Duas festas. Um Luigi.
O pensamento repetitivo era: Não fique nervoso. Não fique nervoso. Não fique nervoso.
Quando Peter se convenceu, ele correu para a cozinha e bebeu o restante do café que ainda tinha na jarra.
Arthur revirou os olhos quando viu a cena.
--- Peter, eu não vou fazer mais café. Eu passo o dia inteiro sentindo cheiro de café, e hoje é o meu dia de folga.
Will apareceu atrás dele.
--- Acho bom dar calmante. O que você acha?
--- Acho melhor não --- Arthur olhou para Peter como se ele fosse algum espécime raro encontrado perdido bem longe do seu habitat natural --- Acho que só precisamos retirar o café dele. Isso estimula o cérebro, fazendo ele ficar mais agitado.
Todos os garotos estavam na casa de Peter. Eles iam juntos para a premiação do NewCorel, e ficariam na terceira fileira mais perto do palco.
Peter estava com os braços cruzados, se perguntando se ele estava em um consultório médico.
Mick e Seth apareceram na cozinha.
--- Peter, querido --- disse Mick, se aproximando dele --- Vamos fazer um exercício para você relaxar, okay?
Peter franziu a testa, e Mick estendeu a mão para ele, num gesto para que ele fizesse o mesmo.
Seth, Will e Arthur se entreolharam.
--- Vamos repita comigo --- disse Mick, segurando as mãos de Peter e fechando os olhos --- Eu sou uma bicha tranquila, eu sou uma bicha tranquila, eu sou uma bicha tranquila.
Peter abriu os olhos e os revirou.
--- Mick, eu não vou falar essas bobagens. Eu não sou bicha.
--- Tá bom, tá bom --- disse Mick, impaciente --- Vamos, feche os olhos.
Peter fechou-os.
--- Eu sou um heterossexual reprimido, eu sou um heterossexual reprimido, eu sou um heterossexual reprimido.
Seth, Will e Arthur riram em coro.
Peter abriu os olhos mais uma vez e soltou as mãos de Mick.
--- Mick, valeu, mas esquece --- disse Peter.
--- O que? Você tem que escoher entre um heterossexual reprimido ou uma bicha tranquila! --- disse Mick, tentando se justificar.
Luigi entrou na cozinha com as chaves do carro na mão. Estava impecavelmente bem arrumado, assim como todos os outros.
--- Pessoal, vamos --- disse ele, indicando a porta --- Peter tem que estar lá uma hora mais cedo.
--- Por que? --- Mick perguntou.
--- Vai ter uma singela confraternização entre todos os indicados. Sabe, jogar conversa fora e falar mal um dos outros.
Mick sorriu e disse.
--- Adoro decoradores. Pior que decoradores só os estilistas.
--- Costureiros com agulhas nas mão são pessoas perigosas --- disse Seth, tentando irritar Mick.
--- Há-há-há --- Mick riu pausadamente.
Minutos depois, eles se espremiam no carro prata de Luigi, indo em direção ao teatro Sara Said.
Um evento de arte consegue fácilmente reunir todos os tipos de pessoas que são envolvidas com a Arte. Arquitetos, Estilistas, Fotografos, Pintores, Musicistas, Alguns escritores e muitos decoradores.
Claro que a maioria desses artistas eram apenas convidados e amigos dos decoradores que estavam alí para ganhar algum premio, mas isso é apenas um detalhe.
O teatro Sarah Said é um antigo bordel que passara por uma grande expansão, e de 30 metros, ele passara a ter 425 metros quadrados. Seus estilo era moderno, nada daquelas esculturas de anjos escadarias quilometricas que geralmente vem á cabeça quando se fala de teatro.
Peter e os restante dos meninos desceram do carro e foram até a simples porta de entrada do teatro. Eles entregaram seus convites e passaram pelas portas.
Todos se sentiram como se estivessem em uma grande galeria de arte. Logo de entrada, se dá de cara com duas escadarias em espirais que conduzem ao segundo andar. Nesse segundo andar, em frente de cada escada, á uma porta que leva ao palco principal, de modelo Arena, com uma inclinação em estilo estádio.
Quem fosse convidado dos decoradores deveria se sentar na platéia em frente ao palco e esperar até que a entrega dos premios começasse.
Mas os decoradores receberiam antes um pronunciamento de boas-vindas e boa-sorte de Marcell Loui, o diretor chefe da associação de decoradores.
Peter levou os amigos até a porta de entrada do palco, antes de se digigir ao saguão de boas-vindas.
