segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Capitulo Onze - Segunda Temporada.

Reencontro.


O elevador parou no 3º andar do prédio da ArtDeco, e um jovem de cabelos ruivos entrou. Peter sorriu para o jovem e cumprimentou-o com com um balançar positivo de cabeça.
Peter nunca tinha visto aquele jovem antes.
Deve trabalhar no RH, ou na recepção, pensou ele.
Enquanto o elevador subia, a musiquinha irritante que toca em elevadores foi interrompida pela voz do jovem ruivo.
--- Parabens pelo prêmio. --- disse ele, sorrindo.
Peter olhou para seu rosto, e percebeu como os olhos dele eram bonitos. Vivos. Brilhantes. Esverdeados.
--- Obrigado. --- Peter respondeu.
No que pareceram horas de espera, o elevador continuava subindo. Pelo reflexo das portas, Peter viu, agarrado á lapela do blazer do jovem, um crachá vermelho, escrito "visitante". Abaixo estavam a primeira letra do nome do rapaz e o sobrenome completo.
Peter leu. Depois tentou puxar pela memória.
Não. Não é. Seria muita coincidencia.
Leu mais vez.
As portas do elevador se abriram no 9º andar, o setor encarregado de folhas de pagamento, recrutamento de empregados e entrevista de futuros funcionários.
--- Até logo --- disse o rapaz, saindo do elevador e apressando o passo para onde Peter não conseguiu ver.
A letra e o sobrenome ainda estavam na mente de Peter.
Será? pensou ele. Quem sabe...
Peter era dotado de uma memória assustadoramente excelente. Guardava datas, nomes, diversos numeros e ocasiões.
Mas como a memória guarda informações que nunca as teve?
O elevador abriu as portas novamente, no andar onde Peter trabalhava.
Estava radiante. Sua mente já tinha conhecimento de todos os recursos disponíveis para averiguar se ele estava certo.
Deu "Oi" para sua secretária e entrou em sua sala.
Sentou em sua mesa e procurou o numero na memória do telefone. Quando achou o que procurava, iniciou a ligação.
--- Luis Fernando? Oi, é o Peter. Sabe, eu preciso de folha de cadastro de um candidato chamado de Macfadyen. Isso. C. Macfadyen. Obrigado.
Assim que Peter desligou o telefone, seu aparelho de fax imprimia uma cópia do curriculum de Colin Macfadyen.

--- Alô?
--- Lui, sou eu, Peter. Onde você está?
--- No Archier, com...
--- Arthur está aí?
--- Sim, ele trabalha aqui. Peter o que foi?
Peter se sentia como se fosse um espião da CIA.
--- Por favor, não deixe ele escutar a conversa. Tem como se afastar por uns minutos.
Luigi olhou ao redor e disse "sim".
--- Vou na calçada, espera um pouco --- disse Luigi, se afastando do balcão e saindo para fora do café. --- Pronto. O que houve?
--- Então, como se chamava aquele garoto de programa que o Arthur conheceu quando eu estava viajando?
Luigi demorou um pouco para se lembrar. Mas lembrou.
--- Tom.
Peter ficou menos animado. Não era essa a resposta que ele esperava.
--- Tem certeza?
--- Bom, esse era o nome de guerra dele.
Peter colou o fone em seu ouvido.
Ótimo!
--- E o nome original dele? Como era?
--- Hã... Kyle... Carson... Peter, eu não me lembro. Por que?
Peter arriscou.
--- Colin?
--- Isso! Colin. Colin... Macdenials, MacDonalds, alguma coisa assim.
Peter começou a rir baixinho.
--- O que é? Tá rindo de que?
--- Bom --- disse Peter, se contendo --- Acho que o ex-garoto de programa do Arthur vai virar um funcionário da ArtDeco.
Breve silencio.
--- Sério? Como assim?
--- Nos vemos á noite, aí eu conto direito. Te amo.
Peter desligou antes que Luigi pudesse responder. Ele saíu de sua sala e desceu até o 9º andar.


