Sétimo dia.
--- Ele vem?
--- Não sei. Quando falei com ele, ele disse que viria. Mas nunca se sabe.
Peter olhou o relógio novamente. Estava fazendo isso á cada cinco minutos, e parecia que os ponteiros não se moviam.
--- Vou ligar pra ele --- disse Luigi, cruzando as portas da igreja com passos rápidos.
Já fazia uma semana desde que Seth partira. Suspeitando que Will não estava com a cabeça no lugar, Peter pediu para rezar uma missa em memória de Seth. Havia ligado para Will, aparecera em sua casa, mas não conseguira ter certeza de que ele iria comparecer.
Sentiu alguem se aproximando, e virou-se. Arthur e Colin tomaram seus lugares ao lado de Peter. Mick estava ao lado deles, e mandou um beijo para Peter quando o viu.
--- Ele vem? --- Arthur perguntou, procurando Will pela igreja.
--- Luigi está ligando para ele agora mesmo.
--- Já era para ele estar aqui, não acha?
--- Dê um tempo a ele. As proximas semanas não vão ser as mais fáceis.
Arthur concordou silenciosamente.
Minutos depois, Luigi voltara. Não estava com a cara muito boa.
--- E então?
--- Ele disse que gostaria de vir, mas ainda não quer sair de casa.
Mick revirou os olhos.
--- Quanto mais cedo ele encarar a perda, mais cedo ele a supera --- disse ele.
--- Foi o que eu disse pra ele --- respondeu Luigi, baixinho.
--- E o que ele respondeu? --- perguntou Colin, falando pela primeira vez desde que chegara.
--- " Mande um Oi pros meninos " e desligou.
Os cinco se entreolharam, mas não disseram mais nada.
Minutos depois, o pastor tomou seu lugar diante em frente ao altar e começou o ritual cristão.
Will revirava os armarios em busca de outro pacote de biscoitos. Sua alimentação estava se baseando nisso: biscoitos, saldadinhos, tudo que fosse vendido dentro de pacotes.
Achou uma embalagem fechada de um biscoito e levou-o para cama. Não se importou que os farelos sujassem os lençóis. Tanto fazia para ele agora. Estava cansado até mesmo para reclamar de algo.
Enquanto comia, refazia mentalmente sua conversa com Luigi minutos antes.
--- E aí rapaz, já está a caminho?
--- À caminho da onde?
Luigi ficou momentaneamente calado.
--- Aah sim, claro. Não, eu... Eu não vou, Lui, desculpe.
Luigi suspirou fundo.
--- Acho que você devia vir. Sair um pouco de casa. Os garotos estão com saudades.
--- Tambem sinto saudades... Luigi, de verdade, eu não posso ir.
--- Não pode ou não quer?
Will pensou durante uns segundos.
--- Os dois, eu acho. Não é fácil sabia? Não é tão simples como...
--- Will, pare com isso. Nós dois sabemos o que está acontecendo. Você está evitando o problema.
--- Ele morreu, Luigi --- sua vóz estava vazia --- Ele não vai voltar.
Luigi suspirou fundo. Estava tentando ser compreensivo. Mas nos ultimos sete dias, Will praticamente evitara todo mundo. Raramente atendia as ligações. Quando abria a porta, olhava por uma fresta minuscula.
--- Lui, eu... Eu ainda não posso, tá legal? Quando eu estiver pronto...
--- Will, quanto mais cedo você escarar a perda, mais cedo você supera.
Will riu sem humor algum. Ele nunca vai entender. O amor dele está lá, vivo. O meu apodrece de baixo da terra.
--- Mande um Oi pros meninos. --- Will desligou antes que Luigi pudesse responder.
Quando chegou em casa, logo no final da tarde, Peter pegou o telefone.
--- Vou ligar pra ele. Ver como ele está.
Luigi concordou com a cabeça e abriu a geladeira. Estava faminto.
Primeiro toque.
Segundo toque.
Terceiro toque.
...
Décimo segundo toque.
Peter desligou o telefone, impaciente.
--- Ele não atende! Deve saber que sou eu.
Luigi havia acabado de fazer um sanduiche de presunto e queijo, com algumas folhas de alface.
--- Peet, relaxa. Ele deve estar dormindo. Não tá sendo fácil pra ele.
--- E ele vai ficar nisso até quando? Ele não tem emprego, obrigações. Uma hora os pacotes de bolacha vão acabar. E aí? Ele morre de fome?
Luigi deu uma dentada no sanduiche.
--- Ele tem o ritmo dele --- disse, tapando a boca com a mão enquanto mastigava a comida --- Quando ele se sentir pronto, ele vai voltar ao normal.
Peter cruzou os braços, impaciente.
Luigi percebera que Peter estava preocupado. Preocupado demais.
Ele levantou e abraçou Peter pela cintura.
--- Te conheço, garoto. Você está preocupado com outra coisa.
Peter suspirou fundo.
--- Lembra quando ele nos contou que estava indo naquelas festas onde soropositivos faziam sexo sem camisinha?
Luigi entendeu onde Peter queria chegar.
--- Você tem medo que ele volte a frequentar tais festas. --- disse, afimamente.
--- Pense. Ele está sózinho. Deve estar carente. Vai que da uma louca na cabeça dele e ele resolve afogar as magoas com um portador de HIV. Não é algo tão absurdo assim.
--- Amor, ele é inteligente o suficiente para não fazer isso de novo.
Peter olhou firme para Luigi, demonstrando não acreditar naquilo.
--- Uma semana. Se daqui uma semana ele não sair dessa, eu vou até lá.
--- Duas semanas, que tal?
Peter balançou a cabeça, negando a sugestão.
--- Uma semana está bom demais.
Uma semana é tempo demais, pensou Peter, sentado em seu escritório. Fazia três dias que ele decidira dar um tempo á Will, mas não estava dando certo. Quase sempre o pensamento de Will colocando em risco á propria saude o atormentava.
Sem cerimonia alguma, Christopher entrou na sua sala.
--- Hei, Peter. E aí?
Peter deu os ombros.
--- Na mesma.
Christopher sentou na cadeira vazia, em frente á mesa.
--- Não foi até a casa dele por que?
--- Decidi dar um tempo pra ele. Mas estou quase indo lá ainda hoje.
--- Não sei... Nunca conversei muito com Will, mas das poucas vezes que o vi, ele sempre me pareceu meio distante de tudo. Como se... Não estivesse ligado nas coisas ao redor dele.
Peter riu sem humor algum.
--- Quando Seth o deixou, ele ficou em estado de torpor. Ele aguentou a situação por quase dois anos. Mas agora que Seth se foi... Quanto tempo ele aguenta?
Christopher deu os ombros, sem saber responder.
O telefone da mesa de Peter tocou. Ele atendeu, e ficou escutando. Por fim, colocou o telefone no gancho e olhou para Christopher.
--- Diga que está brincando. Por favor.
Christopher franziu a testa.
--- Do que você tá falando?
Peter respirou fundo. Disse pausadamente.
--- Estagiário. Proxima semana. Comigo.
--- É mesmo, quase havia me esquecido --- disse ele, entregando um portfólio de capa azul para Peter --- Matt Van Harden. Parece ser bom. Está na mesma universidade que você estudou.
Peter franziu a testa.
--- " Van Harden " ?
--- Exato. Familia tradicional. A mãe é uma atriz de teatro, e o pai é diretor de cinema.
--- Que filme que ele dirigiu?
Christopher deu uma risadinha maliciosa.
--- Alguns filmes meio... Alternativos.
--- Alternativos... ? Tipo Amelie Poulain?
--- Haha, quem dera. Não, alternativos tipo... Sem figurino algum.
Peter arregalou os olhos.
--- Filmes pornos? Tá de brincadeira comigo!
Christopher riu com vontade diante da cara de espanto de Peter.
--- É sério. Dei uma pesquisada na internet, o pai de Matt é bem conhecido nesse meio de filmes eróticos. Já viu " Enfia até o talo! " ?
Peter estremeceu com o título da obra prima.
--- Christopher, é informação demais pra um dia só.
Christopher riu como uma criança que foi pega fazendo coisa errada.
--- Mas o que interessa é: Me ligaram na universidade perguntando se nós queríamos um estagiário. Ele conseguiu uma vaga pra estudar na Europa, mas o pai não deixou-o ir.
--- Então quiseram jogar ele aqui, e você aceitou?
--- Isso. Estive olhando o quadro de funcionarios da empresa... O ultimo estagiário foi a mais de um ano.
Peter se lembrava disso. Samara. Cabelos rebeldes, cor de chocolate. Era uma boa designer, mas moderna demais para a ArtDeco. Peter se lembrava de um projeto dela: Uma sala de jantar, onde globos de luz usados em casas noturnas, ficava pendurado no teto da sala. Terrivel.
Peter começou a folhear o portfólio. O garoto realmente tinha talento pra coisa. No fim do portfólio estava anexado o contrato de seis meses de estágio remunerado.
Peter procurou pelo campo que o interessava. E achou.
" Nome do tutor responsável pelo estagiário:
Peter Callendon DeWitt "
--- Legal --- disse ele, sarcastico --- Seis meses com um estagiário me seguindo pra todo lado. Por que você não jogou ele pro Charles? Ele adora tratar os estagiário como escravos. Sei por experiencia própria.
--- Você também estagiou aqui?
--- Sim. Um ano de estágio. Depois fui efetivado. Aprendi a usar a maquina de café por causa do Charles.
Peter deu os ombros e guardou o portfólio em uma gaveta.
--- Certo. Eu fico responsável por ele. Quando ele vem?
--- Daqui á duas semanas.
--- Que maravilha.
Christopher se levantou e arrumou o paletó.
--- Okay, nos falamos depois. Tenho que resolver umas coisas.
--- Certo.
Antes de chegar a porta, Christopher se virou e disse:
--- Você quer companhia pra ir até a casa do Will?
Peter deu os ombros.
--- Pode ser... Você está livre agora?
Christopher pensou por um segundo.
--- Me dê 20 minutos. Eu venho até aqui e nós vamos.
Peter balançou a cabeça e sorriu.
--- Sim senhor.
Christopher sorriu e saiu da sala.
--- Pode parar aqui. A casa dele é essa de dois andares.
Christopher olhou para o apartamento que era um duplex. Bonitinho, até.
Eles saíram do carro e subiram os três degraus que os levavam até a porta de carvalho marrom.
Peter deu três toques na porta e esperou.
E esperou.
Esperou mais um pouco.
Christopherolhou para o relógio. Dez para as sete da noite.
--- Ele não pode estar dormindo --- disse Peter, mau-humorado.
Quando estendeu a mão para tocar a porta novamente, a mesma se abriu um pouco. O suficiente para Peter ver Will.
--- Will! Nossa, o que está... Quer dizer, tá tudo bem aí?
Will estava com cara de cansado. E estranhamente, ele estava com um lençol branco preso na cintura, e sem camisa.
--- Hã, oi Peter. Oi... Desculpa, esqueci seu nome.
Christopher sorriu educadamente.
--- Sem problemas.
Will olhou pra Peter, que estava com as sobrancelhas abaixadas.
--- Estamos atrapalhando alguma coisa? --- disse Peter, tentando ver por trás do ombro de Will.
--- Atrapalhando? Não Peet, não, imagine. Eu acabei de sair do banho.
--- E está todo seco? Tá usando shampoo pra cabelos secos, é?
Will tentou esbolçar um sorriso.
--- Haha, não não. Eu me sequei, mas não to conseguindo encontrar meu roupão.
Peter achava aquilo tudo muito estranho.
--- Claro, claro.
--- Estão só de passagem? --- perguntou Will, louco para entrar de volta pra casa.
--- Hã... Não. Quer dizer, sim, na verdade, quer dizer, de passagem? Nãããão, tipo... --- Peter estava se embanando todo. Não podia dizer á Will que estava alí na intenção de saber se ele estava fazendo alguma bobagem. Will já era um homem, não um adolescente.
Christopher enterveio, sabiamente.
--- Na verdade, estamos aqui pra te chamar pra ir na Times amanhã.
--- Isso, exatamente --- reforçou Peter, aliviado.
Will franziu a sobrancelha.
--- Amanhã? eu tenho coisa pra fazer e...
--- O que? Procurar o roupão desaparecido? --- disse Peter, rindo falsamente.
--- Vamos, vai ser legal. Noite da... --- Christopher olhou para Peter, pedindo ajuda.
--- Noite da... ? --- Will franziu a testa.
--- Noite da sapata! Isso, é, noite da sapata. --- Peter concluiu. Foi a primeira coisa que ele pensou.
Will suspirou fundo.
--- Vocês querem que eu passe minha noite de sabado vendo um bando de sapatas se pegando. Isso é sério?
--- É só o tema, você sabe. E os meninos também vão. Colin pergunta por você sempre que me vê.
Os ultimos dias tinham sido tão estranhos para Will que ele nem se lembrava direito de Colin.
--- Tá, eu... Eu vou --- disse ele, esfregando os olhos --- Que horas eu passo na sua casa?
Peter respondeu sem pensar.
--- Ás sete --- Peter olhou para Christopher e disse também --- Ás sete.
Christopher assentiu com a cabeça.
--- Okay, eu apareço. Agora deixa eu ir procurar o roupão.
Peter assentiu e sorriu.
--- Até amanhã! --- disse ele, se virando de volta para o carro.
Will respondeu um "até amanhã", mas não sabia se Peter tinha escutado.
Quando entrou no apartamento, o rapaz de barba para fazer estava deitado na cama, nu, com a cabeça apoiada na mão direita.
--- Seus amigos tem vozes bonitas. Porque não os chamou para fazer parte da nossa brincadeira? --- disse, maliciosamente.
Will jogou o lençol no chão, e sentou de pernas abertas em cima da virilia do rapaz. Esticou o corpo para pegar a garrafa de vodca que estava acima do criado mudo e deu um gole.
--- Eles fazem o tipo de garotos sérios, compromissados. Em outras palavras, não sabem curtir um bom macho.
Ele aproximou o rosto do peito do rapaz e deu um beijo em seu mamilo.
--- E você --- disse o rapaz de barba --- Não faz o estilo garoto certinho?
Will passou a lingua na barriga do rapaz, e riu maliciosamente quando respondeu.
--- Não mais.
sábado, 29 de maio de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Capitulo treze - Segunda Temporada.
Achados e Perdidos.
--- E ele me viu e entrou no carro! Ele sabia que eu estava alí e entrou no carro! Se isso fosse um culto satanico, ele estaria escolhendo a mão esquerda!
Mick e Peter se entreolharam. As palavras cultos satanicos saíram de forma esquisita da boca de Arthur.
--- Pois é, mão esquerda. --- disse Mick, terminando de beber seu capuccino.
Peter deu os ombros.
--- E o que você esperava, Arthur? Que ele corresse para seus braços e te beijasse?
Arthur franzil a testa.
--- Foi ontem a operação onde você retirou seu coração e o substituiu por um cubo de gelo? Só pra saber --- disse Mick, também meio confuso pelo tom adotado por Peter.
--- Arthur, essa é a escolha dele. É a forma que ele encontrou de sair dessa vida. Ele não está alí por que ele goste.