--- Não devo demorar --- disse ele, mais calmo --- São apenas algumas formalidades. A nossa fileira é a de numero cinco, esperem por mim lá, okay?
Todos balançaram a cabeça positivamente.
Menos Mick.
--- Hãã, Peter, posso ir com você?
--- Por que?
--- Ah, eu quero conhecer o circulo social dos decoradores.
Peter franziu uma sobrancelha, mas não pode dizer nada pois Seth o fez primeiro.
--- Traduzindo: Eu quero saber quais as chances de uma transa rápida eu tenho.
Seth não perdia uma oportunidade de irritar Mick, e sempre conseguia faze-lo.
A resposta ríspida estava na ponta da lingua de Mick, mas Peter o segurou pelo pulso.
--- Vamos. Agora.
E assim Mick foi arrastado até o saguão de boas vindas, com a resposta descendo pela garganta.
O salão de boas vindas ficava na parte inferior do prédio --- abaixo das escadas havia uma porta-dupla pintada de um verde-berrante.
Mick e Peter desceram as escadas e entraram na grande sala repleta de decoradores. Mick estava admirado com a porção de decoradores bonitos e atraentes que estavam naquela sala. Todos bem vestidos, ostentavam cortes de cabelo modernos e arrojados.
--- Eu deveria estudar decoração --- disse Mick, olhando para a sala como um historiador que olha para o Santo Graal.
Peter já estava acostumado á esses ambientes.
--- Por que? Os estilistas não são tão bonitos quanto parecem? --- perguntou ele.
--- Sim, são --- respondeu Mick, pegando uma taça de champanhe que foi oferecida por um garçon --- Mas são todos metidos e invejosos. Todos tem medo de que outros estilistas roubem ás suas idéias.
Peter riu.
--- Pensei que o Tom Ford fosse legal.
--- Só quando se está usando uma roupa criada por ele.
Peter pegou uma taça de champanhe e balançou a cabeça.
Durante alguns minutos, Peter observou os outros decoradores no salão. Alguns ele reconheceu dos tempos de faculdade, e mandou um "Oi" bem singelo. Outros ele reconheceu de outras grandes empresas de decoração, como a Zimmer Design, Victorrian Image (esta é especializada em cenários do periodo vitoriano), e a AnyPlaces. E é claro, outras empresas de pequeno porte.
--- Peter, me responda uma coisa --- disse Mick, olhando para os lados --- Existem decoradores heterossexuais?
Peter revirou os olhos.
--- E todos os estilistas são homossexuais?
--- Sim --- disse Mick mecanicamente.
Peter bebeu o ultimo gole de champanhe.
--- Não, nem todos são homossexuais --- disse Peter, como se tentasse ensinar uma matéria á um aluno --- Por exemplo... --- Ele vasculhou o salão com os olhos --- Harry Tier. Deve estar na casa dos 30 e poucos anos, é casado com uma arquiteta e tem um casal de gemeos lindos.
Mick olhou para o decorador que Peter apontava. Moreno, cabelo preto bem curto, usava um terno do Mark Jacobs.
A mente de Mick começou a trabalhar.
--- Hetero? --- disse ele.
--- Sim, claro --- Peter respondeu.
O simples ato de apontar o dedo para alguem desencadeia grandes acontecimentos.
Quando Peter deu por si, Harry Tier estava vindo em sua direção, cumprimenta-lo.
--- Comporte-se, Mick --- disse Peter pelo canto da boca.
Enquanto Harry se aproximava, Mick o media da cabeça aos pés.
A voz macia encheu os ouvidos de Mick.
--- Peter, Olá! Eu sabia que você estaria aqui.
Peter estendeu a mão e cumprimentou Harry.
--- É bom ve-lo, Harry. E eu ainda acho que o premio de Design Revelação devia ser seu.
Harry riu, simpático.
--- Aquela casa noturna não foi lá essas coisa, você sabe. Muito diferente de, sei lá, o maior navio do mundo! Peter, que coisa linda você fez lá!
Peter riu, sem graça, pois sabia que o crédito não era totalmente dele.
Harry se virou para Mick, com uma expressão que demonstrava duvida.
--- Nos conhecemos? Você é decorador?
Peter se lembrou dos bons modos para com Mick.
--- Desculpe, Harry, este é meu amigo Mick.
Mick apertou a mão de Harry.
--- Aonde você trabalha? Tem uma empresa própria?
Mick riu baixo.
--- Não sou decorador, só estou de penetra aqui.
Peter estava com medo de que Mick falasse alguma bobagem.