--- Desculpem a demora --- disse a médica de permanente malfeito no cabelo, quando entrou no consultório.
--- Tudo bem --- disse Will, segurando na mão de Seth.
A médica sorriu para dos dois e abriu o grande envelope marrom que segurava com a mão. Ela cortou com a mão a parte de cima do envelope, fazendo alguns papéis grampeados deslizarem pela mesa.
--- Muito bem ... --- disse ela, passando os olhos pelas folhas --- Willian? Bom ... --- ela leu mais atentamente, como para ter a certeza do que ia falar --- Os resultados dos seus exames deram negativos. Você não está com nenhuma doença sexualmente transmíssivel.
O peso do mundo pareceu se esvair das costas de Will. Ele respirou o mais fundo que pode.
Seth se virou para ele e apertou sua mão.
--- Eu disse que ia tudo ficar bem --- disse ele.
Will levantou a cabeça e deu-lhe um beijo rápido.
A médica continuava alí, como se assistisse um filme com um final feliz.
--- Fico feliz por você, senhor Willian.
Will sorriu, ainda se acostumando á sensação de alívio.
--- E devo alerta-los que se estejam planejando fazer sexo sem preservativo, façam primeiro os testes. O senhor Willian já os fez, então acho recomendável faze-los também, senhor Seth.
Seth assentiu com a cabeça.
--- Marcarei os exames, claro. Doutora, muito obrigado.
Ele e Will se levantaram, apertaram a mão da médica e saíram do consultorio.
Á caminho de casa, Will olhava para fora do carro como se fosse a primeira vez que via aquelas imagens passando diante dos seus olhos.
Tudo parecia mais colirido, mais vivo, como se tudo ao seu redor estivesse iniciando uma vida nova.
Seth olhou para ele.
--- Terra chamando Will...
Will voltou á realidade.
--- Desculpe, estava fora de área.
Seth sorriu.
--- E aí? Como se sente?
Will nem precisou pensar na resposta.
--- Aliviado. Sabe, ver as coisas e saber que não será a ultima vez que irei ve-las. É... Maravilhoso.
Seth sorriu melancólico.
--- Deve ser.
Seth respirou fundo e colocou sua mão na perna de Seth.
--- É maravilhoso. Logo você irá sentir essa sensação. Pode demorar um pouco... Mas você vai sentir.
Seth esbolsou um sorriso.
O celular de Will começou a vibrar em seu bolso.
Era Mick.
--- Oi Mick.
Mick estava cauteloso.
--- E aí? Os resultados? Quais foram?
Will sorriu como se fosse a primeira vez que o fizesse.
--- Estou limpo. Saudável.
Mick vibrou do outro lado da linha.
--- Eu sabia! Sabia! Vão pra casa do Luigi e do Peter quando anoitecer. Temos que comemorar.
Mick desligou, e Will guardou o celular em seu bolso.
--- E aí? O que ele disse? --- perguntou Seth.
Will deu os ombros.
--- Casa do Luigi e do Peter esta noite. Vamos comemorar.
Seth sorriu e assentiu com a cabeça.


40 minutos depois de ter saído de sua sala, Peter finalmente chegara até o 9º andar, o andar do RH da ArtDeco. Ele demorou todo esse tempo pois decidira descer pelas escadas, e encontrou no caminho pessoas que quiseram cumprimenta-lo, perguntar como era a sensação de receber o premio de melhor decorador, e até mesmo um estagiário que pediu para tirar uma foto com ele.
Devia ter usado o elevador, pensou Peter.
Quando chegou ao RH, perguntou pelo Luis Fernando. Peter foi indicado para a sala dele.
Perguntas de respostas óbvias...
Peter entrou sem bater na porta.
Luis Fernando estava atrás de sua mesa, com os olhos colados em documentos. Quando ouviu a porta se abrir, seus olhos cor de chocolate encontraram os olhos azuis de Peter.
--- Mas que honra. Eu pensava que os decoradores não sabiam da existencia desse andar.
Luis sorriu e foi até Peter, dar-lhe um abraço.
--- Parabens pelo premio --- disse ele.
Peter sorriu.
Luis indicou uma cadeira para Peter, e depois sentou-se atrás da mesa.
--- E aí, Peter. Perdido por aqui? Pensei que fossemos raças que não se misturavam.
Peter sorriu meio constrangido.
--- Claro que não. São vocês que nos colocam aqui dentro. O famoso pessoal dos Recursos Humanos. São vocês que não vão até os decoradores.
--- Hahaha, claro claro. Mas em que posso ajuda-lo, Peter?
Peter se arrumou na cadeira.
--- Eu queria saber de um entrevistado que esteve com você á uns 40 minutos atrás. Colin Macfadyen.
Luis puxou pela memória.
Macfadyen...Macfadyen...Macfadyen...
--- Sim, Macfadyen. Ele tentou o cargo de meu secretário. Sabe, a Luciana vai sair de licença-maternidade, então já estou procurando outro assistente. Mas por que?
Peter deu os ombros.
--- Não é nada. Ele é... um conhecido meu.
--- É? Ele não comentou nada.
Claro que não, pensou Peter, ele não me conhece.
--- É uma longa história. Mas ele conseguiu o cargo?
--- Não. Não achei ele de confiança.
Peter sentiu que suas chances haviam ficado menores.
Para ser educado, Peter ficou uns bons vinte minutos conversando com Luis. Depois desse tempo, ele voltou para seu escritório, e afundou-se em sua cadeira giratória.


