terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Capitulo Nove - Segunda Temporada

Dando Esperança.




O despertador fez quele barulho iritante na hora que estava programado, exatamente ás oito horas.
Com apenas um toque, Luigi o desligou, e verificou se Peter estava acordado.
Estava ferrado do sono.
Peter havia colocado o despertador mais cedo naquele dia, pois antes de ir para o trabalho, ele passaria no hospital onde seu pai trabalha.
Eram oito e quinze e Peter ainda continuava com os olhos fechados.
Luigi o cutucou no ombro.
--- Peter, oito e quinze.
Peter fez algum barulho incompreensível, pelo menos no nosso idioma.
--- Peeeteerrr... Oiiito e Quiiinzee...
Luigi o cutucava irritantemente.
--- Nããão... Ainda são... Quinze para ás sete.
Luigi riu com a tentativa de Peter de ser coerente mesmo estando dormindo-acordado.
--- Não, meu amor, são oito e quinze. Dezesseis.
--- Luigi... você fica mais bonito --- bocejo alto e longo --- ... Quando está calado, sabia, querido?
Luigi levantou e ficou aos pés da cama, para arrancar o cobertor e fazer Peter se encolher com a súbita mudança de temperatura.
--- Luigi, são quinze para ás sete, já falei!
Luigi deu a vonta na cama e pegou o relógio despertador. Seus ponteiros haviam acabado de mudar.
Luigi abriu um olho de Peter e colocou o relógio em seu campo de visão.
--- São oito e dezessete, Peter. Levante.
--- Nãããão... São --- Peter abriu o outro olho e viu o relógio --- Droga. Oito e dezessete.
O ponteiro ainda não marcava oito e dezoito, mas Peter já havia levantado da cama, tirado a camiseta regata que usara para dormir, e foi para o banheiro tomar banho.
--- Oito e dezenove, querido --- gritou Luigi, que ainda estava deitado na cama.
--- Oito e vinte --- disse ele um minuto depois.
--- Oito e vinte e um --- ele estava se divertindo apressando Peter.
--- Oito e...
--- Não ouse falar nada --- disse Peter, saindo do banheiro enrrolado num roupão azul e abrindo a porta do closet.
Luigi sorriu e se levantou da cama.
--- Minha vez --- disse ele, indo para o banheiro.
Enquanto escolhia o que vestir, Peter sentiu um cheiro diferente vindo da cozinha.
Olhou no relógio.
--- Luigi, oito e vinte e três --- gritou Peter, enquanto colocava as meias.
Luigi gritou do banheiro.
--- Eu não estou atrazado.
Peter revirou os olhos, vendo que a brincadeira irritante não surtira o mesmo efeito sobre Luigi.
Oito e vinte e vinte e seis, Peter e Luigi estavam em frente ao espelho, arrumando o cabelo.
--- Esqueci de perguntar ontem a noite --- disse Luigi, olhando para os olhos de Peter atravéz do espelho --- Aonde você vai antes do trabalho?
--- Vou ao hospital falar com o meu pai --- respondeu ele, arrumando o cabelo com os dedos --- Vou convida-lo para a festa de premiação.
--- Hummm. E você acha que ele vai?
--- Bem, considerando que a ultima vez que eu o vi, eu disse que ele ia morrer sózinho, as chances dele comparecer são pequenas. Mas vou convidar mesmo assim.
Luigi se afastou do espelho e encostou na porta fechada.
--- E o discurso? Já escreveu?
--- Não --- disse Peter, dando uma ultima olhada no espelho --- Não tive tempo.
--- É melhor você pensar em algo --- Luigi se aproximou de Peter e segurou suas mãos --- Ou você vai chegar lá na frente e não vai saber nem o seu próprio nome.
--- Eu sou criativo --- respondeu Peter --- vou pensar em alguma coisa.
Peter deu um beijo em Luigi e os dois desceram para o primeiro andar da mini-mansão.



Os olhos de Peter e Luigi se esbugalharam no mesmo instante quando eles entraram na cozinha.
A bancada do meio estava coberta de pratos e jarras e talheres. Não dava para ver a mesa, apenas o que estava acima dela.
Mick estava parado perto da bancada, com um sorriso de orelha á orelha.
--- Bom dia, margaridas - disse ele, pegando dois copos no armario.
Eles se entreolharam, mas não se moveram do lugar.
--- Oi Mick --- disse Peter.