Harry riu e se virou para Peter.
--- E o Luigi? --- disse ele --- Ainda está na Vogue?
--- Sim, continua lá. Eu falo para ele larguar e tals...
--- E ele?
--- Acha que não é o momento certo.
Harry pegou uma taça de champanhe, mas não a bebeu.
--- Ele é um rapaz corajoso. Trabalhar no meio de tanta futilidade que é esse mundinho pequeno chamado moda... Eu não aguentaria.
Peter olhou para Mick, que estava paralisado.
--- Como é? Mundinho pequeno? --- Mick estava com algumas dobras na testa, ocasionadas pelo franzir.
--- Lógico. Um mundo governado por pessoas que acordam e dizem "isso é bonito" ou "isso é feio" é um mundo pequeno.
Mick olhou para Peter, que estava sem expressão.
--- Eu vou ao banheiro --- disse Mick, com a cara fechada.
Mick pousou o copo em uma bandeja de um garçon e se afastou, com passos rápidos.
Harry ficou olhando, atonito.
--- Eu disse algo errado?
Peter sorriu, simpático.
--- Mick é consultor de imagen na FordModels, e faz faculdade de moda na Anhembi Morumbi.
Harry sorriu meio constrangido.
--- Mas que bola fora.
Peter e Harry ficaram conversando durante alguns minutos, e depois Harry se afastou para ir cumprimentar outro conhecidos.
Enquanto Peter procurava Mick em todas as direções, seus olhos e os olhos de Christopher se encontraram. Christopher disse alguma coisa para as pessoas que estavam ao lado dele e se afastou, indo em direção á Peter.
--- Hey Pet --- disse ele.
--- Hey Chris. E aí?
--- Legal. Cade o Luigi?
--- No anfiteatro com os outros meninos. Mick está aqui comigo.
Christopher tentou puxar pela memória.
--- Mick... ?
--- Um amigo meu. Aquele que te convidou para ir na Times antes de nós viajarmos pro navio.
--- Sim, claro. Garoto interessante. Ele... Ele está solteiro?
Peter riu e tomou um gole de champanhe.
--- O Mick? Com certeza.
Christopher sorriu e balançou a cabeça positivamente.
Minutos depois, o presidente da associação de decoradores subiu em uma pequena plataforma e começou a discursar.
Bem acima deles, um garoto pedindo ajuda ligou para Luigi.
No anfiteatro, Seth e Will conversavam de mãos dadas, enquanto Luigi e Arthur comentavam sobre o teatro, que mais parecia uma galeria de arte moderna.
Luigi sentiu seu celular vibrando dentro de seu bolso. Ele pegou o aparelho e viu no visor um numero que ele não conhecia.
--- Alo? --- disse ele, aceitando a ligação.
--- Luigi? Luigi! Por favor, Luigi, sou eu, Eric, preciso de sua ajuda!
--- Quem? Eric?
--- Luigi, por favor, você precisa me ajudar.
A voz de Eric era rápida e desesperada. Luigi pensou em desligar, mas algo o fez escutar o que Eric tinha á dizer.
--- Eric, calma. O que foi?
Ao fundo, um barulho de musica alto e uns gritos fazia com que Eric falasse mais alto.
--- Aquela festa que eu dei aqui na minha casa saiu um pouco de controle. Eu chamei só uns amigos, e apareceram mais de cem pessoas que eu nunca vi na vida! Luigi, por favor, vem aqui e me ajude! Por favor!
Luigi coçou a testa.
--- Eric, não dá, o Peter vai receber um premio e...
--- Eu sei, eu sei, mas você é a unica pessoa que eu posso chamar pra me ajudar!
--- Onde está sua mãe?
--- Ela foi pra Paris numa conferencia da Vogue de diversos paises, e ela não pode nem sonhar o que está acontecendo aqui.
Luigi olhou para seu relógio de pulso, que marcava oito horas. Ele revirou os olhos quando respondeu.
--- Tá, estou aí em 20 minutos.
Arthur olhou para ele e perguntou quem era.
Luigi desligou o celular e colocou-o no bolso.
--- Arthur, eu já volto, rapidão.
--- Aonde você vai?
--- Ajudar uma pessoa que mora á vinte minutos daqui. Eu volto á tempo de ir receber o premio com o Peter.
--- Se ele ganhar. Os outros decoradores também fizeram um trabalho incrivel.
Luigi se levantou e disse.
--- Eu não tenho duvidas sobre quem será o vencedor --- disse ele, piscando para Arthur --- Já volto.