--- É pra pagar a faculdade e blá blá blá --- Arthur imitou, com a mão, uma boca abrindo e fechando repetidas vezes.
Peter balançou a cabeça positivamente.
--- Eu... Eu queria ajuda-lo. Eu poderia conseguir um esmprego para ele. --- Arthur parecia esperançoso.
--- Claro, por que um barista tem... --- Mick se interrompeu por causa de uma pessoa que havia acabado de passar pela porta, fazendo o sino acima dela soar.
--- Eu acho que poderia conseguir alguma coisa pra ele na... Arthur?
Peter também tinha reparado que alguem entrara no café, mas não dera importancia. Apenas notou quem havia entrado quando viu Mick e Arthur vidrados na pessoa que estava parado á poucos metros de distancia.
Peter o encarou, e a leve recordação assaltou-lhe a mente. Elevador da ArtDeco. C. Macfadyen.
Arthur estava sem palavras. Colin era a ultima pessoa que ele esperava aparecer alí.
--- Hey, Tom, ou Colin... E aí? Capuccino? --- Mick já havia voltado ao estado normal, e se incomodou com o estranho silencio que se instalara no café.
Colin sorriu.
--- Eu não como nada de manhã, mas obrigado. --- disse, recusando a bebida.
Ele olhou para Peter, e também lembrou de quando havia encontrado-o dentro do Elevador.
--- Sr. Calledon, olá.
Peter estranhou a maneira formal que havia sido chamado. Não estava na empresa, e Colin não era um funcionário.
--- Peter --- corriugiu Peter.
--- Não, Colin --- brincou Colin.
--- Não --- Peter estava se atrapalhando --- Mim Peter.
Mick o encarou-o.
--- Mim Peter? Qual a sua tribo? Viados do canavial?
Colin sorriu com o comentário, e se sentiu mais á vontade. Quase inteiramente á vontade. O olhar indagador de Arthur o deixava meio sem geito. Ele cruzou os dedos sobre a barriga.
--- O que está fazendo aqui? --- disse Arthur, saindo do seu transe.
--- Mick, olha a hora. --- disse Peter, consultando o relógio --- Temos tanta coisa pra fazer antes das onze horas! Temos que escolher as cortinas do seu apartamento.
Mick não sacou o código.
--- Mas ainda são nove e meia.
--- Por isso mesmo --- disse Peter, se levantando --- Escolher cortinas é uma experiencia única, inovadora. Não podemos perder tempo.
Peter beslicou a perna de Mick, que estava de bermudas.
--- PORRA PETER, POR QUE... Ah sim, cortinas, claro. Eu quero azuis celeste pra combinar com a tevê de plasma que você vai me dar.
Peter revirou os olhos. Mick estava crente que ia ganhar uma tevê de plasma.
--- Hãã... Me liga depois, Art. --- disse Mick, imitando um telefone com os dedos.
Peter sorriu e foi em direção á porta. Deu três tapinhas de leve no ombro de Colin quando passou por ele.
Mike parou e deu um abraço em Colin.
--- Que bom que voltou --- disse ele, enquanto saía pela porta.
Colin sorriu e agradeceu. Em seguida, olhou nos olhos de Arthur.
--- Seria bom se eu voltasse --- disse ele, com um sorriso melancólico.
As palavras do medico ainda soavam frias na mente de Will.
Debilitado como ele está, o coma é algo inevitável...
E realmente foi. Seth não aguentava tanta medicação, e foi colocado na unidade de terapia intensiva.
Will não sabia, mas Mark dissera á Peter que o estado de Seth não era nada bom.
O cancer está muito avançado, disse ele, Se ele aguentar mais duas semanas, será muito.
Duas semanas, pensou Peter.
Ou menos do que isso.
Will estava sentado na cadeira ao lado da cama de Seth.
Seth tinha uma expressão tranquila. Se não fosse pelas agulhas introvenosas ligados ao seu braço, poderia se dizer que Seth estava dormindo tranquilamente.
Três batidas na porta cortaram o silencio.
--- Oi --- disse Mick, entrando no quarto.
Will esbolsou um sorriso.
--- Pode entrar --- disse ele, e indicando a cadeira ao seu lado.
Mick sentou-se e colocou a mão no joelho de Will.
--- E ae rapaz... Suave na nave? De boa na lagoa?
Will franziu a testa com as novas palavras que Mick havia aprendido.
--- Só pra descontrair --- disse Mick, explicando-se --- Hospitais são tão...
--- Aterrorizantes? Horrendos?
--- Pesados, talvez. A sensação de desesperança é sufocante.
Will voltou á olhar para Seth.
--- Você nem faz idéia.
Mick entendeu o que Will queria dizer, e passou o braço em volta dos ombros.
--- Você vai ficar bem. Você já comeu?
--- Bebi um pouco de café, não tenho fome.
--- Por falar em café, Colin voltou.
Will respondeu sem tirar os olhos de Seth.
--- De vez?
--- Acho que sim --- disse Mick, sorrindo.
Will deu os ombros.
--- Um volta, outro vai. Você compra um apartamento, Peter e Luigi planejam ir viajar. Quando foi que nossas vidas viraram a sessão de achados e perdidos?
Mick apoiou a cabeça no ombro de Will.
--- Ninguem está perdido.
O sorriso melancólico apareceu na face de Will.
--- Tem certeza? Nem todos pensam assim. Esses médicos me olham de forma desanimadora. Por mais que o pai do Peter seja um bom profissional, ele não consegue tirar aquela expressão do rosto.
--- Que expressão?
--- A expressão de "Quando o carro funenário vai chegar? Temos que desocupar esse quarto"
Mick sorriu sem humor algum.
--- Não é assim. Não vai ser assim.
Com um olhar penetrante, Will perguntou á Mick.
--- Não vai?
Mick ficou em silencio, sem saber o que responder.
peetcallendon diz:
E aí, como foi o sexo de reconciliação???
Arthur viu a janela de Peter se abrir na tela do seu computador. Já era mais de onze horas, e para se distrair, Arthur resolveu fazer login no programa de mensagens instantaneas.
Art.changeyourshoes diz:
Não houve sexo. Não ouve nada. Nunca houve, para falar a verdade.
peetcalledon diz:
...
Arthur não responder. Peter tentou de novo.
peetcalledon diz:
Então pra que ele foi lá hoje de manhã?
Art.changeyourshoes diz:
Só pra me dar esperança, e depois toma-la. E para me explicar quem era o cara barrigudo que eu vi dentro do carro naquela noite.
peetcalledon diz:
E quem era ?
Art.changeyourshoes diz:
O melhor cliente dele. Segundo Colin, ele o faz sentir uma pessoa especial.
peetcallendon diz:
Coisa que vocÊ poderia fazer também.
Art.changeyourshoes diz:
Foi exatamente o que eu disse! Adivinha o que ele respondeu...
peetcalledon diz:
Você saber que eu sou péssimo para advinhações ¬¬'
Art.changeyourshoes diz:
Ele disse que eu não posso pagar a faculdade dele.
Uma mensagem, que não era nem de Peter nem de Luigi, apareceu no meio da conversa.
" Lui W. acaba de ser inserido na conversa "
Art.changeyourshoes diz:
Luigi?
Lui W. diz:
Oi Art. Peter já me colocou á par da situação =/
Oi Amor! ^^
peetcalledon diz:
Oi querido! *_*
Art.changeyourshoes diz:
Legal. Eu conversando com um casal feliz ¬¬'
peetcalledon diz.
UHAUHAUAHUAHAUHAUHAUHAUHA.
Lui W. diz:
paokspoakspoakspokapskakspakspakspakp.
Art.changeyourshoes diz:
* suspiro *
Lui W. diz:
Cara, entenda o que ele quis dizer! Não que ele não possa te fazer feliz, é só que ele quer se formar na universidade.
Art.changeyourshoes diz:
Eu poderia ajuda-lo.
Lui W diz:
Como? Você acha que ele ia querer ser sustentado por você?
Art.changeyourshoes diz:
O Peter te sustenta.
Lui W diz:
O.o
peetcalledon diz:
O_o
Como é que é?
Arthur passou a mão nos cabelos e suspirou fundo.
Olhou para a tela e respondeu.
Art.changeyourshoes diz:
Gente, não quero brigar com vocês. Vou sair.
peetcalledon diz:
Aonde vc vai?
Mas Peter ficou sem resposta. O programa de mensagem enviou a seguinte mensagem para Peter e Luigi.
" Art.changeyourshoes abandonou esta conversa. "
Luigi ficou olhando para a tela do laptop que estava pousado nas suas pernas esticadas na cama. Olhou para Peter, ao seu lado, na mesma posição.
--- Você não me sustenta, não é?
Peter olhou para Luigi, sem saber o que dizer.
--- Hã... Não, ué. Digo, temos...
--- Empregos e recebemos...
--- Nosso dinheiro indi...
--- Individualmente. É.
--- É. --- disse Peter, dando um ponto final na conversa.
Nem Arthur sabia o que estava fazendo alí. A idéia de sair de casa para espairecer parecia boa, mas ele não precisava estar exatamente alí.
Meses atrás. A chuva caía do ceu como um balde sendo virado de cabeça para baixo. Pensamentos diversos. E de repente, um jovem nos seus braços, fugindo de um perigo eminente, com o sangue fluindo da sua pele como agua saindo de uma mangueira de borracha.
Um trovão de assustar ecoou na rua, seguido de uma chuva imprevista. Em poucos segundos, o cabelo de Arthur estava colado na sua testa.
Ótimo. Só falta o garoto de programa. Espero que esse não esteja fazendo faculdade.
Arthur deu meia volta, na intenção de voltar para casa.
Apenas na intenção.
Do outro lado da rua, estava ele. Vestido com sua "roupa de trabalho". Sua camisa não estava molhada graças ao forro do sobretudo que protegia Colin.
Colin atravessou a rua sem saber o porque. Talvez ambos soubessem, Arthur e Colin, que eles estavam predestinados á ter algo muito maior do que imaginavam.
Segundos que parecem horas. Tomando uma atitude, Arthur caminhou decidido até Colin, parado á dois metros á sua frente.
Passou direto por ele, olhando para o chão. Para que palavras repetidas, se o sofrimento causado seria o mesmo? Qual a graça em sentir a dor de uma perda de algo que se nunca teve?
--- Hei --- disse Colin, virando-se para Arthur.
Arthur continuou andando.
--- É assim então? O cara que salva minha vida se torna um completo estranho?
Arthur parou de andar e se virou para ele.
--- Você escolheu isso. Você decidiu como as coisas iam ser. Bom, agora asssita o show.
O cabelo de Colin começava á atrapalhar sua visão.
--- Eu escolhi isso?! Acha que se eu tivesse mais opções, eu não faria a escolha certa?!
--- Você tem mais opções, Colin! Você pode...!
--- Posso o que? --- disse Colin, interrompendo Arthur --- Quais as minhas escolhas? Viver nesse seu mundinho perfeito, onde tudo é azul? Andar com seus amigos legais? Ir com vocês na Times e dançar á noite inteira? Planejar viagens á lugares onde os seus cartões de crédito de Ouro, Diamante e Platina são aceitos? É essa a escolha que eu tenho?
As meias de Arthur já estavam completamente ensopadas. Mas ele nem se importava. Ele se aproximou de Colin, ficando á centimetros do seu rosto.
--- É uma opção. Você pode tambem aceitar a ajuda deles. A minha ajuda. Você pode ter o que você quer ter, mas não precisa pegar o caminho mais dificil.
Colin abriu a boca para protestar, mas faltaram-lhe as palavras certas. Sem perceber, seu nariz se inclinou para frente, tocando o nariz de Arthur.
--- Isso não...
Colin foi interrompido pelo som estridente e irritante de uma buzina de carro. O volvo vermelho parou á uns metros deles.
--- Tenho que ir --- disse Colin, separando seu nariz do de Arthur.
--- Não tem não --- disse Arthur, passando a mão em seu pescoço.
Num movimento rápido, Colin deu um beijo rápido nos lábios de Arthur. Foi como se seu corpo tivesse sido conectado á um cabo de energia elétrica.
De olhos abertos, Arthur viu Colin entrar no carro sem olhar para trás.
Peter estava deitado de costas para Luigi, segurando seus braços diante do seu peito. Respirava levemente, pois o braço de Luigi não fazia peso em seu peito.
O celular de Peter começou a vibrar em cima do criado mudo. Andava sózinho pelo móvel, fazendo barulho quando se mechia.
Relutante, Peter abriu os olhos e tentou focalizar o visor do aparelho.
Era seu pai. Aquilo não significava boa coisa.
--- Pai? o que que foi?
Mark parecia cauteloso.
--- Venha para o hospital.
Peter se libertou do braço de Luigi e sentou no cama.
--- Ai meu Deus... Pai?
--- Calma Peter. Ele ainda está aqui. Só que... Não por muito tempo. Venha depressa, sim?
Peter ouviu o telefone ser desligado, e ficou sentado durante uns segundos.
Luigi acordou e acendeu o abajur.
--- O que foi? Quem era?
Peter se virou mecanicamente para Luigi.
--- Meu pai.
O olhar de Peter já dizia tudo.
--- Vou pegar as chaves do carro --- disse ele, se levantando da cama e saindo do quarto.
Deitado no sofá sem sono algum, a mente de Arthur era um espaço vazio. Ele já devia estar cançado daquela situação. Para ele, relacionamentos não deviam ser tão dificeis assim. Por alguns minutos, ele considerou que ser heterossexual devia ser mais fácil. Ou no mínimo bissexual.
A campanhia da porta o tirou de seus devaneios temporários. Sem humor algum, Arthur se levantou do sofá para ver quem era.
Não acreditava no que via. Colin estava encharcado por causa da chuva, como se tivesse acabado de sair de uma piscina.
--- Errr... o que? --- Arthur tentou formar uma frase, mas as palavras não saíam da sua boca por causa do espanto.
Colin sorriu sem graça.
--- Eu estava lá com o cara e... Sei lá, resolvi pegar o caminho mais fácil. Não sei se vai dar certo, não sei se vou me arrepender depois, mas... É sempre uma opção aceitável.
Uma sensação de paz começou a invadir Arthur. Ele sorriu, sem saber o que dizer.
--- E tambem eu já estou cansado disso. Cansado de dormir com homens desconhecidos. Agora eu aquero apenas um homem.
Arthur enconstou a cabeça na porta, sorrindo.
--- Era exatamente isso que eu queria ouvir.
Colin sorriu, e depois olhou para a propria roupa.
--- Então... Vai me deixar do lado de fora por quanto tempo? Não que esteja ruim, mas né... hehehe.
Inesperadamente, Arthur pegou-o pelo pulso, fazendo-o adentrar na casa.
Como se os dois tivessem esperado aquilo por muito tempo, seus lábios se encontraram numa união que os uniu de forma significativa. Estranhamente, cada um conhecia intimamente os lábios um do outro. Eles se completavam como se tivessem ensaiado aquele momento há muito tempo atrás.
Mesmo com Colin todo molhado, Arthur o puxou para si, segurando-o pela cintura, enquanto Colin passava seus braços por atrás do pescoço de Arthur.