--- Hei Mick, e aí? --- disse Luigi, ainda com as sobrancelhas arqueadas.
Mick sorriu e colocou os copos nos unicos lugares vazios da bancada.
--- Sentem-se, comam. Eu fiz especialmente pra vocês.
Eles foram até a bancada e puxaram dois bancos altos.
--- Obrigado, Mick --- disse Peter.
--- É, valeu.
--- Por nada. Eu fiz três tipos de sucos diferentes --- ele disse apontando para as três jarras com liquidos em cores vibrantes --- Laranja, morango e limão. Tem também pão francês, pão integral e pão de forma.
Peter e Luigi sorriam como se fossem duas aeromoças.
Aeromoças/comissários de bordo eram criaturas fascinantes e ao mesmo tempo muito esquisitas. Sempre Sorrindo. Sempre Solícitas. Parecia que as aeromoçam não tinham TPM, como se estivessem imunes aos ciclos naturais da mulher.
--- E também --- disse Mick, apontando com o dedo --- Tem geléia de uva, manteiga e e margarina. Sabem como é, sempre é bom ter opções.
Luigi e Peter só balançavam a cabeça positivamente.
--- E só para finalizar, tem bagels, pão de métro, açucar, adoçante, creme de leite e chá gelado e normal. E só para dar um charme na mesa, tem uma cesta com as maçãs mais vermelhas que eu achei no mercado.
Mick parecia que ia fazer furos na cabeça com aquele sorriso enorme.
--- Hããã... Obrigado Mick. Geralmente e eu Peter só comemos cereal direto da caixa e café preto.
--- Está ótimo, Mick. --- disse Peter, pegando uma faca --- Vem comer com a gente.
Mick recusou.
--- Não não, obrigado. Sei lá, estou me sentindo gordo ultimamente. Qual é a formula de vocês para ficarem sempre tão bonitos?
Luigi e Peter se entreolharam e não responderam.
Alguns minutos depois, Mick voltou a falar.
--- Nossa Luigi, camisa preta aberta com regata branca fica bem em você, sabia? Realça seus... Ombros.
--- Hãã... Valeu. Vindo de um consultor de imagem, isso deve ser bom.
--- Claro que é. E olhe só para esse rapaz muito bem vestido ao seu lado!
Quando Peter ouviu "muito bem vestido", ele olhou para o seu lado e viu apenas o vazio.
--- Peter, bobo! É você sim! Olha só. Calça jeans reta, tennis vermelho e camiseta polo. Polo é o tecido da estação.
--- Pensei que você achava pólo uma coisa só para nerds e jogadores de golfe que não saíram do armário --- disse Luigi, mordendo um bagel.
Mick sorriu constrangido.
--- Valeu Mick --- disse Peter --- apesar de eu ter esse All Star desde meus 23 anos, e essa calça já ter os bolsos furados.
--- Furos é a nova tendencia --- disse Mick, colocando um pano de prato no lugar.
Mick ficou parado perto da bancada central, olhando eles comerem.
Luigi e Peter sabiam que tinha algo estranho.
Geralmente Mick era o ultimo a acordar, e sempre comia cereal. Mick tinha um ódio profundo pelos tennis da marca Chuck Taylor, a empresa que produz o Converse All Star, pois dizia que eram tenis que só os jogadores de basquete deviam usar. Mick odiava qualquer roupa rasgada ou com furos. Aquelas calças que os amantes do rock pesado usavam, que tinham furos enormes nos joelhos, faziam Mick ter vontade de vomitar.
--- Tá bom, pode falar Mick --- disse Luigi, na lata --- O que você quer/precisa/fez/quer fazer?
Ele perguntou deste modo, balançando a mão na vertical para separar os verbos.
--- Luigi, parece que eu só faço isso por interesse. Sei lá, se eu estivesse precisando de um quarto para tranformar em atelier, você acha que eu faria todo esse banquete de natal? Hahaha, fala sério né. Sei lá, o quarto que fica ao lado do meu, aquele com janelas que dão para o sul, que seria perfeito para eu colocar meus manequins e tecidos, seria perfeito, mas eu não faria esse café da manhã só para pedir pra vocês.
Mick sorria e olhava o "banquete" como se fosse Michelangelo olhando para a capela Sistina depois de pintada.
Michelangelo tinha virado cozinheiro?
Luigi olhou para Peter, que desviou os olhos para a comida, rindo compulsivamente.