Luigi seguiu pelo corredor com passos rápidos, e depois desapareceu porta á fora.
Mike reconheceu uma silhueta conhecida, indo em direção á porta de saída.
Mas que porra ele tá fazendo?
Mick correu até Luigi e enconstou a mão nas suas costas. Luigi se virou rapidamente.
--- Aonde você pensa que vai? --- disse Mick.
--- Já volto, um conhecido meu está precisando de ajuda.
--- O que? Luigi, você tem que acompanhar o Peter daqui á pouco.
Luigi passou as mãos nos cabelos.
--- Eu sei, mas é bem rápido. Eu volto á tempo de ouvir o pronunciamento dos indicados.
Mick pensou durante alguns segundos e enlaçou seu braço com o de Luigi.
--- Eu vou com você. Só para garantir que volte á tempo.
Luigi sorriu e seguiu para o seu carro, na companhia de Mick.
Quando a legião de decoradores entrou do anfiteatro e se acomodaram em seus lugares, Peter notou que faltavam duas pessoas.
--- Cadê o Luigi e o Mick?
--- O Luigi foi não sei aonde, não explicou direito. O Mick eu não faço a minima idéia da onde ele esteja.
Seth se virou para Arthur e Peter.
--- Eu ouvi qualquer coisa sobre ajudar alguem. Agora o Mick eu não o vejo desde que entramos aqui.
Peter franziu as sobrancelhas.
--- Me empresta seu celular? --- Peter pediu á Arthur.
--- Claro --- disse ele, entregando o pequeno aparelho prateado para Peter.
Peter procurou o numero de Luigi na agenda telefonica, e quando o achou, apertou o batão verde.
Dois toques depois, uma voz que não era de Luigi, atendeu.
--- Sim?
--- Luigi?
--- Oi Peter, é o Mick.
Peter ficou mais confuso ainda.
--- Mick? Onde você está? O Luigi está com você?
--- Peter, relaxe. Sim, eu estou com o Luigi, estamos á caminho da casa de um amigo dele.
Luigi virou a cabeça, quando ouviu a palavra "amigo".
--- O que? Que amigo?
Luigi pegou o celular da mão de Mick e disse:
--- Amor, sou eu. Olha, depois eu explico. Não precisa se preocupar.
--- Luigi, o premio de Melhor Decorador vai ser entregue ás dez horas. Esteja aqui antes das nove e meia!
--- Vou estar aí antes das nove --- Luigi tentava acalmar Peter --- Olha, tenho que desligar. Até daqui á pouco.
Peter suspirou fundo, tentando conter seu nervosismo.
--- Até --- disse ele, apertando o botão vermelho e encerrando a ligação.
Peter afundou na cadeira, como se estivesse exausto.
Will curvou o corpo sobre Seth e Arthur, e pegou na mão de Peter.
--- Ele vai estar aqui, fique calmo.
Peter não pode responder, porque no palco, as luzes começaram a piscar, anunciando o inicio da premiação.
Sim, fique calmo, Peter. Ele estará aqui na hora certa.
--- E aí, me conta, quem é esse amigo?
A palavra "amigo" soava estranhamente errada na cabeça de Luigi.
--- Ele não é meu amigo, ele é filho da minha chefe. Ele deu uma festa e a coisa saiu de controle.
Mick ligou os pontos.
Luigi trabalha na Vogue. A chefe de Luigi e diretora da Vogue é Vittoria Walker. E Vittoria tem um filho chamado...
--- Estamos indo na casa de Eric Walker?!
Luigi achou estranho o súbito ataque de reconhecimento de Mick.
--- Sim, esse mesmo. Conhece ele?
--- Claro! É uma bichinha passiva que acha que entende de moda!
Luigi revirou os olhos.
--- Esse mesmo.
--- Esse garoto --- disse Mick --- ele tem um amigo maquiador que trabalha lá na FordModels, e fica indo lá direto para atrapalhar as pessoas.
Luigi não disse nada, mas Mick continuou.
--- Acredita que uma vez ele insinuou que eu não podia usar listrado? Disse que pessoas gordas não podiam usar listrado, como se eu fosse gordo e não pudesse usar listrado!
Luigi deu uma risada baixa.
--- Esse garoto me irrita --- concluiu Mick.
--- Eu também não sou um grande fã dele não. Ah alguns meses atrás, ele fez com que eu e Peter nos desentendessemos.
--- Então porque está ajudando ele?
Luigi deu os ombros.
