele nunca poderia ser meu. Ele... Ele nunca poderia ser de ninguem.
Arthur se arrastou até o quarto. Quando acendeu a luz, se surpreendeu com o papel dobrado encima da cama.
Quando leu o que estava escrito, suas sobrancelhas se abaixaram, em dúvida. As letras eram muitos bonitas e totalmente legíveis.
Colin Macfadyen.
???
--- Mas o que...
Então Arthur entendeu o significado daquelas palavras. Aquilo era um nome e sobrenome.
Nome e sobrenome de... Tom.
Mas qual era o significado daquele gesto? Tom revelara seu verdadeiro nome na intenção de dar alguma esperança para Arthur?
Ele não sabia dizer. Mas, em seu intimo, sabia que aquilo signifcava algo que apenas pessoas especiais poderiam saber.
Garotos de programas nunca revelavam seus verdadeiros nomes. Apenas... Apenas se...
Se o que?
Arthur dobrou a folha e colocou-a no criado-mudo ao lado da sua cama.
Ele esfregou os olhos, e decidiu tomar um banho.
Quando estava embaixo do chuveiro, sentiu suas pernas sobrarem, e se sentou no chão. A agua caía em seu corpo delicadamente.
Arthur não queria pensar. Não queria considerar a idéia.
Eu o perdi? Ele... Nunca será meu?
Ficou com medo da resposta. Fechou os olhos e deixou que a agua caísse sobre ele.

sábado, 28 de novembro de 2009

Capitulo Três – Segunda Temporada.

Cinco anos.


Quando Luigi desceu as escadas, indo para o primeiro andar da casa, e foi em direção á cozinha, conseguiu ouvir a voz de Mick conversando com uma mulher. Luigi não reconheceu a voz de imediato, mas quando chegou á porta da cozinha, o reconhecimento foi imediato.
Mick estava preparando uma tigela de cereais enquanto conversava com Kirsten, a irmã gêmea de Peter.
Mesmo já estando acostumado com a presença de Kirsten, Luigi ainda ficava impressionado com a imensidão da beleza dela. Seus cabelos dourados estavam presos por um rabo-de-cavalo, mas uma pequena franja caia no canto direito do rosto.
Quando Luigi apareceu na cozinha, Mick sorriu cauteloso. Não sabia como o humor de Luigi estaria naquela manhã. Depois de tanta espera e de tantos planos, um dia em especial estava á um passo de chegar. Mas pelo visto, Luigi comemoraria aquele dia sozinho.
--- Kirsten, Mick. --- Luigi sorriu e piscou um olho para eles.
--- Bom dia, Luigi --- disse Kirsten, enchendo uma xícara de café o estendendo para ele.
Luigi pegou a xícara e agradeceu.
--- E... Está tudo legal? --- perguntou Mick, procurando uma colher.
A voz de Luigi vinha carregada de sono, até parecia que ele havia ficado a noite inteira dormindo.
--- Certo --- respondeu Luigi.
Kirsten e Mick se entreolharam.
Kirsten não fazia idéia do que aquele dia significava.
--- Hã... E o que quer fazer hoje? Podemos ir na Times e dançar a noite inteira. --- Mick sugeriu enquanto começava á comer o cereal.
Luigi estava de costas para eles, olhando pela janela o sol que começava á ficar mais alto.
Continuava á encarar o horizonte quando respondeu.
--- Não sei... Acho que quero ficar em casa.
--- Devia ir, querido --- disse Kirsten --- Sabe como é, arejar a cabeça e tal.
--- Devia mesmo --- disse Mick --- Você só ficou enfiado nesta casa desde que Peter viajou... Ele ainda vai demorar um pouco, sabe disso.
Luigi virou o rosto e fuzilou Mick com os olhos.
--- Obrigado por lembrar.
Mick percebeu que perdera uma ótima oportunidade de ficar calado.
Kirsten queria melhorar um pouco o astral.
--- Luigi, você vai ficar legal. Até parece que vocês nunca ficaram mais de uma semana separados.
Luigi respondeu sem se virar para olhá-la.
--- Nunca. No máximo dois dias.
--- E não foi numa data especial --- Mick disse com a intenção de colocar Kirsten á par da situação.
Kirsten franziu a testa.
--- Data especial? Que data?
Luigi largou o copo dentro da pia; praticamente o atirou lá.
Encostou as duas mãos na pia e baixou a cabeça.
Aquela distancia o estava fazendo ficar maluco. A primeira coisa que fazia quando acordava era esticar o braço para o lado, na intenção de abraçar Peter, mas a única coisa que abraçava era o espaço vazio e frio. Não tinha vontade de comer, estava magro e pálido. Não se preocupava muito com o estado de suas roupas, sua sorte era que tinha um consultor de moda em casa, que o ajudava á andar mais apresentável no trabalho.
Mas o que mais enlouquecia Luigi era o silencio naquela casa. Quando Mick estava fora, a casa parecia um santuário reservado para rezas. Nada fazia barulho, nem mesmo os vizinhos, ou as maçanetas das portas.
Não sabia se era coisa da sua cabeça, mas Luigi começava á achar que as paredes da casa estavam começando a ficar cinza. De um verde jade-claro, estava surgindo um verde musgo acinzentado. Mas era apenas coisa da sua mente.
Luigi se virou para responder.
--- Amanhã... Peter e eu fazemos cinco anos juntos.
--- Ou melhor --- disse Mick, consultando o relógio de pulso --- Daqui á mais ou menos doze horas e cinqüenta minutos.
Luigi atirou o pano de secar pratos na cabeça de Mick.
--- Cinco anos? Caramba, meus parabéns --- disse Kirsten.
--- Valeu --- respondeu Luigi, balançando a cabeça.
Luigi ainda conversou com Kirsten por mais uns cinco minutos, dizendo á ela historias engraçadas que haviam acontecido nesses últimos anos.
Mick se irritou com toda aquela nostalgia e interrompeu a conversa.
--- Tudo bem, tudo muito lindo e blá blá blá --- se virou para Luigi e apontou com o dedo indicador --- A senhora esteja aqui ás dez horas --- e apontou para Kirsten também --- E a senhorita também. Os meninos também vão.
--- Arthur e Will? --- perguntou Kirsten.
--- Eles mesmos.
--- E como o Arthur está? Depois daquela historia do vídeo e tals... --- perguntou Luigi.
--- Que historia? Que vídeo? --- Kirsten quis saber.
Mick olhou para ela como se ela fosse a mulher heterossexual mais desinformada do mundo.
Luigi se deu conta do horário, melancolicamente.
--- Longa historia --- disse ele --- Mick vai te explicar tudo. Tenho que sair agora.
Enquanto saia da cozinha, ouviu a voz de Mick murmurar a frase "espero que ele tome um banho e troque de roupa antes de sair". Pensou em voltar e atirar uma cadeira nele, mas Peter ficaria chateado com isso. As cadeiras de madeiras eram importadas diretamente da Itália, portanto eram caríssimas.
Subiu as escadas e foi para seu quarto. Recolheu uma toalha limpa e roupas para o trabalho. Antes de sair do quarto, viu o relógio e parou.
Precisou de segundo para fazer a conta, pois era péssimo em matemática.
Faltavam doze horas e quarenta e dois minutos para os cinco anos se completarem.