--- Quarto para tranformar em atelier? --- disse Luigi, entendendo o porque de tantos elógios e café-da-manhã exagerados.
--- Olha, eu sei que é pedir demais e é abusar da boa vontade de vocês --- disse ele, se aproximando de Luigi e Peter com as mãos juntas --- Mas é que eu preciso de um lugar, porque eu vou começar o proximo semestre na faculdade, e eu vou ter que começar a fazer minhas proprias criações. Por favor, Pet, Lui, por favor, por favor...
Luigi olhou para Peter, como se pedisse uma opnião.
Peter fugiu do olhar e levantou da mesa apressadamente.
--- Eu tenho que ir no hospital, vocês sabem, consulta médica e tals...
--- Peter, não Peter, vem aqui...
Peter já estava na porta, com as chaves do carro na mão.
--- A noite conversamos, amor. Mick, valeu pelo café-da-manhã, estava lindo, tudo está lindo hoje, o céu, as nuvens, a grama do vizinho que parece que é mais verde que a minha, o que será que ele usa? --- a voz de Peter começou a ficar mais baixa e distante, até se calar totalmente.
Peter saiu da casa, rindo baixinho.



Peter rodou durante uns 5 minutos no estacionamento do hospital á procura de uma vaga.
Será que todos resolveram ficar doentes ao mesmo tempo? pensou Peter, impacientemente.
Quando finalmente conseguiu estacionar, Peter entrou na recepção e perguntou por seu pai, o diretor geral Mark Calledon. Quando Peter disse que ele era filho de Mark, a recepcionista assentiu com uma expressão que dizia " Então você é o Peter... "
Peter fingiu não prestar atenção.
Peter ganhou um cartão azul, podendo assim circular por todas as áreas do hospital.
Perdido em pensamentos durantes uns minutos, Peter imaginou quais as histórias e comentários que rolavam no hospital, envolvendo o nome de sua familia.
" O filho do Mark? Ah sim, um veado que não sabe nem cortar um tomate ", " Dizem que ele saiu de casa para ir morar num trailler com um pintor ", Ele é um design de interiores, L-I-N-D-O. Mas é gay, que disperdício "
Enquanto andava, Peter recebia olhares curiosos de enfermeiros e médicos, como se todos o conhececem.
Enquanto caminhava, Peter viu duas figuras sentadas em cadeiras, esperando serem atendidos pela médica. Um usava uma camiseta azul sem estampa, calça jeans e tenis branco. O outro tinha uma camiseta de manga longa preta, calça azul marinho e tenis no mesmo tom de azul.
Quando foi se aproximando, reconheceu quem era.
Will estava com os cotovelos encostados nos joelhos, com um olhar distante, analisando o nada. Seth estava encostado na parede, passando a mão nas costas de Will.
--- Seth? Will? O que estão fazendo aqui?
Will não tinha percebido Peter se aproximando, mas Seth sim. Ele sorria quando Peter se aproxiamava.
--- Oi Peter --- disse Seth, se levantando e dando um beijo em seu rosto.
--- E aí Peter --- disse Will, sem se levantar.
--- O que você está fazendo aqui? --- perguntou Seth.
--- Eu vim falar com o meu pai sobre o premio --- Peter respondeu, e mostrou um convite azul que estava no bolso da calça --- Mas e vocês? Está tudo bem com você, Seth?
--- Sim, está. É que...
--- Exame de rotina --- disse Will, cortando Seth --- Estou aqui para acompanha-lo.
Seth o olhou e suspirou fundo. Will devolveu o olhar.
--- Isso, rotina --- disse ele, colocando as mãos nos bolsos da calça --- Faço todo mês.
Um jovem estagiário apareceu na porta e olhou para Will, mas desviou os olhos quando viu que Peter estava alí.
--- Peter?
Peter se virou e deu de cara com um par de olhos verdes fitando-o.
--- Felipe? Oi --- Peter se afastou dos amigos e estendeu a mão para ele.
Felipe Lopez era um estagiário de medicina que tinha 24 anos. Para Mick, pai de Peter, Felipe representava tudo que Peter não era e nunca seria: Um futuro médico, futuro chefe de equipe e futuro presidente do hospital. Mick dizia que Felipe era o filho que ele poderia ter.
--- O que está fazendo aqui? Está tudo bem com você?
--- Sim, está tudo bem. Só estou procurando meu pai.