--- Sei lá. Ele me ligou, e pareceu que realmente precisava da minha ajuda.
Mick franziu a testa.
--- Ele te ligou? E como ele tem seu numero?
--- Ele é filho da diretora da Vogue. Consegue o numero até do Jimmy James.
Mick cruzou os braços diante do peito.
--- Bichas poderosas são más.
Você nem imagina o quanto, pensou Luigi, pisando fundo no acelerador.
Helena Morgado, uma jovem e timida decoradora de 21 anos, subia as escadas em direção ao palco, um degrau de cada vez. Ela tinha ganhado o premio de Designer Revelação, com a decoração de uma livraria especializada em livros juridicos. Era baixinha, ruiva, com o cabelo curto e arrepiado.
--- Caminhoneira --- disse Will para Arthur.
--- Sapa-caixa --- disse Seth, para concluir a afirmação de Will.
Peter ouviu os comentários e se virou para eles.
--- Ela é casada e tem um filho. E dizem as más linguas que tem um caso com o chefe dela.
Will e Seth se olharam e riram baixinho.
--- Sapa-caixa.
--- Caminhoneira.
Eles colocaram a mão na boca para que Peter não ouvisse suas risadas. Mas Peter estava um pouco distante.
Oito e trinta, pensou Peter.
Quando o carro estacionou em frente á casa de Eric, Mick se sentiu como um militar que estava entrando nas linhas inimigas.
O som podia ser ouvido do portão. Uma musica alta, estilo eletronica, com a voz de uma mulher (ou seria um homem?) dizendo o quanto ele/ela quer estar com aquele cara esta noite.
--- E ainda po cima tem gosto ruim para musica --- disse Mick, impaciente --- Quem ainda ouve Gloria Gaynor?
Luigi não deu atenção. Pegou na mão de Mick e o arrastou para a porta da casa.
Bateram três vezes e ninguem abriu a porta.
Mick girou a maçaneta e empurrou a porta impacientemente.
Parecia que a Times havia mudado de endereço. O aparelho de som ultra-moderno indicava que estava no volume máximo. O ambiente era escuro, iluminado apenas por algumas luzes que foram instaladas no teto inexplicavelmente, já que a casa não tinha estrutura para aquilo. No chão havia marcas dos sofás que haviam sido arrastados e sumidos misteriosamente.
Mick notou que havia diversos cacos de vidro no chão, e logo viu três pares de abajur que haviam perdido suas lampadas e suas coberturas.
Enquanto outras pessoas dançavam despreocupadamente, duas travestis brigavam, uma puxando a peruca da outra, e alguns caras se beijavam lascivamente. Alguns estavam com a mão dentro da calça do outro, enquanto um estava de joelhos e fazia sexo oral no outro, que revirava os olhos.
Uma baderna completa.
Luigi avistou Eric, que estava segurando a cabeça de uma garota, enquanto ela vomitava dentro de um vaso de aparencia caríssima. Eric deixou a garota segurando o vaso e foi na direção de dois caras que haviam deixado dois copos de plásticos em cima da televisão de 52 polegadas.
--- Existe lixo para isso, sabiam?! --- disse ele enquanto pegava os copos e colocava um dentro do outro.
Quando Eric viu Luigi parado na porta, ele correu para Luigi, desesperado.
--- Luigi! Eu sabia que você vinha! Ai Luigi!
Eric abraçou Luigi bem forte, e Mick franziu a testa.
--- Que bom que você... --- Eric olhou para Mick --- O que você está fazendo aqui?
--- Ele veio comigo --- disse Luigi.
Eric mediu Mick e depois se virou para Luigi, mas não disse nada.
Luigi começou a pensar, mas foi empurrado por uma mulher alta que tentava entrar na casa. Quando Luigi a olhou, viu que não era necessariamente uma mulher.
--- O que vamos fazer? --- disse Eric.
Luigi pensou durante uns segundos e disse:
--- Aonde fica a caixa de energia?
--- No porão.
Luigi assentiu com a cabeça.
--- Então vamos.
Ele pegou na mão de Mick e seguiu Eric, que mostrava o caminho a eles.
Quando Peter estava mais relaxado e já tinha parado de olhar no relógio á cada cinco minutos, ele sentiu um par de dedos no seu ombro. Quando se virou, viu seu pai Mark e sua mãe Anne sentando-se nas poltronas logo atrás dele.
--- Pai! Mãe!
Eles sorriram, e Anne se inclinou para Peter, segurou uma mecha de cabelo que estava em sua testa e deu-lhe um beijo.