Quando Mick viu a nota do seu trabalho, seu queixo praticamente afundou na mesa. Ele passara as ultimas duas semanas trabalhando em cima daquele projeto, e com certeza merecia uma nota bem maior do que aquela. Esse era o trabalho onde ele tinha que recriar três vestidos de estilistas famosos, e ainda fotografa-los e coloca-los em um portfolio. Apesar de Luigi ter tirado as fotos (nada melhor que fotografias de um excelente profissional), foi Mick que organizou as três fotos dentro do album.
Mick resolveu esperar pelo término da aula para ir pedir satisfações ao professor de historia da Moda, um sujeito alto, cabelos ralos e escuros e com barba por fazer.
Fazia semanas que aquele professor estava pesando em cima de Mick. Mick fazia os melhores trabalhos, as melhores pesquisas, sempre era pontual e responsável quando se tratava da faculdade. Mas isso não era o suficiente para que esse professor visse o esforço que Mick fazia.
Quando o sinal soou, Mick segurou sua mochila nos ombros e esperou que todos saíssem da sala. Não queria platéia. Ninguém precisava saber do 2,0 desenhado em vermelho na capa do portfolio do trabalho.
Quando todos saíram, Mick se encaminhou para a mesa do professor, segurando o portfolio com a mão esquerda. Quando chegou á mesa, Mick jogou o portfolio sem cerimônia alguma, fazendo alguns papéis cairem no chão.
O professor não expressou reação alguma.
--- Professor Richard -- disse Mick, sem dar a mínima para os papeis que estavam no chão --- Eu acho que houve um pequeno engano. Ou um grande engano, tavez.
Richard havia acabo de recolher os papeis do chão e começava á organiza-los novamente.
--- E eu acho que não houve engano algum. Os alunos recebem a nota que merecem. --- respondeu ele, seco igual ao deserto do Saara.
--- Dois!? Eu confeccionei os três vestidos, e recebo um Dois!?
--- Sim. Fim de caso.
Mick estava perdendo a paciencia.
--- Professor Richard --- Mick deu a volta na mesa e agora estava de frente para o professor --- Não é fim de caso coisa nenhuma. Esse trabalho vale setenta por centro da prova semestral!
--- Eu sei. Eu sou professor, esqueceu?
--- Mas eu não posso ficar com nota vermelha em nenhum semestre!
Richard suspirou fundo, sem tirar os olhos dos papeis que ele analisava.
--- Michelangelo... Faculdade é assim mesmo. Tudo é dificil. Se você não é capaz de tirar notas altas, isso significa que você não é capaz de estar no mundo que você quer estar.
As palavras giravam na mente de Mick. O que esse idiota está falando?
--- Como é que é? --- disse Mick.
--- Michelangelo, por favor, não é nada pessoal. Mas acho que uma carreira na moda não é algo destinado á... você. Você devia, sei lá, ser jornalista ou diagramador.
Richard tinh um sorriso irritante no rosto.
Mick estava em fúria. Ele nunca teve duvidas de que seu futuro profissional estivesse no meio da moda. E aí vem esse idiota e diz que ele não serve para a profissão?
--- Pense no que eu te disse, Michelangelo --- disse Richard, levantando-se da mesa e pegando sua bolsa cheia de papeis --- Você daria um excelente... Barista. É.
Deu dois tapinhas leves no ombro de Mick e se dirigiu até a porta. Quando chegou lá, deu um sorriso e fez um "não" com a cabeça.
Saiu com passos rápidos e largos.
Mick tinha na cabeça, no mínimo, oito lugares diferentes para mandar o professor Richard.