--- Eu te levo lá --- disse Felipe, saindo pelo corredor --- Você é o proximo, pode entrar --- disse ele, com um aceno de cabeça para Will.
Peter não viu o aceno, estava de costas para os amigos.
--- Depois conversamos --- disse Seth, entrando na sala junto com Will.
Poucos metros depois, Peter era guiado pelos corredores do hospital, em direção á sala que pertencia á Mark Callendon.
--- E então, Peter, você...
--- Eu?
--- Ainda está naquelas de beijar garotos? --- Felipe perguntou, sério.
Peter riu diante á forma como ele perguntou.
--- Sim. Os antibióticos não funcionaram, nem o tratamento de choque. Talvez eu entre pra igreja e deixe Jesus salvar a minha alma. Talvez.
Felipe sorriu, entendendo a idiotice que ele havia perguntado.
--- Desculpe, é que eu me preocupo com essas coisas. Digo, vem em média cinco á treze homossexuais aqui por mês, fazer teste de AIDS ou DST. Aquele mesmo, que aparentemente você conhece, veio coletar sangue hoje.
Peter parrou subitamente, diante da confusão de Felipe.
--- Não não, esse meu conhecido tem leucemia. ele veio fazer testes de rotina.
--- Não veio não --- disse Felipe, tentando esclarecer a situação.
Felipe trazia consigo uma prancheta com vários papéis presos. Ele levantou algumas folhas e procurou uma em especial.
--- Willian Howard Hill? --- disse ele, com uma folha estendida diante dos olhos --- Está aqui. Coleta de sangue ás nove e trinta.
Peter estava confuso.
--- Coleta de sangue?
--- Sim. Ele marcou uma coleta para fazer exames de DST. Era para ter vindo á umas seis semanas atrás, mas não compareceu.
Peter estava atonito.
Peter sabia que antes de Seth voltar, Will tinha feito algumas coisas meio loucas, como transar com qualquer desconhecido e ouvido boatos de que ele tinha marcado presença em fesas Boreback, onde a intenção é fazer sexo sem camisinha e conseguir sair limpo dalí. Quem saísse limpo era considerado inteligente, bonzão, e conseguia respeito entre os participantes daquelas festas.
Agora quem saísse contaminado... Problema dele.
Mas Peter sabia que eram apenas boatos. Will era um cara inteligente, disso ele tinha certeza.
O cérebro de Peter trabalhou como um computador, processando dados rapidamente. Ele guardou aquela informação sobre Will e a salvou numa pasta de " Arquivos para analisar depois ". E rapidamente seu foco foi para a tarefa que estava para fazer alí, naquela hora.
Enquanto caminhavam, Peter e Felipe conversavam sobre assuntos diversos. De alguma forma, Felipe tinha ficado sabendo da indicação de Peter para o NewCorel. Quando Peter perguntou como ele havia sabido, Felipe respondeu que tinha contatos com o pessoal do meio da decoração.
Minutos depois, Felipe deixou Peter na frente de uma porta com o nome " Mark Calledon Dewith " gravadas em uma placa prateada.
Peter deu três soquinhos leves na porta, e logo a voz estridente de seu pai soou lá de dentro.
--- Estou ocupado. Volte outra hora.
Peter girou a maçaneta e colocou a cabeça para dentro.
--- Oi pai, sou eu.
Mark levantou a cabeça e olhou para Peter, parado na porta.
--- Peter? O que faz aqui? Entre e feche a porta.
Assim Peter fez, e se encaminhou para o centro da sala, que era iluminada por uma claraboia de três metros no teto.
A sala parecia um consultorio, só que um pouco maior.
--- Oi pai, tem um minuto?
--- Exatamente um.
Peter balançou a cabeça positivamente, e pela primeira vez que entrou na sala, reparou em seu pai.
Os cabelos, que um dia foram tão louros quanto os de Peter, estavam completamente brancos. Seus olhos já não possuiam aquele brilho jovial que Peter sempre admirou.
--- O que foi? Está tudo bem com você? Precisa de dinheiro?
Peter estava acostumado com a maneira que era tratado pelo seu pai. Desde que Peter assumira sua sexualidade, os carinhos afetuosos e abraços solidários haviam desaparecido e dado lugar apenas á frieza e distancia.
--- Pai, é que tem um evento que eu queria que você, a mamãe e a Kirsten fosse. Kirsten voltou para o Reino Unido, então só sobram você e a mamãe.
--- Evento? Que evento?