Ás sete da noite, o som estava ligado, tocando uma musica qualquer, e os meninos se serviam de bebidas e uns salgados que Mick havia comprado no mercado.
Apenas Arthur não sabia da história dos exames de Will, e isso o pegou de surpresa.
Depois de Will acalma-lo, Arthur pegou um copo e o encheu de champanhe, levantando-o para o alto.
Will estava feliz. Parecia que fazia tempos que ele não ficava desse geito.
Seth... Estava pálido. Magro. Usava uma boina vermelha, escondendo sua cabeça lisa. Peter não entendia muito de leucemia, apenas o básico que sei pai lhe explicara anos antes.
Quatro estágios... Quatro tipos de doença... Sangramento nasal... Que geralmente leve á...
Peter tentava não prestar atenção nisso, mas estava dificil. Era como se ele tentasse ignorar um elefante que tocava piano no meio de sua sala de estar.
Quando Arthur foi até a cozinha, Peter o seguiu.
--- Vamos lá em cima. Preciso falar com você --- disse Peter, segurando em sua mão.
Arthur franzil uma sobrancelha, mas não disse nada.
Enquanto subiam as escadas, Luigi disse.
--- Eu sabia que esse dia chegaria. Peter Calledon com outro cara. Eu sabia.
Peter sorriu e mostrou a lingua para ele, como se tivesse seis anos de idade.
Eles chegaram ao quarto, e Arthur sentou-se na cama. Peter foia té sua pasta de trabalho e começou a revira-la.
--- Pensei que você guardasse os preservativos na carteira.
--- Eu guardo na cueca. Mas não é preservativos que eu estou procurando.
Peter revirou a bolsa mais uma vez e achou o que procurava. Tirou dalí uma folha de papel dobrada. Ele sentou na cama, ao lado de Arthur, e começou a falar.
--- Isso talvez possa lhe interessar... --- Ele estendeu a folha para Arthur --- Espero que te ajude.
Arthur pegou a filha e a desdobrou. Leu a primeira linha, e percebeu o que era aquilo.
--- Como... Onde conseguiu isso?
--- Ele deixou na ArtDeco. Tentou um cargo de secretário e...
--- Ele conseguiu?
--- Não. Ele não inspirou confiança.
Arthur baixou os olhos para a folha, lendo-a novamente.
Estava tudo alí. Data de aniversário, numero de celular, endereço... Tudo necessário para encontra-lo.
--- Você tem bom gosto sabia? Eu encontrei com ele no elevador. Ele é bonito.
Arthur sorriu meio sem graça.
--- Que roupa ele estava?
Peter tentou se lembrar.
--- Não me lembro. Estava com roupas comuns.
Arthur ficou em silencio por uns minutos, perdido em pensamentos.
--- Pode ir procura-lo agora.
Arthur levantou a cabeça. Era isso que ele iria fazer.
--- Sim sim. Empresta seu carro?
Peter passou os olhos pelo quarto e encontrou o que procurava.
--- As chaves estão no criado mudo.
Arthur levantou-se e pegou as chaves. Ia saindo do quarto, quando se virou e disse:
--- Vem comigo? Por favor.
Peter sorriu afetuosamente.
--- Claro. Só vou avisar o Lui.
Eles saíram do quarto e desceram as escadas.
Minutos depois, estavam saindo do condominio e seguindo cidade á dentro.