O relógio de parede do Archier marcava 15hr45min quando Luigi entrou e sentou-se no balcão. Arthur estava ao telefone, e fez sinal para que o esperasse terminar a ligação.
O dia se arrastava lentamente para Luigi. Ele ficava olhando para o relógio á cada cinco minutos, mas parecia que o relógio avançava apenas um minuto.
Luigi tinha uma pausa na revista e foi para a livraria-café para arejar um pouco a cabeça.
Enquanto estava sentado, esperando Arthur terminar de falar ao telefone, Luigi percebeu olhares curiosos e cochichos sussurados para o amigo. Outros riam, outros olhavam com duvidas e outros o olhavam com certeza.
Quando a ligação terminou, Arthur foi para perto de Luigi e apoiou os cotovelos no balcão. Parecia ter dormido mal.
--- E aí, gatão --- disse Luigi, tentando anima-lo --- Tudo certo?
Arthur suspirou fundo e olhou em volta da loja.
--- Já tive dias melhores. Dias que ninguem me conhecia. Acredita que um cara chegou aqui, dizendo que era produtor de filmes eróticos, e me convidou para fazer um filme?
Luigi ia dar uma risadinha, mas o olhar de Arthur o impediu.
--- Sério? Credo.
--- Pois é --- disse Arthur --- Com roupa de boracha e tudo.
--- E pagavam bem?
--- Pior que sim. Mais do que eu ganho aqui em seis meses.
--- Ual. Você devia ter aceitado.
Arthur sorriu e passou a mão nos cabelos.
--- Talvez. Eu poderia ter sido indicado ao Oscar da industria porno.
--- Ator revelação, com certeza.
Arthur e Luigi riram meio alto.
Arthur foi até a maquina de capuccino e começou a preparar um para Luigi.
--- E aí --- disse Arthur, de costas para Luigi --- Como vão as coisas?
--- Vão ficar melhores --- respondeu Luigi.
--- Amanhã você e o Peter...
--- É, eu sei. Estou tentando não pensar muito nisso.
--- Conseguindo?
--- Não.
Arthur se virou com um copo cheinho de capuccino fumegando.
Luigi olhou para o copo e forçou um sorriso.
--- Eu tentando não pensar, e você me traz capuccino. Você sabe que o Peter que é viciado no seu capuccino. Como não pensar nele se tudo conspira contra a minha vontade? Você é um enviado do inferno, que me traz a tentação.
Arthur levantou uma sobrancelha e olhou fundo para Luigi.
--- Cala a boca e toma logo isso. Aproveita que é de graça.
Luigi piscou repetidas vezes e entrelaçou os dedos abaixo do queixo.
--- Você é uma fada, obrigado.
Arthur sorriu e não disse mais nada. Ficaram alguns minutos em silencio.
--- E então, você vai na Times hoje, não vai?
Luigi revirou os olhos.
--- Acho que não tenho muitas escolhas, tenho?
--- Nenhuma. Mick vai te levar mesmo que for amarrado pelo pinto.
--- Que sexy.
Ao ouvir o sino acima da porta sooar, Luigi e Arthur olhavam naquela direção.
--- Falando no capeta --- disse Luigi, tomando o ultimo gole de capuccino.
Mick entrava no Archier praticamente correndo.
--- Café quente. Pegango fogo. Agora. Por favor. --- disse ele, sentando ao lado de Luigi.
Arthur levou a mão perto da testa e fez sinal de continencia.
Luigi apenas observava.
Mick respirava fundo, quase ofegando. Ficava batendo os dedos no balcão repetidamente e em ordem.
--- Okay --- disse Luigi --- Quem saiu da revista G? Antonio Fagundes? Tony Ramos?
Luigi deu uma risadinha, mas Mick o fez parar com um olhar fuzilador.
--- Já calei --- disse Luigi, silenciado pelo olhar de Mick.
Arthur voltou com mais um copo de capuccino e colocou na frente de Mick.
--- Cuidado, está quente --- Arthur o alertou.
--- Perfeito --- disse Mick --- Talvez eu leve para jogar na cara de um professor.
Luigi e Arthur se olharam suspresos.
--- Chamem os bombeiros e segurem a fera --- disse Arthur.
--- O que aconteceu? --- Quis saber Luigi.
--- Aquele idiota me deu dois de média. DOIS!
Arthur não pode perder a oportunidade de fazer uma piada. Sabe como é, perde o amigo, mas não perde a piada.
--- Se fosse quatro, seria mais gost...
--- Arthur, cala a boca. Por favor.
Luigi colocou a mão na boca, disfarçando um sorriso.
--- Relaxa --- disse Arthur --- Depois você recupera a nota.
Mick fez "Humpf" e começou a beber o capuccino.
Luigi voltou a olhar o relógio de parede. A posição dos ponteiros não havia mudado muito.
--- Esse relógio está parado? --- Perguntou para Mick.
--- Hã ... --- Mick olhou para o relógio e voltou para Luigi --- Não. Está funcionando normal.
Luigi não disse nada, mas fez uma expressão que dizia algo como "é melhor verificar as pilhas desse relógio".
Mick percebeu que Luigi estava impaciente. Não teve duvidas sobre o motivo dessa impaciencia.
Isso era algo raro, mas era nessas horas que Mick sentia uma ponta de inveja (inveja boa, claro) dessa relação de Luigi e Peter.
Mick nunca gostara de compromissos, e a idéia de estar comprometido com uma pessoa, apenas UMA pessoa, era meio dificil de engolir. Mas quando ele via a relação que Peter e Luigi contruiram, ele tinha curiosidade de saber como é ter alguem por muito tempo. Talvez um dia, pensava ele, eu saiba como é essa senação. Estou satisfeito por enquanto.
Mick resolveu tentar animar Luigi.
--- E então, gatão, vamos ferver na Times hoje?
--- Eu preferiria ficar congelado na minha casa.
Mick torceu um canto da boca.
--- Claro, e ficar contando os minutos igual um idiota? Nem pensar.
--- Vai ser legal --- disse Arthur --- O Tom também vai.
Luigi e Arthur se olharam e levantaram as sobrancelhas.
Arthur percebeu o gesto nada sutil.
--- O que é? --- Arthur perguntou.
--- O que? Ham? quem? Eu? --- Mick e Luigi se fizeram de desentendidos.
Eles começaram a rir baixo e Arthur ficou com cara de paisagem.
Mick que parou de rir primeiro.
--- Tom. O seu...? --- ele gesticulou com a mão para que Arthur respondesse.
--- Meu... ?
--- Sim. O seu...?
--- O meu oque, porra?
Luigi deu uma cotovelada na barriga de Mick.
--- Ah, diz logo, Arthur --- Luigi falou --- Você e o Tom. Qual é a de vocês?
A testa de Arthur estava franzida.
--- Do que vocês estão falando?
--- Vocês dois estão ... Não estão?
--- Estão o que?
--- Transando loucamente --- disse Mick.
Os olhos de Arthur reviraram.
--- Claro que não. Ele é só... Um amigo.
--- Um amigo que dorme todas as noites na sua casa. Isso pode ser chamado de outra coisa --- Mick insinuou.
--- Você está morando com o Luigi, mas isso não significa que vocês estejam dormindo juntos.
--- Mas é diferente --- respondeu Luigi --- Você e o Tom tem uma certa ligação. Dá até para virar filme: Você salva o garoto de programa e se apaixonam.
--- E vivem felizes para sempre. --- Mick terminou a frase.
Arthur fazia que "Não" com a cabeça e sorria sem acreditar.
Ele e tom tinham virado bons amigos. Fazia poucas semanas que Tom estava na casa de Arthur, e já comentara várias vezes que ele tinha que ir embora, mas por insistencia de Arthur, ele sempre acabava ficando. Eles passavam noites conversando, e já compartilhavam segredos intimos.
Mas Arthur tinha que confessar que já pensara em Tom de forma diferente. Não queria admitir, mas sim, nutria um certo sentimento por ele.
Mas ele tinha que colocar as coisas em perspectiva. Tom é um garoto de programa, e faz sexo por dinheiro. Quais as possibilidades disso dar certo?
--- Não está acontecendo nada, tá legal? Nada.
--- Tudo bem. Mas você já assistiu o Moulin Rouge? --- Mick perguntou.
Arthur fuzilou Mick, e suspirou fundo.
--- Já. Mas o Tom não é a Nicole Kidman.
--- E não tem tuberculose. --- continuou Luigi.
Por fim, Mick sorriu e desistiu do assunto.
Luigi olhou para o relógio e ficou mais animado. As horas tinham passado um pouco.
--- Vou indo --- disse ele --- Ainda tenho uma modelo anorexica para fotografar.
Quando estava indo para a porta, ouviu a voz de Mick ao fundo.
--- Esteja pronto ás dez horas, mocinha. Esteja bem bonita.
Mais uma vez Luigi revirou os olhos. Isso já estava dando dor de cabeça.
Quando saiu, olhou pela vitrine o relógio de parede.
16hr40min.
Mais algumas horas, pensou ele enquanto dirigia para a sede da Vogue.


Era dez horas em ponto quando Luigi, seguido por Mick, Arthur, Tom e Will, entraram no carro de Luigi. Todos estavam bem arrumado e perfumados. A diferença é que Mick teve que praticamente obrigar Luigi á se arrumar.
Will estava calado, como sempre. Seth ainda ignorava as ligações dele, e também nunca as retornava.
Mick já tinha esquecido o incidente com o professor na faculdade. Tinha prometido á si mesmo que este professorzinho não o chatearia mais.
Depois de estacionar e entregar as chaves para o segurança da Times, eles passaram direto pela fila que se formava na porta. Mick havia colocado o nome deles na lista fazia uma semana.
O ambiente era sempre o mesmo. Luzes para todo o lado, barras de ferro na diagonanal, onde alguns caras sarados e suados dançavam, algumas lésbicas perdidas, alguem fazendo sexo oral em alguem, enfim. Nada nunca mudava na famosa Times.
Mick já vira alguns possiveis pretendentes para aquela noite. Havia um rapaz de cavanhaque em um canto, um musculoso na pista e um com cara de mais novo, no mínimo uns dezoito anos.
Arhur e Tom conversavam entre si, Will estava calado igual um defunto e Luigi estava entediado. --- Vou até o bar --- disse Luigi, sendo seguido por Will.
Mick foi para pista dançar com o musculoso e por alí ficou.
--- Está tudo bem? --- Luigi perguntou para Will quando chegaram até o bar que estava vazio.
--- Não sei. Só queria entender o que está acontecendo.
Luigi sabia muito bem o que estava acontecendo. Teve aquela conversa com Peter meses atrás, a respeito de contar ou não á Will que Seth estava muito doente. Não chegaram a um acordo, mas também nunca falaram para Will a verdade.