--- É uma premiação --- disse Peter, tirando do bolso dois convites e deixando-os na mesa --- Chama-se NewCorel, ele premia os melhores decoradores que se destacaram no ano.
Mark pegou os convite e leu o que estava escrito.
--- E deixe-me adivinhar: Você foi indicado? --- disse ele, olhando para os convites.
--- Sim, eu fui. Indicado na categoria mais importante, a de Decorador do Ano.
Mark riu, colocou os convites na mesa e encostou as costas na cadeira.
--- Um premio de quem escolhe as melhores almofadas! Eu não sabia disso.
Peter balançou a cabeça positivamente.
--- Pois é. Seria muito importante se o senhor fosse.
Peter se sentia como se estivesse conversando com um Iceberg. Até mesmo o iceberg que havia afundado o Titanic e matado mais de 1500 pessoas devia ser mais caloroso.
--- Seria importante? Estranho. A ultima vez que você me viu, você havia dito que eu ia morrer sózinho, não se lembra?
Peter abaixou a cabeça, como se estivesse sendo sensurado por alguma coisa. Suas palavras saíram baixas.
--- Eu sei, me desculpe. Eu... --- Peter se virou e foi para a porta --- Seria importante se você fosse, pai.
Quando ia sair, a voz de Mark o fez ficar.
--- Quem vai estar nesse evento? Aquele seus amigos vão?
--- Sim, todos eles --- disse Peter, voltando á sala.
--- E aquele fotógrafo também vai estar lá?
Peter revirou os olhos.
--- Sim, o fotografo conhecido como Luigi também vai estar lá, pai.
Mark suspirou fundo e voltou sua atenção aos papéis em sua mesa.
--- Se der eu vou. Acho que vou estar ocupado, mas eu aviso sua mãe. Feche a porta quando sair, e pegue preservativos na farmácia. A quantidade de gay que vem aqui fazer testes de DST é impressionante.
--- Talvez marque uma consulta qualquer dia desses --- disse Peter, antes de sair da sala e fechar a porta.




Após uma minunciosa reunião de departamentos da revista Vogue, na qual cada chefe de sessão era obrigado á comparecer, Luigi estava exausto. Ele passara as ultimas duas horas planejando a revista daquele mês e a do mês seguinte. Ele e sua equipe foram designados á cobrir todas as áreas do evento de moda mais importante do ano: São Paulo Fashion Week. Ele e sua equipe estavam preparados para o trabalho, mesmo o evento só acontecendo dalí á quatro semanas.
Quando voltou á sua sala e ligou seu celular --- teve que desliga-lo quando foi para a reunião --- Luigi viu no visor que havia uma mensagem de vóz á sua espera. Ele discou sua senha e ouviu uma voz conhecida.

" Heey lindo, sou eu, Eric. Bom, isso você já devia ter notado, né --- a voz estava petulante como sempre, e Luigi se perguntou como ele havia conseguido seu numero --- Bom, indo direto ao assunto, eu vou comemorar meu aniversário esse final-de-semana, na minha casa. Será algo pequeno, eu, algumas garrafas de vinho e alguns amigos. E eu quero te ver aqui, okay? Depois se você quiser ir para um lugar mais reservado e especial, eu conheço um motel fabuloso. Se quiser trazer o seu gordinho, pode trazer. Não sou grande fã de louros, mas ele não precisa participar do ato, concorda? Te vejo ás nove, gato. "

Sem chances, pensou Luigi.
A premiação de Peter seria naquele final de semana, e a presença de Luigi era importante. Mas mesmo se Luigi estivesse livre, ele não iria. Para que dar mais corda para se enforcar?
Luigi apagou a mensagem de vóz e foi para a lanchonete do prédio. As ultimas duas horas o deixaram com fome.




Mais tarde, depois de cumprir horario na ArtDeco, Peter dirigia em direção á casa de Will, pensando no que havia descoberto aquela manhã.
Muitas idéias vinham á sua cabeça de forma constante e veloz. Ele tentou reorganizar os pensamentos.
Peter entenderia se Will estivesse apenas fazendo um exame de "rotina". Faz parte da obrigação de cada pessoa conciente cuidar da sua saúde e saber á quantas ela anda.
Mas ele havia mentido? Will disse que estava acompanhando Seth em um exame. Porque ele faria isso.
Só se... Ele tivesse motivos para ficar preocupado!
Peter sabia que estava certo, e a confirmação e as provas vieram das lembrnças que ele tinha do estranho comportamento de Will nos ultimos meses.