Pararam durante um momento. Sentiram que era aquilo que ambos mais queriam.
--- Apenas um homem --- disse Colin, baixinho --- Apenas você.
Foi o que bastou. Nem eles souberam quanto tempo havia se passado, mas em poucos segundos, eles estavam no quarto, descobrindo o corpo um do outro.
A chuva amenizou, se tornando apenas uma garoa fina.
Para alguns. De manhã, do outro lado da cidade, começava uma tempestade devastadora, que chegava e levava o coração de uma pessoa para o fundo do oceano.
Parados no corredor branco, Peter, Luigi e Mick não diziam nada. Estavam em pé, como se estivessem paralisados.
O coração dele não aguentou a perda de tanto sangue, dissera Mick. Não podemos fazer nada. Desculpe-me filho.
As palavras ainda ecoavam na mente de Peter.
Mas pior do que palavras, são as imagens. Se uma imagem vale por mil palavras, Peter preferia ser cego.
A imagem de uma enfermeira cobrindo o corpo sem vida de Seth foi demais para ele. A frieza demonstrada pela enfermeira era parecida com um açougueiro pegando um pedaço de carne.
Mick e Luigi perceberam que Peter não estava em seu estado normal. Pálido demais. Quieto demais. Juntos, os dois foram para o lado de Peter.
Peter olhou para eles e não disse nada.
A porta do corredor se abriu violentamente. Will entrava olhando para além dos amigos, como se esperasse encontrar Seth alí, com vida.
Peter foi ao seu encontro.
--- Will...
Mas Will não via Peter. Só deu atenção á ele quando Peter o segurou pelos pulsos.
--- Não Will, não vá lá.
Parecia que Will ia ter um ataque a qualquer momento.
--- Ainda dá tempo, Peter! Ainda dá tempo de ir lá e...
O olhar de Peter o calou.
--- Não dá mais tempo. Ele... Ele já está dormindo.
Will tentava se soltar de Peter, mas não conseguia. Peter o segurava pelos pulsos e bloqueava a passagem.
Luigi e Mick se aproximaram cautelosos.
--- Não, vocês não entendem! Ainda há tempo para... Me solta Peter!
Peter começava a apertar o pulso de Will mais fortemente. Aquela não era a hora para Will sair correndo descontroladamente pelo hospital.
--- Vocês não sabem de nada! --- disse ele, gritando em plenos pulmões --- Peter, eu ainda sei que dá tempo...
Sem perceber, os joelhos de Will dobraram, de encontro ao chão.
Não podia mais conter as lágrimas. E pior, não podia mais enganar a si mesmo.
Entregou-se a dor. Deixou-a inundar seu coração, afogando todos os sentimentos mais verdadeiros que guardava.
Não sentia mais Peter segurando pelos pulsos. Não sentia mais nada á sua volta.
Sua mente parecia ter se desligado.
Will ficou á deriva. O oceano escuro e frio e puxava para baixo, e ele não fazia o menor esforço para subir até a margem.
Se desligou de tudo. Não tinha coragem de voltar.
Capitulo doze - Segunda Temporada.
--- Não sei porque eu ainda leio o jornal --- disse Luigi, jogando o maço de folhas em cima da mesa --- Sempre a mesma coisa! Fome, morte, lipoaspiração que não dá certo, a Angelina adotando mais uma criança africana. É sempre a mesma coisa!
Peter bocejou alto esticou os braços.
--- Leia a sessão de eventos. Sempre tem coisa legal.
Luigi revirou os olhos.
--- Claro. Alguma milionária leiloando suas jóias, ou alguma galeria de arte sendo inaugurada.
Peter se levantou e ficou atrás de Luigi, com as mãos em seu ombros.
--- Você está estressado. Não dormiu bem?
Luigi deu os ombros.
--- Só estou cansado. Tenho trabalhado demais, acho que estou deixando algumas coisas passarem.
--- Você gosta de fazer um bom trabalho, por isso está sempre trabalhando. Devia relaxar um pouco.
--- Amor, eu trabalho numa revista de moda. Não dá pra relaxar. Você só trabalha algumas vezes por semana, então pode descançar o quanto quiser.
Peter revirou os olhos e tirou as mãos dos ombros de Luigi, e se afastou.
--- Pelo menos eu não estou deixando nada passar --- disse Peter, resmungando, e saindo da cozinha.
Luigi correu até ele.
--- Peet, não foi isso que eu quis dizer, você sabe.
--- Tá.
Peter ia subindo as escadas, e de repente teve uma idéia.
--- Já sei. Vamos fazer uma coisa que faz tempos que não fazemos. Vamos viajar.
Luigi inclinou a cabeça.
--- Claro. Podemos ficar um ano viajando. E quando voltarmos, vamos enfiar palitos de dentes em nossas unhas --- Luigi se virou e voltou para a cozinha.
Peter desceu as escadas e foi atrás dele.
--- Luigi, pense. Três semanas em Nova York, só eu e você. Eu, você e o Tio Sam.
Luigi começou a rir.
--- Tá falando sério?
Peter foi até ele e abraçou-o.
--- Seríssimo. Quanto tempo faz que não passamos um tempo juntos?
--- Não faz muito tempo.
--- Só eu e você. Sem ninguem.
Luigi pensou tempo demais.
--- Viu? Demorou pra responder.
Luigi sorriu e deu um beijo em Peter.
--- Mas e seu trabalho? E o meu trabalho?
--- Eu posso falar com o Christopher, uma jogada de cabelo e um piscar de olhos.
--- Que linda.
--- E você --- continuou Peter --- Fale com Vittoria. Faz tempo que você não tira férias.
Luigi estava começando a ceder.
--- Nova York?
--- Sim.
--- Four Seasons?
Peter deu os ombros e fez pouco caso.
--- Pode ser. Suíte de luxo?
Luigi sorriu.
--- E champanhe. Vamos torrar nosso dinheiro.
Enquanto eles davam risada, Mick entrou pela porta da frente.
Estava animado.
--- Amores, amores, amores. Me ajudem a fazer as malas.
Peter e Luigi se entreolharam.
--- Aonde você vai?
--- Bom, á algumas semanas eu tenho procurando um apartamento. E achei. Me mudo amanhã.
Peter franziu a testa.
--- Vai sair daqui? Vai morar sózinho?
--- Claro, querido! Achou que eu ia ficar morando com vocês pra sempre?
Eu tinha certeza, pensou Luigi.
--- Ual, Mick, que legal. Parabens! --- Peter deu um abraço nele.
--- Obrigado Peet. Agora a melhor parte: Adivinha quem vai decora-lo?
Peter deu os ombros, esperando a resposta.
Mick olhava fixamente para ele. Luigi também.
--- Você, genio --- Luigi soprou em seu ouvido.
Peter olhou significativamente para Luigi. E Luigi deu os ombros.
--- Claro. Será um prazer --- disse Peter, forçando um sorriso.
Uma hora depois, Mick, Peter e Luigi subiam as escadas do prédio que ficava no centro da cidade. Era um prédio antigo, mas tinha seu charme.
Mick abriu a porta para eles entrarem, e a mente de Peter começou a trabalhar.
Não era muito grande. A porta de entrada dava direto para a sala. No canto da sala havia outra porta, que dava para os quartos. No corredor do quartos havia uma entrada para a cozinha e para a lavanderia. E havia ainda, na sala, uma varanda bem simpática, com uma altura bem generosa. Pena que o centro da cidade não é famoso por ser colorido. Olhando pela janela, se via apenas o cinza e outras cores em tons escuros.
--- É simpático --- disse Luigi, encostado na parede.
--- Uma graça --- disse Peter --- Quando você quer que eu comece?
Mick nem precisou pensar --- já tinha tudo em mente.
--- Eu me mudo amanhã, então pode começar depois de amanhã. Eu peguei essas fotos para você ter uma idéia.
Mick pegou de dentro de uma caixa algumas folhas de revistas e entregou á Peter.
Peter abaixou as sobrancelhas.
--- Mick, isso é meio dificil de fazer.
Peter levantou as folhas, e Mick percebeu que havia entregado uma porção de fotos de homens nús.
--- Hehehe, que coisa --- ele sorriu meio constrangido --- São as folhas erradas --- ele enfiou a mão na caixa e pegou outras folhas. Desta vez ele conferiu.
--- Sim... Bom... --- Peter estava vendo as fotos --- Dá pra fazer. Em... Cinco ou seis dias eu termino.
Mick sorriu positivamente e agradeceu.
--- Então, é bye bye pro Four Seasons?
Peter estava dirigindo, e não olhou para Luigi quando respondeu.
--- Lógico que não. São só cinco dias de diferença.
--- Humpf --- Luigi puxou os lábios para o canto do rosto e cruzou os braços.
Peter suspirou fundo.
--- Vai ficar com essa cara mesmo?
--- Não estou a fim de falar, tudo bem?
Peter revirou os olhos.
--- Ótimo.
E assim eles seguiram durante o caminho de volta para casa.
O porteiro sorriu prestativamente quando avistou o carro prata de Luigi se aproximando da janela da portaria.
--- Senhor Peter, boa tarde.
Peter parou o carro e cumprimentou-o.
--- Boa tarde --- disse ele sem animo algum.
--- O senhor tem visitas. Um cara alto, branco igual algodão, careca.
Peter e Luigi se entreolharam.
Seth, pensaram.
--- Ele está acompanhado?
--- Não não --- disse o homem --- está sozinho.
Peter balançou a cabeça positivamente e sorriu.
--- Seth sózinho? Por que Will não está com ele?
Luigi deu os ombros.
--- Não sei --- disse ele, seco.
--- Tá com raiva ainda de não podermos viajar durante a proxima semana?
--- Eu só não entendo com que rapidez você muda todos os seus planos por causa de Mick.
Eles chegaram em frente a casa.
--- Então estamos discutindo por causa de Mick? --- Peter perguntou, ironico.
--- Não estamos brigando.
--- Transando também é o que não estamos fazendo, Luigi.
Luigi virou a cabeça para Peter, mas não disse nada. Soltou seu cinto de segurança e pulou para fora.
Peter ainda estava com as mãos no volante, tentando entender o comportamento estranho de Luigi.
Luigi já tinha 25 anos, não é mais uma criança para se comportar desse geito.
E porque essa implicancia com Mick? Ainda? Mick ia sair da casa, Luigi devia estar feliz com isso.
Peter saiu do carro, e quando subiu os degraus até a porta, começou a falar alto.
--- Olha, eu não sei o que deu em você hoje, mas eu acho melhor...
Peter parou atrás de Luigi.
A mesa de centro estava fora de lugar, assim como o abajur, que estava destruido no chão. Misturado com os vidros do abajur, outros cacos cortantes estavam ao chão --- uns do abajur, outros do tampo da mesa de centro, e outros de... Um porta retrato?
Mas não foi isso que chamou a atenção dos dois.
Seth estava em posição fetal, segurando uma foto de Peter e Luigi, cheio de sangue no rosto. Seus cabelos estavam grudados em sua testa com uma tinta vermelha. Ao seu redor, uma poça de sangue fazia um circulo imperfeito.
Peter correu até Seth, e nem percebeu que seu par de All Star branco haviam ganhado uma nova cor.
--- Ligue pra emergencia! --- disse Peter, desesperado.
Luigi foi até o telefone e discou o numero. Poucos minutos depois, uma voz feminina atendia.
Luigi berrava ao telefone.
--- Uma ambulancia, pelo amor de Deus!
Só existe um local mais deprimente do que a sala de espera de um hospital: A sala de velório. Apesar de numa sala de espera tudo ser em tons de azul e branco, com fotos de enfermeiras com o dedo indicador sobre os lábios pedindo silencio, o ar do local inspirava infelicidade. Era uma sensação estranha que habiatava aqueles lugares.
Peter estava com os cotovelos apoiados nos joelhos, sentado numa cadeira. Luigi, ao seu lado, olhava para o outro lado, com o tronco encostado na parede, e com as pernas esticadas.
A cena de Seth deitado em posição fetal, coberto de sangue, assombrava as mentes de Peter e de Luigi. Parecia que eles haviam participado de um filme de serial killers barato.
--- Ligou para o Will? --- disse Luigi, cortando o silencio.
Um médico passou arrastando uma maca vazia.
--- Sim. Já deve estar vindo. Ele estava no Archier com Arthur.
Luigi concordou e voltou á ficar em silencio.
Minutos depois, Will entrava na sala de espera com passos rápidos, quase marchando, com Arthur no seu encalço.
Seus olhos mostravam o mais profundo desespero humano.
--- Onde ele está?! Eu quero ve-lo! --- Gritava ele, metros de distancia de Peter e Luigi.
Peter se levantou e foi de encontro com Will, que estava desesperado.
--- Will, me escute...
--- Aonde ele esta? Peter, cade ele?
Peter segurou Will pelos pulsos, tentando acalma-lo.
--- Me solte, Peter! Onde está Seth?!
Arthur estava atrás dele, com as mãos em seus ombros.
--- Fale baixo, Will --- disse ele.
Will nem escutou. Seus olhos estavam colados em Peter e Luigi.
--- Ele estava na sua casa? Fazendo o que?
--- Não sabemos --- disse Luigi, ficando ao lado de Peter --- Quando chegamos ele estava...
Peter fuzilou Luigi com os olhos.
--- Ele vai ficar bem, Will, meu pai está cuidando dele, garanto que ele terá o melhor atendimento possivel.
Aquelas palavras pareceram deixar Will mais calmo. Mas logo seus olhos fixaram-se atrás dos ombros de Peter, onde um médico alto de cabelos grisalhos olhava para eles.
Mark andava calmamente, segurando uma prancheta nas mãos.
--- Ai meu Deus --- disse Will, temendo o pior.
Mark se aproximou deles, e disse calmamente.
--- Meninos --- ele comprimentou.
--- Pai --- disse Peter.
--- Senhor Mark, ele vai ficar bem? --- Will quase não segurava as palavras em sua boca.
Mark deu uma olhada na prancheta que carregava.
--- Sinceramente, não sei dizer. Seth sofreu de Sindrome Anemica, que é caracterizada pelo aceleramento dos batimentos cardíacos. E sofreu também de Sindrome Hemorragica, onde o sangue geralmente escorre pelo nariz. Juntando os dois... Seth perdeu muito sangue.
A imagem do circulo de sangue passou pela mente de Luigi como um lampejo.
--- Mas, mas, ele... Ele vai melhorar, não vai?
Peter viu o peso que seu pai carregava, e afagou-lhe o ombro.
--- Will, Seth está muito debilitado --- disse Mark --- Está muito fraco e perdeu muito sangue.
Will passou a mão pelos cabelos, e sentou numa cadeira proxima.
--- Não pode ser --- disse ele, baixinho.
--- Pai --- disse Peter --- Qual o estado dele agora?
Mark olhou para Will, cauteloso.
--- Ele está dormindo, e recebendo sangue. Coloquei uma enfermeira para ficar com ele durante toda a noite.
--- Mas está estável?
--- No momento, sim. Mas se ele não ficar bom logo, os outro dois estágios terão mais chances de se manifestarem.