Uns poucos metros de distancia, Arthur e Tom riam sem parar. Eles passaram os ultimos minutos falando mal de uma drag-queen que estava usando uma calça de couro na cor laranja.
Quando terminaram de rir, Tom olhou acima do ombro de Arthur, como se tivesse reconhecido alguem. Tentou disfarçar, mas não conseguiu. Arthur olhou para traz e viu o cara muito mais velho que Tom estava olhando.
--- Conhece ele?
Tom fez que sim com a cabeça.
--- Esse cara tem tres filhos lindos, uma esposa que até parece uma modelo, uma casa enorme. E é bissexual.
Arthur entendeu o que ele estava querendo dizer.
--- Vocês já...?
--- Já. Digamos que ele é bem generoso.
Tom tentou sorrir, mas não conseguiu muita coisa. De repente, ele percebeu um jovem de no máximo vinte anos olhando com interesse para Arthur.
Esse jovem usava uma camiseta regata preta colada ao corpo, calça jeans azul e tenis branco.
Arthur já tinha reparado nesse jovem também. Desde que chegara na Times.
--- Vai lá --- disse Tom.
Seus olhos eram cautelosos. Ele evitava olhar diretamente nos olhos de Arthur, como se tivesse medo que tal olhar despertasse nele algo que fazia tempos que não sentia.
Arthur balançou a cabeça negativamente.
--- Não faz o meu tipo. Magro demais, cabeçudo demais. E roupas coladas não me atraem.
--- Sei. Você gosta de couro laranja, né seu safado.
Tom deu um tapa de leve nos ombros de Arthur, que sorriu ao ouvir o comentário.
--- Com certeza. Se for metade homem e metade mulher, aí sim que eu fico na furia.

Luigi gostava muito de Will. Muito mesmo. Mas toda aquela ladainha de "Seth não me ama" já estava dando nos nervos. Luigi se perguntava como alguem pode perder tanto tempo esperando uma pessoa que o magoou profundamente. Tentou inverter a situação, colocando ele e Peter como protagonistas. Mas não conseguiu imaginar nada.
--- Vem, vamos dançar --- disse Luigi, pegando pelo pulso de Will e o arrastando para a pista.
A pista principal estava lotada, mas ainda era possivel dançar sem esbarrar nas pessoas.
Apesar de Luigi não ser muit fã de musica eletronica, o som do Jimmy James o fez se animar um pouco. Até Will pareceu mais animadinho, e ficou de costas para ele enquanto dançava.
As luzes iam em todas as direções. Ora verdes, ora brancas. A musica alta fazia a cabeça de Luigi parar de pensar em seu amor que estava á quilometros de distancia.
Luigi fechou os olhos e sentiu cada sentido ficar mais aguçado. Podia sentir as pessoas ao seu redor, conseguia ouvir a musica e sentir as vibrações emanadas da mesma. Sentia o cheiro e o gosto da fumaça produzida com gelo seco. Cheiro de algo quente, e gosto de algo doce.
Sentiu quando um braço envolveu sua cintura e o fez girar nos calcanhares. Sentiu um par de mãos alisar seu peito. Sentiu o rosto desse homem encostar em seu pescoço.
Abriu os olhos. Olhou para o homem que dançava com ele e alisava seu corpo.
As alturas eram as mesmas. O homem era pálido, uma pele igual á marfim. Seus cabelos eram lisos-ondulados, louros bem claros, e caiam como cachos grandes na altura das orelhas. Seu nariz era reto, bem desenhado.
E os olhos. Azuis igual ao oceano.
Em outras palavras, era lindo.
Luigi fechou os olhos e pensou nele. Não no homem que tentava seduzi-lo, e sim no homem á quilometros de distancia.
As mãos daquele homem seguraram o braço de Luigi e fizeram envolver o pescoço.
Luigi sentia a uma mão em seu peito, e a outra em sua cintura.
Ele está aqui. Posso senti-lo comigo.
A mão caminhava em direção á barriga. Alisava, subia e descia.
Seus rostos estavam mais proximos, Luigi sentia a respiração dele.
Porque foi levado para longe de mim?
Narizes se tocanto. Lábios á centimetros de distancia.
Luigi abriu os olhos.
A onda de realidade o levou para o fundo.
Aquele não era seu Peter. Poderia até ser uma cópia mal feita, mas não era Peter.
Os olhos azuis daquele cara eram apagados, praticamente acizentados. Seus cabelos eram cheios demais, rebeldes. Sua pele era cadavérica de tão branca que era.
Não. Você continua longe de mim. Este é uma versão menos bonita de você.
Luigi se afastou do homem a sua frente, que não entendeu o gesto. Ele voltou a pegar na cintura de Luigi e em seu pescoço. Avançou em direção dos lábios, mas foi impedido por um par de mãos em seu rosto.
--- Você não é o Peter --- disse Luigi, confirmando suas suspeitas.
O homem nao entendeu nada.
--- Que? Quem é Peter.
Ele não obteve resposta. Viu apenas Luigi se afastar em direção á porta de saida.
Queria voltar desesperadamente para casa. Quando olhou para o relógio, percebeu que o tempo passara rápido demais.
23hr27min.
Antes de chegar até a porta, esbarrou em Tom, que se encontrava sózinho.
Ele tinha um sorriso estranho nos lábios. Seus olhos mostravam um conhecimento antigo.
--- Não era o Peter --- disse ele.
Luigi sorriu, cansado. Parecia ter corrido as olimpiadas.
--- Não. Nem de longe.
Tom olhou para o relógio e colocou a mão no ombro de Luigi.
--- Corre. Você tem trinta minutos.
Luigi fez que sim com a cabeça e correu em direção á saida.
Arthur apareceu um segundo depois, tinha acabado de sair do banheiro.
--- O que houve? Aquele era o Luigi?
--- Era. Vamos ter que voltar para casa andando.

23hr37min.
O pé de Luigi não conseguia deixar de pisar fundo no acelerador, até parecia que tinha vida propria.
Enquanto ele dirigia em alta velocidade, um motoqueiro acenou para ele com o dedo do meio, e um pedestre o chamou de maluco em plena rua.
Depois desses avisos nada calorosos, Luigi deu uma folga para o acelerador.
Minha casa ainda estará lá. O telefone ainda estará lá. Peter ainda estará... No navio.
A ultima parte da frase não o animou muito.
Olhou para o relógio novamente.
23hr39min.
Pisou no acelerador mais uma vez.