A rua era uma subida reta, as luzes estavam acesas, e ninguem estava á vista. Logo mais acima, um prédio de quatro andares, com algumas janelas acesas, entrou no campo de visão de Peter e de Arthur.
--- É este aqui.
Peter parou o carro e olhou mais diretamente para o prédio. Não havia portaria. Nem estacionamento. Aquilo parecia mais com esses hoteís de beira de estrada. Para se chegar aos demais andares, só era preciso subir uma escada de metal que interligava os quatro andares.
--- Hãã... Bom é bem... --- Peter estava meio sem graça --- É bonitinho.
Um homem apareceu no terceiro andar, saindo de uma das portas. Ele carregava na mão uma garrafa de cerveja, que logo foi jogada para dentro do apartamento, fazendo um barulho de cacos de vidro encontrando o chão.
Arthur olhou para Peter.
Peter olhou para Arthur.
--- Bonitinho? --- disse Arthur.
--- É. Ele é... Todo azul.
O prédio tinha uma cor que um dia já fora azul.
Arthur soltou o cinto de segurança e abriu a porta.
--- Eu já volto --- disse ele, saindo do carro e fechando a porta.
Peter assentiu com a cabeça e olhou para os lados.
Travou o vidro e as portas do carro. Só por segurança.

Arthur subia os degraus das escadas um a um. Sem pressa. Passos leves. Aquela escada não confiava segurança. As chuvas fizeram o favor de deixar o corrimão meio enferrujado.
Arthur parou quando chegou no terceiro andar. Olhou para trás, e viu uma altura relativamente alta. Olhou em direção ao carro --- as mãos de Peter estavam coladas ao volante.
Ele andou pelo pequeno corredor, procurando a porta certa.
E encontrou. Numero nove.
Respirou fundo. Tentou imaginar como seria a situação. Colin correria para seus braços e pediria para que ele o tirasse dalí?
Arthur não sabia.
Bateu na porta três vezes e esperou. Logo ouviu-se passos de dentro do apartamento, e a maçaneta sendo girada.
Ele continuava do mesmo geito que a memória de Arthur o preservou. Seus cabelos ruivos estavam despenteados, e um pouco maiores. Seus olhos verdes ainda continham aquele brilho especial.
Mas parecia diferente. E estava enrrolado apenas em uma toalha branca, segurando-a por trás, para que não caisse.
Seus olhos se encontraram. Pareciam distantes.
--- Oi --- disse Arthur.
Colin não disse nada. Apenas encostou a cabeça no batente da porta. Se os olhos realmente eram as janelas da alma, Arthur poderia ver tantos sentimentos guardados e trancados lá dentro.
--- Lembra-se de mim? --- Arthur arriscou.
Colin sorriu, cansado.
--- Claro... Legal te ver. Como você está?
Arthur deu os ombros.
--- Bem. Tudo normal.
Colin acenou com a cabeça.
--- E você, como está?
Colin olhou para seu próprio corpo e depois olhou para Arthur.
--- Já estive melhor.
Uma voz grossa soou de dentro do apartamento. Colérica. Furiosa.
--- Eu paguei pra uma puta ficar de conversinha com outra pessoa?! Venha aqui agora e termine seu serviço. Estou esperando.
Uma voz diferente, meio modificada por causa de alguma bebida, também exigiu que Colin voltasse.
--- ESTAMOS esperando --- disse a segunda vóz --- E você ainda nem começou a me aliviar.
Colin baixou a cabeça constrangido. Nunca tinha tido vergonha de ser o que era, mas naquele momento, com Arthur ouvindo aquelas coisas, ele desejou que a morte viesse busca-lo e o salvasse daquele destino incerto.
Arthur fingiu não escutar aquilo. Cruzou os braços diante do peito e nada disse.
--- Foi a forma que eu tive de continuar a faculdade. Só mais um ano... E estou livre disso.
Arthur olhou para ele, que apesar de tudo, sorria.
--- Não precisa ser assim. Você sabe que você tem alternativas.
Colin não queria ter aquela conversa, pelo menos naquele momento. Ele levantou a cabeça e disse cheio de altoridade.
--- Foi bom te ver, Arthur. Agora eu tenho que entrar.
Quando Colin ia fechando a porta, Arthur o deteve.
--- Sabe onde eu estou, se precisar de ajuda.
Colin fez que "sim" com a cabeça e fechou a porta. Arthur pode ouvir o chave sendo girada e a tranca sendo acionada pelo mecanismo.

De volta ao carro, Peter destravou as portas quando Arthur voltou até ele.
--- E aí? Como ele está?
Arthur pronunciou apenas uma palavra.
--- Ocupado.
Peter percebeu que Arthur não queria falar sobre aquilo, e respeitou. Ele ligou o carro e pisou no acelerador.
Quando chegou em casa, os garotos ainda estavam alí. Peter chamou Arthur para dormir lá naquela noite, e este aceitou.
Ás três da manhã, lágrimas silenciosas deslizavam pelo rosto de Arthur, que tentava dormir, mas era atormentado por vozes coléricas que trancavam seu amor dentro de um quarto frio e escuro.

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