Will sempre faltava no trabalho, sempre saía com diversos homens e sempre transava com desconhecidos.
Uma lembrança saída do fundo da mente de Peter o refez uma cena em que Will era questionado se ele usava preservativo todas as vezes que ele transava. A cara de dúvida que ele fez quando respondeu que " nem sempre usava " era o ponto que faltava para Peter.
Mas havia mais uma coisa. Porque ele não contou para ninguem?
Se ele tivesse com a suspeita de que estava com alguma doença, os seus amigos deviam ser importantes para ele naquele momento. E por que ele havia omitido o fato?
Medo? Achou que eles iam julga-lo e condena-lo á fogueira?
Os pensamentos começaram á serem processados rapidamente, e Peter teve que organiza-los novamente.
Enquanto começava a separar os fatos, seu celular começou a vibrar em seu bolso. Peter pegou os fones de ouvido e conectou-os no aparelho, e depois apertou o botão verde.
Era Luigi.
--- Oi querido.
--- Peter, aonde você está? Eu pensei em saírmos para comer fora.
--- Eu estou indo até a casa do Will. Eu preciso ir ve-lo.
A voz de Luigi assumiu um tom de preocupação.
--- Ele está bem? E o Seth? Aconteceu alguma coisa?
--- Não não, quer dizer --- aquilo não era um assunto para ser falado ao telefone, no meio do transito --- Olha, quando eu chegar em casa, nós conversamos.
--- Tudo bem, mas... --- a vóz de Luigi deu uma pausa --- Amor, espere um segundo, okay? Tem outra pessoa me ligando.
Claro, estou no meio do transito, dirigindo á 70km por hora.
--- Tá, mas não demore.
Luigi apertou um botão e atendeu a outra ligação. Um numero que ele não conhecia.
--- Alo?
--- Sou eu, Eric.
Luigi revirou os olhos.
--- O que você quer? E como conseguiu meu numero?
Eric riu, como se Luigi tivesse dito alguma bobagem.
--- Luigi, acorda. Eu sou filho da presidente da Vogue. Posso conseguir telefone e endereço de qualquer um em qualquer lugar. Eu até liguei para a filha da Madonna para desejar-lhe feliz aniversário.
--- Ual. Garotos poderosos são impressionante.
Eric ignorou o comentário.
--- Falando em aniversário, você ouviu minha mensagem?
--- Sim, ouvi. Não vou poder ir.
A voz de Eric tornou-se um pouco impaciente.
--- Posso saber porque?
--- Tenho outro compromisso inadiável.
--- O que? Você tem que fazer um transplante do coração ou coisa parecida?
--- É bem por aí. Tenho que desligar agora. Tchau Eric.
Luigi desligou antes que ele pudesse responder.
Com um movimento rápido dos dedos, Luigi voltou á Peter.
Pelo menos assim ele pensou.
--- Pronto Peter, voltei.
--- Não é o Peter. E com certeza eu não tenho nem metade da massa que ele tem.
Luigi esfregou os olhos lentamente. Eric estava segurando sua linha, ou Luigi tinha apertado algum botão errado.
--- Mas tudo bem, está perdoado. Te vejo no sábado ás nove, okay? Beijo e não se atrase. E traga um presente. O meu lubrificante já está acabando.
Eric desligou e deixou a linha livre. Automaticamente, a ligação de Peter já estava na linha.
--- Peter? --- disse Luigi, cauteloso.
--- Sim? Quem era? --- a voz de Peter estava despreocupada.
--- Era do trabalho. E falando em trabalho, prepara-se para trabalhar quando chegar em casa.
Peter franziu a testa.
--- Como é?
Luigi riu e disse:
--- Mick já está pensando em redecorar o quanto, quer dizer, o futuro atelier dele.
Peter achou que Luigi estivesse meio... Chapado.
--- O que? Quer dizer, você deixou ele usar o quarto?
--- Ah, sim, deixei. Depois que você fugiu na maior cara de pau, ele implorou para mim. Por pouco ele quase me ofereceu sexo.
--- Oferta irrecusável.
--- Não para mim. Mas tudo bem, não demore, okay?
--- Vou o mais cedo possivel. Te ligo quando estiver indo para casa.
--- Okay. Eu te amo.
--- Também te amo, Lui. Até logo.