A sequencia de fato foi algo como no filme "Velocidade Maxima".
Estacionou o carro, entreou na casa, jogou as chaves no aparador, tomou um banho de cinco minutos, colocou a roupa de dormir e deitou na cama.
Respirou fundo e fechou os olhos.
Voltou á abri-los e olhou para o lado.
Seus olhos focalizaram o relógio que ficava acima do criado mudo.
23hr50min.
O dia estava finalmente acabando. Não que a angustia de ter seu amor tambem fosse acabar, mas já teria outro significado. Dalí a alguns minutos eles completariam um novo ciclo em suas vidas. Dez é considerado um numero misticamente rico em signicado, e o cinco também. O numero cinco simbolizava a metade de algo profundamente importante.
Cinco anos. Tantas conversas noite á dentro, tantos sussuros trocados pela manhã. Algumas brigas que foram facilmente solucionadas com um beijo apaixonado.
Dezenas de mudanças de mobilia, várias taças de vinho quebradas. Muitos livros comprados, mas apenas alguns lidos.
Alguns obstaculos também.
Christopher. Eric. A viagem para o Navio. Carmen Cortez.
Luigi deitou para o lado e colocou um braço embaixo do travesseiro.
23hr54min.
A distancia é algo que realmente atrapalha?
Em partes. A distancia atrapalha na parte de toques, carinhos, demonstrações publicas de afeto.
Mas pode ter seu lado bom.
O sentimento de que alguem, em algum lugar, o espera. A sensação mínima de felicidade quando a pessoa que está longe pronuncia palavras simples, como "Sinto sua falta" ou "Queria estar aí com você"
Luigi tentou inverter a situação.
E se eu fosse para longe, para fotografar modelos anorexicas em lugares exóticos? Como seria? Peter sentiria a agonia de ter que ir dormir e abraçar o vazio?
Sabia que sim. Peter sempre foi o mais sentimental daquela relação. Era uma piada interna entre eles, que quando eles se casassem, era Peter que estaria vestido de noiva.
23hr57min.
O coração de Luigi batia rapidamente, mais do que o normal. Podia senti-lo saindo pela garganta.
23hr58min.
Luigi lembrou-se do primeiro beijo que havia dado em Peter, anos trás. Uma chuva terrivel caia, enquanto eles se beijavam ao lado de um antigo teatro.
Sorriu com tal lembrança. Nunca pensou que chegaria tão longe.
Peter era um garoto da cidade grande que estava na faculdade. Ele, Luigi, era um aspirante a fotografo que morava numa cidade minuscula.
Quais as chances deles ficarem juntos?
Milhares. Ambos precisavam um do outro de forma enexplicável. Ambos sabiam o que queriam da vida. Ambos não eram aventureiros. Ambos se apaixonaram no primeiro momento que se viram.
23hr59min.
Luigi respirou fundo. Mais fundo. De novo.
Fechou os olhos e sorriu com a imagem que lhe veio á cabeça.
Peter na época da faculdade, de costas, posando sem saber para uma fotografia.
Uma fotografia. Algo tão simples foi capaz de mudar a vida deles.
É como dizem, a felicidade está nas pequenas coisas.
E o amor? Pode considerar que o amor possa ser encontrado nos lugares mais possiveis de se imaginar?
Sim. Era perfeitamente possivel.
00hr00min. Meia noite. Vinte e quatro horas. 1825 dias. Cinco anos.
Cinco anos. Não conseguia acreditar. O fotografo e o decorador. O cara de olhos azuis com o rapaz de cabelos pretos. O descendente de alemães com o descendente de italianos.
Tudo era perfeito.
00hr01.
Luigi foi arrancado de seus devaneios quando o telefone ao seu lado tocou.
Sabia quem era. E sabia porque estava ligando.
Esticou o braço e pegou o telefone.
Colocou-o no ouvido e esperou.
A pessoa do outro lado da linha fez o mesmo.
Sussurros. O oceano ao fundo.
Corações batendo no mesmo ritmo.
Silencio. Um silencio nada constrangedor.
--- Ual --- disse a voz do outro lado da linha.
Luigi sorriu.
--- Pois é.
--- Quase enlouqueci hoje.
--- Engraçado --- disse Luigi --- Meu dia foi um caos, também.
Peter sorriu e suspirou fundo.
--- Eu te amo --- disse sem hesitar.
--- Você é a unica razão para eu estar aqui. Eu te amo mais do que tudo.
Ficaram em silencio por alguns instantes. Conseguiam sentir a presença um do outro.
--- Obrigado --- disse Peter.
--- Pelo que?
--- Por ter feito parte da minha vida nesses cinco anos.
Luigi sorriu quando respondeu.
--- Obrigado á você por ter feito eu fazer parte. E obrigado antecipadamente aos proximos cinco anos.
Peter deu uma risadinha e olhou para o oceano que se estendia á sua frente.
Ficaram conversando durante a noite toda. Estavam cansados, exaustos, mas isso não importou.
Quem poderia trocar uma vida por outra? Quem seria capaz de deixar que a chama de suas vidas fossem apagadas?
Não houve toques naquela noite. Muito menos um beijo sincero e apaixonado.
Apenas palavras. Tiveram que se contentar apenas com o som de suas vozes.
Vozes que foram levadas pelo vento, mas não esquecidas pelo casal apaixonado que as pronunciaram.

domingo, 22 de novembro de 2009

Capitulo Dois – Segunda Temporada.

Complicações á Caminho.



Arthur estava no Archier terminando de preparar um café expresso quando se lembrou de que fazia semanas que não checava sua caixa de e-mail. Não que estivesse esperando algum e-mail em especial, mas Arthur usava esse e-mail também como vinculo com as editoras grandes e as independentes de livros.
Quando entregou o pedido á cliente e colocou o dinheiro dentro da caixa registradora, Arthur sentou-se frente ao computador e entrou no site onde seu e-mail estava hospedado. Localizou o campo de login e senha e clicou em “ENTRAR”. Segundos depois, sua caixa de entrada estava á sua completa disposição.
Não havia quase nada e inédito. Um escritor pedindo ajuda para conseguir publicar seu primeiro livro, que falava sobre a situação econômica da Hungria com os demais paises do mundo, uma garota lhe mandando link ensinando como aumentar o tamanho do pinto sem precisar de cirurgia, um garoto de dezoito anos pedindo para que ele e sua banda pudessem se apresentar no Archier dali a uma semana, e mais alguns que Arthur nem fez questão de abrir.
Quando ia fazer logoff de sua conta, um nome e mais algumas palavras chamaram sua atenção. Tal nome era desconhecido para Arthur.
Jake Carlson Gale.
O nome era seguido por uma frase no campo “assunto”.
Lembranças de uma noite razoável.
???
Arthur inclinou a cabeça para o lado e franziu a testa. Não fazia a mínima idéia de quem era esse homem ou o motivo daquela mensagem. Arthur clicou no link e a mensagem se abriu rapidamente.
Quando a tela carregou completamente, Arthur percebeu um símbolo na canto direito da tela. Um clip de prender papel, isso indicava que a mensagem tinha algum arquivo anexado á mesma.
A mensagem dizia o seguinte:

Refresque sua memória, meu rapaz. E... quer um conselho? Não fique gemendo quando um cara te penetrar, você fica com cara de prostituta.