--- Bom ver você, querido.
Peter sorriu e sentiu a mão de seu pai bagunçar seu cabelo.
--- Lugar legal, filho. Já ensaiou seu discurso?
--- Já está tudo aqui --- Peter encostou o dedo endicador na cabeça.
Mark sorriu e fez que "sim" com a cabeça.
--- Querido, onde está Luigi? --- disse Anne, notando a falta do genro.
--- Ele teve que sair, mas logo está de volta.
Peter ouviu uma voz vinda do palco e se virou. Era a vez de premiar o melhor Designer Comercial do ano.
Dalí á quatro categorias seria a de Melhor Designer. Peter tentou não pensar nisso.
As pessoas saíam da casa que estava em um breu completo. Luigi havia desligado a chave de energia, deixando a casa inteira no escuro. Ele e Mick apareceram com lanternas e disseram que a polícia estava a caminho.
--- Mas que bagunça --- disse Mick, iluminando a sala vazia com sua lanterna.
--- Saiu do controle --- disse Eric --- Estava eu e mais cinco amigos. Bateram na porta e quando eu atendi, umas vinte pessoas entraram, segurando cerveja e vinho. Logo apareceram mais pessoas, e mais ainda, e acabou dando nisso.
Luigi concordou e olhou no relógio.
--- Mick, vamos, se não vamos chegar atrasados.
Mick desligou a lanterna e entregou para Eric, que nem sequer deu atenção. Seus olhos estavam vidrados em Luigi.
--- Hã... Está tudo bem?
Eric fez que sim com a cabeça.
--- Sim, está. Agora só preciso arrumar isso e comprar três abajures novos.
Eric concordou, e Luigi foi em direção á porta. Mas antes dele sair, Eric impulsivamente segurou seu rosto e lhe deu um beijo.
Mick arregalou os olhos.
--- Obrigado, Luigi. De verdade.
Eric se virou para Mick para agradece-lo.
--- Valeu Donatelo.
--- Meu nome é Michelangelo. Mick para os amigos.
Eric deu os ombros.
--- Tudo nome de Tartaruga Ninja. Meu preferido era o Rafael.
Mick revirou os olhos e abriu a porta.
--- Eu gostava do Leonardo --- disse Luigi, e Mick o fuzilou com os olhos.
Luigi disse "tchau" para Eric e saiu da casa.
Dez minutos depois, estavam indo para o Sarah Said.
Depois de alguns minutos em silencio, Mick não aguentou e perguntou.
--- E então... O que foi aquilo?
Luigi deu os ombros.
--- Aquilo o que?
--- Olhares, abraços e... Um beijo.
--- Um selinho, no maximo.
--- Tá, mas o que foi aquilo? --- de repente Mick arregalou os olhos --- Luigi! Não me diga que...
Luigi entendeu que Mick estava fazendo confusão e o interrompeu.
--- Não é nada disso, garoto. Ele é afim de mim, ele é do tipo de cara que se acha gostoso e por isso pode ficar com quem ele quer.
--- Humm. E o Peter sabe?
--- Sabe. Mais ou menos.
Mick suspirou.
--- Luigi...
--- Mick, não significa nada. Eu não trocaria Peter pelo Eric. Nunca.
Mick não pareceu se convencer, mas ficou calado.
Durante o caminho de volta, não trocaram mais nenhuma palavra.
As portas do anfiteatro se abriram sem fazer barulho, e Luigi e Mick entraram sem serem notados. Um decorador de cabelo amarrado num rabo-de-cavalo descia os degrais em direção á plateia, para voltar ao seu lugar. Segurava na mão o trofeu que os vencedores ganhavam. Era prateado, na altura de 20 centimetros. Era a representação de uma luminaria de braços duplos, e em cada braço havia lampada. Em sua base havia o nome do premio, a indicação e o nome do vencedor.
Mick e Luigi se aproximaram e sentaram-se --- Luigi ao lado de Peter, e Mick ao lado de Arthur.
--- Onde você estava?!
Peter respirava forte.
--- Um amigo precisou de ajuda, e eu tive que ir ajuda-lo.
--- Amigo? Que amigo?
Luigi pensou durante uns segundos: Dizer a verdade? Ou inventar uma historia?
--- Eric. Ele precisava da minha ajuda.
O olhar de Peter estava fixo em Luigi.
--- O que aconteceu?
--- Uma festa que saiu do controle. Só isso. Mick foi comigo.
Peter pareceu aceitar o fato mais facilmente agora.
--- Ele está bem?