Will colocou as mãos nas orelhas, querendo não ouvir aquilo.
Mark olhou signicativamente para Peter, que entendeu o recado.
Peter se lembrava que a Leucemia era caracterizada por quatro estágios --- e Seth já passara por dois.
Há mais dois, pensou ele, sem esperanças.
--- William, farei o que for possivel para ajudar seu companheiro. Mas agora eu peço que você vá pra casa descançar.
Will olhou para o médico, e aquiesceu.
Mark deu um beijo em Peter, se despediu dos outros meninos e voltou para sua sala.
Depois de insistirem por uns 20 minutos para que Will fosse para casa de Peter e Luigi, ele aceitou. A idéia de ficar sózinho novamente parecia assustadora.
Enquanto caminhavam pelo gramado que rodeava a entrada, eles viram Mick se aproximar rapidamente.
Assim que Will o viu, correu para seus braços, procurando orientação.
Mick começou a dizer alguma coisa á Will, bem baixo, em seu ouvido.
--- Estão com fome? --- disse Arthur.
Todos fizeram que "sim" com a cabeça.
Arthur enfiou a mão no bolso e achou o que procurava.
--- Vamos pro Archier --- disse ele, sentindo o peso das chaves em seu bolso.
Mick e Arthur foram no carro de Will. Arthur teve que dirigir, pois parecia que Will estava longe deste mundo.
Peter e Luigi foram sózinhos no carro prata.
Depois de uns minutos em silencio, Peter disse, sem olhar para Luigi.
--- Ainda não estamos falando sobre o assunto que não estamos falando?
Luigi, ao volante, deu uma risadinha.
--- Me deculpe --- disse ele.
Peter se virou para ele, e encarou-o.
--- Me desculpe por ser tão insuportável hoje. É que a idéia de viajar com você me deixou animado, e depois você cortou o plano... Mas...
--- Mas? --- Peter encorajou-o.
--- Mas hoje, quando eu olhei nos olhos de Will, e vi o desespero por poder estar perdendo a pessoa que se ama, eu vi como eu estava sendo idiota. Digo, Mick é seu amigo, e apenas pediu para você deixar o apartamento bonito. Desculpe por ter agido como se eu tivesse seis anos.
Peter sorriu e colocou sua mão na perna de Luigi.
--- Tudo bem. Eu prometo que posso terminar o apartamento de Mick em quatro dias. E aí seremos só nós dois no Four Season de Nova York.
Luigi sorriu e não disse mais nada.
--- Amor --- disse Peter --- Você notou que o apartamento do Mick...
--- Fica na mesma rua do nosso antigo apartamento? Foi a primeira coisa que eu notei.
Peter sorriu, nostálgico.
--- Saudades daquela época.
--- Sente falta das goteiras, do microondas que a porta não fechava, ou de ter comigo macarrão instantaneo por quase três semanas?
Peter riu alto com as lembranças.
--- Foi uma boa época --- disse ele.
--- Mas essa época tem seu charme --- disse Luigi --- Casa de dois andares, piscina, lareira.
Peter sorriu e pisou fundo no acelerador.
Depois que todos os meninos saíram do Archier, Arthur fechou o café e foi andando para casa, como sempre fazia. A noite estava agradável --- um ar frio bem leve, mas refrescante.
Arthur caminhava lentamente, com as mãos nos bolsos da calça. Tentava não pensar na cena que havia testemunhado á alguns dias atrás.
Colin, morando em um lugar estranho, fazendo sexo com dois homens. Seriam clientes? Arthur achava que Colin não fazia serviços na propria casa...
Perdido em pensamentos, andando por ruas conhecias e bem movimentadas (ele estava no point gay da cidade, onde garotos com cara de bebê disputam lugar na noite com homens musculosos e travestis de salto alto), ele andava de cabeça baixa. Teve tempos que aquela vida noturna o atraia bastante, mas não agora. Arthur já contava 36 anos, e pensava que a época de curtir a noite já havia passado.
Ele parou na calçada, o sinal estava verde para os carros.
Enquanto esperava para que o sinal fechasse, uma figura destacou-se entre os demais. Estava enconstado na parede do outro lado da rua, braços cruzados diante o peito, procurando alguem. Enquanto procurava pela pessoa, ele avistou, do outro lado da rua, Arthur, parado, encarando-o.
Colin sentiu-se constrangido. Da ultima vez que vira Arthur, Colin estava com as mãos ocupadas.
O coração de Arthur baria rapidamente. Mil pensamentos passavam feito raios em sua mente.
Um carro estacionou á uns dois metros da onde Colin estava. Um veiculo preto, com as janelas escuras e farois apagados.
Arthur percebeu que a pessoa que Colin procurava havia acabado de chegar.
Como se tivesse vida própria, a porta do acompanhante abriu-se, como se chamasse Colin.
Ele não tinha muitas escolhas, e Arthur sabia disso.
Mas por que escolher a opção errada?
Colin sorriu tristemente, e com os olhos querendo derramar sua lágrimas, caminhou até a porta e entrou dentro do carro.
As luzes do automóvel se acenderam, e o motorista deu a partida. De relance, Arthur pode ver o perfil do "cliente".
Cabelos grisalhos. Olhos severos. Barriga saliente. O típico pai de familia que curtia os prazeres da noite com jovens desconhecidos.
Enquanto o carro se afastava com os faróis acesos, Arthur ficou alí, parado, vendo um completo desconhecido levar para longe a pessoa mais importante da sua vida.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Capitulo Onze - Segunda Temporada.
Reencontro.
O elevador parou no 3º andar do prédio da ArtDeco, e um jovem de cabelos ruivos entrou. Peter sorriu para o jovem e cumprimentou-o com com um balançar positivo de cabeça.
Peter nunca tinha visto aquele jovem antes.
Deve trabalhar no RH, ou na recepção, pensou ele.
Enquanto o elevador subia, a musiquinha irritante que toca em elevadores foi interrompida pela voz do jovem ruivo.
--- Parabens pelo prêmio. --- disse ele, sorrindo.
Peter olhou para seu rosto, e percebeu como os olhos dele eram bonitos. Vivos. Brilhantes. Esverdeados.
--- Obrigado. --- Peter respondeu.
No que pareceram horas de espera, o elevador continuava subindo. Pelo reflexo das portas, Peter viu, agarrado á lapela do blazer do jovem, um crachá vermelho, escrito "visitante". Abaixo estavam a primeira letra do nome do rapaz e o sobrenome completo.
Peter leu. Depois tentou puxar pela memória.
Não. Não é. Seria muita coincidencia.
Leu mais vez.
As portas do elevador se abriram no 9º andar, o setor encarregado de folhas de pagamento, recrutamento de empregados e entrevista de futuros funcionários.
--- Até logo --- disse o rapaz, saindo do elevador e apressando o passo para onde Peter não conseguiu ver.
A letra e o sobrenome ainda estavam na mente de Peter.
Será? pensou ele. Quem sabe...
Peter era dotado de uma memória assustadoramente excelente. Guardava datas, nomes, diversos numeros e ocasiões.
Mas como a memória guarda informações que nunca as teve?
O elevador abriu as portas novamente, no andar onde Peter trabalhava.
Estava radiante. Sua mente já tinha conhecimento de todos os recursos disponíveis para averiguar se ele estava certo.
Deu "Oi" para sua secretária e entrou em sua sala.
Sentou em sua mesa e procurou o numero na memória do telefone. Quando achou o que procurava, iniciou a ligação.
--- Luis Fernando? Oi, é o Peter. Sabe, eu preciso de folha de cadastro de um candidato chamado de Macfadyen. Isso. C. Macfadyen. Obrigado.
Assim que Peter desligou o telefone, seu aparelho de fax imprimia uma cópia do curriculum de Colin Macfadyen.
--- Alô?
--- Lui, sou eu, Peter. Onde você está?
--- No Archier, com...
--- Arthur está aí?
--- Sim, ele trabalha aqui. Peter o que foi?
Peter se sentia como se fosse um espião da CIA.
--- Por favor, não deixe ele escutar a conversa. Tem como se afastar por uns minutos.
Luigi olhou ao redor e disse "sim".
--- Vou na calçada, espera um pouco --- disse Luigi, se afastando do balcão e saindo para fora do café. --- Pronto. O que houve?
--- Então, como se chamava aquele garoto de programa que o Arthur conheceu quando eu estava viajando?
Luigi demorou um pouco para se lembrar. Mas lembrou.
--- Tom.
Peter ficou menos animado. Não era essa a resposta que ele esperava.
--- Tem certeza?
--- Bom, esse era o nome de guerra dele.
Peter colou o fone em seu ouvido.
Ótimo!
--- E o nome original dele? Como era?
--- Hã... Kyle... Carson... Peter, eu não me lembro. Por que?
Peter arriscou.
--- Colin?
--- Isso! Colin. Colin... Macdenials, MacDonalds, alguma coisa assim.
Peter começou a rir baixinho.
--- O que é? Tá rindo de que?
--- Bom --- disse Peter, se contendo --- Acho que o ex-garoto de programa do Arthur vai virar um funcionário da ArtDeco.
Breve silencio.
--- Sério? Como assim?
--- Nos vemos á noite, aí eu conto direito. Te amo.
Peter desligou antes que Luigi pudesse responder. Ele saíu de sua sala e desceu até o 9º andar.
--- Desculpem a demora --- disse a médica de permanente malfeito no cabelo, quando entrou no consultório.
--- Tudo bem --- disse Will, segurando na mão de Seth.
A médica sorriu para dos dois e abriu o grande envelope marrom que segurava com a mão. Ela cortou com a mão a parte de cima do envelope, fazendo alguns papéis grampeados deslizarem pela mesa.
--- Muito bem ... --- disse ela, passando os olhos pelas folhas --- Willian? Bom ... --- ela leu mais atentamente, como para ter a certeza do que ia falar --- Os resultados dos seus exames deram negativos. Você não está com nenhuma doença sexualmente transmíssivel.
O peso do mundo pareceu se esvair das costas de Will. Ele respirou o mais fundo que pode.
Seth se virou para ele e apertou sua mão.
--- Eu disse que ia tudo ficar bem --- disse ele.
Will levantou a cabeça e deu-lhe um beijo rápido.
A médica continuava alí, como se assistisse um filme com um final feliz.
--- Fico feliz por você, senhor Willian.
Will sorriu, ainda se acostumando á sensação de alívio.
--- E devo alerta-los que se estejam planejando fazer sexo sem preservativo, façam primeiro os testes. O senhor Willian já os fez, então acho recomendável faze-los também, senhor Seth.
Seth assentiu com a cabeça.
--- Marcarei os exames, claro. Doutora, muito obrigado.
Ele e Will se levantaram, apertaram a mão da médica e saíram do consultorio.
Á caminho de casa, Will olhava para fora do carro como se fosse a primeira vez que via aquelas imagens passando diante dos seus olhos.
Tudo parecia mais colirido, mais vivo, como se tudo ao seu redor estivesse iniciando uma vida nova.
Seth olhou para ele.
--- Terra chamando Will...
Will voltou á realidade.
--- Desculpe, estava fora de área.
Seth sorriu.
--- E aí? Como se sente?
Will nem precisou pensar na resposta.
--- Aliviado. Sabe, ver as coisas e saber que não será a ultima vez que irei ve-las. É... Maravilhoso.
Seth sorriu melancólico.
--- Deve ser.
Seth respirou fundo e colocou sua mão na perna de Seth.
--- É maravilhoso. Logo você irá sentir essa sensação. Pode demorar um pouco... Mas você vai sentir.
Seth esbolsou um sorriso.
O celular de Will começou a vibrar em seu bolso.
Era Mick.
--- Oi Mick.
Mick estava cauteloso.
--- E aí? Os resultados? Quais foram?
Will sorriu como se fosse a primeira vez que o fizesse.
--- Estou limpo. Saudável.
Mick vibrou do outro lado da linha.
--- Eu sabia! Sabia! Vão pra casa do Luigi e do Peter quando anoitecer. Temos que comemorar.
Mick desligou, e Will guardou o celular em seu bolso.
--- E aí? O que ele disse? --- perguntou Seth.
Will deu os ombros.
--- Casa do Luigi e do Peter esta noite. Vamos comemorar.
Seth sorriu e assentiu com a cabeça.
40 minutos depois de ter saído de sua sala, Peter finalmente chegara até o 9º andar, o andar do RH da ArtDeco. Ele demorou todo esse tempo pois decidira descer pelas escadas, e encontrou no caminho pessoas que quiseram cumprimenta-lo, perguntar como era a sensação de receber o premio de melhor decorador, e até mesmo um estagiário que pediu para tirar uma foto com ele.
Devia ter usado o elevador, pensou Peter.
Quando chegou ao RH, perguntou pelo Luis Fernando. Peter foi indicado para a sala dele.
Perguntas de respostas óbvias...
Peter entrou sem bater na porta.
Luis Fernando estava atrás de sua mesa, com os olhos colados em documentos. Quando ouviu a porta se abrir, seus olhos cor de chocolate encontraram os olhos azuis de Peter.
--- Mas que honra. Eu pensava que os decoradores não sabiam da existencia desse andar.
Luis sorriu e foi até Peter, dar-lhe um abraço.
--- Parabens pelo premio --- disse ele.
Peter sorriu.
Luis indicou uma cadeira para Peter, e depois sentou-se atrás da mesa.
--- E aí, Peter. Perdido por aqui? Pensei que fossemos raças que não se misturavam.
Peter sorriu meio constrangido.
--- Claro que não. São vocês que nos colocam aqui dentro. O famoso pessoal dos Recursos Humanos. São vocês que não vão até os decoradores.
--- Hahaha, claro claro. Mas em que posso ajuda-lo, Peter?
Peter se arrumou na cadeira.
--- Eu queria saber de um entrevistado que esteve com você á uns 40 minutos atrás. Colin Macfadyen.
Luis puxou pela memória.
Macfadyen...Macfadyen...Macfadyen...
--- Sim, Macfadyen. Ele tentou o cargo de meu secretário. Sabe, a Luciana vai sair de licença-maternidade, então já estou procurando outro assistente. Mas por que?
Peter deu os ombros.
--- Não é nada. Ele é... um conhecido meu.
--- É? Ele não comentou nada.
Claro que não, pensou Peter, ele não me conhece.
--- É uma longa história. Mas ele conseguiu o cargo?
--- Não. Não achei ele de confiança.
Peter sentiu que suas chances haviam ficado menores.
Para ser educado, Peter ficou uns bons vinte minutos conversando com Luis. Depois desse tempo, ele voltou para seu escritório, e afundou-se em sua cadeira giratória.
Ás sete da noite, o som estava ligado, tocando uma musica qualquer, e os meninos se serviam de bebidas e uns salgados que Mick havia comprado no mercado.
Apenas Arthur não sabia da história dos exames de Will, e isso o pegou de surpresa.
Depois de Will acalma-lo, Arthur pegou um copo e o encheu de champanhe, levantando-o para o alto.
Will estava feliz. Parecia que fazia tempos que ele não ficava desse geito.