Abaixo da mensagem vinha um link de cor azul, que o levava á um site de vídeos pornôs. Sem saber o que esperar, Arthur clicou no link e uma outra janela do navegador abriu-se mostrando um site de fundo roxo, e no meio da tela aparecia um vídeo que ainda estava sendo carregado.
Segundo se passaram e o vídeo começou a ser rodado na tela.
Arthur quase caiu para trás.
O vídeo mostrava ele próprio em cima de uma cama, completamente sem roupa, com as mãos e os joelhos encostados no colchão, enquanto um cara com a pele bronzeada e cabelos pretos segurava em sua cintura e mandava ver dentro de Arthur. O cara fazia Arthur rebolar cada vez mais rápido, e os olhos de Arthur reviravam, revelando seu prazer mais intenso.
E gemia. Gemia, pedia mais, e mandava o cara enfiar mais rápido e sem dó alguma.
O vídeo tinha duração de quinze minutos, e nesse tempo Arthur ficou em diversas posições, lambeu cada parte do corpo do outro cara e, para fechar com chave de ouro, Arthur era mostrado só de joelhos, enquanto o cara se masturbava e terminava gozando no rosto de Arthur, deixando seu rosto completamente pegajoso.
O coração de Arthur podia ser ouvido á um metro de distancia. Mais ou menos.
Quando o vídeo finalmente acabou, Arthur lembrou-se daquele cara. A alguns meses atrás, Arthur foi até uma casa de revelação para que imprimissem diversas fotos que ele tinha escolhido. Sua mente foi meio vaga, mas lembrou-se de que tinha transado com esse cara umas duas vezes naquela semana, mas não se lembrava de ter visto câmera alguma no quarto.
Com um olhar mais aprofundado, Arthur percebeu que aquele site era de vídeos caseiros pornográficos, onde era só você ter uma conta e poder postar seus próprios vídeos.
Olhando para a indicação de arquivo anexado, Arthur percebeu que tal arquivo vinha descrito com um nome.
“Foda depois de um dia de trabalho.WMA”
Os olhos de Arthur desviaram da tela do computador direto para o teto da livraria-café. Suas costas tocaram o chão e depois sua cabeça.
Segundos depois, todos os clientes do Archier se perguntavam o porquê do repentino desmaio do rapaz que ali trabalhava.


Meia hora depois, Arthur sentiu que estava com a cabeça apoiada no colo de alguém. Quando percebeu quem era, ficou contente por tal pessoa estar ali.
Qual seria sua reação, por exemplo, se Peter estivesse ali e tivesse que explicar o desmaio?
Não é nada, Pet, é só um videozinho pornô em que eu sou a estrela. Quer café?
A voz do rapaz acalmou Arthur na hora.
--- Arthur, o que houve? O que aconteceu?
Tom estava com as pernas cruzadas, e a cabeça de Arthur estava apoiada ali. Tom alisava os cabelos de Arthur bem suavemente.
Olhando para os lados, Arthur percebeu que o Archier estava completamente vazio, e que a placa de “FECHADO” estava pendurada na porta de vidro.
--- Tom, você... O que houve?
A cabeça de Arthur doía por causa da queda no chão.
--- Uma cliente ligou desesperada para sua casa, dizendo que você tinha desmaiado no trabalho. Eu vim correndo como um papa-léguas --- disse Tom, respondendo á pergunta --- Mas o que aconteceu? Você desmaiou, isso eu já sei, mas por que?
Tom usava o sobretudo preto que estava usando no dia que conheceu Arthur. As feridas em suas costas estavam melhorando lentamente.
Arthur tomou impulso e se levantou do chão. Encostou a mão no balcão e fez sinal para que Tom ficasse ao seu lado.
Arthur ficou de frente para o computador e clicou no botão “Play”.
O vídeo começou a ser rodado novamente.
Quinze minutos se passaram, e o queixo de Tom encontrava-se no chão.
Gaguejou antes de falar.
--- Mamamama... Mas o que... Arthur! Que...
Tom estava perplexo. Apesar de fazer alguns dias que conhecia Arthur, já havia notado que ele era um rapaz bem centrado e com uma boa cabeça. Ele percebeu isso quando contou á Arthur que ele era um garoto de programa, notara sua discrição ao falar no assunto.
Arthur esfregava os olhos com as duas mãos.
--- Nem me pergunte... Eu... Sei lá que diabos é isso.
--- Quem é esse cara?
--- Um idiota que eu transei á alguns meses.
--- E deixou que ele filmasse?!
Arthur olhou fuziladoramente para Tom, que ainda estava de olhos arregalados.
--- Claro que não, eu nem vi câmera nenhuma nesse quarto!
--- Mas... Você tem que...
Tom nem sabia o que ia dizer. Não sabia dizer algo para ajudar Arthur naquela hora.
Mas Arthur sabia o que tinha que fazer. Puxou o cabo de força da tomada e o computador desligou-se abruptamente.
--- Venha. Temos que ir á uma casa de revelação de fotos. Agora.
Tom o seguiu sem fazer mais perguntas.



Mick estava sentado em sua mesa na FordModel, analisando quando teria que comprar de tecido para fazer um vestido em estilo vitoriano na cor vinho e preto, isso era um trabalho na faculdade que valia 70% da nota semestral.
As aulas na faculdade estavam começando a ficar exaustivas para Mick. Apesar de saber da importância da Historia da Moda nos dias atuais, Mick não achava necessário todas aquelas datas e nomes de estilistas parisienses.
Mick estava faltando em muitas aulas, tinha perdido duas provas importantes e tinha quatro trabalhos para entregar e um seminário para apresentar. Não sabia como ia fazer tudo aquilo.
Ele ainda estava morando na pequena mansão de Peter e Luigi, e sabia que logo ia ter que arranjar uma casa para morar, pois logo Peter voltaria e ele seria um incomodo na casa.
Quando sua cabeça começou a doer mais ainda, ele atirou o lápis no chão, fazendo a ponta se quebrar.
O lápis deslizou pelo chão e foi parar na ponta do sapato de Carolina Carter, uma das presidentes da FordModel. Seu papel na agencia de moda era procurar novos talentos e apresenta-los ao mundo da moda e das grandes marcas.
Carolina tinha cabelos pretos até as costas, usava uma saia envelope cáqui com um blazer estilo boyfriend no mesmo tom.
--- Michelangelo, cuidado. Esses aqui são os novos da Prada.
Carolina apontou para os sapatos quando falou com Mick.
Mick nem percebeu quando ela entrou na sala sem fazer barulho. Sendo ex-modelo internacional, Carolina sabia andar sem fazer barulho, o chamado “ploc-ploc” que os sapatos geralmente fazem.
Mick também não percebeu o jovem de aparência californiana que estava atrás dela.
--- Senhorita Carter, desculpe-me --- disse Mick, levantando-se rapidamente.
--- Tudo bem. Está tudo bem? --- Ela olhava para os números e os tecidos acima da mesa.
--- Coisas da faculdade. Em que posso ajudá-la?
Carolina sorriu e deu espaço na visão de Mick para o jovem que estava atrás dela.
--- Bom, Michelangelo, eu gostaria de lhe apresentar o novo consultor de moda e estilo da FordModel. Este aqui é Dennis Luchier.
O novo Consultor de Moda e Estilo da FordModel.
O novo Consultor de Moda e Estilo da FordModel.
O novo Consultor de Moda e Estilo da FordModel.

Tal frase ecoava na mente de Mick. Ele estava sendo substituído? E para que a FordModel contrataria outro personal stylist? Ora, eles tinham Michelangelo Bernal!
Dennis se aproximou da mesa e estendeu a mão para Mick.
--- Olá, Michelangelo, é um prazer conhece-lo.
Mick só se perguntava o motivo daquela nova contratação. Meio segundo depois, voltou a realidade.
--- Olá, hã... Dennis.
Mick estendeu o braço e apertou a mão de Dennis.
Dennis sorria simpático.
Denis era meio alto, devia ter no máximo um metro e setenta e cinco. Sua pele era bronzeada, seus músculos eram bem visíveis por baixo da camisa branca que ele vestia, e seus cabelos eram claros como os raios de sol. Esse cabelo em contraste com sua pele dava á ele um ar de garoto da Califórnia. Mick conseguia imagina-lo usando bermuda azul e segurando uma prancha de surf.
--- Michelangelo, agora você vai ter um companheiro de trabalho. Achamos melhor contratar alguém para que nossos modelos tenham mais opções de escolha.
Mick franziu a testa.
--- Opção de escolha? Como assim?
Carolina sorria simpaticamente quando respondeu a pergunta.
--- Bem, você sabe que o mundo da moda está sempre se atualizando e encontrando novos talentos. A MegaModels possui nove consultores, e eles conseguem muito mais patrocínio por causa da variedade de cabeças que eles tem á disposição deles. Então achamos melhor termos dois consultores de estilo conosco, e encontramos o Dennis. Acredita que ele passou o natal na casa do Alexandre Herckovith? Não é para qualquer um, convenhamos.
A mente de Mick estava á mil.
Alexandre Herckovith? O sonho de Mick era chegar á pelo menos cinco centímetros do Alexandre.
--- O natal e o reveillon --- disse Dennis, concluindo a informação.
Mick deu o sorriso mais forçado que conseguiu fazer.
--- Bom, Dennis --- Carolina se virou para ele e colocou a mão em seu ombro --- Vamos, eu ainda preciso apresentar você aos fotógrafos, maquiadores, estilistas e modelos.
Dennis sorriu e assentiu com a cabeça. Antes de sair da sala, se virou para Mick e disse:
--- Até logo, Michelangelo.
Mick sorriu e não disse nada.
Enquanto Carolina e Dennis saiam de sua sala, Mick ficou parado, pensando em nada especial.



O homem atrás do balcão sorriu maliciosamente quando o jovem de cabelos castanhos entrou na loja de revelação digital. Ele não esperava sua visita, pois isso nunca acontecia. Quando ele colocava na internet os vídeos caseiros que ele fazia em sua casa, geralmente os “astros pornôs” nunca voltavam para pedir satisfações.
Arthur entrou na loja com passos rápidos e firmes, e Tom estava logo atrás dele. Suas costas começavam á arder, os cortes deviam ter começado a sangrar novamente por causa do pequeno esforço físico que ele estava realizando.
--- É bom te ver novamente, garoto --- disse Jake, o cara que gostava de fazer produções caseiras e publicar em sites pornôs homossexuais. Jake até tinha alguns fã no meio virtual; jovens e até velhos que pediam para que pudessem “atuar” como ele nos seus filmes.
--- Eu quero uma explicação! Que porra é aquela que você me enviou por e-mail?!
Jake fez cara de sarcástico.
--- Que porra era aquela? Bom, tem aquela de quando você me deixou gozar no seu rosto. É essa porra que você se refere?
Arthur estava á poucos passos de começar a gritar com aquele cara. Ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando apagar o vídeo de sua mente naquele momento.
--- Você vai tirar aquele vídeo imediatamente! --- Arthur conseguiu organizar as palavras e dize-las sem gritar.
O olhar de Jake se tornou quase ameaçador.
--- Ou o que? --- ele se virou para Tom e sorriu --- O seu namorado vai fazer o que?
--- Sabe o que significa direitos de uso de imagem? --- disse Tom, sem se importar com a posição que fora colocado; namorado.
--- Claro que sei. Mas pense por um segundo: Esse idiota aí é maior de idade, e eu posso alegar que ele sabia da filmagem.
Ele estava certo, e Tom teve que admitir isso.
Tom olhou para Arthur e fez sinal com os olhos, demonstrando que eles não podiam fazer muita coisa.
--- Vamos embora daqui --- disse Tom, segurando Arthur pelos ombros.
Arthur tentou colocar medo em Jack.
--- Você vai ver. Garanto.
Jake riu sem se abalar.
--- Já vi mais do que imagina. Não lembra?
Tom segurou firme o braço de Arthur e o arrastou para fora da loja de fotografias. Caminharam em direção ao Archier, sem dizer nada um ao outro.
Tom estava pensativo. Uma palavra ecoava em sua mente, insistentemente.
Namorado.
Sorriu e olhou para Arthur, que devolveu o olhar.
--- O que foi? --- disse Arthur.
--- Sabia que você até que é bonitinho?
Arthur riu olhou para frente.
--- Obrigado. Em trajes de banho eu pareço a Madonna.
Tom riu alto e empurrou Arthur, que cambaleou três passos para o lado.



--- Pois é, agora vou virar uma celebridade.
Arthur pousou a xícara de café no pires e suspirou fundo. Estavam no Archier, que estava vazio e com a placa de “fechado” na porta de vidro.
--- Há milhares de vídeos na internet, fique relaxado --- disse Tom, tentando acalmar Arthur.
Arthur apenas suspirou fundo e voltou a beber seu café.
Alguns minutos antes, Mick irrompeu pela porta e entrou na livraria-café.
--- Agora tenho concorrente! Dá pra acreditar nisso?! --- disse ele, apoiando as mãos na mesa.
Arthur continuava a encarar a xícara quando respondeu.
--- Tem muitos gays nessa cidade, Mick. Você não é o único.
Tom riu e olhou para Mick.
--- Oi Tom --- disse Mick, lembrando-se dos bons modos --- Como estão as costas?
--- Mais apresentáveis. Obrigado por perguntar.
Mick sentou-se ao seu lado e olhou para Arthur, depois franziu a testa.
--- Que cara é essa? O que houve? --- perguntou ele.
--- Mostre á ele, por favor --- disse Arthur para Tom.
Tom cutucou a perna de Mick e ele se levantou. Levou ele até o computador, ligou-o e abriu o navegador de internet. Abriu o histórico e clicou no link do vídeo.
Em poucos minutos, Mick estava de olhos arregalados.
--- Está de brincadeira, não está? --- disse ele.
--- Quem dera que fosse --- respondeu Tom.
Mick olhou mais um pouco o vídeo e tentou deixar o clima mais leve.
--- Mas que cara de puta safada você faz quando transa.
Tom beliscou a barriga de Mick por detrás no balcão.
--- Valeu heim --- disse Arthur, terminando de beber seu café.
--- Você tem que fazer algo! --- disse Mick, voltando á mesa, logo seguido por Tom --- Você tem que falar com o Will, talvez ele possa ajudar.
--- Vou falar, se eu o ver. Por onde ele tem andado?
Foi Tom que respondeu a pergunta.
--- Na vitrine do Archier.
--- Hã?
Tom indicou com a cabeça á vitrine da livraria.
Will passava ali na frente, com uma camisa social aberta nos três primeiros botões, bermuda branca e tênis estilo All Star preto.
Quando ele abriu a porta, o sino acima da mesma anunciou sua chegada.
--- Oi todo mundo. Como estão as costas, Tom?
--- Legais, obrigado por perguntar.
--- Ótimo. É.
Will ficou parado, olhando para a mesa, dobrando o lábio inferior com o polegar e o indicador.
Mick, Arthur e Tom se entreolharam.
--- Está tudo bem? --- Mick quis saber.
--- Seth. Voltou.
--- Quem é Seth? --- perguntou Tom.
Foi Arthur quem respondeu.
--- Um ex-namorado do Will.
--- Na verdade --- disse Will, corrigindo Arthur --- Seth é o cara que eu quero passar o resto da minha vida, mas ele não está nem aí para mim e eu não sei o motivo!
Mick revirou os olhos.
--- E lá vamos nós de novo...
Will inclinou a cabeça e fuzilou Mick com os olhos.
--- E vocês, como estão? --- disse Will.
Todos na mesa, exceto Will, olharam para Arthur.
--- Mostra pra ele --- disse Arthur.
Foi Mick que levantou do banco e fez sinal para que Will o seguisse.
Mick colocou Will em frente ao computador e mais uma vez o vídeo foi rodado na tela.
Will espremeu os olhos para ver melhor. Sua cabeça ficava indo para a mesa e para a tela do computador.
--- Ma... É... Mas que cara de puta safada é essa, Arthur?
--- É a cara que eu faço quando eu transo PORRA! Não me diga que você faz cara de Miss Universo quando você transa!?
Arthur esfregou os olhos com as mãos e apoiou sua cabeça na mesa. Sentiu a mão de Tom tocar sua nuca suavemente.
--- Quem fez isso? --- disse Will, retornando á mesa junto com Mick.
--- Um cara idiota. Filmou e colocou na internet. Acha que pode mandá-lo para a cadeia pelo resto da vida dele? --- perguntou Arthur, erguendo a cabeça.
--- Hã... Sei não. Talvez, se você tiver como provar que não sabia que estava sendo filmado.
--- Fodeu --- disse Arthur --- E sem lubrificante.
--- Com lubrificante á base de areia --- disse Mick, dando tapinhas leves nas costas de Arthur, que voltou a baixar a cabeça na mesa.
Arthur levantou a mão, depois o polegar, afirmativamente.
O sino acima da porta soou novamente. Dessa vez era Luigi que entrava, seu cabelo estava desarrumado e sua camiseta estava virada do avesso.
Todas as cabeças se viraram em sua direção, avaliando seu estado.
--- Bela camiseta --- disse Mick --- Dolce e Gabbana?
Luigi nem percebeu que vestira a camiseta ao avesso.
--- Não, é confecção própria --- disse ele, se espremendo ao lado de Will.
Quando se sentou, começou a bater os dedos na mesa.
Tom levantou uma sobrancelha, e Will perguntou.
--- Tá tudo legal?
Luigi virou a cabeça em sua direção num átimo.
--- Claro. Quer dizer, eu tenho uma casa de dois andares, seis quartos, um jardim, uma piscina, três banheiros, um futuro estilista que é a encarnação da Chanel e um namorado/marido/companheiro/amor da minha vida á quilômetros de distancia. Estou perfeito.
Luigi balançou a cabeça positivamente e compulsivamente.
O silencio permaneceu durante uns 20 segundos.
--- Estou enlouquecendo! --- disse Luigi quando percebeu que não ia receber muita atenção --- Eu troquei o nome da minha chefe por Peter!
--- E como ela se chama? --- Tom quis saber.
--- Vittoria.
Tom sorriu e passou as mãos nos cabelos.
--- Preciso de café --- disse Luigi, levantando-se da mesa e indo em direção ao balcão. Quando ia pegar uma xícara, viu no monitor do computador um site pornô.
--- Pensei que você tivesse parado com pornografias no trabalho, Arthur --- disse ele, virando-se para a maquina de café e apertando um botão que liberava o café direto na xícara.
--- Assista ao vídeo --- disse Arthur.
Luigi se virou para o monitor e apertou o botão play.
Todos esperavam sua reação.
--- Caramba, essa transa devia estar demais, olha só a cara de puta safada que essa cara faz!
Luigi olhou para o grupo na mesa e riu.
Quando voltou á olhar para o monitor, a duvida o assaltou.
E depois a confirmação.
--- MEU DEEEEUS! ARTHUR!
--- Palmas para mim, eu sei --- disse Arthur, esfregando os olhos mais uma vez.
--- Mas, como, quando, onde, porque....?!?!?!?!
--- Longa historia --- disse Tom.
--- Nossa, até fiquei sem reação --- Luigi falou enquanto voltava á mesa com a xícara de café nas mãos.
--- Eu vou ver o que eu posso fazer por você --- disse Will.
Arthur apenas balançou a cabeça.
Ficaram uns minutos sem dizer nada.
Mick cortou o silencio.
--- Mas que beleza --- disse ele --- Seth voltou, Luigi está enlouquecendo, um novo consultor de moda vai tirar meu emprego, um está com as costas praticamente rasgadas e temos a nossa própria estrela pornô. Esse ano vai ser o melhor.
--- Seth voltou ? --- disse Luigi.
--- Novo consultor de moda? --- quis saber Will.
--- Estrela pornô? --- disse Arthur, fuziladoramente.
--- Minhas costas estão melhores, eu já disse --- defendeu-se Tom.
Enquanto cada um explicava sua situação, muitas xícaras de cafés foram gastas.
Á quilômetros dali, as engrenagens já começavam á trabalhar, moldando o destino de cada um para entrelaçarem no final.
Eles nem imaginavam á reviravolta que os próximos meses seriam.