--- Sim, só vai ter muito trabalho hoje a noite. A sala dele está uma bagunça.
Luigi pegou a mão de Peter e entrelaçou seus dedos com os dele. Peter ficou visivelmente mais calmo.
--- Que bom que está aqui --- disse, se aproximando e dando-lhe um beijo.
Segundos depois, Luigi olhou para trás e percebeu que estava sendo observado.
--- Oi Luigi --- disse Anne, carinhosamente.
--- Anne, Oi! Que bom que pode vir.
Anne sorriu e apertou a mão do marido.
--- Oi fotografo --- disse Mark, desviando os olhos para o palco.
--- Oi... Médico --- disse Luigi, sorrindo.
Peter apertou a mão de Luigi e disse baixinho.
--- Por que não o chama pelo nome?
--- Querido, ainda não estamos tão intimos assim. Por enquanto ele é o médico e eu sou o fotografo. Coisa nossa, não se ofenda --- Luigi sorriu e piscou um olho.
--- Ridiculo. Os dois. --- disse Peter, sorrindo.
Cinco minutos depois, Marcell Loui subiu ao palco e foi aplaudido de pé. Ele, alem de ser o presidente da associação de docoradores, era considerado uma lenda no meio do Designer de Interiores. Seus trabalhos serviam como base para muito decoradores, até mesmo para Peter.
Ele chegou perto do microfone que havia sobre uma mesa alta e quadrada, e testou dando-lhe leves batidas com o dedo. Tudo okay.
--- Boa noite á todos, meus amigos. Alguns rostos eu já conheço de longas datas. E vejo que o futuro do Designer de Interiores está nas mãos e na criatividade de cada decorador aqui hoje. Mais, no ultimo ano, cinco decoradores se destacaram, e através de seus excelentes trabalhos, garantiram a indicação de Designer do Ano.
Todos aplaudiram as palavras de Marcell.
Ele continuou.
--- Eu eu, tenho a honra de apresentar á vocês, esta noite, os indicados ao premio, que são eles: --- Ele se virou para trás, onde um telão exibia um quadrado dividido em cindo partes por linhas verticais. Em cada quadrado havia uma foto de cada decorador indicado. Todas as fotos estavam em tom sépia, e quando Marcell falava de cada decorador, a foto ficava colorida, e automaticamente as outras fotos sumiam, dando lugar á fotografias dos trabalhos do decorador que Marcell estava falando.
Começou com Josh Schwartz, um decorador de 29 anos, com cabelo preto cortado em franja. Quando Marcell começou a falar, as outras fotos desapareceram e a foto da parte de dentro de um avião começou a ser mostrado.
--- Josh Schwartz mostrou como nossas viagens podem ser mais relaxantes, usando tons calmos e frios neste avião. O uso inovador de luzes azul-bebê deu um toque de tranquilidade ao ambiente.
As fotos dos decoradores voltaram a aparecer, e a fotografia de Penelope Lopez ganhou vida.
--- Esta jovem decoradora italiana, conhecida no mundo da decoração como Penelope Lopez, fez um excelente trabalho com um antigo teatro em Londres. Penelope foi inspirada pelo desenho animado " A Bela e a Fera " de Walt Disney, quando pintou as paredes de Azul e as Janelas de Dourado. Uma ótima referencia de que devemos deixar a criança existente em cada um de nós tomar as rédeas da nossa mente, de vez em quando.
As fotos eram impressionantes. Um antigo teatro pintado de Azul e Dourado. Realmente, o salão onde os personagens títulos dançam é caracterizado lindamente com essas cores.
--- Elegancia, sutilidade e muita luz. O jovem Peter Calledon aceitou o desafio de dar novos ares ao maior navio do mundo, o Queen Mary Two, uma cidade que avança pelos oceanos. Com muito estilo e personalidade, Peter Calledon truxe vitalidade ao navio, abusando da idéia de que o navio devia ser uma cidade flutuante. Desde os dormitórios até as areas de comércio, eu ouso dizer que Peter fez com que o Queen Mary Two ganhasse o titulo de " Navio dos Sonhos ". Titulo que pertencia ao trágico transatlantico Titanic.
A foto de Peter dividia espaço com as áreas do navio que ele havia decorado.
Uma enxurrada de aplausos fez Peter corar.
A fotografia de Peter ficou em ton sépia novamente, e a foto de Leon ficou colorida.
--- Como descrever em imagens a sensação de bem-estar e leveza? Simples, durmam uma noite no Hotel The King, decorado pelo nosso querido Leon. Bons sonhos? Boas vibrações e, o mais importante, luxo e elegancia em um lugar só? Hotel The King, decorado por Leon.