Seth... Estava pálido. Magro. Usava uma boina vermelha, escondendo sua cabeça lisa. Peter não entendia muito de leucemia, apenas o básico que sei pai lhe explicara anos antes.
Quatro estágios... Quatro tipos de doença... Sangramento nasal... Que geralmente leve á...
Peter tentava não prestar atenção nisso, mas estava dificil. Era como se ele tentasse ignorar um elefante que tocava piano no meio de sua sala de estar.
Quando Arthur foi até a cozinha, Peter o seguiu.
--- Vamos lá em cima. Preciso falar com você --- disse Peter, segurando em sua mão.
Arthur franzil uma sobrancelha, mas não disse nada.
Enquanto subiam as escadas, Luigi disse.
--- Eu sabia que esse dia chegaria. Peter Calledon com outro cara. Eu sabia.
Peter sorriu e mostrou a lingua para ele, como se tivesse seis anos de idade.
Eles chegaram ao quarto, e Arthur sentou-se na cama. Peter foia té sua pasta de trabalho e começou a revira-la.
--- Pensei que você guardasse os preservativos na carteira.
--- Eu guardo na cueca. Mas não é preservativos que eu estou procurando.
Peter revirou a bolsa mais uma vez e achou o que procurava. Tirou dalí uma folha de papel dobrada. Ele sentou na cama, ao lado de Arthur, e começou a falar.
--- Isso talvez possa lhe interessar... --- Ele estendeu a folha para Arthur --- Espero que te ajude.
Arthur pegou a filha e a desdobrou. Leu a primeira linha, e percebeu o que era aquilo.
--- Como... Onde conseguiu isso?
--- Ele deixou na ArtDeco. Tentou um cargo de secretário e...
--- Ele conseguiu?
--- Não. Ele não inspirou confiança.
Arthur baixou os olhos para a folha, lendo-a novamente.
Estava tudo alí. Data de aniversário, numero de celular, endereço... Tudo necessário para encontra-lo.
--- Você tem bom gosto sabia? Eu encontrei com ele no elevador. Ele é bonito.
Arthur sorriu meio sem graça.
--- Que roupa ele estava?
Peter tentou se lembrar.
--- Não me lembro. Estava com roupas comuns.
Arthur ficou em silencio por uns minutos, perdido em pensamentos.
--- Pode ir procura-lo agora.
Arthur levantou a cabeça. Era isso que ele iria fazer.
--- Sim sim. Empresta seu carro?
Peter passou os olhos pelo quarto e encontrou o que procurava.
--- As chaves estão no criado mudo.
Arthur levantou-se e pegou as chaves. Ia saindo do quarto, quando se virou e disse:
--- Vem comigo? Por favor.
Peter sorriu afetuosamente.
--- Claro. Só vou avisar o Lui.
Eles saíram do quarto e desceram as escadas.
Minutos depois, estavam saindo do condominio e seguindo cidade á dentro.
A rua era uma subida reta, as luzes estavam acesas, e ninguem estava á vista. Logo mais acima, um prédio de quatro andares, com algumas janelas acesas, entrou no campo de visão de Peter e de Arthur.
--- É este aqui.
Peter parou o carro e olhou mais diretamente para o prédio. Não havia portaria. Nem estacionamento. Aquilo parecia mais com esses hoteís de beira de estrada. Para se chegar aos demais andares, só era preciso subir uma escada de metal que interligava os quatro andares.
--- Hãã... Bom é bem... --- Peter estava meio sem graça --- É bonitinho.
Um homem apareceu no terceiro andar, saindo de uma das portas. Ele carregava na mão uma garrafa de cerveja, que logo foi jogada para dentro do apartamento, fazendo um barulho de cacos de vidro encontrando o chão.
Arthur olhou para Peter.
Peter olhou para Arthur.
--- Bonitinho? --- disse Arthur.
--- É. Ele é... Todo azul.
O prédio tinha uma cor que um dia já fora azul.
Arthur soltou o cinto de segurança e abriu a porta.
--- Eu já volto --- disse ele, saindo do carro e fechando a porta.
Peter assentiu com a cabeça e olhou para os lados.
Travou o vidro e as portas do carro. Só por segurança.
Arthur subia os degraus das escadas um a um. Sem pressa. Passos leves. Aquela escada não confiava segurança. As chuvas fizeram o favor de deixar o corrimão meio enferrujado.
Arthur parou quando chegou no terceiro andar. Olhou para trás, e viu uma altura relativamente alta. Olhou em direção ao carro --- as mãos de Peter estavam coladas ao volante.
Ele andou pelo pequeno corredor, procurando a porta certa.
E encontrou. Numero nove.
Respirou fundo. Tentou imaginar como seria a situação. Colin correria para seus braços e pediria para que ele o tirasse dalí?
Arthur não sabia.
Bateu na porta três vezes e esperou. Logo ouviu-se passos de dentro do apartamento, e a maçaneta sendo girada.
Ele continuava do mesmo geito que a memória de Arthur o preservou. Seus cabelos ruivos estavam despenteados, e um pouco maiores. Seus olhos verdes ainda continham aquele brilho especial.
Mas parecia diferente. E estava enrrolado apenas em uma toalha branca, segurando-a por trás, para que não caisse.
Seus olhos se encontraram. Pareciam distantes.
--- Oi --- disse Arthur.
Colin não disse nada. Apenas encostou a cabeça no batente da porta. Se os olhos realmente eram as janelas da alma, Arthur poderia ver tantos sentimentos guardados e trancados lá dentro.
--- Lembra-se de mim? --- Arthur arriscou.
Colin sorriu, cansado.
--- Claro... Legal te ver. Como você está?
Arthur deu os ombros.
--- Bem. Tudo normal.
Colin acenou com a cabeça.
--- E você, como está?
Colin olhou para seu próprio corpo e depois olhou para Arthur.
--- Já estive melhor.
Uma voz grossa soou de dentro do apartamento. Colérica. Furiosa.
--- Eu paguei pra uma puta ficar de conversinha com outra pessoa?! Venha aqui agora e termine seu serviço. Estou esperando.
Uma voz diferente, meio modificada por causa de alguma bebida, também exigiu que Colin voltasse.
--- ESTAMOS esperando --- disse a segunda vóz --- E você ainda nem começou a me aliviar.
Colin baixou a cabeça constrangido. Nunca tinha tido vergonha de ser o que era, mas naquele momento, com Arthur ouvindo aquelas coisas, ele desejou que a morte viesse busca-lo e o salvasse daquele destino incerto.
Arthur fingiu não escutar aquilo. Cruzou os braços diante do peito e nada disse.
--- Foi a forma que eu tive de continuar a faculdade. Só mais um ano... E estou livre disso.
Arthur olhou para ele, que apesar de tudo, sorria.
--- Não precisa ser assim. Você sabe que você tem alternativas.
Colin não queria ter aquela conversa, pelo menos naquele momento. Ele levantou a cabeça e disse cheio de altoridade.
--- Foi bom te ver, Arthur. Agora eu tenho que entrar.
Quando Colin ia fechando a porta, Arthur o deteve.
--- Sabe onde eu estou, se precisar de ajuda.
Colin fez que "sim" com a cabeça e fechou a porta. Arthur pode ouvir o chave sendo girada e a tranca sendo acionada pelo mecanismo.
De volta ao carro, Peter destravou as portas quando Arthur voltou até ele.
--- E aí? Como ele está?
Arthur pronunciou apenas uma palavra.
--- Ocupado.
Peter percebeu que Arthur não queria falar sobre aquilo, e respeitou. Ele ligou o carro e pisou no acelerador.
Quando chegou em casa, os garotos ainda estavam alí. Peter chamou Arthur para dormir lá naquela noite, e este aceitou.
Ás três da manhã, lágrimas silenciosas deslizavam pelo rosto de Arthur, que tentava dormir, mas era atormentado por vozes coléricas que trancavam seu amor dentro de um quarto frio e escuro.
O elevador parou no 3º andar do prédio da ArtDeco, e um jovem de cabelos ruivos entrou. Peter sorriu para o jovem e cumprimentou-o com com um balançar positivo de cabeça.
Peter nunca tinha visto aquele jovem antes.
Deve trabalhar no RH, ou na recepção, pensou ele.
Enquanto o elevador subia, a musiquinha irritante que toca em elevadores foi interrompida pela voz do jovem ruivo.
--- Parabens pelo prêmio. --- disse ele, sorrindo.
Peter olhou para seu rosto, e percebeu como os olhos dele eram bonitos. Vivos. Brilhantes. Esverdeados.
--- Obrigado. --- Peter respondeu.
No que pareceram horas de espera, o elevador continuava subindo. Pelo reflexo das portas, Peter viu, agarrado á lapela do blazer do jovem, um crachá vermelho, escrito "visitante". Abaixo estavam a primeira letra do nome do rapaz e o sobrenome completo.
Peter leu. Depois tentou puxar pela memória.
Não. Não é. Seria muita coincidencia.
Leu mais vez.
As portas do elevador se abriram no 9º andar, o setor encarregado de folhas de pagamento, recrutamento de empregados e entrevista de futuros funcionários.
--- Até logo --- disse o rapaz, saindo do elevador e apressando o passo para onde Peter não conseguiu ver.
A letra e o sobrenome ainda estavam na mente de Peter.
Será? pensou ele. Quem sabe...
Peter era dotado de uma memória assustadoramente excelente. Guardava datas, nomes, diversos numeros e ocasiões.
Mas como a memória guarda informações que nunca as teve?
O elevador abriu as portas novamente, no andar onde Peter trabalhava.
Estava radiante. Sua mente já tinha conhecimento de todos os recursos disponíveis para averiguar se ele estava certo.
Deu "Oi" para sua secretária e entrou em sua sala.
Sentou em sua mesa e procurou o numero na memória do telefone. Quando achou o que procurava, iniciou a ligação.
--- Luis Fernando? Oi, é o Peter. Sabe, eu preciso de folha de cadastro de um candidato chamado de Macfadyen. Isso. C. Macfadyen. Obrigado.
Assim que Peter desligou o telefone, seu aparelho de fax imprimia uma cópia do curriculum de Colin Macfadyen.
--- Alô?
--- Lui, sou eu, Peter. Onde você está?
--- No Archier, com...
--- Arthur está aí?
--- Sim, ele trabalha aqui. Peter o que foi?
Peter se sentia como se fosse um espião da CIA.
--- Por favor, não deixe ele escutar a conversa. Tem como se afastar por uns minutos.
Luigi olhou ao redor e disse "sim".
--- Vou na calçada, espera um pouco --- disse Luigi, se afastando do balcão e saindo para fora do café. --- Pronto. O que houve?
--- Então, como se chamava aquele garoto de programa que o Arthur conheceu quando eu estava viajando?
Luigi demorou um pouco para se lembrar. Mas lembrou.
--- Tom.
Peter ficou menos animado. Não era essa a resposta que ele esperava.
--- Tem certeza?
--- Bom, esse era o nome de guerra dele.
Peter colou o fone em seu ouvido.
Ótimo!
--- E o nome original dele? Como era?
--- Hã... Kyle... Carson... Peter, eu não me lembro. Por que?
Peter arriscou.
--- Colin?
--- Isso! Colin. Colin... Macdenials, MacDonalds, alguma coisa assim.
Peter começou a rir baixinho.
--- O que é? Tá rindo de que?
--- Bom --- disse Peter, se contendo --- Acho que o ex-garoto de programa do Arthur vai virar um funcionário da ArtDeco.
Breve silencio.
--- Sério? Como assim?
--- Nos vemos á noite, aí eu conto direito. Te amo.
Peter desligou antes que Luigi pudesse responder. Ele saíu de sua sala e desceu até o 9º andar.
--- Desculpem a demora --- disse a médica de permanente malfeito no cabelo, quando entrou no consultório.
--- Tudo bem --- disse Will, segurando na mão de Seth.
A médica sorriu para dos dois e abriu o grande envelope marrom que segurava com a mão. Ela cortou com a mão a parte de cima do envelope, fazendo alguns papéis grampeados deslizarem pela mesa.
--- Muito bem ... --- disse ela, passando os olhos pelas folhas --- Willian? Bom ... --- ela leu mais atentamente, como para ter a certeza do que ia falar --- Os resultados dos seus exames deram negativos. Você não está com nenhuma doença sexualmente transmíssivel.
O peso do mundo pareceu se esvair das costas de Will. Ele respirou o mais fundo que pode.
Seth se virou para ele e apertou sua mão.
--- Eu disse que ia tudo ficar bem --- disse ele.
Will levantou a cabeça e deu-lhe um beijo rápido.
A médica continuava alí, como se assistisse um filme com um final feliz.
--- Fico feliz por você, senhor Willian.
Will sorriu, ainda se acostumando á sensação de alívio.
--- E devo alerta-los que se estejam planejando fazer sexo sem preservativo, façam primeiro os testes. O senhor Willian já os fez, então acho recomendável faze-los também, senhor Seth.
Seth assentiu com a cabeça.
--- Marcarei os exames, claro. Doutora, muito obrigado.
Ele e Will se levantaram, apertaram a mão da médica e saíram do consultorio.
Á caminho de casa, Will olhava para fora do carro como se fosse a primeira vez que via aquelas imagens passando diante dos seus olhos.
Tudo parecia mais colirido, mais vivo, como se tudo ao seu redor estivesse iniciando uma vida nova.
Seth olhou para ele.
--- Terra chamando Will...
Will voltou á realidade.
--- Desculpe, estava fora de área.
Seth sorriu.
--- E aí? Como se sente?
Will nem precisou pensar na resposta.
--- Aliviado. Sabe, ver as coisas e saber que não será a ultima vez que irei ve-las. É... Maravilhoso.
Seth sorriu melancólico.
--- Deve ser.
Seth respirou fundo e colocou sua mão na perna de Seth.
--- É maravilhoso. Logo você irá sentir essa sensação. Pode demorar um pouco... Mas você vai sentir.
Seth esbolsou um sorriso.
O celular de Will começou a vibrar em seu bolso.
Era Mick.
--- Oi Mick.
Mick estava cauteloso.
--- E aí? Os resultados? Quais foram?
Will sorriu como se fosse a primeira vez que o fizesse.
--- Estou limpo. Saudável.
Mick vibrou do outro lado da linha.
--- Eu sabia! Sabia! Vão pra casa do Luigi e do Peter quando anoitecer. Temos que comemorar.
Mick desligou, e Will guardou o celular em seu bolso.
--- E aí? O que ele disse? --- perguntou Seth.
Will deu os ombros.
--- Casa do Luigi e do Peter esta noite. Vamos comemorar.
Seth sorriu e assentiu com a cabeça.
40 minutos depois de ter saído de sua sala, Peter finalmente chegara até o 9º andar, o andar do RH da ArtDeco. Ele demorou todo esse tempo pois decidira descer pelas escadas, e encontrou no caminho pessoas que quiseram cumprimenta-lo, perguntar como era a sensação de receber o premio de melhor decorador, e até mesmo um estagiário que pediu para tirar uma foto com ele.
Devia ter usado o elevador, pensou Peter.
Quando chegou ao RH, perguntou pelo Luis Fernando. Peter foi indicado para a sala dele.
Perguntas de respostas óbvias...
Peter entrou sem bater na porta.
Luis Fernando estava atrás de sua mesa, com os olhos colados em documentos. Quando ouviu a porta se abrir, seus olhos cor de chocolate encontraram os olhos azuis de Peter.
--- Mas que honra. Eu pensava que os decoradores não sabiam da existencia desse andar.
Luis sorriu e foi até Peter, dar-lhe um abraço.
--- Parabens pelo premio --- disse ele.
Peter sorriu.
Luis indicou uma cadeira para Peter, e depois sentou-se atrás da mesa.
--- E aí, Peter. Perdido por aqui? Pensei que fossemos raças que não se misturavam.
Peter sorriu meio constrangido.
--- Claro que não. São vocês que nos colocam aqui dentro. O famoso pessoal dos Recursos Humanos. São vocês que não vão até os decoradores.
--- Hahaha, claro claro. Mas em que posso ajuda-lo, Peter?
Peter se arrumou na cadeira.
--- Eu queria saber de um entrevistado que esteve com você á uns 40 minutos atrás. Colin Macfadyen.
Luis puxou pela memória.
Macfadyen...Macfadyen...Macfadyen...
--- Sim, Macfadyen. Ele tentou o cargo de meu secretário. Sabe, a Luciana vai sair de licença-maternidade, então já estou procurando outro assistente. Mas por que?
Peter deu os ombros.
--- Não é nada. Ele é... um conhecido meu.
--- É? Ele não comentou nada.
Claro que não, pensou Peter, ele não me conhece.
--- É uma longa história. Mas ele conseguiu o cargo?
--- Não. Não achei ele de confiança.
Peter sentiu que suas chances haviam ficado menores.
Para ser educado, Peter ficou uns bons vinte minutos conversando com Luis. Depois desse tempo, ele voltou para seu escritório, e afundou-se em sua cadeira giratória.
Ás sete da noite, o som estava ligado, tocando uma musica qualquer, e os meninos se serviam de bebidas e uns salgados que Mick havia comprado no mercado.
Apenas Arthur não sabia da história dos exames de Will, e isso o pegou de surpresa.
Depois de Will acalma-lo, Arthur pegou um copo e o encheu de champanhe, levantando-o para o alto.
Will estava feliz. Parecia que fazia tempos que ele não ficava desse geito.
Seth... Estava pálido. Magro. Usava uma boina vermelha, escondendo sua cabeça lisa. Peter não entendia muito de leucemia, apenas o básico que sei pai lhe explicara anos antes.
Quatro estágios... Quatro tipos de doença... Sangramento nasal... Que geralmente leve á...
Peter tentava não prestar atenção nisso, mas estava dificil. Era como se ele tentasse ignorar um elefante que tocava piano no meio de sua sala de estar.
Quando Arthur foi até a cozinha, Peter o seguiu.
--- Vamos lá em cima. Preciso falar com você --- disse Peter, segurando em sua mão.
Arthur franzil uma sobrancelha, mas não disse nada.
Enquanto subiam as escadas, Luigi disse.
--- Eu sabia que esse dia chegaria. Peter Calledon com outro cara. Eu sabia.
Peter sorriu e mostrou a lingua para ele, como se tivesse seis anos de idade.
Eles chegaram ao quarto, e Arthur sentou-se na cama. Peter foia té sua pasta de trabalho e começou a revira-la.
--- Pensei que você guardasse os preservativos na carteira.
--- Eu guardo na cueca. Mas não é preservativos que eu estou procurando.
Peter revirou a bolsa mais uma vez e achou o que procurava. Tirou dalí uma folha de papel dobrada. Ele sentou na cama, ao lado de Arthur, e começou a falar.
--- Isso talvez possa lhe interessar... --- Ele estendeu a folha para Arthur --- Espero que te ajude.
Arthur pegou a filha e a desdobrou. Leu a primeira linha, e percebeu o que era aquilo.
--- Como... Onde conseguiu isso?
--- Ele deixou na ArtDeco. Tentou um cargo de secretário e...
--- Ele conseguiu?
--- Não. Ele não inspirou confiança.
Arthur baixou os olhos para a folha, lendo-a novamente.
Estava tudo alí. Data de aniversário, numero de celular, endereço... Tudo necessário para encontra-lo.
--- Você tem bom gosto sabia? Eu encontrei com ele no elevador. Ele é bonito.
Arthur sorriu meio sem graça.
--- Que roupa ele estava?
Peter tentou se lembrar.
--- Não me lembro. Estava com roupas comuns.
Arthur ficou em silencio por uns minutos, perdido em pensamentos.
--- Pode ir procura-lo agora.
Arthur levantou a cabeça. Era isso que ele iria fazer.
--- Sim sim. Empresta seu carro?
Peter passou os olhos pelo quarto e encontrou o que procurava.
--- As chaves estão no criado mudo.
Arthur levantou-se e pegou as chaves. Ia saindo do quarto, quando se virou e disse:
--- Vem comigo? Por favor.
Peter sorriu afetuosamente.
--- Claro. Só vou avisar o Lui.
Eles saíram do quarto e desceram as escadas.
Minutos depois, estavam saindo do condominio e seguindo cidade á dentro.
A rua era uma subida reta, as luzes estavam acesas, e ninguem estava á vista. Logo mais acima, um prédio de quatro andares, com algumas janelas acesas, entrou no campo de visão de Peter e de Arthur.
--- É este aqui.
Peter parou o carro e olhou mais diretamente para o prédio. Não havia portaria. Nem estacionamento. Aquilo parecia mais com esses hoteís de beira de estrada. Para se chegar aos demais andares, só era preciso subir uma escada de metal que interligava os quatro andares.
--- Hãã... Bom é bem... --- Peter estava meio sem graça --- É bonitinho.
Um homem apareceu no terceiro andar, saindo de uma das portas. Ele carregava na mão uma garrafa de cerveja, que logo foi jogada para dentro do apartamento, fazendo um barulho de cacos de vidro encontrando o chão.
Arthur olhou para Peter.
Peter olhou para Arthur.
--- Bonitinho? --- disse Arthur.
--- É. Ele é... Todo azul.
O prédio tinha uma cor que um dia já fora azul.
Arthur soltou o cinto de segurança e abriu a porta.
--- Eu já volto --- disse ele, saindo do carro e fechando a porta.
Peter assentiu com a cabeça e olhou para os lados.
Travou o vidro e as portas do carro. Só por segurança.
Arthur subia os degraus das escadas um a um. Sem pressa. Passos leves. Aquela escada não confiava segurança. As chuvas fizeram o favor de deixar o corrimão meio enferrujado.
Arthur parou quando chegou no terceiro andar. Olhou para trás, e viu uma altura relativamente alta. Olhou em direção ao carro --- as mãos de Peter estavam coladas ao volante.
Ele andou pelo pequeno corredor, procurando a porta certa.
E encontrou. Numero nove.
Respirou fundo. Tentou imaginar como seria a situação. Colin correria para seus braços e pediria para que ele o tirasse dalí?
Arthur não sabia.
Bateu na porta três vezes e esperou. Logo ouviu-se passos de dentro do apartamento, e a maçaneta sendo girada.
Ele continuava do mesmo geito que a memória de Arthur o preservou. Seus cabelos ruivos estavam despenteados, e um pouco maiores. Seus olhos verdes ainda continham aquele brilho especial.
Mas parecia diferente. E estava enrrolado apenas em uma toalha branca, segurando-a por trás, para que não caisse.
Seus olhos se encontraram. Pareciam distantes.
--- Oi --- disse Arthur.
Colin não disse nada. Apenas encostou a cabeça no batente da porta. Se os olhos realmente eram as janelas da alma, Arthur poderia ver tantos sentimentos guardados e trancados lá dentro.
--- Lembra-se de mim? --- Arthur arriscou.
Colin sorriu, cansado.
--- Claro... Legal te ver. Como você está?
Arthur deu os ombros.
--- Bem. Tudo normal.
Colin acenou com a cabeça.
--- E você, como está?
Colin olhou para seu próprio corpo e depois olhou para Arthur.
--- Já estive melhor.
Uma voz grossa soou de dentro do apartamento. Colérica. Furiosa.
--- Eu paguei pra uma puta ficar de conversinha com outra pessoa?! Venha aqui agora e termine seu serviço. Estou esperando.
Uma voz diferente, meio modificada por causa de alguma bebida, também exigiu que Colin voltasse.
--- ESTAMOS esperando --- disse a segunda vóz --- E você ainda nem começou a me aliviar.
Colin baixou a cabeça constrangido. Nunca tinha tido vergonha de ser o que era, mas naquele momento, com Arthur ouvindo aquelas coisas, ele desejou que a morte viesse busca-lo e o salvasse daquele destino incerto.
Arthur fingiu não escutar aquilo. Cruzou os braços diante do peito e nada disse.
--- Foi a forma que eu tive de continuar a faculdade. Só mais um ano... E estou livre disso.
Arthur olhou para ele, que apesar de tudo, sorria.
--- Não precisa ser assim. Você sabe que você tem alternativas.
Colin não queria ter aquela conversa, pelo menos naquele momento. Ele levantou a cabeça e disse cheio de altoridade.
--- Foi bom te ver, Arthur. Agora eu tenho que entrar.
Quando Colin ia fechando a porta, Arthur o deteve.
--- Sabe onde eu estou, se precisar de ajuda.
Colin fez que "sim" com a cabeça e fechou a porta. Arthur pode ouvir o chave sendo girada e a tranca sendo acionada pelo mecanismo.
De volta ao carro, Peter destravou as portas quando Arthur voltou até ele.
--- E aí? Como ele está?
Arthur pronunciou apenas uma palavra.
--- Ocupado.
Peter percebeu que Arthur não queria falar sobre aquilo, e respeitou. Ele ligou o carro e pisou no acelerador.
Quando chegou em casa, os garotos ainda estavam alí. Peter chamou Arthur para dormir lá naquela noite, e este aceitou.
Ás três da manhã, lágrimas silenciosas deslizavam pelo rosto de Arthur, que tentava dormir, mas era atormentado por vozes coléricas que trancavam seu amor dentro de um quarto frio e escuro.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Capitulo Dez - Segunda Temporada.
Duas festas. Um Luigi.
O pensamento repetitivo era: Não fique nervoso. Não fique nervoso. Não fique nervoso.
Quando Peter se convenceu, ele correu para a cozinha e bebeu o restante do café que ainda tinha na jarra.
Arthur revirou os olhos quando viu a cena.
--- Peter, eu não vou fazer mais café. Eu passo o dia inteiro sentindo cheiro de café, e hoje é o meu dia de folga.
Will apareceu atrás dele.
--- Acho bom dar calmante. O que você acha?
--- Acho melhor não --- Arthur olhou para Peter como se ele fosse algum espécime raro encontrado perdido bem longe do seu habitat natural --- Acho que só precisamos retirar o café dele. Isso estimula o cérebro, fazendo ele ficar mais agitado.
Todos os garotos estavam na casa de Peter. Eles iam juntos para a premiação do NewCorel, e ficariam na terceira fileira mais perto do palco.
Peter estava com os braços cruzados, se perguntando se ele estava em um consultório médico.
Mick e Seth apareceram na cozinha.
--- Peter, querido --- disse Mick, se aproximando dele --- Vamos fazer um exercício para você relaxar, okay?
Peter franziu a testa, e Mick estendeu a mão para ele, num gesto para que ele fizesse o mesmo.
Seth, Will e Arthur se entreolharam.
--- Vamos repita comigo --- disse Mick, segurando as mãos de Peter e fechando os olhos --- Eu sou uma bicha tranquila, eu sou uma bicha tranquila, eu sou uma bicha tranquila.
Peter abriu os olhos e os revirou.
--- Mick, eu não vou falar essas bobagens. Eu não sou bicha.
--- Tá bom, tá bom --- disse Mick, impaciente --- Vamos, feche os olhos.
Peter fechou-os.
--- Eu sou um heterossexual reprimido, eu sou um heterossexual reprimido, eu sou um heterossexual reprimido.
Seth, Will e Arthur riram em coro.
Peter abriu os olhos mais uma vez e soltou as mãos de Mick.
--- Mick, valeu, mas esquece --- disse Peter.
--- O que? Você tem que escoher entre um heterossexual reprimido ou uma bicha tranquila! --- disse Mick, tentando se justificar.
Luigi entrou na cozinha com as chaves do carro na mão. Estava impecavelmente bem arrumado, assim como todos os outros.
--- Pessoal, vamos --- disse ele, indicando a porta --- Peter tem que estar lá uma hora mais cedo.
--- Por que? --- Mick perguntou.
--- Vai ter uma singela confraternização entre todos os indicados. Sabe, jogar conversa fora e falar mal um dos outros.
Mick sorriu e disse.
--- Adoro decoradores. Pior que decoradores só os estilistas.
--- Costureiros com agulhas nas mão são pessoas perigosas --- disse Seth, tentando irritar Mick.
--- Há-há-há --- Mick riu pausadamente.
Minutos depois, eles se espremiam no carro prata de Luigi, indo em direção ao teatro Sara Said.
Um evento de arte consegue fácilmente reunir todos os tipos de pessoas que são envolvidas com a Arte. Arquitetos, Estilistas, Fotografos, Pintores, Musicistas, Alguns escritores e muitos decoradores.
Claro que a maioria desses artistas eram apenas convidados e amigos dos decoradores que estavam alí para ganhar algum premio, mas isso é apenas um detalhe.
O teatro Sarah Said é um antigo bordel que passara por uma grande expansão, e de 30 metros, ele passara a ter 425 metros quadrados. Seus estilo era moderno, nada daquelas esculturas de anjos escadarias quilometricas que geralmente vem á cabeça quando se fala de teatro.
Peter e os restante dos meninos desceram do carro e foram até a simples porta de entrada do teatro. Eles entregaram seus convites e passaram pelas portas.
Todos se sentiram como se estivessem em uma grande galeria de arte. Logo de entrada, se dá de cara com duas escadarias em espirais que conduzem ao segundo andar. Nesse segundo andar, em frente de cada escada, á uma porta que leva ao palco principal, de modelo Arena, com uma inclinação em estilo estádio.
Quem fosse convidado dos decoradores deveria se sentar na platéia em frente ao palco e esperar até que a entrega dos premios começasse.
Mas os decoradores receberiam antes um pronunciamento de boas-vindas e boa-sorte de Marcell Loui, o diretor chefe da associação de decoradores.
Peter levou os amigos até a porta de entrada do palco, antes de se digigir ao saguão de boas-vindas.
--- Não devo demorar --- disse ele, mais calmo --- São apenas algumas formalidades. A nossa fileira é a de numero cinco, esperem por mim lá, okay?
Todos balançaram a cabeça positivamente.
Menos Mick.
--- Hãã, Peter, posso ir com você?
--- Por que?
--- Ah, eu quero conhecer o circulo social dos decoradores.
Peter franziu uma sobrancelha, mas não pode dizer nada pois Seth o fez primeiro.
--- Traduzindo: Eu quero saber quais as chances de uma transa rápida eu tenho.
Seth não perdia uma oportunidade de irritar Mick, e sempre conseguia faze-lo.
A resposta ríspida estava na ponta da lingua de Mick, mas Peter o segurou pelo pulso.
--- Vamos. Agora.
E assim Mick foi arrastado até o saguão de boas vindas, com a resposta descendo pela garganta.
O salão de boas vindas ficava na parte inferior do prédio --- abaixo das escadas havia uma porta-dupla pintada de um verde-berrante.
Mick e Peter desceram as escadas e entraram na grande sala repleta de decoradores. Mick estava admirado com a porção de decoradores bonitos e atraentes que estavam naquela sala. Todos bem vestidos, ostentavam cortes de cabelo modernos e arrojados.
--- Eu deveria estudar decoração --- disse Mick, olhando para a sala como um historiador que olha para o Santo Graal.
Peter já estava acostumado á esses ambientes.
--- Por que? Os estilistas não são tão bonitos quanto parecem? --- perguntou ele.
--- Sim, são --- respondeu Mick, pegando uma taça de champanhe que foi oferecida por um garçon --- Mas são todos metidos e invejosos. Todos tem medo de que outros estilistas roubem ás suas idéias.
Peter riu.
--- Pensei que o Tom Ford fosse legal.
--- Só quando se está usando uma roupa criada por ele.
Peter pegou uma taça de champanhe e balançou a cabeça.
Durante alguns minutos, Peter observou os outros decoradores no salão. Alguns ele reconheceu dos tempos de faculdade, e mandou um "Oi" bem singelo. Outros ele reconheceu de outras grandes empresas de decoração, como a Zimmer Design, Victorrian Image (esta é especializada em cenários do periodo vitoriano), e a AnyPlaces. E é claro, outras empresas de pequeno porte.
--- Peter, me responda uma coisa --- disse Mick, olhando para os lados --- Existem decoradores heterossexuais?
Peter revirou os olhos.
--- E todos os estilistas são homossexuais?
--- Sim --- disse Mick mecanicamente.
Peter bebeu o ultimo gole de champanhe.
--- Não, nem todos são homossexuais --- disse Peter, como se tentasse ensinar uma matéria á um aluno --- Por exemplo... --- Ele vasculhou o salão com os olhos --- Harry Tier. Deve estar na casa dos 30 e poucos anos, é casado com uma arquiteta e tem um casal de gemeos lindos.
Mick olhou para o decorador que Peter apontava. Moreno, cabelo preto bem curto, usava um terno do Mark Jacobs.
A mente de Mick começou a trabalhar.
--- Hetero? --- disse ele.
--- Sim, claro --- Peter respondeu.
O simples ato de apontar o dedo para alguem desencadeia grandes acontecimentos.
Quando Peter deu por si, Harry Tier estava vindo em sua direção, cumprimenta-lo.
--- Comporte-se, Mick --- disse Peter pelo canto da boca.
Enquanto Harry se aproximava, Mick o media da cabeça aos pés.
A voz macia encheu os ouvidos de Mick.
--- Peter, Olá! Eu sabia que você estaria aqui.
Peter estendeu a mão e cumprimentou Harry.
--- É bom ve-lo, Harry. E eu ainda acho que o premio de Design Revelação devia ser seu.
Harry riu, simpático.
--- Aquela casa noturna não foi lá essas coisa, você sabe. Muito diferente de, sei lá, o maior navio do mundo! Peter, que coisa linda você fez lá!
Peter riu, sem graça, pois sabia que o crédito não era totalmente dele.
Harry se virou para Mick, com uma expressão que demonstrava duvida.
--- Nos conhecemos? Você é decorador?
Peter se lembrou dos bons modos para com Mick.
--- Desculpe, Harry, este é meu amigo Mick.
Mick apertou a mão de Harry.
--- Aonde você trabalha? Tem uma empresa própria?
Mick riu baixo.
--- Não sou decorador, só estou de penetra aqui.
Peter estava com medo de que Mick falasse alguma bobagem.
Harry riu e se virou para Peter.
--- E o Luigi? --- disse ele --- Ainda está na Vogue?
--- Sim, continua lá. Eu falo para ele larguar e tals...
--- E ele?
--- Acha que não é o momento certo.
Harry pegou uma taça de champanhe, mas não a bebeu.
--- Ele é um rapaz corajoso. Trabalhar no meio de tanta futilidade que é esse mundinho pequeno chamado moda... Eu não aguentaria.
Peter olhou para Mick, que estava paralisado.
--- Como é? Mundinho pequeno? --- Mick estava com algumas dobras na testa, ocasionadas pelo franzir.
--- Lógico. Um mundo governado por pessoas que acordam e dizem "isso é bonito" ou "isso é feio" é um mundo pequeno.
Mick olhou para Peter, que estava sem expressão.
--- Eu vou ao banheiro --- disse Mick, com a cara fechada.
Mick pousou o copo em uma bandeja de um garçon e se afastou, com passos rápidos.
Harry ficou olhando, atonito.
--- Eu disse algo errado?
Peter sorriu, simpático.
--- Mick é consultor de imagen na FordModels, e faz faculdade de moda na Anhembi Morumbi.
Harry sorriu meio constrangido.
--- Mas que bola fora.
Peter e Harry ficaram conversando durante alguns minutos, e depois Harry se afastou para ir cumprimentar outro conhecidos.
Enquanto Peter procurava Mick em todas as direções, seus olhos e os olhos de Christopher se encontraram. Christopher disse alguma coisa para as pessoas que estavam ao lado dele e se afastou, indo em direção á Peter.
--- Hey Pet --- disse ele.
--- Hey Chris. E aí?
--- Legal. Cade o Luigi?
--- No anfiteatro com os outros meninos. Mick está aqui comigo.
Christopher tentou puxar pela memória.
--- Mick... ?
--- Um amigo meu. Aquele que te convidou para ir na Times antes de nós viajarmos pro navio.
--- Sim, claro. Garoto interessante. Ele... Ele está solteiro?
Peter riu e tomou um gole de champanhe.
--- O Mick? Com certeza.
Christopher sorriu e balançou a cabeça positivamente.
Minutos depois, o presidente da associação de decoradores subiu em uma pequena plataforma e começou a discursar.
Bem acima deles, um garoto pedindo ajuda ligou para Luigi.
No anfiteatro, Seth e Will conversavam de mãos dadas, enquanto Luigi e Arthur comentavam sobre o teatro, que mais parecia uma galeria de arte moderna.
Luigi sentiu seu celular vibrando dentro de seu bolso. Ele pegou o aparelho e viu no visor um numero que ele não conhecia.
--- Alo? --- disse ele, aceitando a ligação.
--- Luigi? Luigi! Por favor, Luigi, sou eu, Eric, preciso de sua ajuda!
--- Quem? Eric?
--- Luigi, por favor, você precisa me ajudar.
A voz de Eric era rápida e desesperada. Luigi pensou em desligar, mas algo o fez escutar o que Eric tinha á dizer.
--- Eric, calma. O que foi?
Ao fundo, um barulho de musica alto e uns gritos fazia com que Eric falasse mais alto.
--- Aquela festa que eu dei aqui na minha casa saiu um pouco de controle. Eu chamei só uns amigos, e apareceram mais de cem pessoas que eu nunca vi na vida! Luigi, por favor, vem aqui e me ajude! Por favor!
Luigi coçou a testa.
--- Eric, não dá, o Peter vai receber um premio e...
--- Eu sei, eu sei, mas você é a unica pessoa que eu posso chamar pra me ajudar!
--- Onde está sua mãe?
--- Ela foi pra Paris numa conferencia da Vogue de diversos paises, e ela não pode nem sonhar o que está acontecendo aqui.
Luigi olhou para seu relógio de pulso, que marcava oito horas. Ele revirou os olhos quando respondeu.
--- Tá, estou aí em 20 minutos.
Arthur olhou para ele e perguntou quem era.
Luigi desligou o celular e colocou-o no bolso.
--- Arthur, eu já volto, rapidão.
--- Aonde você vai?
--- Ajudar uma pessoa que mora á vinte minutos daqui. Eu volto á tempo de ir receber o premio com o Peter.
--- Se ele ganhar. Os outros decoradores também fizeram um trabalho incrivel.
Luigi se levantou e disse.
--- Eu não tenho duvidas sobre quem será o vencedor --- disse ele, piscando para Arthur --- Já volto.
Luigi seguiu pelo corredor com passos rápidos, e depois desapareceu porta á fora.
Mike reconheceu uma silhueta conhecida, indo em direção á porta de saída.
Mas que porra ele tá fazendo?
Mick correu até Luigi e enconstou a mão nas suas costas. Luigi se virou rapidamente.
--- Aonde você pensa que vai? --- disse Mick.
--- Já volto, um conhecido meu está precisando de ajuda.
--- O que? Luigi, você tem que acompanhar o Peter daqui á pouco.
Luigi passou as mãos nos cabelos.
--- Eu sei, mas é bem rápido. Eu volto á tempo de ouvir o pronunciamento dos indicados.
Mick pensou durante alguns segundos e enlaçou seu braço com o de Luigi.
--- Eu vou com você. Só para garantir que volte á tempo.
Luigi sorriu e seguiu para o seu carro, na companhia de Mick.
Quando a legião de decoradores entrou do anfiteatro e se acomodaram em seus lugares, Peter notou que faltavam duas pessoas.
--- Cadê o Luigi e o Mick?
--- O Luigi foi não sei aonde, não explicou direito. O Mick eu não faço a minima idéia da onde ele esteja.
Seth se virou para Arthur e Peter.
--- Eu ouvi qualquer coisa sobre ajudar alguem. Agora o Mick eu não o vejo desde que entramos aqui.
Peter franziu as sobrancelhas.
--- Me empresta seu celular? --- Peter pediu á Arthur.
--- Claro --- disse ele, entregando o pequeno aparelho prateado para Peter.
Peter procurou o numero de Luigi na agenda telefonica, e quando o achou, apertou o batão verde.
Dois toques depois, uma voz que não era de Luigi, atendeu.
--- Sim?
--- Luigi?
--- Oi Peter, é o Mick.
Peter ficou mais confuso ainda.
--- Mick? Onde você está? O Luigi está com você?
--- Peter, relaxe. Sim, eu estou com o Luigi, estamos á caminho da casa de um amigo dele.
Luigi virou a cabeça, quando ouviu a palavra "amigo".
--- O que? Que amigo?
Luigi pegou o celular da mão de Mick e disse:
--- Amor, sou eu. Olha, depois eu explico. Não precisa se preocupar.
--- Luigi, o premio de Melhor Decorador vai ser entregue ás dez horas. Esteja aqui antes das nove e meia!
--- Vou estar aí antes das nove --- Luigi tentava acalmar Peter --- Olha, tenho que desligar. Até daqui á pouco.
Peter suspirou fundo, tentando conter seu nervosismo.
--- Até --- disse ele, apertando o botão vermelho e encerrando a ligação.
Peter afundou na cadeira, como se estivesse exausto.
Will curvou o corpo sobre Seth e Arthur, e pegou na mão de Peter.
--- Ele vai estar aqui, fique calmo.
Peter não pode responder, porque no palco, as luzes começaram a piscar, anunciando o inicio da premiação.
Sim, fique calmo, Peter. Ele estará aqui na hora certa.
--- E aí, me conta, quem é esse amigo?
A palavra "amigo" soava estranhamente errada na cabeça de Luigi.
--- Ele não é meu amigo, ele é filho da minha chefe. Ele deu uma festa e a coisa saiu de controle.
Mick ligou os pontos.
Luigi trabalha na Vogue. A chefe de Luigi e diretora da Vogue é Vittoria Walker. E Vittoria tem um filho chamado...
--- Estamos indo na casa de Eric Walker?!
Luigi achou estranho o súbito ataque de reconhecimento de Mick.
--- Sim, esse mesmo. Conhece ele?
--- Claro! É uma bichinha passiva que acha que entende de moda!
Luigi revirou os olhos.
--- Esse mesmo.
--- Esse garoto --- disse Mick --- ele tem um amigo maquiador que trabalha lá na FordModels, e fica indo lá direto para atrapalhar as pessoas.
Luigi não disse nada, mas Mick continuou.
--- Acredita que uma vez ele insinuou que eu não podia usar listrado? Disse que pessoas gordas não podiam usar listrado, como se eu fosse gordo e não pudesse usar listrado!
Luigi deu uma risada baixa.
--- Esse garoto me irrita --- concluiu Mick.
--- Eu também não sou um grande fã dele não. Ah alguns meses atrás, ele fez com que eu e Peter nos desentendessemos.
--- Então porque está ajudando ele?
Luigi deu os ombros.
--- Sei lá. Ele me ligou, e pareceu que realmente precisava da minha ajuda.
Mick franziu a testa.
--- Ele te ligou? E como ele tem seu numero?
--- Ele é filho da diretora da Vogue. Consegue o numero até do Jimmy James.
Mick cruzou os braços diante do peito.
--- Bichas poderosas são más.
Você nem imagina o quanto, pensou Luigi, pisando fundo no acelerador.
Helena Morgado, uma jovem e timida decoradora de 21 anos, subia as escadas em direção ao palco, um degrau de cada vez. Ela tinha ganhado o premio de Designer Revelação, com a decoração de uma livraria especializada em livros juridicos. Era baixinha, ruiva, com o cabelo curto e arrepiado.
--- Caminhoneira --- disse Will para Arthur.
--- Sapa-caixa --- disse Seth, para concluir a afirmação de Will.
Peter ouviu os comentários e se virou para eles.
--- Ela é casada e tem um filho. E dizem as más linguas que tem um caso com o chefe dela.
Will e Seth se olharam e riram baixinho.
--- Sapa-caixa.
--- Caminhoneira.
Eles colocaram a mão na boca para que Peter não ouvisse suas risadas. Mas Peter estava um pouco distante.
Oito e trinta, pensou Peter.
Quando o carro estacionou em frente á casa de Eric, Mick se sentiu como um militar que estava entrando nas linhas inimigas.
O som podia ser ouvido do portão. Uma musica alta, estilo eletronica, com a voz de uma mulher (ou seria um homem?) dizendo o quanto ele/ela quer estar com aquele cara esta noite.
--- E ainda po cima tem gosto ruim para musica --- disse Mick, impaciente --- Quem ainda ouve Gloria Gaynor?
Luigi não deu atenção. Pegou na mão de Mick e o arrastou para a porta da casa.
Bateram três vezes e ninguem abriu a porta.
Mick girou a maçaneta e empurrou a porta impacientemente.
Parecia que a Times havia mudado de endereço. O aparelho de som ultra-moderno indicava que estava no volume máximo. O ambiente era escuro, iluminado apenas por algumas luzes que foram instaladas no teto inexplicavelmente, já que a casa não tinha estrutura para aquilo. No chão havia marcas dos sofás que haviam sido arrastados e sumidos misteriosamente.
Mick notou que havia diversos cacos de vidro no chão, e logo viu três pares de abajur que haviam perdido suas lampadas e suas coberturas.
Enquanto outras pessoas dançavam despreocupadamente, duas travestis brigavam, uma puxando a peruca da outra, e alguns caras se beijavam lascivamente. Alguns estavam com a mão dentro da calça do outro, enquanto um estava de joelhos e fazia sexo oral no outro, que revirava os olhos.
Uma baderna completa.
Luigi avistou Eric, que estava segurando a cabeça de uma garota, enquanto ela vomitava dentro de um vaso de aparencia caríssima. Eric deixou a garota segurando o vaso e foi na direção de dois caras que haviam deixado dois copos de plásticos em cima da televisão de 52 polegadas.
--- Existe lixo para isso, sabiam?! --- disse ele enquanto pegava os copos e colocava um dentro do outro.
Quando Eric viu Luigi parado na porta, ele correu para Luigi, desesperado.
--- Luigi! Eu sabia que você vinha! Ai Luigi!
Eric abraçou Luigi bem forte, e Mick franziu a testa.
--- Que bom que você... --- Eric olhou para Mick --- O que você está fazendo aqui?
--- Ele veio comigo --- disse Luigi.
Eric mediu Mick e depois se virou para Luigi, mas não disse nada.
Luigi começou a pensar, mas foi empurrado por uma mulher alta que tentava entrar na casa. Quando Luigi a olhou, viu que não era necessariamente uma mulher.
--- O que vamos fazer? --- disse Eric.
Luigi pensou durante uns segundos e disse:
--- Aonde fica a caixa de energia?
--- No porão.
Luigi assentiu com a cabeça.
--- Então vamos.
Ele pegou na mão de Mick e seguiu Eric, que mostrava o caminho a eles.
Quando Peter estava mais relaxado e já tinha parado de olhar no relógio á cada cinco minutos, ele sentiu um par de dedos no seu ombro. Quando se virou, viu seu pai Mark e sua mãe Anne sentando-se nas poltronas logo atrás dele.
--- Pai! Mãe!
Eles sorriram, e Anne se inclinou para Peter, segurou uma mecha de cabelo que estava em sua testa e deu-lhe um beijo.
--- Bom ver você, querido.
Peter sorriu e sentiu a mão de seu pai bagunçar seu cabelo.
--- Lugar legal, filho. Já ensaiou seu discurso?
--- Já está tudo aqui --- Peter encostou o dedo endicador na cabeça.
Mark sorriu e fez que "sim" com a cabeça.
--- Querido, onde está Luigi? --- disse Anne, notando a falta do genro.
--- Ele teve que sair, mas logo está de volta.
Peter ouviu uma voz vinda do palco e se virou. Era a vez de premiar o melhor Designer Comercial do ano.
Dalí á quatro categorias seria a de Melhor Designer. Peter tentou não pensar nisso.
As pessoas saíam da casa que estava em um breu completo. Luigi havia desligado a chave de energia, deixando a casa inteira no escuro. Ele e Mick apareceram com lanternas e disseram que a polícia estava a caminho.
--- Mas que bagunça --- disse Mick, iluminando a sala vazia com sua lanterna.
--- Saiu do controle --- disse Eric --- Estava eu e mais cinco amigos. Bateram na porta e quando eu atendi, umas vinte pessoas entraram, segurando cerveja e vinho. Logo apareceram mais pessoas, e mais ainda, e acabou dando nisso.
Luigi concordou e olhou no relógio.
--- Mick, vamos, se não vamos chegar atrasados.
Mick desligou a lanterna e entregou para Eric, que nem sequer deu atenção. Seus olhos estavam vidrados em Luigi.
--- Hã... Está tudo bem?
Eric fez que sim com a cabeça.
--- Sim, está. Agora só preciso arrumar isso e comprar três abajures novos.
Eric concordou, e Luigi foi em direção á porta. Mas antes dele sair, Eric impulsivamente segurou seu rosto e lhe deu um beijo.
Mick arregalou os olhos.
--- Obrigado, Luigi. De verdade.
Eric se virou para Mick para agradece-lo.
--- Valeu Donatelo.
--- Meu nome é Michelangelo. Mick para os amigos.
Eric deu os ombros.
--- Tudo nome de Tartaruga Ninja. Meu preferido era o Rafael.
Mick revirou os olhos e abriu a porta.
--- Eu gostava do Leonardo --- disse Luigi, e Mick o fuzilou com os olhos.
Luigi disse "tchau" para Eric e saiu da casa.
Dez minutos depois, estavam indo para o Sarah Said.
Depois de alguns minutos em silencio, Mick não aguentou e perguntou.
--- E então... O que foi aquilo?
Luigi deu os ombros.
--- Aquilo o que?
--- Olhares, abraços e... Um beijo.
--- Um selinho, no maximo.
--- Tá, mas o que foi aquilo? --- de repente Mick arregalou os olhos --- Luigi! Não me diga que...
Luigi entendeu que Mick estava fazendo confusão e o interrompeu.
--- Não é nada disso, garoto. Ele é afim de mim, ele é do tipo de cara que se acha gostoso e por isso pode ficar com quem ele quer.
--- Humm. E o Peter sabe?
--- Sabe. Mais ou menos.
Mick suspirou.
--- Luigi...
--- Mick, não significa nada. Eu não trocaria Peter pelo Eric. Nunca.
Mick não pareceu se convencer, mas ficou calado.
Durante o caminho de volta, não trocaram mais nenhuma palavra.
As portas do anfiteatro se abriram sem fazer barulho, e Luigi e Mick entraram sem serem notados. Um decorador de cabelo amarrado num rabo-de-cavalo descia os degrais em direção á plateia, para voltar ao seu lugar. Segurava na mão o trofeu que os vencedores ganhavam. Era prateado, na altura de 20 centimetros. Era a representação de uma luminaria de braços duplos, e em cada braço havia lampada. Em sua base havia o nome do premio, a indicação e o nome do vencedor.
Mick e Luigi se aproximaram e sentaram-se --- Luigi ao lado de Peter, e Mick ao lado de Arthur.
--- Onde você estava?!
Peter respirava forte.
--- Um amigo precisou de ajuda, e eu tive que ir ajuda-lo.
--- Amigo? Que amigo?
Luigi pensou durante uns segundos: Dizer a verdade? Ou inventar uma historia?
--- Eric. Ele precisava da minha ajuda.
O olhar de Peter estava fixo em Luigi.
--- O que aconteceu?
--- Uma festa que saiu do controle. Só isso. Mick foi comigo.
Peter pareceu aceitar o fato mais facilmente agora.
--- Ele está bem?
--- Sim, só vai ter muito trabalho hoje a noite. A sala dele está uma bagunça.
Luigi pegou a mão de Peter e entrelaçou seus dedos com os dele. Peter ficou visivelmente mais calmo.
--- Que bom que está aqui --- disse, se aproximando e dando-lhe um beijo.
Segundos depois, Luigi olhou para trás e percebeu que estava sendo observado.
--- Oi Luigi --- disse Anne, carinhosamente.
--- Anne, Oi! Que bom que pode vir.
Anne sorriu e apertou a mão do marido.
--- Oi fotografo --- disse Mark, desviando os olhos para o palco.
--- Oi... Médico --- disse Luigi, sorrindo.
Peter apertou a mão de Luigi e disse baixinho.
--- Por que não o chama pelo nome?
--- Querido, ainda não estamos tão intimos assim. Por enquanto ele é o médico e eu sou o fotografo. Coisa nossa, não se ofenda --- Luigi sorriu e piscou um olho.
--- Ridiculo. Os dois. --- disse Peter, sorrindo.
Cinco minutos depois, Marcell Loui subiu ao palco e foi aplaudido de pé. Ele, alem de ser o presidente da associação de docoradores, era considerado uma lenda no meio do Designer de Interiores. Seus trabalhos serviam como base para muito decoradores, até mesmo para Peter.
Ele chegou perto do microfone que havia sobre uma mesa alta e quadrada, e testou dando-lhe leves batidas com o dedo. Tudo okay.
--- Boa noite á todos, meus amigos. Alguns rostos eu já conheço de longas datas. E vejo que o futuro do Designer de Interiores está nas mãos e na criatividade de cada decorador aqui hoje. Mais, no ultimo ano, cinco decoradores se destacaram, e através de seus excelentes trabalhos, garantiram a indicação de Designer do Ano.
Todos aplaudiram as palavras de Marcell.
Ele continuou.
--- Eu eu, tenho a honra de apresentar á vocês, esta noite, os indicados ao premio, que são eles: --- Ele se virou para trás, onde um telão exibia um quadrado dividido em cindo partes por linhas verticais. Em cada quadrado havia uma foto de cada decorador indicado. Todas as fotos estavam em tom sépia, e quando Marcell falava de cada decorador, a foto ficava colorida, e automaticamente as outras fotos sumiam, dando lugar á fotografias dos trabalhos do decorador que Marcell estava falando.
Começou com Josh Schwartz, um decorador de 29 anos, com cabelo preto cortado em franja. Quando Marcell começou a falar, as outras fotos desapareceram e a foto da parte de dentro de um avião começou a ser mostrado.
--- Josh Schwartz mostrou como nossas viagens podem ser mais relaxantes, usando tons calmos e frios neste avião. O uso inovador de luzes azul-bebê deu um toque de tranquilidade ao ambiente.
As fotos dos decoradores voltaram a aparecer, e a fotografia de Penelope Lopez ganhou vida.
--- Esta jovem decoradora italiana, conhecida no mundo da decoração como Penelope Lopez, fez um excelente trabalho com um antigo teatro em Londres. Penelope foi inspirada pelo desenho animado " A Bela e a Fera " de Walt Disney, quando pintou as paredes de Azul e as Janelas de Dourado. Uma ótima referencia de que devemos deixar a criança existente em cada um de nós tomar as rédeas da nossa mente, de vez em quando.
As fotos eram impressionantes. Um antigo teatro pintado de Azul e Dourado. Realmente, o salão onde os personagens títulos dançam é caracterizado lindamente com essas cores.
--- Elegancia, sutilidade e muita luz. O jovem Peter Calledon aceitou o desafio de dar novos ares ao maior navio do mundo, o Queen Mary Two, uma cidade que avança pelos oceanos. Com muito estilo e personalidade, Peter Calledon truxe vitalidade ao navio, abusando da idéia de que o navio devia ser uma cidade flutuante. Desde os dormitórios até as areas de comércio, eu ouso dizer que Peter fez com que o Queen Mary Two ganhasse o titulo de " Navio dos Sonhos ". Titulo que pertencia ao trágico transatlantico Titanic.
A foto de Peter dividia espaço com as áreas do navio que ele havia decorado.
Uma enxurrada de aplausos fez Peter corar.
A fotografia de Peter ficou em ton sépia novamente, e a foto de Leon ficou colorida.
--- Como descrever em imagens a sensação de bem-estar e leveza? Simples, durmam uma noite no Hotel The King, decorado pelo nosso querido Leon. Bons sonhos? Boas vibrações e, o mais importante, luxo e elegancia em um lugar só? Hotel The King, decorado por Leon.
Leon era um decorador de quase quarenta anos, calvo, óculos em meia-lua e porte atlético. Ele decorou o The King em estilo renascentista. Alguns diziam que ir até o The King era a mesma coisa que visitar a Capela Sistina.
--- Musica, efeitos de luz e muito bom gosto. Amanda Lucci conseguiu fundir o estilo RockAbilly e a musica eletronica em um só. O resultado? A casa de show conhecida como Bola Oito, que recebe diversos publicos diferenciados. Se Elvis estivesse vivo, ele teria muitas namoradas por lá, pois a casa é rica em diversidade.
Marcell respirou fundo e olhou para a platéia em sua frente. As fotos de todos os decoradores voltaram á aparecer em ton sépia.
Marcell retirou um envelope do bolso e abriu. Tirou um pequeno papel azul e leu o nome inscrito. Sorriu e se dirigiu á plateia.
--- E é com grande prazer que eu tenho a honra de informar que o Melhor Designer do ano é...
Ele ficou segundos em silencio, almentanto a espectativa da platéia.
O coração de Peter parecia uma bomba-relógio.
Por fim, a resposta.
--- Peter Calledon, por seu magnifico trabalho no Queen Mary Two.
Todos se levantaram e aplaudiram Peter, que estava muito feliz. Ele cumprimentou os amigos, Luigi e seus pais. Quando Mark o abraçou, sussurou as palavras " Estou muito orgulhoso, meu filho " em seu ouvido.
Era exatamente aquilo que Peter esperava escutar fazia cinco anos.
Luigi pegou em sua mão, e eles foram até o palco. No meio do caminho, alguem se levantava e cumprimentava-os.
Peter e Luigi subiram as escadas. Peter olhou para Marcell, que já estava com a luminaria em miniatura nas mãos. Ele cumprimentou os dois e deu espaço para que Peter fizesse seu descurso. Luigi ficou á poucos centimetros de distancia.
É agora, Peter. Relaxe.
Peter olhou para frente e respirou fundo.
--- Hãã... É essa a hora em que esquecemos até os nossos nomes? --- Ele sorriu junto com a platéia --- Muito bem. Eu gostaria de agradecer á todos aqui presentes, aos meus amigos e colegas de trabalho e, principalmente aos meus pais, Mark e Anne. Papai, consegui.
Enquanto Peter dava uma pausa para segurar as lágrimas, a platéia aplaudia.
Peter se recuperou e continuou.
--- Gostaria de agradecer á todos os decoradores da ArtDeco, que estiveram comigo durante a decoração. Uma equipe tão maravilhosa que fizeram cada momento ser unico. E gostaria de agradecer também... --- Peter se afastou um pouco e segurou Luigi pelo braço, fazendo-o se aproximar da plataforma --- Á pessoa que é o motivo de eu acordar todas as manhãs, olhar para frente e ver a vida maravilhosa que eu tenho, e de sentir um sentimento tão infinito quanto o oceano. Gostaria de dizer á você, Luigi, que eu sou uma pessoa melhor por te amar.
Luigi sorriu, com os olhos cheios de lagrimas.
--- Obrigado á todos e uma boa noite.
Peter sorriu, pegou na mão de Luigi e se afastou do microfone. Eles desceram as escadas e se dirigiram para seus lugares. Leon, Penelope, Josh e Amanda se levantaram e comprimentaram Peter e Luigi.
Trinta minutos depois, todos se dirigiram para o saguão de saída. Havia muitos reporteres e fotografos no local.
Mark e Anne comprimentaram Peter e se despediram. Christopher também veio comprimentar Peter. E Luigi, claro.
Se seguiu uma verdadeira sessão de fotografia. Todos os ganhadores daquela noite tiveram seus 15 minutos de fama.
Em certo momento, quando Luigi deu um beijo em Peter, um fotografo tirou uma foto. O flash desviou a atenção de Peter e Luigi, que estavam com a visão desfocada.
Uma hora depois, todos estavam na casa de Peter e Luigi. Todos iriam dormir lá naquela noite.
Como atitude final, Luigi pegou sua camera e programou o Times em 10 segundos. Todos se espremeram em frente á lareira, e sorriram quando o flash foi disparado.
Na manhã seguinte, Luigi imprimiu a foto a colocou num porta-retrato em cima da lareira, e ao lado do luminaria prateada que Peter havia ganhado na noite anterior.
Assinar:
Comentários (Atom)