Peter desligou o celular e o colocou no banco ao seu lado. O celular dividia espaço com um estojo de um DVD que Peter tinha alugado na videolocadora que tinha ao lado da ArtDeco.




Toc Toc Toc.
Toc Toc Toc.
Toc Toc Toc.
Peter passou a mão nos cabelos na tentativa de arruma-los. Não que estivessem despenteados, mas...
Depois de mais uma batida, Seth abriu a porta. Parecia que tinha acabado de sair do banho.
--- Oi.
--- Peter? Oi!
--- Posso entrar? --- Peter se convidou.
--- Claro, por favor.
Peter sorriu e entrou na casa. Ele reparou que a ultima vez que ele havia estado alí, foi para se desculpar com Will, que não quis ouvi-lo.
Seth parecia cauteloso.
--- Peter, eu acho que eu sei para que você veio.
--- Sabe? --- Peter fingiu estar surpreso.
--- Sim, eu ouvi o seu amigo médico desmentir eu e o Will.
Peter balançou a cabeça positivameente e se sentou no sofá.
--- E eu lhe peço para que você não comente nada com ninguem. Digo, com os meninos.
--- Tudo bem Seth, tudo bem. Só me diga uma coisa: Ele está bem?
Seth pareceu escolher as palavras.
--- Não sabemos ainda. Só semana que vem, quando saírem os resultados.
Peter balançou a cabeça mais uma vez.
--- Ele me contou o que ele andou fazendo... E eu me sinto responsável por ele.
Peter inclinou a cabeça e curvou o tronco em direção ás costas.
--- Você não sabia. E também...
Uma vóz fria interrompeu a conversa.
--- Eu já disse pra ele que a culpa não é dele. Quem foi em festas Boreback fui eu, por iniciativa minha.
Will entrou na sala, carregando um copo de macarrão instantaneo nas mãos.
Peter e Seth se levantaram do sofá quando o viram.
--- O que? Festas Boreback? --- disse Peter, perplexo.
Will colocou o copo de macarrão na mesinha de centro, e depois chegou perto de Peter.
--- Isso mesmo. Sexo sem camisinha com soropositivos. Pode lançar seu sermão de gay politicamente correto que mora numa mansão num condominio fechado.
Peter achou aquele tom muito hostil. Ele não estava alí para julgar ninguem e muito menos para dar sermão.
A atitude de Peter pegou Will desprevinido.
Peter pegou Will pelos pulsos, e depois o abraçou. Peter sentia falta daquela proximidade com Will.
Will fechou os olhos, sentindo o abraço forte de Peter.
--- Você vai ficar bem --- disse Peter no seu ouvido.
Seth observava sorrindo.
--- Eu sei --- disse Will, como se quisesse convencer a sí mesmo.
Peter se afastou e alisou os cabelos escuros de Will.
--- E se algo der errado, nós estaremos aqui --- disse Peter, sorrindo --- Eu, Seth, o Luigi... Mick sempre estará lá para dizer como nós nos vestimos mal, e Arthur sempre vai ter uma xícara de chocolate quente para nós.
Will sorriu meio envergonhado. Ele não era famoso por demonstrações de carinho tão sinceras.
Peter se lembrou de algo.
--- E... --- ele foi até o sofá e pegou o DVD que ele havia trazido --- Eu pensei que podíamos ver um filme.
Seth e Will pareceram gostar de idéia.
--- O que temos? --- disse Will.
Peter retirou o DVD da sacola branca.
--- Anna e o Rei --- disse ele, estendendo a capa e mostrando aos dois --- Eu sei como você ama a Jodie Foster. E Seth, eu sei como você tem uma quedinha por aquele loirinho que fez o Harry Potter.
Seth e Will deram risada com o comentário.
--- Okay então. Peter, quer macarrão instantaneo? --- disse Will.
--- Por favor, eu ainda não jantei --- disse Peter, se acomodando no sofá e retirando o CD do estojo para entregar á Seth.
Meia hora depois, Peter estava com dois amigos, macarrão instantaneo, Jodie Foster, o garoto louro que fez Harry Potter e mais um monte de crianças chinesas.
Uma hora e trinta minutos depois, Peter dirigia de volta para casa, pensando que o macarrão instantaneo não satisfazera completamente sua fome.
Quando chegou em casa, viu Luigi deitado no sofá, com a televisão ligada em um seriado americano. Ele deitou no mesmo sofá que Luigi passou o barço em volta de sua cintura.
Dormiu alí mesmo.

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