Leon era um decorador de quase quarenta anos, calvo, óculos em meia-lua e porte atlético. Ele decorou o The King em estilo renascentista. Alguns diziam que ir até o The King era a mesma coisa que visitar a Capela Sistina.
--- Musica, efeitos de luz e muito bom gosto. Amanda Lucci conseguiu fundir o estilo RockAbilly e a musica eletronica em um só. O resultado? A casa de show conhecida como Bola Oito, que recebe diversos publicos diferenciados. Se Elvis estivesse vivo, ele teria muitas namoradas por lá, pois a casa é rica em diversidade.
Marcell respirou fundo e olhou para a platéia em sua frente. As fotos de todos os decoradores voltaram á aparecer em ton sépia.
Marcell retirou um envelope do bolso e abriu. Tirou um pequeno papel azul e leu o nome inscrito. Sorriu e se dirigiu á plateia.
--- E é com grande prazer que eu tenho a honra de informar que o Melhor Designer do ano é...
Ele ficou segundos em silencio, almentanto a espectativa da platéia.
O coração de Peter parecia uma bomba-relógio.
Por fim, a resposta.
--- Peter Calledon, por seu magnifico trabalho no Queen Mary Two.
Todos se levantaram e aplaudiram Peter, que estava muito feliz. Ele cumprimentou os amigos, Luigi e seus pais. Quando Mark o abraçou, sussurou as palavras " Estou muito orgulhoso, meu filho " em seu ouvido.
Era exatamente aquilo que Peter esperava escutar fazia cinco anos.
Luigi pegou em sua mão, e eles foram até o palco. No meio do caminho, alguem se levantava e cumprimentava-os.
Peter e Luigi subiram as escadas. Peter olhou para Marcell, que já estava com a luminaria em miniatura nas mãos. Ele cumprimentou os dois e deu espaço para que Peter fizesse seu descurso. Luigi ficou á poucos centimetros de distancia.
É agora, Peter. Relaxe.
Peter olhou para frente e respirou fundo.
--- Hãã... É essa a hora em que esquecemos até os nossos nomes? --- Ele sorriu junto com a platéia --- Muito bem. Eu gostaria de agradecer á todos aqui presentes, aos meus amigos e colegas de trabalho e, principalmente aos meus pais, Mark e Anne. Papai, consegui.
Enquanto Peter dava uma pausa para segurar as lágrimas, a platéia aplaudia.
Peter se recuperou e continuou.
--- Gostaria de agradecer á todos os decoradores da ArtDeco, que estiveram comigo durante a decoração. Uma equipe tão maravilhosa que fizeram cada momento ser unico. E gostaria de agradecer também... --- Peter se afastou um pouco e segurou Luigi pelo braço, fazendo-o se aproximar da plataforma --- Á pessoa que é o motivo de eu acordar todas as manhãs, olhar para frente e ver a vida maravilhosa que eu tenho, e de sentir um sentimento tão infinito quanto o oceano. Gostaria de dizer á você, Luigi, que eu sou uma pessoa melhor por te amar.
Luigi sorriu, com os olhos cheios de lagrimas.
--- Obrigado á todos e uma boa noite.
Peter sorriu, pegou na mão de Luigi e se afastou do microfone. Eles desceram as escadas e se dirigiram para seus lugares. Leon, Penelope, Josh e Amanda se levantaram e comprimentaram Peter e Luigi.
Trinta minutos depois, todos se dirigiram para o saguão de saída. Havia muitos reporteres e fotografos no local.
Mark e Anne comprimentaram Peter e se despediram. Christopher também veio comprimentar Peter. E Luigi, claro.
Se seguiu uma verdadeira sessão de fotografia. Todos os ganhadores daquela noite tiveram seus 15 minutos de fama.
Em certo momento, quando Luigi deu um beijo em Peter, um fotografo tirou uma foto. O flash desviou a atenção de Peter e Luigi, que estavam com a visão desfocada.
Uma hora depois, todos estavam na casa de Peter e Luigi. Todos iriam dormir lá naquela noite.
Como atitude final, Luigi pegou sua camera e programou o Times em 10 segundos. Todos se espremeram em frente á lareira, e sorriram quando o flash foi disparado.
Na manhã seguinte, Luigi imprimiu a foto a colocou num porta-retrato em cima da lareira, e ao lado do luminaria prateada que Peter havia ganhado na noite anterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário