sábado, 28 de novembro de 2009

Capitulo Três – Segunda Temporada.

Cinco anos.


Quando Luigi desceu as escadas, indo para o primeiro andar da casa, e foi em direção á cozinha, conseguiu ouvir a voz de Mick conversando com uma mulher. Luigi não reconheceu a voz de imediato, mas quando chegou á porta da cozinha, o reconhecimento foi imediato.
Mick estava preparando uma tigela de cereais enquanto conversava com Kirsten, a irmã gêmea de Peter.
Mesmo já estando acostumado com a presença de Kirsten, Luigi ainda ficava impressionado com a imensidão da beleza dela. Seus cabelos dourados estavam presos por um rabo-de-cavalo, mas uma pequena franja caia no canto direito do rosto.
Quando Luigi apareceu na cozinha, Mick sorriu cauteloso. Não sabia como o humor de Luigi estaria naquela manhã. Depois de tanta espera e de tantos planos, um dia em especial estava á um passo de chegar. Mas pelo visto, Luigi comemoraria aquele dia sozinho.
--- Kirsten, Mick. --- Luigi sorriu e piscou um olho para eles.
--- Bom dia, Luigi --- disse Kirsten, enchendo uma xícara de café o estendendo para ele.
Luigi pegou a xícara e agradeceu.
--- E... Está tudo legal? --- perguntou Mick, procurando uma colher.
A voz de Luigi vinha carregada de sono, até parecia que ele havia ficado a noite inteira dormindo.
--- Certo --- respondeu Luigi.
Kirsten e Mick se entreolharam.
Kirsten não fazia idéia do que aquele dia significava.
--- Hã... E o que quer fazer hoje? Podemos ir na Times e dançar a noite inteira. --- Mick sugeriu enquanto começava á comer o cereal.
Luigi estava de costas para eles, olhando pela janela o sol que começava á ficar mais alto.
Continuava á encarar o horizonte quando respondeu.
--- Não sei... Acho que quero ficar em casa.
--- Devia ir, querido --- disse Kirsten --- Sabe como é, arejar a cabeça e tal.
--- Devia mesmo --- disse Mick --- Você só ficou enfiado nesta casa desde que Peter viajou... Ele ainda vai demorar um pouco, sabe disso.
Luigi virou o rosto e fuzilou Mick com os olhos.
--- Obrigado por lembrar.
Mick percebeu que perdera uma ótima oportunidade de ficar calado.
Kirsten queria melhorar um pouco o astral.
--- Luigi, você vai ficar legal. Até parece que vocês nunca ficaram mais de uma semana separados.
Luigi respondeu sem se virar para olhá-la.
--- Nunca. No máximo dois dias.
--- E não foi numa data especial --- Mick disse com a intenção de colocar Kirsten á par da situação.
Kirsten franziu a testa.
--- Data especial? Que data?
Luigi largou o copo dentro da pia; praticamente o atirou lá.
Encostou as duas mãos na pia e baixou a cabeça.
Aquela distancia o estava fazendo ficar maluco. A primeira coisa que fazia quando acordava era esticar o braço para o lado, na intenção de abraçar Peter, mas a única coisa que abraçava era o espaço vazio e frio. Não tinha vontade de comer, estava magro e pálido. Não se preocupava muito com o estado de suas roupas, sua sorte era que tinha um consultor de moda em casa, que o ajudava á andar mais apresentável no trabalho.
Mas o que mais enlouquecia Luigi era o silencio naquela casa. Quando Mick estava fora, a casa parecia um santuário reservado para rezas. Nada fazia barulho, nem mesmo os vizinhos, ou as maçanetas das portas.
Não sabia se era coisa da sua cabeça, mas Luigi começava á achar que as paredes da casa estavam começando a ficar cinza. De um verde jade-claro, estava surgindo um verde musgo acinzentado. Mas era apenas coisa da sua mente.
Luigi se virou para responder.
--- Amanhã... Peter e eu fazemos cinco anos juntos.
--- Ou melhor --- disse Mick, consultando o relógio de pulso --- Daqui á mais ou menos doze horas e cinqüenta minutos.
Luigi atirou o pano de secar pratos na cabeça de Mick.
--- Cinco anos? Caramba, meus parabéns --- disse Kirsten.
--- Valeu --- respondeu Luigi, balançando a cabeça.
Luigi ainda conversou com Kirsten por mais uns cinco minutos, dizendo á ela historias engraçadas que haviam acontecido nesses últimos anos.
Mick se irritou com toda aquela nostalgia e interrompeu a conversa.
--- Tudo bem, tudo muito lindo e blá blá blá --- se virou para Luigi e apontou com o dedo indicador --- A senhora esteja aqui ás dez horas --- e apontou para Kirsten também --- E a senhorita também. Os meninos também vão.
--- Arthur e Will? --- perguntou Kirsten.
--- Eles mesmos.
--- E como o Arthur está? Depois daquela historia do vídeo e tals... --- perguntou Luigi.
--- Que historia? Que vídeo? --- Kirsten quis saber.
Mick olhou para ela como se ela fosse a mulher heterossexual mais desinformada do mundo.
Luigi se deu conta do horário, melancolicamente.
--- Longa historia --- disse ele --- Mick vai te explicar tudo. Tenho que sair agora.
Enquanto saia da cozinha, ouviu a voz de Mick murmurar a frase "espero que ele tome um banho e troque de roupa antes de sair". Pensou em voltar e atirar uma cadeira nele, mas Peter ficaria chateado com isso. As cadeiras de madeiras eram importadas diretamente da Itália, portanto eram caríssimas.
Subiu as escadas e foi para seu quarto. Recolheu uma toalha limpa e roupas para o trabalho. Antes de sair do quarto, viu o relógio e parou.
Precisou de segundo para fazer a conta, pois era péssimo em matemática.
Faltavam doze horas e quarenta e dois minutos para os cinco anos se completarem.



Quando Mick viu a nota do seu trabalho, seu queixo praticamente afundou na mesa. Ele passara as ultimas duas semanas trabalhando em cima daquele projeto, e com certeza merecia uma nota bem maior do que aquela. Esse era o trabalho onde ele tinha que recriar três vestidos de estilistas famosos, e ainda fotografa-los e coloca-los em um portfolio. Apesar de Luigi ter tirado as fotos (nada melhor que fotografias de um excelente profissional), foi Mick que organizou as três fotos dentro do album.
Mick resolveu esperar pelo término da aula para ir pedir satisfações ao professor de historia da Moda, um sujeito alto, cabelos ralos e escuros e com barba por fazer.
Fazia semanas que aquele professor estava pesando em cima de Mick. Mick fazia os melhores trabalhos, as melhores pesquisas, sempre era pontual e responsável quando se tratava da faculdade. Mas isso não era o suficiente para que esse professor visse o esforço que Mick fazia.
Quando o sinal soou, Mick segurou sua mochila nos ombros e esperou que todos saíssem da sala. Não queria platéia. Ninguém precisava saber do 2,0 desenhado em vermelho na capa do portfolio do trabalho.
Quando todos saíram, Mick se encaminhou para a mesa do professor, segurando o portfolio com a mão esquerda. Quando chegou á mesa, Mick jogou o portfolio sem cerimônia alguma, fazendo alguns papéis cairem no chão.
O professor não expressou reação alguma.
--- Professor Richard -- disse Mick, sem dar a mínima para os papeis que estavam no chão --- Eu acho que houve um pequeno engano. Ou um grande engano, tavez.
Richard havia acabo de recolher os papeis do chão e começava á organiza-los novamente.
--- E eu acho que não houve engano algum. Os alunos recebem a nota que merecem. --- respondeu ele, seco igual ao deserto do Saara.
--- Dois!? Eu confeccionei os três vestidos, e recebo um Dois!?
--- Sim. Fim de caso.
Mick estava perdendo a paciencia.
--- Professor Richard --- Mick deu a volta na mesa e agora estava de frente para o professor --- Não é fim de caso coisa nenhuma. Esse trabalho vale setenta por centro da prova semestral!
--- Eu sei. Eu sou professor, esqueceu?
--- Mas eu não posso ficar com nota vermelha em nenhum semestre!
Richard suspirou fundo, sem tirar os olhos dos papeis que ele analisava.
--- Michelangelo... Faculdade é assim mesmo. Tudo é dificil. Se você não é capaz de tirar notas altas, isso significa que você não é capaz de estar no mundo que você quer estar.
As palavras giravam na mente de Mick. O que esse idiota está falando?
--- Como é que é? --- disse Mick.
--- Michelangelo, por favor, não é nada pessoal. Mas acho que uma carreira na moda não é algo destinado á... você. Você devia, sei lá, ser jornalista ou diagramador.
Richard tinh um sorriso irritante no rosto.
Mick estava em fúria. Ele nunca teve duvidas de que seu futuro profissional estivesse no meio da moda. E aí vem esse idiota e diz que ele não serve para a profissão?
--- Pense no que eu te disse, Michelangelo --- disse Richard, levantando-se da mesa e pegando sua bolsa cheia de papeis --- Você daria um excelente... Barista. É.
Deu dois tapinhas leves no ombro de Mick e se dirigiu até a porta. Quando chegou lá, deu um sorriso e fez um "não" com a cabeça.
Saiu com passos rápidos e largos.
Mick tinha na cabeça, no mínimo, oito lugares diferentes para mandar o professor Richard.


O relógio de parede do Archier marcava 15hr45min quando Luigi entrou e sentou-se no balcão. Arthur estava ao telefone, e fez sinal para que o esperasse terminar a ligação.
O dia se arrastava lentamente para Luigi. Ele ficava olhando para o relógio á cada cinco minutos, mas parecia que o relógio avançava apenas um minuto.
Luigi tinha uma pausa na revista e foi para a livraria-café para arejar um pouco a cabeça.
Enquanto estava sentado, esperando Arthur terminar de falar ao telefone, Luigi percebeu olhares curiosos e cochichos sussurados para o amigo. Outros riam, outros olhavam com duvidas e outros o olhavam com certeza.
Quando a ligação terminou, Arthur foi para perto de Luigi e apoiou os cotovelos no balcão. Parecia ter dormido mal.
--- E aí, gatão --- disse Luigi, tentando anima-lo --- Tudo certo?
Arthur suspirou fundo e olhou em volta da loja.
--- Já tive dias melhores. Dias que ninguem me conhecia. Acredita que um cara chegou aqui, dizendo que era produtor de filmes eróticos, e me convidou para fazer um filme?
Luigi ia dar uma risadinha, mas o olhar de Arthur o impediu.
--- Sério? Credo.
--- Pois é --- disse Arthur --- Com roupa de boracha e tudo.
--- E pagavam bem?
--- Pior que sim. Mais do que eu ganho aqui em seis meses.
--- Ual. Você devia ter aceitado.
Arthur sorriu e passou a mão nos cabelos.
--- Talvez. Eu poderia ter sido indicado ao Oscar da industria porno.
--- Ator revelação, com certeza.
Arthur e Luigi riram meio alto.
Arthur foi até a maquina de capuccino e começou a preparar um para Luigi.
--- E aí --- disse Arthur, de costas para Luigi --- Como vão as coisas?
--- Vão ficar melhores --- respondeu Luigi.
--- Amanhã você e o Peter...
--- É, eu sei. Estou tentando não pensar muito nisso.
--- Conseguindo?
--- Não.
Arthur se virou com um copo cheinho de capuccino fumegando.
Luigi olhou para o copo e forçou um sorriso.
--- Eu tentando não pensar, e você me traz capuccino. Você sabe que o Peter que é viciado no seu capuccino. Como não pensar nele se tudo conspira contra a minha vontade? Você é um enviado do inferno, que me traz a tentação.
Arthur levantou uma sobrancelha e olhou fundo para Luigi.
--- Cala a boca e toma logo isso. Aproveita que é de graça.
Luigi piscou repetidas vezes e entrelaçou os dedos abaixo do queixo.
--- Você é uma fada, obrigado.
Arthur sorriu e não disse mais nada. Ficaram alguns minutos em silencio.
--- E então, você vai na Times hoje, não vai?
Luigi revirou os olhos.
--- Acho que não tenho muitas escolhas, tenho?
--- Nenhuma. Mick vai te levar mesmo que for amarrado pelo pinto.
--- Que sexy.
Ao ouvir o sino acima da porta sooar, Luigi e Arthur olhavam naquela direção.
--- Falando no capeta --- disse Luigi, tomando o ultimo gole de capuccino.
Mick entrava no Archier praticamente correndo.
--- Café quente. Pegango fogo. Agora. Por favor. --- disse ele, sentando ao lado de Luigi.
Arthur levou a mão perto da testa e fez sinal de continencia.
Luigi apenas observava.
Mick respirava fundo, quase ofegando. Ficava batendo os dedos no balcão repetidamente e em ordem.
--- Okay --- disse Luigi --- Quem saiu da revista G? Antonio Fagundes? Tony Ramos?
Luigi deu uma risadinha, mas Mick o fez parar com um olhar fuzilador.
--- Já calei --- disse Luigi, silenciado pelo olhar de Mick.
Arthur voltou com mais um copo de capuccino e colocou na frente de Mick.
--- Cuidado, está quente --- Arthur o alertou.
--- Perfeito --- disse Mick --- Talvez eu leve para jogar na cara de um professor.
Luigi e Arthur se olharam suspresos.
--- Chamem os bombeiros e segurem a fera --- disse Arthur.
--- O que aconteceu? --- Quis saber Luigi.
--- Aquele idiota me deu dois de média. DOIS!
Arthur não pode perder a oportunidade de fazer uma piada. Sabe como é, perde o amigo, mas não perde a piada.
--- Se fosse quatro, seria mais gost...
--- Arthur, cala a boca. Por favor.
Luigi colocou a mão na boca, disfarçando um sorriso.
--- Relaxa --- disse Arthur --- Depois você recupera a nota.
Mick fez "Humpf" e começou a beber o capuccino.
Luigi voltou a olhar o relógio de parede. A posição dos ponteiros não havia mudado muito.
--- Esse relógio está parado? --- Perguntou para Mick.
--- Hã ... --- Mick olhou para o relógio e voltou para Luigi --- Não. Está funcionando normal.
Luigi não disse nada, mas fez uma expressão que dizia algo como "é melhor verificar as pilhas desse relógio".
Mick percebeu que Luigi estava impaciente. Não teve duvidas sobre o motivo dessa impaciencia.
Isso era algo raro, mas era nessas horas que Mick sentia uma ponta de inveja (inveja boa, claro) dessa relação de Luigi e Peter.
Mick nunca gostara de compromissos, e a idéia de estar comprometido com uma pessoa, apenas UMA pessoa, era meio dificil de engolir. Mas quando ele via a relação que Peter e Luigi contruiram, ele tinha curiosidade de saber como é ter alguem por muito tempo. Talvez um dia, pensava ele, eu saiba como é essa senação. Estou satisfeito por enquanto.
Mick resolveu tentar animar Luigi.
--- E então, gatão, vamos ferver na Times hoje?
--- Eu preferiria ficar congelado na minha casa.
Mick torceu um canto da boca.
--- Claro, e ficar contando os minutos igual um idiota? Nem pensar.
--- Vai ser legal --- disse Arthur --- O Tom também vai.
Luigi e Arthur se olharam e levantaram as sobrancelhas.
Arthur percebeu o gesto nada sutil.
--- O que é? --- Arthur perguntou.
--- O que? Ham? quem? Eu? --- Mick e Luigi se fizeram de desentendidos.
Eles começaram a rir baixo e Arthur ficou com cara de paisagem.
Mick que parou de rir primeiro.
--- Tom. O seu...? --- ele gesticulou com a mão para que Arthur respondesse.
--- Meu... ?
--- Sim. O seu...?
--- O meu oque, porra?
Luigi deu uma cotovelada na barriga de Mick.
--- Ah, diz logo, Arthur --- Luigi falou --- Você e o Tom. Qual é a de vocês?
A testa de Arthur estava franzida.
--- Do que vocês estão falando?
--- Vocês dois estão ... Não estão?
--- Estão o que?
--- Transando loucamente --- disse Mick.
Os olhos de Arthur reviraram.
--- Claro que não. Ele é só... Um amigo.
--- Um amigo que dorme todas as noites na sua casa. Isso pode ser chamado de outra coisa --- Mick insinuou.
--- Você está morando com o Luigi, mas isso não significa que vocês estejam dormindo juntos.
--- Mas é diferente --- respondeu Luigi --- Você e o Tom tem uma certa ligação. Dá até para virar filme: Você salva o garoto de programa e se apaixonam.
--- E vivem felizes para sempre. --- Mick terminou a frase.
Arthur fazia que "Não" com a cabeça e sorria sem acreditar.
Ele e tom tinham virado bons amigos. Fazia poucas semanas que Tom estava na casa de Arthur, e já comentara várias vezes que ele tinha que ir embora, mas por insistencia de Arthur, ele sempre acabava ficando. Eles passavam noites conversando, e já compartilhavam segredos intimos.
Mas Arthur tinha que confessar que já pensara em Tom de forma diferente. Não queria admitir, mas sim, nutria um certo sentimento por ele.
Mas ele tinha que colocar as coisas em perspectiva. Tom é um garoto de programa, e faz sexo por dinheiro. Quais as possibilidades disso dar certo?
--- Não está acontecendo nada, tá legal? Nada.
--- Tudo bem. Mas você já assistiu o Moulin Rouge? --- Mick perguntou.
Arthur fuzilou Mick, e suspirou fundo.
--- Já. Mas o Tom não é a Nicole Kidman.
--- E não tem tuberculose. --- continuou Luigi.
Por fim, Mick sorriu e desistiu do assunto.
Luigi olhou para o relógio e ficou mais animado. As horas tinham passado um pouco.
--- Vou indo --- disse ele --- Ainda tenho uma modelo anorexica para fotografar.
Quando estava indo para a porta, ouviu a voz de Mick ao fundo.
--- Esteja pronto ás dez horas, mocinha. Esteja bem bonita.
Mais uma vez Luigi revirou os olhos. Isso já estava dando dor de cabeça.
Quando saiu, olhou pela vitrine o relógio de parede.
16hr40min.
Mais algumas horas, pensou ele enquanto dirigia para a sede da Vogue.


Era dez horas em ponto quando Luigi, seguido por Mick, Arthur, Tom e Will, entraram no carro de Luigi. Todos estavam bem arrumado e perfumados. A diferença é que Mick teve que praticamente obrigar Luigi á se arrumar.
Will estava calado, como sempre. Seth ainda ignorava as ligações dele, e também nunca as retornava.
Mick já tinha esquecido o incidente com o professor na faculdade. Tinha prometido á si mesmo que este professorzinho não o chatearia mais.
Depois de estacionar e entregar as chaves para o segurança da Times, eles passaram direto pela fila que se formava na porta. Mick havia colocado o nome deles na lista fazia uma semana.
O ambiente era sempre o mesmo. Luzes para todo o lado, barras de ferro na diagonanal, onde alguns caras sarados e suados dançavam, algumas lésbicas perdidas, alguem fazendo sexo oral em alguem, enfim. Nada nunca mudava na famosa Times.
Mick já vira alguns possiveis pretendentes para aquela noite. Havia um rapaz de cavanhaque em um canto, um musculoso na pista e um com cara de mais novo, no mínimo uns dezoito anos.
Arhur e Tom conversavam entre si, Will estava calado igual um defunto e Luigi estava entediado. --- Vou até o bar --- disse Luigi, sendo seguido por Will.
Mick foi para pista dançar com o musculoso e por alí ficou.
--- Está tudo bem? --- Luigi perguntou para Will quando chegaram até o bar que estava vazio.
--- Não sei. Só queria entender o que está acontecendo.
Luigi sabia muito bem o que estava acontecendo. Teve aquela conversa com Peter meses atrás, a respeito de contar ou não á Will que Seth estava muito doente. Não chegaram a um acordo, mas também nunca falaram para Will a verdade.

Uns poucos metros de distancia, Arthur e Tom riam sem parar. Eles passaram os ultimos minutos falando mal de uma drag-queen que estava usando uma calça de couro na cor laranja.
Quando terminaram de rir, Tom olhou acima do ombro de Arthur, como se tivesse reconhecido alguem. Tentou disfarçar, mas não conseguiu. Arthur olhou para traz e viu o cara muito mais velho que Tom estava olhando.
--- Conhece ele?
Tom fez que sim com a cabeça.
--- Esse cara tem tres filhos lindos, uma esposa que até parece uma modelo, uma casa enorme. E é bissexual.
Arthur entendeu o que ele estava querendo dizer.
--- Vocês já...?
--- Já. Digamos que ele é bem generoso.
Tom tentou sorrir, mas não conseguiu muita coisa. De repente, ele percebeu um jovem de no máximo vinte anos olhando com interesse para Arthur.
Esse jovem usava uma camiseta regata preta colada ao corpo, calça jeans azul e tenis branco.
Arthur já tinha reparado nesse jovem também. Desde que chegara na Times.
--- Vai lá --- disse Tom.
Seus olhos eram cautelosos. Ele evitava olhar diretamente nos olhos de Arthur, como se tivesse medo que tal olhar despertasse nele algo que fazia tempos que não sentia.
Arthur balançou a cabeça negativamente.
--- Não faz o meu tipo. Magro demais, cabeçudo demais. E roupas coladas não me atraem.
--- Sei. Você gosta de couro laranja, né seu safado.
Tom deu um tapa de leve nos ombros de Arthur, que sorriu ao ouvir o comentário.
--- Com certeza. Se for metade homem e metade mulher, aí sim que eu fico na furia.

Luigi gostava muito de Will. Muito mesmo. Mas toda aquela ladainha de "Seth não me ama" já estava dando nos nervos. Luigi se perguntava como alguem pode perder tanto tempo esperando uma pessoa que o magoou profundamente. Tentou inverter a situação, colocando ele e Peter como protagonistas. Mas não conseguiu imaginar nada.
--- Vem, vamos dançar --- disse Luigi, pegando pelo pulso de Will e o arrastando para a pista.
A pista principal estava lotada, mas ainda era possivel dançar sem esbarrar nas pessoas.
Apesar de Luigi não ser muit fã de musica eletronica, o som do Jimmy James o fez se animar um pouco. Até Will pareceu mais animadinho, e ficou de costas para ele enquanto dançava.
As luzes iam em todas as direções. Ora verdes, ora brancas. A musica alta fazia a cabeça de Luigi parar de pensar em seu amor que estava á quilometros de distancia.
Luigi fechou os olhos e sentiu cada sentido ficar mais aguçado. Podia sentir as pessoas ao seu redor, conseguia ouvir a musica e sentir as vibrações emanadas da mesma. Sentia o cheiro e o gosto da fumaça produzida com gelo seco. Cheiro de algo quente, e gosto de algo doce.
Sentiu quando um braço envolveu sua cintura e o fez girar nos calcanhares. Sentiu um par de mãos alisar seu peito. Sentiu o rosto desse homem encostar em seu pescoço.
Abriu os olhos. Olhou para o homem que dançava com ele e alisava seu corpo.
As alturas eram as mesmas. O homem era pálido, uma pele igual á marfim. Seus cabelos eram lisos-ondulados, louros bem claros, e caiam como cachos grandes na altura das orelhas. Seu nariz era reto, bem desenhado.
E os olhos. Azuis igual ao oceano.
Em outras palavras, era lindo.
Luigi fechou os olhos e pensou nele. Não no homem que tentava seduzi-lo, e sim no homem á quilometros de distancia.
As mãos daquele homem seguraram o braço de Luigi e fizeram envolver o pescoço.
Luigi sentia a uma mão em seu peito, e a outra em sua cintura.
Ele está aqui. Posso senti-lo comigo.
A mão caminhava em direção á barriga. Alisava, subia e descia.
Seus rostos estavam mais proximos, Luigi sentia a respiração dele.
Porque foi levado para longe de mim?
Narizes se tocanto. Lábios á centimetros de distancia.
Luigi abriu os olhos.
A onda de realidade o levou para o fundo.
Aquele não era seu Peter. Poderia até ser uma cópia mal feita, mas não era Peter.
Os olhos azuis daquele cara eram apagados, praticamente acizentados. Seus cabelos eram cheios demais, rebeldes. Sua pele era cadavérica de tão branca que era.
Não. Você continua longe de mim. Este é uma versão menos bonita de você.
Luigi se afastou do homem a sua frente, que não entendeu o gesto. Ele voltou a pegar na cintura de Luigi e em seu pescoço. Avançou em direção dos lábios, mas foi impedido por um par de mãos em seu rosto.
--- Você não é o Peter --- disse Luigi, confirmando suas suspeitas.
O homem nao entendeu nada.
--- Que? Quem é Peter.
Ele não obteve resposta. Viu apenas Luigi se afastar em direção á porta de saida.
Queria voltar desesperadamente para casa. Quando olhou para o relógio, percebeu que o tempo passara rápido demais.
23hr27min.
Antes de chegar até a porta, esbarrou em Tom, que se encontrava sózinho.
Ele tinha um sorriso estranho nos lábios. Seus olhos mostravam um conhecimento antigo.
--- Não era o Peter --- disse ele.
Luigi sorriu, cansado. Parecia ter corrido as olimpiadas.
--- Não. Nem de longe.
Tom olhou para o relógio e colocou a mão no ombro de Luigi.
--- Corre. Você tem trinta minutos.
Luigi fez que sim com a cabeça e correu em direção á saida.
Arthur apareceu um segundo depois, tinha acabado de sair do banheiro.
--- O que houve? Aquele era o Luigi?
--- Era. Vamos ter que voltar para casa andando.

23hr37min.
O pé de Luigi não conseguia deixar de pisar fundo no acelerador, até parecia que tinha vida propria.
Enquanto ele dirigia em alta velocidade, um motoqueiro acenou para ele com o dedo do meio, e um pedestre o chamou de maluco em plena rua.
Depois desses avisos nada calorosos, Luigi deu uma folga para o acelerador.
Minha casa ainda estará lá. O telefone ainda estará lá. Peter ainda estará... No navio.
A ultima parte da frase não o animou muito.
Olhou para o relógio novamente.
23hr39min.
Pisou no acelerador mais uma vez.

A sequencia de fato foi algo como no filme "Velocidade Maxima".
Estacionou o carro, entreou na casa, jogou as chaves no aparador, tomou um banho de cinco minutos, colocou a roupa de dormir e deitou na cama.
Respirou fundo e fechou os olhos.
Voltou á abri-los e olhou para o lado.
Seus olhos focalizaram o relógio que ficava acima do criado mudo.
23hr50min.
O dia estava finalmente acabando. Não que a angustia de ter seu amor tambem fosse acabar, mas já teria outro significado. Dalí a alguns minutos eles completariam um novo ciclo em suas vidas. Dez é considerado um numero misticamente rico em signicado, e o cinco também. O numero cinco simbolizava a metade de algo profundamente importante.
Cinco anos. Tantas conversas noite á dentro, tantos sussuros trocados pela manhã. Algumas brigas que foram facilmente solucionadas com um beijo apaixonado.
Dezenas de mudanças de mobilia, várias taças de vinho quebradas. Muitos livros comprados, mas apenas alguns lidos.
Alguns obstaculos também.
Christopher. Eric. A viagem para o Navio. Carmen Cortez.
Luigi deitou para o lado e colocou um braço embaixo do travesseiro.
23hr54min.
A distancia é algo que realmente atrapalha?
Em partes. A distancia atrapalha na parte de toques, carinhos, demonstrações publicas de afeto.
Mas pode ter seu lado bom.
O sentimento de que alguem, em algum lugar, o espera. A sensação mínima de felicidade quando a pessoa que está longe pronuncia palavras simples, como "Sinto sua falta" ou "Queria estar aí com você"
Luigi tentou inverter a situação.
E se eu fosse para longe, para fotografar modelos anorexicas em lugares exóticos? Como seria? Peter sentiria a agonia de ter que ir dormir e abraçar o vazio?
Sabia que sim. Peter sempre foi o mais sentimental daquela relação. Era uma piada interna entre eles, que quando eles se casassem, era Peter que estaria vestido de noiva.
23hr57min.
O coração de Luigi batia rapidamente, mais do que o normal. Podia senti-lo saindo pela garganta.
23hr58min.
Luigi lembrou-se do primeiro beijo que havia dado em Peter, anos trás. Uma chuva terrivel caia, enquanto eles se beijavam ao lado de um antigo teatro.
Sorriu com tal lembrança. Nunca pensou que chegaria tão longe.
Peter era um garoto da cidade grande que estava na faculdade. Ele, Luigi, era um aspirante a fotografo que morava numa cidade minuscula.
Quais as chances deles ficarem juntos?
Milhares. Ambos precisavam um do outro de forma enexplicável. Ambos sabiam o que queriam da vida. Ambos não eram aventureiros. Ambos se apaixonaram no primeiro momento que se viram.
23hr59min.
Luigi respirou fundo. Mais fundo. De novo.
Fechou os olhos e sorriu com a imagem que lhe veio á cabeça.
Peter na época da faculdade, de costas, posando sem saber para uma fotografia.
Uma fotografia. Algo tão simples foi capaz de mudar a vida deles.
É como dizem, a felicidade está nas pequenas coisas.
E o amor? Pode considerar que o amor possa ser encontrado nos lugares mais possiveis de se imaginar?
Sim. Era perfeitamente possivel.
00hr00min. Meia noite. Vinte e quatro horas. 1825 dias. Cinco anos.
Cinco anos. Não conseguia acreditar. O fotografo e o decorador. O cara de olhos azuis com o rapaz de cabelos pretos. O descendente de alemães com o descendente de italianos.
Tudo era perfeito.
00hr01.
Luigi foi arrancado de seus devaneios quando o telefone ao seu lado tocou.
Sabia quem era. E sabia porque estava ligando.
Esticou o braço e pegou o telefone.
Colocou-o no ouvido e esperou.
A pessoa do outro lado da linha fez o mesmo.
Sussurros. O oceano ao fundo.
Corações batendo no mesmo ritmo.
Silencio. Um silencio nada constrangedor.
--- Ual --- disse a voz do outro lado da linha.
Luigi sorriu.
--- Pois é.
--- Quase enlouqueci hoje.
--- Engraçado --- disse Luigi --- Meu dia foi um caos, também.
Peter sorriu e suspirou fundo.
--- Eu te amo --- disse sem hesitar.
--- Você é a unica razão para eu estar aqui. Eu te amo mais do que tudo.
Ficaram em silencio por alguns instantes. Conseguiam sentir a presença um do outro.
--- Obrigado --- disse Peter.
--- Pelo que?
--- Por ter feito parte da minha vida nesses cinco anos.
Luigi sorriu quando respondeu.
--- Obrigado á você por ter feito eu fazer parte. E obrigado antecipadamente aos proximos cinco anos.
Peter deu uma risadinha e olhou para o oceano que se estendia á sua frente.
Ficaram conversando durante a noite toda. Estavam cansados, exaustos, mas isso não importou.
Quem poderia trocar uma vida por outra? Quem seria capaz de deixar que a chama de suas vidas fossem apagadas?
Não houve toques naquela noite. Muito menos um beijo sincero e apaixonado.
Apenas palavras. Tiveram que se contentar apenas com o som de suas vozes.
Vozes que foram levadas pelo vento, mas não esquecidas pelo casal apaixonado que as pronunciaram.

domingo, 22 de novembro de 2009

Capitulo Dois – Segunda Temporada.

Complicações á Caminho.



Arthur estava no Archier terminando de preparar um café expresso quando se lembrou de que fazia semanas que não checava sua caixa de e-mail. Não que estivesse esperando algum e-mail em especial, mas Arthur usava esse e-mail também como vinculo com as editoras grandes e as independentes de livros.
Quando entregou o pedido á cliente e colocou o dinheiro dentro da caixa registradora, Arthur sentou-se frente ao computador e entrou no site onde seu e-mail estava hospedado. Localizou o campo de login e senha e clicou em “ENTRAR”. Segundos depois, sua caixa de entrada estava á sua completa disposição.
Não havia quase nada e inédito. Um escritor pedindo ajuda para conseguir publicar seu primeiro livro, que falava sobre a situação econômica da Hungria com os demais paises do mundo, uma garota lhe mandando link ensinando como aumentar o tamanho do pinto sem precisar de cirurgia, um garoto de dezoito anos pedindo para que ele e sua banda pudessem se apresentar no Archier dali a uma semana, e mais alguns que Arthur nem fez questão de abrir.
Quando ia fazer logoff de sua conta, um nome e mais algumas palavras chamaram sua atenção. Tal nome era desconhecido para Arthur.
Jake Carlson Gale.
O nome era seguido por uma frase no campo “assunto”.
Lembranças de uma noite razoável.
???
Arthur inclinou a cabeça para o lado e franziu a testa. Não fazia a mínima idéia de quem era esse homem ou o motivo daquela mensagem. Arthur clicou no link e a mensagem se abriu rapidamente.
Quando a tela carregou completamente, Arthur percebeu um símbolo na canto direito da tela. Um clip de prender papel, isso indicava que a mensagem tinha algum arquivo anexado á mesma.
A mensagem dizia o seguinte:

Refresque sua memória, meu rapaz. E... quer um conselho? Não fique gemendo quando um cara te penetrar, você fica com cara de prostituta.

Abaixo da mensagem vinha um link de cor azul, que o levava á um site de vídeos pornôs. Sem saber o que esperar, Arthur clicou no link e uma outra janela do navegador abriu-se mostrando um site de fundo roxo, e no meio da tela aparecia um vídeo que ainda estava sendo carregado.
Segundo se passaram e o vídeo começou a ser rodado na tela.
Arthur quase caiu para trás.
O vídeo mostrava ele próprio em cima de uma cama, completamente sem roupa, com as mãos e os joelhos encostados no colchão, enquanto um cara com a pele bronzeada e cabelos pretos segurava em sua cintura e mandava ver dentro de Arthur. O cara fazia Arthur rebolar cada vez mais rápido, e os olhos de Arthur reviravam, revelando seu prazer mais intenso.
E gemia. Gemia, pedia mais, e mandava o cara enfiar mais rápido e sem dó alguma.
O vídeo tinha duração de quinze minutos, e nesse tempo Arthur ficou em diversas posições, lambeu cada parte do corpo do outro cara e, para fechar com chave de ouro, Arthur era mostrado só de joelhos, enquanto o cara se masturbava e terminava gozando no rosto de Arthur, deixando seu rosto completamente pegajoso.
O coração de Arthur podia ser ouvido á um metro de distancia. Mais ou menos.
Quando o vídeo finalmente acabou, Arthur lembrou-se daquele cara. A alguns meses atrás, Arthur foi até uma casa de revelação para que imprimissem diversas fotos que ele tinha escolhido. Sua mente foi meio vaga, mas lembrou-se de que tinha transado com esse cara umas duas vezes naquela semana, mas não se lembrava de ter visto câmera alguma no quarto.
Com um olhar mais aprofundado, Arthur percebeu que aquele site era de vídeos caseiros pornográficos, onde era só você ter uma conta e poder postar seus próprios vídeos.
Olhando para a indicação de arquivo anexado, Arthur percebeu que tal arquivo vinha descrito com um nome.
“Foda depois de um dia de trabalho.WMA”
Os olhos de Arthur desviaram da tela do computador direto para o teto da livraria-café. Suas costas tocaram o chão e depois sua cabeça.
Segundos depois, todos os clientes do Archier se perguntavam o porquê do repentino desmaio do rapaz que ali trabalhava.


Meia hora depois, Arthur sentiu que estava com a cabeça apoiada no colo de alguém. Quando percebeu quem era, ficou contente por tal pessoa estar ali.
Qual seria sua reação, por exemplo, se Peter estivesse ali e tivesse que explicar o desmaio?
Não é nada, Pet, é só um videozinho pornô em que eu sou a estrela. Quer café?
A voz do rapaz acalmou Arthur na hora.
--- Arthur, o que houve? O que aconteceu?
Tom estava com as pernas cruzadas, e a cabeça de Arthur estava apoiada ali. Tom alisava os cabelos de Arthur bem suavemente.
Olhando para os lados, Arthur percebeu que o Archier estava completamente vazio, e que a placa de “FECHADO” estava pendurada na porta de vidro.
--- Tom, você... O que houve?
A cabeça de Arthur doía por causa da queda no chão.
--- Uma cliente ligou desesperada para sua casa, dizendo que você tinha desmaiado no trabalho. Eu vim correndo como um papa-léguas --- disse Tom, respondendo á pergunta --- Mas o que aconteceu? Você desmaiou, isso eu já sei, mas por que?
Tom usava o sobretudo preto que estava usando no dia que conheceu Arthur. As feridas em suas costas estavam melhorando lentamente.
Arthur tomou impulso e se levantou do chão. Encostou a mão no balcão e fez sinal para que Tom ficasse ao seu lado.
Arthur ficou de frente para o computador e clicou no botão “Play”.
O vídeo começou a ser rodado novamente.
Quinze minutos se passaram, e o queixo de Tom encontrava-se no chão.
Gaguejou antes de falar.
--- Mamamama... Mas o que... Arthur! Que...
Tom estava perplexo. Apesar de fazer alguns dias que conhecia Arthur, já havia notado que ele era um rapaz bem centrado e com uma boa cabeça. Ele percebeu isso quando contou á Arthur que ele era um garoto de programa, notara sua discrição ao falar no assunto.
Arthur esfregava os olhos com as duas mãos.
--- Nem me pergunte... Eu... Sei lá que diabos é isso.
--- Quem é esse cara?
--- Um idiota que eu transei á alguns meses.
--- E deixou que ele filmasse?!
Arthur olhou fuziladoramente para Tom, que ainda estava de olhos arregalados.
--- Claro que não, eu nem vi câmera nenhuma nesse quarto!
--- Mas... Você tem que...
Tom nem sabia o que ia dizer. Não sabia dizer algo para ajudar Arthur naquela hora.
Mas Arthur sabia o que tinha que fazer. Puxou o cabo de força da tomada e o computador desligou-se abruptamente.
--- Venha. Temos que ir á uma casa de revelação de fotos. Agora.
Tom o seguiu sem fazer mais perguntas.



Mick estava sentado em sua mesa na FordModel, analisando quando teria que comprar de tecido para fazer um vestido em estilo vitoriano na cor vinho e preto, isso era um trabalho na faculdade que valia 70% da nota semestral.
As aulas na faculdade estavam começando a ficar exaustivas para Mick. Apesar de saber da importância da Historia da Moda nos dias atuais, Mick não achava necessário todas aquelas datas e nomes de estilistas parisienses.
Mick estava faltando em muitas aulas, tinha perdido duas provas importantes e tinha quatro trabalhos para entregar e um seminário para apresentar. Não sabia como ia fazer tudo aquilo.
Ele ainda estava morando na pequena mansão de Peter e Luigi, e sabia que logo ia ter que arranjar uma casa para morar, pois logo Peter voltaria e ele seria um incomodo na casa.
Quando sua cabeça começou a doer mais ainda, ele atirou o lápis no chão, fazendo a ponta se quebrar.
O lápis deslizou pelo chão e foi parar na ponta do sapato de Carolina Carter, uma das presidentes da FordModel. Seu papel na agencia de moda era procurar novos talentos e apresenta-los ao mundo da moda e das grandes marcas.
Carolina tinha cabelos pretos até as costas, usava uma saia envelope cáqui com um blazer estilo boyfriend no mesmo tom.
--- Michelangelo, cuidado. Esses aqui são os novos da Prada.
Carolina apontou para os sapatos quando falou com Mick.
Mick nem percebeu quando ela entrou na sala sem fazer barulho. Sendo ex-modelo internacional, Carolina sabia andar sem fazer barulho, o chamado “ploc-ploc” que os sapatos geralmente fazem.
Mick também não percebeu o jovem de aparência californiana que estava atrás dela.
--- Senhorita Carter, desculpe-me --- disse Mick, levantando-se rapidamente.
--- Tudo bem. Está tudo bem? --- Ela olhava para os números e os tecidos acima da mesa.
--- Coisas da faculdade. Em que posso ajudá-la?
Carolina sorriu e deu espaço na visão de Mick para o jovem que estava atrás dela.
--- Bom, Michelangelo, eu gostaria de lhe apresentar o novo consultor de moda e estilo da FordModel. Este aqui é Dennis Luchier.
O novo Consultor de Moda e Estilo da FordModel.
O novo Consultor de Moda e Estilo da FordModel.
O novo Consultor de Moda e Estilo da FordModel.

Tal frase ecoava na mente de Mick. Ele estava sendo substituído? E para que a FordModel contrataria outro personal stylist? Ora, eles tinham Michelangelo Bernal!
Dennis se aproximou da mesa e estendeu a mão para Mick.
--- Olá, Michelangelo, é um prazer conhece-lo.
Mick só se perguntava o motivo daquela nova contratação. Meio segundo depois, voltou a realidade.
--- Olá, hã... Dennis.
Mick estendeu o braço e apertou a mão de Dennis.
Dennis sorria simpático.
Denis era meio alto, devia ter no máximo um metro e setenta e cinco. Sua pele era bronzeada, seus músculos eram bem visíveis por baixo da camisa branca que ele vestia, e seus cabelos eram claros como os raios de sol. Esse cabelo em contraste com sua pele dava á ele um ar de garoto da Califórnia. Mick conseguia imagina-lo usando bermuda azul e segurando uma prancha de surf.
--- Michelangelo, agora você vai ter um companheiro de trabalho. Achamos melhor contratar alguém para que nossos modelos tenham mais opções de escolha.
Mick franziu a testa.
--- Opção de escolha? Como assim?
Carolina sorria simpaticamente quando respondeu a pergunta.
--- Bem, você sabe que o mundo da moda está sempre se atualizando e encontrando novos talentos. A MegaModels possui nove consultores, e eles conseguem muito mais patrocínio por causa da variedade de cabeças que eles tem á disposição deles. Então achamos melhor termos dois consultores de estilo conosco, e encontramos o Dennis. Acredita que ele passou o natal na casa do Alexandre Herckovith? Não é para qualquer um, convenhamos.
A mente de Mick estava á mil.
Alexandre Herckovith? O sonho de Mick era chegar á pelo menos cinco centímetros do Alexandre.
--- O natal e o reveillon --- disse Dennis, concluindo a informação.
Mick deu o sorriso mais forçado que conseguiu fazer.
--- Bom, Dennis --- Carolina se virou para ele e colocou a mão em seu ombro --- Vamos, eu ainda preciso apresentar você aos fotógrafos, maquiadores, estilistas e modelos.
Dennis sorriu e assentiu com a cabeça. Antes de sair da sala, se virou para Mick e disse:
--- Até logo, Michelangelo.
Mick sorriu e não disse nada.
Enquanto Carolina e Dennis saiam de sua sala, Mick ficou parado, pensando em nada especial.



O homem atrás do balcão sorriu maliciosamente quando o jovem de cabelos castanhos entrou na loja de revelação digital. Ele não esperava sua visita, pois isso nunca acontecia. Quando ele colocava na internet os vídeos caseiros que ele fazia em sua casa, geralmente os “astros pornôs” nunca voltavam para pedir satisfações.
Arthur entrou na loja com passos rápidos e firmes, e Tom estava logo atrás dele. Suas costas começavam á arder, os cortes deviam ter começado a sangrar novamente por causa do pequeno esforço físico que ele estava realizando.
--- É bom te ver novamente, garoto --- disse Jake, o cara que gostava de fazer produções caseiras e publicar em sites pornôs homossexuais. Jake até tinha alguns fã no meio virtual; jovens e até velhos que pediam para que pudessem “atuar” como ele nos seus filmes.
--- Eu quero uma explicação! Que porra é aquela que você me enviou por e-mail?!
Jake fez cara de sarcástico.
--- Que porra era aquela? Bom, tem aquela de quando você me deixou gozar no seu rosto. É essa porra que você se refere?
Arthur estava á poucos passos de começar a gritar com aquele cara. Ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando apagar o vídeo de sua mente naquele momento.
--- Você vai tirar aquele vídeo imediatamente! --- Arthur conseguiu organizar as palavras e dize-las sem gritar.
O olhar de Jake se tornou quase ameaçador.
--- Ou o que? --- ele se virou para Tom e sorriu --- O seu namorado vai fazer o que?
--- Sabe o que significa direitos de uso de imagem? --- disse Tom, sem se importar com a posição que fora colocado; namorado.
--- Claro que sei. Mas pense por um segundo: Esse idiota aí é maior de idade, e eu posso alegar que ele sabia da filmagem.
Ele estava certo, e Tom teve que admitir isso.
Tom olhou para Arthur e fez sinal com os olhos, demonstrando que eles não podiam fazer muita coisa.
--- Vamos embora daqui --- disse Tom, segurando Arthur pelos ombros.
Arthur tentou colocar medo em Jack.
--- Você vai ver. Garanto.
Jake riu sem se abalar.
--- Já vi mais do que imagina. Não lembra?
Tom segurou firme o braço de Arthur e o arrastou para fora da loja de fotografias. Caminharam em direção ao Archier, sem dizer nada um ao outro.
Tom estava pensativo. Uma palavra ecoava em sua mente, insistentemente.
Namorado.
Sorriu e olhou para Arthur, que devolveu o olhar.
--- O que foi? --- disse Arthur.
--- Sabia que você até que é bonitinho?
Arthur riu olhou para frente.
--- Obrigado. Em trajes de banho eu pareço a Madonna.
Tom riu alto e empurrou Arthur, que cambaleou três passos para o lado.



--- Pois é, agora vou virar uma celebridade.
Arthur pousou a xícara de café no pires e suspirou fundo. Estavam no Archier, que estava vazio e com a placa de “fechado” na porta de vidro.
--- Há milhares de vídeos na internet, fique relaxado --- disse Tom, tentando acalmar Arthur.
Arthur apenas suspirou fundo e voltou a beber seu café.
Alguns minutos antes, Mick irrompeu pela porta e entrou na livraria-café.
--- Agora tenho concorrente! Dá pra acreditar nisso?! --- disse ele, apoiando as mãos na mesa.
Arthur continuava a encarar a xícara quando respondeu.
--- Tem muitos gays nessa cidade, Mick. Você não é o único.
Tom riu e olhou para Mick.
--- Oi Tom --- disse Mick, lembrando-se dos bons modos --- Como estão as costas?
--- Mais apresentáveis. Obrigado por perguntar.
Mick sentou-se ao seu lado e olhou para Arthur, depois franziu a testa.
--- Que cara é essa? O que houve? --- perguntou ele.
--- Mostre á ele, por favor --- disse Arthur para Tom.
Tom cutucou a perna de Mick e ele se levantou. Levou ele até o computador, ligou-o e abriu o navegador de internet. Abriu o histórico e clicou no link do vídeo.
Em poucos minutos, Mick estava de olhos arregalados.
--- Está de brincadeira, não está? --- disse ele.
--- Quem dera que fosse --- respondeu Tom.
Mick olhou mais um pouco o vídeo e tentou deixar o clima mais leve.
--- Mas que cara de puta safada você faz quando transa.
Tom beliscou a barriga de Mick por detrás no balcão.
--- Valeu heim --- disse Arthur, terminando de beber seu café.
--- Você tem que fazer algo! --- disse Mick, voltando á mesa, logo seguido por Tom --- Você tem que falar com o Will, talvez ele possa ajudar.
--- Vou falar, se eu o ver. Por onde ele tem andado?
Foi Tom que respondeu a pergunta.
--- Na vitrine do Archier.
--- Hã?
Tom indicou com a cabeça á vitrine da livraria.
Will passava ali na frente, com uma camisa social aberta nos três primeiros botões, bermuda branca e tênis estilo All Star preto.
Quando ele abriu a porta, o sino acima da mesma anunciou sua chegada.
--- Oi todo mundo. Como estão as costas, Tom?
--- Legais, obrigado por perguntar.
--- Ótimo. É.
Will ficou parado, olhando para a mesa, dobrando o lábio inferior com o polegar e o indicador.
Mick, Arthur e Tom se entreolharam.
--- Está tudo bem? --- Mick quis saber.
--- Seth. Voltou.
--- Quem é Seth? --- perguntou Tom.
Foi Arthur quem respondeu.
--- Um ex-namorado do Will.
--- Na verdade --- disse Will, corrigindo Arthur --- Seth é o cara que eu quero passar o resto da minha vida, mas ele não está nem aí para mim e eu não sei o motivo!
Mick revirou os olhos.
--- E lá vamos nós de novo...
Will inclinou a cabeça e fuzilou Mick com os olhos.
--- E vocês, como estão? --- disse Will.
Todos na mesa, exceto Will, olharam para Arthur.
--- Mostra pra ele --- disse Arthur.
Foi Mick que levantou do banco e fez sinal para que Will o seguisse.
Mick colocou Will em frente ao computador e mais uma vez o vídeo foi rodado na tela.
Will espremeu os olhos para ver melhor. Sua cabeça ficava indo para a mesa e para a tela do computador.
--- Ma... É... Mas que cara de puta safada é essa, Arthur?
--- É a cara que eu faço quando eu transo PORRA! Não me diga que você faz cara de Miss Universo quando você transa!?
Arthur esfregou os olhos com as mãos e apoiou sua cabeça na mesa. Sentiu a mão de Tom tocar sua nuca suavemente.
--- Quem fez isso? --- disse Will, retornando á mesa junto com Mick.
--- Um cara idiota. Filmou e colocou na internet. Acha que pode mandá-lo para a cadeia pelo resto da vida dele? --- perguntou Arthur, erguendo a cabeça.
--- Hã... Sei não. Talvez, se você tiver como provar que não sabia que estava sendo filmado.
--- Fodeu --- disse Arthur --- E sem lubrificante.
--- Com lubrificante á base de areia --- disse Mick, dando tapinhas leves nas costas de Arthur, que voltou a baixar a cabeça na mesa.
Arthur levantou a mão, depois o polegar, afirmativamente.
O sino acima da porta soou novamente. Dessa vez era Luigi que entrava, seu cabelo estava desarrumado e sua camiseta estava virada do avesso.
Todas as cabeças se viraram em sua direção, avaliando seu estado.
--- Bela camiseta --- disse Mick --- Dolce e Gabbana?
Luigi nem percebeu que vestira a camiseta ao avesso.
--- Não, é confecção própria --- disse ele, se espremendo ao lado de Will.
Quando se sentou, começou a bater os dedos na mesa.
Tom levantou uma sobrancelha, e Will perguntou.
--- Tá tudo legal?
Luigi virou a cabeça em sua direção num átimo.
--- Claro. Quer dizer, eu tenho uma casa de dois andares, seis quartos, um jardim, uma piscina, três banheiros, um futuro estilista que é a encarnação da Chanel e um namorado/marido/companheiro/amor da minha vida á quilômetros de distancia. Estou perfeito.
Luigi balançou a cabeça positivamente e compulsivamente.
O silencio permaneceu durante uns 20 segundos.
--- Estou enlouquecendo! --- disse Luigi quando percebeu que não ia receber muita atenção --- Eu troquei o nome da minha chefe por Peter!
--- E como ela se chama? --- Tom quis saber.
--- Vittoria.
Tom sorriu e passou as mãos nos cabelos.
--- Preciso de café --- disse Luigi, levantando-se da mesa e indo em direção ao balcão. Quando ia pegar uma xícara, viu no monitor do computador um site pornô.
--- Pensei que você tivesse parado com pornografias no trabalho, Arthur --- disse ele, virando-se para a maquina de café e apertando um botão que liberava o café direto na xícara.
--- Assista ao vídeo --- disse Arthur.
Luigi se virou para o monitor e apertou o botão play.
Todos esperavam sua reação.
--- Caramba, essa transa devia estar demais, olha só a cara de puta safada que essa cara faz!
Luigi olhou para o grupo na mesa e riu.
Quando voltou á olhar para o monitor, a duvida o assaltou.
E depois a confirmação.
--- MEU DEEEEUS! ARTHUR!
--- Palmas para mim, eu sei --- disse Arthur, esfregando os olhos mais uma vez.
--- Mas, como, quando, onde, porque....?!?!?!?!
--- Longa historia --- disse Tom.
--- Nossa, até fiquei sem reação --- Luigi falou enquanto voltava á mesa com a xícara de café nas mãos.
--- Eu vou ver o que eu posso fazer por você --- disse Will.
Arthur apenas balançou a cabeça.
Ficaram uns minutos sem dizer nada.
Mick cortou o silencio.
--- Mas que beleza --- disse ele --- Seth voltou, Luigi está enlouquecendo, um novo consultor de moda vai tirar meu emprego, um está com as costas praticamente rasgadas e temos a nossa própria estrela pornô. Esse ano vai ser o melhor.
--- Seth voltou ? --- disse Luigi.
--- Novo consultor de moda? --- quis saber Will.
--- Estrela pornô? --- disse Arthur, fuziladoramente.
--- Minhas costas estão melhores, eu já disse --- defendeu-se Tom.
Enquanto cada um explicava sua situação, muitas xícaras de cafés foram gastas.
Á quilômetros dali, as engrenagens já começavam á trabalhar, moldando o destino de cada um para entrelaçarem no final.
Eles nem imaginavam á reviravolta que os próximos meses seriam.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Capitulo 01. Segunda Temporada.

Tempo.


O sol ardia quente e forte nas costas de Peter. Seus cabelos estavam quase brancos com o reflexo dos raios solares.
Da onde ele estava, podia se ver o grande oceano que se estendia á frente. O convés superior do navio Queen Mary 2 possuía 786 metros, e cortava todo o navio. Aquele convés era considerado a artéria principal do navio.
Peter conseguia sentir a calmaria no ar. Fazia uma semana que ele estava trabalhando no navio, e estava tudo indo muito bem. Tinha todo material disponível, o tempo necessário para o serviço e o mais importante: Tinha as pessoas certas para trabalhar.
Depois de terminar de projetar o tamanho da tapeçaria que seria usada no Salão Britânico (um dos dez restaurantes que serviam 1,5 milhões de bebidas por ano) Peter decidiu dar uma pausa no que estava fazendo para ligar para Luigi.
Sentia uma saudade terrível e devastadora dele.
Aquela primeira semana tinha sido um pouco intensa, que acabou fazendo Peter falar poucas vezes com Luigi, e por menos de cinco minutos. A decisão de parar o serviço para ligar para Luigi foi exatamente por isso: Saudades. Não sabia como ia conseguir ficar mais tempo longe de casa, de Luigi.
Procurou o numero certo na lista de contatos e esperou.
Menos de três ligações bastaram.
Quando Luigi atendeu ao telefone, o coração de Peter foi invadido por sensação de alívio.
Peter sabia que Luigi ainda continuaria ali quando ele voltasse pra casa.

--- Oi, meu amor --- disse Luigi, com a voz suave e doce.
Peter nunca havia imaginado como seria difícil ficar longe de Luigi. E com razão, porque antes, eles nunca tiveram motivos para ficarem longe um do outro. E apesar de estarem “separados” por causa da profissão de Peter, este já podia imaginar como seria se estivessem separados por outro motivo.
Peter ainda continuava em silencio. Ainda pensava na voz doce, nos toques das mãos e nos lábios perfeitos e rosados de Luigi.
--- Quando sair do seu transe, diga alguma coisa, seu bobo --- Luigi estava de bom humor.
Peter lembrou-se de falar algo e voltou á realidade.
--- Oi Lui. Nossa, eu estou com...
--- Eu também. Você não imagina o quanto.
--- Como você está? E os meninos, como estão?
--- Eu estou sobrevivendo. Pensando em você mais do que nunca. Esses dias até confundi o nome de um dos estagiários... Ele se chama Pierre, e o chamei de Peter.
Peter sorriu e olhou em direção á imensidão azul que se estendia á sua frente.
--- E quanto aos meninos... --- Luigi continuou --- Acho que estão todos bem. Mick ainda está aqui em casa. Sabia que quando ele não está falando apenas em sexo, ele até consegue ser legalzinho?
--- Sei sim. Ele é um bom garoto. Jovem, um pouco imaturo, mas um garoto legal. E os outros?
Luigi pensou por um segundo.
--- Bom, Arthur está com um hóspede bem... Diferente na casa dele.
--- Hóspede?
--- Exato. Um garoto que ele conheceu quando nós fomos á Times.
--- Pensei que ele só tinha ficado na área vip conosco.
--- Ele conheceu esse cara na rua.
Peter ficou confuso. Arthur levando pessoas desconhecidas para sua casa? E que história é essa de hóspede?
--- Quando eu voltar você me conta isso direitinho.
--- Certo. Will sumiu do mapa. Liguei para ele esses dias e ninguém atendeu. Mick foi até o duplex dele e não passou da porta.
--- Quando mistério. Ele ultimamente estava bem... Diferente --- Peter comentou.
--- Também percebi. Meio fechado? Recluso?
--- Exatamente.
Peter e Luigi ficaram se perguntando o que havia acontecido. Não chegaram á conclusão alguma.
--- Eu sinto sua falta --- Luigi interrompeu o silencio --- Eu olho para essa casa enorme e... Eu sinto que ela está se fechando ao meu redor. Está tão silenciosa... Chega até ser opressivo.
Peter estava louco para sair daquele navio e voltar para casa, mas tal atitude era inconcebível.
--- Opressivo? Venha para o maior navio do mundo, aí você vai saber o que é opressivo.
--- Mas deve ser lindo.
--- É maravilhoso. Acredita que eu ainda não consegui caminhar por ele inteiro? É grande demais.
Luigi sorriu e passou a mão pelo cabelo.
--- Volte logo --- disse ele.
--- Estamos quase terminando. Se eu adiantar a equipe, podemos terminar antes do prazo.
--- Estarei esperando por você. Sempre.
--- Eu sei.
Peter ouviu passos atrás de si e se virou para verificar. Christopher estava parado á poucos passos de distancia.
Peter ainda estava se perguntando porque Christopher só usava uma camiseta regata branca o dia inteiro. Peter admitia que Christopher tinha um corpo muito bonito, mas para que exibi-lo dessa maneira?
--- Peter, eu não estou conseguindo fazer o que você me pediu. Qual a diferença entre um sofá de dois lugares e um de três lugares? Quer dizer, a diferença são os números, mas não são todos iguais? --- Christopher perguntou para interromper a conversa, pois sabia que era Luigi no telefone.
--- Quem está aí? --- Luigi perguntou.
Peter se virou para Christopher e fez sinal com a mão para que ele aguardasse.
--- É o Charles --- Peter mentiu na maior cara dura --- Amor, tenho que ir. Amanhã eu te ligo, okay?
--- Tudo bem. Vou esperar, heim. Te amo.
--- Também te amo.
Peter esperou que Luigi desligasse para também faze-lo.
Não tinha reparado quando Christopher tirara a camiseta e a segurava com uma mão.
--- Está calor aqui ou é impressão minha? --- Perguntou, avaliando a expressão de Peter.
Peter estava indiferente. Músculos e abdômen definidos nunca chamaram a atenção de Peter.
--- Impressão sua --- respondeu e passou direto por ele, indo em direção ao Café Britânico.


O jovem de cabelos ruivos e olhos verdes estava de costas para o espelho, mas com a cabeça voltada para ele, tentando avaliar o estado e o estrago causado.
Contou mais uma vez, sabendo que isso não iria mudar nada.
27 cortes nas costas, 2 na parte de trás dos braços e um leve arranhão perto da nuca. As feridas ainda estavam abertas e de vez em quando escorriam um pouco de sangue.
Ele sabia que tivera sorte. Sabia que naquela noite, um desconhecido completo havia o ajudado. Pensou que se tal desconhecido não o ajudasse, naquela hora ele poderia estar sob sete palmos de terra.
Foi até a cômoda que estava no quarto e preparou o material para fazer a limpeza nas feridas. Sabia que não ia conseguir chegar até as costas, mas ele sabia que já dera trabalho demais ao homem que o ajudou naquela noite.
Não percebeu que o tal homem estava parado na porta do quarto, observando-o.
Sorriu com timidez, como se fosse uma criança que foi pega fazendo aquilo que estava proibido de fazer.
Arthur sorriu e entrou no quarto.
--- Deixa que eu faço isso --- disse ele, estendendo a mão, como se pedisse para que lhe entregasse o material de limpeza.
--- Não precisa --- respondeu --- Eu posso fazer isso.
Arthur sorriu e se aproximou mais do rapaz.
--- Deixe de ser teimoso. Vamos, eu faço isso.
O rapaz sorriu constrangido, passou o algodão umidecido para Arthur e virou-se, ficando de frente para o espelho.
Quando o algodão tocou uma ferida das costas, o rapaz deu um pequeno pulo.
--- Desculpe --- disse Arthur.
O rapaz assentiu com a cabeça e respirou fundo. A dor das feridas já estava começando a se tornar familiar á ele.
Enquanto cuidava das feridas, as imagens ainda passavam na cabeça de Arthur como se fosse um filme sendo exibido.

Havia acabado de sair da Times e recusado carona para casa, quando um homem vestido um sobretudo preto chocou-se contra Arthur. Estava completamente encharcado por causa da chuva. Seus olhos mostravam suplica e medo.
Quando desmaiou, Arthur percebeu o sangue na roupa do jovem. Sua mão estava enlameada de sangue, assim como a sua camisa.
Arthur não percebeu o grupo que estava no fim da rua, observando. Sem suas mãos havia navalhas e laminas usadas para barbear.
Arthur arrastou o rapaz até uma rua mais movimentada. Pediu ajuda e conseguiu que chamassem um táxi para ele. Menos de trinta minutos mais tarde, o jovem já estava na casa de Arthur, deitado no sofá, com as costas para cima.
O sangue pintava o sobretudo de vermelho.
Sem muito esforço, Arthur tirou o sobretudo e a camiseta do jovem.
Quase caiu para trás.
Marcas profundas estavam desenhadas em suas costas, em todas as direções; e o sangue escorria como uma torneira aberta. O jovem continuava desmaiado no sofá, que começava a ficar vermelho.
Depois do choque, Arthur começou a preparar o kit de primeiros socorros. Preparou algodão, muitos curativos e diversos vidros contendo líquidos de cores escuras.
Arthur molhou o algodão em álcool e chegou perto do nariz do rapaz com o algodão umedecido. Depois de três suspiros longos, o jovem acordou assustado, tentando se levantar.
Arthur o impediu antes que ele se erguesse do sofá.
--- Não não, fique onde está. Você não está em condições de se levantar agora.
O jovem possuía olhos verdes, assustados. Olhavam á sua volta como se tentasse descobrir onde estava.
Quando tentou falar algo, se deu conta dos cortes nas suas costas, e começou a gemer de dor.
--- Calma, estou quase terminando. Só mais um pouco... --- Arthur terminava de passar o algodão sobre uma ferida bem profunda --- Pronto.
O jovem respirou profundamente, grato pelo algodão ter acabado de causar dor.
Ele estava desnorteado. Seus olhos eram uma mistura de medo e curiosidade.
--- Quem é você? O que... Que aconteceu? --- Ele conseguiu perguntar á Arthur.
--- Eu é que lhe pergunto. O que aconteceu com você?
Arthur tinha terminado com o trabalho e começava a guardar o kit de primeiros socorros.
O jovem de olhos verdes se levantou e sentou-se no sofá, sem encostar as costas no encosto do sofá.
--- Qual o seu nome? --- Perguntou Arthur, sério.
--- Meu... Hã, Tom. Meu nome é Tom.
Arthur balançou a cabeça e se dirigiu em direção á cozinha. Voltou meio minuto depois com um copo de café puro.
--- Oi Tom, eu sou o Arthur. Eu te ajudei ontem á noite.
Tom pegou o copo com café e franziu a testa.
--- Ajudou?
--- Sim. Estava chovendo, você estava...
De repente as palavras de Arthur se calaram, e Tom estava perdido na noite anterior. Como flash vindo de uma câmera, a noite anterior ia surgindo na sua mente. Vislumbres rápidos e interligados um ao outro.
---... Então eu te trouxe para cá... E aqui estamos --- Arthur terminou de falar.
Tom já sabia o que acontecera, e se surpreendeu. Isso nunca havia acontecido antes. Ele olhou para Arthur, grato pela sua ajuda.
--- Obrigado.
Arthur sorriu e sentou de frente para ele, na mesa de centro.
--- O que aconteceu com você?
Tom sabia que tinha coisas á fazer, assuntos á tratar. Mas sabia também que devia alguma explicação ao cara legal de cabelos castanhos que o ajudara na noite anterior.
Ajudara? Aquele homem praticamente salvara sua vida.
--- Eu... Umas pessoas me pegaram... Acharam que eu estava no território delas. Resolveram me dar uma lição, mas eu não estava no territórios delas, eu só estava esperando um... Uma pessoa --- Tom estava começando a falar rápido demais.
--- Território? Que pessoas?
Tom não se orgulhava da escolha que tinha feito, mas qual alternativa mais ele teria? Praticamente nenhuma.
--- Outros garotos de... garotos de programa --- Tom olhava para o chão, constrangido --- Acho que alguns travestis também, não me recordo ao certo.
Arthur deu atenção á especialmente uma palavra.
---
Outros? Quer dizer... Além de você, haviam outros garotos de programa?
Arthur já estava entendendo melhor o que havia acontecido com aquele rapaz. Esperava um cliente e outros garotos acharam que ele estava “caçando” no seu território.
Qual era o vocabulário de garotos e garotas de programa? Arthur não fazia a mínima idéia.
Tom continuava á encarar o chão quando respondeu a pergunta de Arthur.
--- Sim. Eles... Eles andam com navalhas e essas coisas, para quando um cliente não quer pagar o preço combinado.
--- E para quando eles acham que tem alguém invadindo a área deles --- Arthur disse, e não era uma pergunta, e sim uma confirmação.
--- Pois é.
--- E você anda com essas coisas também?
--- Não. Nunca tive problemas com os...
Arthur sabia o que ele estava querendo dizer. Seus clientes sempre pagavam certo.
--- Tudo bem. Vamos fazer assim... --- Arthur se levantou e pegou o copo de café que estava vazio --- Eu vou fazer algo para você comer, e você continua deitado. Depois se você quiser você pode ligar para alguém, seus pais, ou algum amigo.
Tom sorriu ao olhar para Arthur.
--- Obrigado, mais uma vez. Não vou te atrapalhar, prometo.
--- Tudo bem --- Arthur sorriu de volta --- Mas antes... Eu quero saber uma coisa. Você realmente se chama Tom?
Tom sorriu constrangido, e voltou a encarar o chão.
--- Tudo bem, quando você estiver menos vermelho, você me conta --- Disse Arthur, sorrindo ao voltar para a cozinha.

--- Seth, por favor, não desligue!
Era a quarta vez que Will ligava para Seth, e ele encerrava a ligação. Will pensou que venceria pelo cansaço, mas não era isso que estava acontecendo. Quando Will ouviu o telefone ser desligado, ele fechou os punhos com força.
Will tinha que arranjar uma maneira de falar com Seth. Agora que ele finalmente o encontrara, como ia conseguir ficar longe dele.
Will já tinha mudado mais uma vez. O cara que o levou para aquelas festas havia ligado umas duas vezes, convidando Will para sair, e Will recusou os dois convites. Não queria estar com outra pessoa. Queria era ficar com Seth, ou pelo menos conversar.
Quando o telefone tocou, Will correu para atende-lo. Achava que era Seth, o chamando para se encontrar em algum lugar. Conversar, talvez. Will se contentaria apenas com uma conversa.
Mas não era Seth. A voz do outro lado da linha era meiga e curiosa.
--- Will? Sou eu, Mick.
--- Oi Mike. E aí?
--- Eu é que pergunto! Como foi o teste? Quando você recebe os resultados?
Aquela era a hora para Will começar a inventar uma história para contar para Mick.
Will não tinha feito o teste, foi covarde demais para enfrentar a possibilidade de estar com alguma doença, mas não foi covarde quando deu meia volta e saiu correndo o mais rápido possível da clínica onde o teste seria realizado.
Começou a falar.
--- Ah, sabe como é... Formulários, pagamento, depois o recolhimento do sangue e por fim um suco de laranja sem gosto.
--- Procedimento padrão. E quando sai o resultado?
Parte complicada, pensou Will.
Se Will estabelecesse uma data para o resultado dos exames (exames que nunca foram feitos) ele estaria estabelecendo a data de quando ia dizer que nunca havia feito o teste. Era como marcar o dia de levar um tiro na própria mão.
--- Hã... Não sei, eles vão me ligar para dizer quando eu devo ir buscar os testes.
--- Menos mal... E você está legal?
--- Claro, tranqüilo. E você?
--- To legal. Só a faculdade que está meio complicada.
--- Porque ficar cortando pano é meio difícil mesmo, eu sei.
--- Haha, tonto. Bom, vou ir trabalhar. Quer fazer algo hoje á noite? Times?
--- Hã... Na verdade, eu comprei uns filmes novos, vou ficar assistindo.
--- Tudo bem. Qualquer coisa me liga.
--- Certo. Até mais.
--- Até.
Will desligou o telefone e apertou o botão que ligava automaticamente para o ultimo numero discado.
Como na outra vez, Seth desligou quando viu quem era que estava ligando.


Depois de um longo dia no trabalho, Luigi queria apenas ir para casa, tomar um banho e dormir. Dependendo da hora, ligaria para Peter para desejar-lhe boa noite.
Chegando em casa, achou que estivesse em uma loja de tecidos.
Seu sofá estava coberto de amostrar de tecido e livros que falavam sobre cores. Ao lado do sofá haviam três manequins sem roupa, e Mick estava no centro da sala, com um giz ele marcava um tecido que estava por baixo dele, e na boca ele segurava três alfinetes com pontas coloridas.
--- A Chanel se mudou para minha casa? --- Perguntou Luigi para Mick.
Mick levantou os olhos e riu como se pedisse desculpas. Ele terminou de marcar o pano e tirou uma tesoura do bolso da bermuda.
--- Eu vou arrumar tudo quando eu terminar, prometo.
Luigi contornou o sofá e encostou no braço do mesmo.
--- O que é tudo isso? --- Perguntou.
--- Trabalho da faculdade --- disse Mick, cortando o tecido na linha demarcada --- Tenho que recriar três vestidos de estilistas famosos.
--- Quais você escolheu?
Mick terminou de cortar o tecido e ficou de pé, analisando o que havia feito.
--- Chanel, Giorgio Armani e Prada.

--- Hum. Nunca gostei muito do Armani. Acho clássico demais.
Mick desviou os olhos do tecido que estava no chão e encarou Luigi.
Aos olhos de Mick, Luigi parecia mais velho. Não sabia se era por causa de Peter ou porque estava cansado, mas parecia que Luigi tinha envelhecido anos em dias.
--- Está com fome? --- Mick perguntou.
--- Muita.
Luigi saiu do braço do sofá e foi até a cozinha, com Mick logo atrás dele.
--- Eu comprei macarrão instantâneo --- disse Mick, solicito.
Luigi o olhou com dúvidas.
--- Não tinha coisa pior não?
--- Desculpe-me, é que andei ocupado hoje.
--- Sei. Tudo bem. Você quer macarrão?
--- Por favor, sim.
Luigi colocou a água para ferver e pegou os copos de macarrão que estavam guardados dentro do armário.
O silencio reinava na casa. O único barulho era da água borbulhando dentro da panela.
Luigi abriu os dois copos de macarrão e colocou a água dentro deles. Esperou alguns minutos e se serviu.
Mick fez o mesmo e comeram em silencio. Enquanto comia, Mick observava Luigi, que estava perdido em pensamentos.
Mas a mente de Luigi era algo fácil de se ler. Estava pensando em Peter, com certeza.
--- Sente falta dele, não é?
Luigi foi retirado á força de seus pensamentos e encarou Mick.
Sorriu timidamente ao responder.
--- Toda hora.
--- Ligou para ele hoje?
--- Sim, liguei --- Luigi estava terminando de comer o macarrão --- Está tudo bem.
--- E entre vocês? Como está?
--- Vamos ficar ótimos, tenho certeza disso.
--- Claro que vão.
Mick sorriu e Luigi também.
Às vezes é fácil gostar de Mick, pensou Luigi.
Luigi terminou de comer e jogou o copo de macarrão no lixo.
--- Vou dormir, boa noite --- disse ele, enquanto dava um beijo na testa de Mick.
--- Boa noite.
Luigi subiu os degraus lentamente, um a um. Estava exausto.
Quando entrou embaixo do chuveiro e fechou os olhos, uma única pessoa veio-lhe á mente. A única pessoa no mundo que ele queria que estivesse ali, tomando banho junto com ele.
Saiu do chuveiro e foi para o quarto. Nem se deu ao trabalho de se usar o roupão, estava na sua casa mesmo.
Colocou uma cueca e deitou na cama. Seu celular estava acima do criado-mudo, logo ao seu lado.
Pegou o celular na mão e localizou o numero de Peter.
Completou a ligação.
Três toques depois, uma voz suave como veludo atendeu.
--- Oi Lui.
Luigi não disse nada. Estava se deliciando com o som daquela voz. Fechou os olhos e imaginou o dono daquela linda voz, ao seu lado. Deitado em seu peito e alisando seu corpo.
A saudade era devastadora.
--- Lui? Está aí? Luigi, fale alguma coisa.
Luigi abriu os olhos e lembrou que Peter estava esperando. Mas seus pensamentos apresentavam apenas uma frase. Frase que só era destinada á uma pessoa.
--- Eu te amo --- disse Luigi, antes que seu coração começasse á bater mais rápido por causa de Peter.
Quando Luigi fechou os olhos, as únicas coisas que via foram um par de olhos azuis.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Spoiler - Segunda Temporada.



Muitas coisas aconteceram na vida dos nossos cinco personagens.
Depois da tempestade, Peter e Luigi finalmente se acertam?
Um grande amor do passado está de volta na vida de Will, e ele ainda tem que se preocupar com sua saúde, que pode estar terrivelmente prejudicada.
Enquanto Arthur se vê apaixonado por um jovem que talvez ele nunca possa ter, um video cai na internet e faz com que não apenas seu rosto seja mostrado ao mundo.
Mick se vê á mercê do mundo quando tem que encarar uma nova vida: Morar sózinho. Enquanto tenta aprender a cozinhar e á separar as roupas, ele ainda tem que encarar um professor cheio de segundas, terceiras e quartas intenções, na faculdade de Moda.
Paixões, romances inesperados, ciúmes, um pouco de drama e amores indestrutíveis. Vem aí a segunda temporada de Hide And Seek.

Capitulo 17 - Fim da Primeira Temporada.

O Fim?


Demorou até o sexto toque para que Will atendesse o telefone. Tinha ficado acordado até tarde na noite passada, pensando.
Mau humorado, atendeu o telefone.
--- Alo?
--- Will?
--- O que é, Mick?
Mick estava ligando da sede da FordModels, seu olho já estava bem melhor.
--- Foi ao médico?
Will fechou os olhos lentamente. Estava com medo de que suas suspeitas estivessem corretas.
14 homens diferentes. 14 chances de estar...
Não. Não podia estar.
--- Ainda não fui ao médico --- respondeu Will --- Quero esperar um tempo.
Mick pareceu ficar também de mau humor.
--- Quer esperar o vírus contaminar mais ainda seu organismo? Dá uma chacoalhada para misturar mais.
Will ficou mudo. Tal comentário não ajudou muito.
--- Desculpe --- disse Mick --- É que... Estou preocupado.
--- Eu sei. Agradeço sua preocupação, mas eu quero esperar até que o Peter vá viajar.
--- Esperar? Por que?
--- Não sei. Talvez com ele indo viajar, as coisas mudem um pouco e eu fique preparado.
Mick suspirou fundo.
--- Will, cara, quanto mais rápido você fazer os exames, mas rápido essa agonia some.
--- Não estou agoniado --- respondeu Will.
--- Mas eu estou.
Nesse momento Will sorriu. Gostou da sensação de ter alguém preocupado com ele.
Mas sabia que isso era só o começo. Dali a pouco tempo, os garotos também estariam preocupado.
Will achou a solução perfeita. Para que fazer Peter ir viajar á trabalho estando preocupado com ele? Era melhor Peter trabalhar em paz e já saber os resultados quando voltasse.
Quais seriam esses resultados? Will não sabia dizer.
--- Mick, valeu, de verdade. Vou hoje fazer os exames.
Mick relaxou um pouco.
--- Isso, faça isso. Geralmente demora umas duas semanas para os resultados ficarem prontos.
--- Eu sei. Você não contou a ninguém, não é?
--- Não. Você praticamente me obrigou a não contar.
--- É melhor assim. Mick, vou desligar. Tenho que tomar um banho e sair depois.
--- Certo. Quer que eu vá com você no hospital?
--- Não precisa.
--- Okay. Ligue-me se precisar.
--- Ainda está na casa do Peter?
--- Sim, mas me ligue no celular.
--- Certo. Beijo querido.
--- Beijo.
Que tipos de idiotas freqüentam festas desse tipo? Pensou Mick.
Não o Will.
Will está procurando companhia nos lugares errados. Ele espera que, quando o cara acordar na manhã seguinte, ele o abraça e beije o seu pescoço.
Mas não era isso que acontecia. Will sempre acordava com um desconhecido que não sabia nem o seu nome.



As costas de Luigi estavam doloridas por ter dormido no sofá a noite inteira. Se sentou e esticou a coluna, colocando os braços para cima. Ainda estava vestido com a roupa da noite anterior. Nem os sapatos ele tirara quando deitou no sofá.
Ouviu o barulho de gavetas sendo abertas do andar de cima. Olhou para a escada e se perguntou se deveria subir e conversar com Peter.
Ou se deveria, pelo menos, dizer bom dia. Não sabia o que ia fazer, mas subiu os degraus um de cada vez.
Quando chegou ao seu quarto, a porta do closet estava aberta e Peter olhava desconfiado para duas camisas sociais.
--- Leve as duas, camisas sociais nunca são demais --- disse Luigi, encostando-se ao batente da porta.
Peter se surpreendeu ao ver Luigi parado ali, não o tinha ouvido subir as escadas.
--- Boa idéia --- respondeu.
Peter começou a dobrar as camisas e depois as colocou em uma mala de viagem que estava próximo da cama.
--- Vai levar muita roupa? --- perguntou Luigi.
--- Sim.
Luigi balançou a cabeça positivamente, desviando dos olhos de Peter.
Vendo Peter fazer as malas, a sensação de perda da noite seguinte o dominou mais uma vez. Tinha medo de que aquela fosse a ultima vez que dividiria o mesmo espaço com ele.
--- Quer conversar? --- Luigi disse.
Peter suspirou alto e pegou três calças jeans que já estavam dobradas dentro do closet.
--- Eu estive pensando --- ele começou a arranjar espaço dentro da mala --- Essa viagem vai ser boa para nós.
--- Vai?
--- Claro. Vamos ficar três semanas separados. Quando voltarmos, vamos saber como a situação vai ficar.
--- Então... Estamos dando um tempo?
Peter parou o que estava fazendo e encarou Luigi. Não era o que estava querendo dizer! Dar um tempo é deixar a pessoa livre para fazer o que bem entende, e Peter não queria isso.
--- Não. Só estamos...
--- Estamos...?
Peter suspirou e respondeu.
--- Não sei, Luigi, não sei. Você quer dar um tempo?
A resposta foi rápida como um raio, sem a necessidade de pensar á respeito.
--- Não.
--- Então ótimo.
--- Tá.
--- Certo.
--- Legal.
--- Ok.
Peter entrou novamente no closet para pegar mais algumas roupas. Não ia precisar de tanta roupa, mas era melhor ir prevenido.
--- Nós vamos na Times hoje á noite? --- Luigi perguntou.
--- Sim, não vamos? Mick está animado.
--- Certo. E em que carro nós vamos?
--- Tanto faz. No seu carro?
--- Certo.
Monólogos. Conversa estranha para um casal de quase cinco anos. Aquela viagem parecia algo como “A Ultima Ceia”, algo que acontece antes de uma grande perda.
Peter terminou de arrumar a mala e fechou o zíper da mesma. Pegou a mala e a colocou no chão, perto da porta do quarto.
Quando levantou a cabeça, encontrou os olhos de Luigi encarando-o. Não sabia o que estava querendo dizer.
Peter sorriu meio sem graça, desviando o rosto para o chão. Ia saindo do quarto, quando sentiu a mão de Luigi segurar o seu braço.
Luigi não conseguiu dizer nada de importante, a não ser duas palavras que pareciam erradas naquela hora.
--- Desculpe-me.
Peter tentou sorrir, mas não conseguiu. Seu único movimento foi o de passar o polegar sobre os maxilares de Luigi, para depois se virar e descer as escadas.
Tal toque fez os olhos de Luigi se fecharem lentamente. Fazia semanas que não sentia o toque suave das mãos de Peter.
Luigi ficou ali, vendo Peter desaparecer. Suas pernas dobraram e ele sentou no chão, com a coluna encostada no batente da porta aberta.



Will estava com as mãos dentro do bolso da calça, enquanto observava a fachada da clinica onde iria fazer o teste de HIV. Abaixo do nome da clinica havia o esquema de DNA pintado de azul e vermelho.
Apenas um teste, pensou Will, e daqui á duas semanas, o resultado.
Duas semanas. Will se perguntou se realmente queria ficar duas semanas mergulhado em profunda agonia e dúvida.
Mas o que seria realmente pior? Saber que estava doente, ou ficar esperando a confirmação de que estava realmente doente?
Will se perguntou o que seriam nossas vidas se não algo profundamente delicado. A vida poderia ser descrita como uma taça de cristal, enquanto o resto do mundo era representado por uma parede revestida de cimento. Se chegar muito perto dessa parede, pode ser capaz de arranhar o vidro, deixando um arranhão que o tempo não ajudaria á apagar.
Will tomou uma decisão. Deu meia volta e caminhou para longe da clinica. Inventaria alguma historia para Mick, se fosse necessário.
Era por esse motivo que não quis que Mick fosse com ele até a clinica. Mick não deixaria Will sair dali sem ter feito a coleta de sangue para o exame.
Caminhou durante alguns minutos, sem realmente olhar para onde ia. Quando deu por si, estava em uma rua bem movimentada do centro. A rua era cercada por cafeterías, livrarias, lojas de DVD e estúdios de piercing e tatuagem.
Enquanto passava por um estúdio de aplicação de Piercing, á alguns metros de distancia, um rapaz saía de uma livraria, bebendo um café feito para viagem e segurando uma sacola com um livro dentro.
Aquele rapaz era muito familiar. Era alto, tinha ombros largos como se tivesse feito natação durante a infância. Mas não foi isso que chamou a atenção de Will. Foram outras duas coisas.
Esse rapaz estava usando, apesar do calor suportável que estava fazendo, um blazer preto, calça jeans azul e um cachecol em volta do pescoço. A ponta maior do cachecol estava sobre suas costas, chegando á altura das sobras do joelho.
Outro detalhe que Will não pode deixar de reparar foi a cabeça completamente raspada do jovem. Uns poucos fios voltavam a crescer.
O jovem acabou se distraindo, fazendo com que seu cachecol desenrolasse do pescoço e caísse na calçada, perto dos seus pés;
Foi o que bastou.
Depois de esse jovem virar para pegar o cachecol caído no chão, encontrou os olhos de Will o observando.
Anos se passaram em segundos. Dias se passaram em milésimos. Emoções e lembranças passaram na mente dos dois como se fosse um vídeo sendo acelerado.
Will sentiu duas pontadas: Uma de alegria, e outra de duvida.
O jovem ainda estava parado, encarando Will. Não sabia o que dizer.
Will deu alguns passos á frente, ficando á apenas um metro de distancia do jovem.
Seus olhos estavam contemplando o seu amor perdido. Will pensava que aquilo nunca mais fosse acontecer. Depois de quase um ano de espera, duvidas e ligações que nunca foram atendidas ou retornadas, Will finalmente teve um breve momento de paz.
Seu coração estava acelerado.
--- Seth?
O jovem encarou-o mais uma vez, decidindo se aquilo era o melhor a fazer.
Não tenho muito tempo mesmo, pensou o jovem, que mal isso poderia fazer? Talvez isso seja o mínimo que ele merece, mas o máximo que eu tenho á oferecer á ele.
--- Oi Will. Você está...
Seth foi interrompido pelo abraço repentino de Will.
Não conseguiu abraça-lo. Teve medo de que se o fizesse, todo esse um ano sumisse da sua mente e ele teria que encarar a vida de frente.
Ficou apenas parado, sentindo Will o abraçar fortemente.



Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Tal frase fazia a mente de Seth pegar fogo. Na única vez que dera alguma satisfação para Will depois de sumir, ele usara essa frase para fazer Will se sentir magoado.
Seth se sentia um covarde. Um verme.
Lembrou-se da tarde em que descobrira que o seu tempo de vida estava impresso em uma folha de papel. Estava tudo lá: Quanto tempo de vida, as possíveis chances da doença “estacionar”, o quanto de tempo ele teria que aguardar na fila de doadores.
Seth era filho único, e seu pai havia morrido quando ele tinha apenas seis anos. Os possíveis doadores eram apenas seus pais, e se tivesse algum irmão.
Na tinha irmão algum. Seu pai era falecido e sua mãe não era compatível. Como conseguiria aguardar mais de dois anos em uma fila de doadores, se seu corpo agüentaria menos de um ano? Logo seu cabelo, que antes era de um belo castanho-escuro se transformou em uma penugem rala. Logo em seguida, Seth os raspou totalmente.
E a pior pergunta que pensou: Porque arrastar alguém para o tumulo comigo? Eu quero mesmo fazer-lo perder um ano da vida dele com alguém que não vai sobreviver nem onze meses?
Não podia fazer isso. Não tinha direito. Não era correto sacrificar um coração, sendo que apenas um ia parar de bater.
Seth fez como de costume: Acordou mais cedo, fez o café depois tomou banho. Esperou Will acordar, tomar banho e sair para trabalhar. Por mais doloroso que fosse, ainda disse “Eu te Amo” e lhe deu um beijo na boca, antes dele sair.
Naquele dia não foi trabalhar. Na noite anterior, tinha pedido demissão do trabalho.
O dia demorou a passar. Quando o sol estava se pondo, sentou-se à mesa da cozinha e escreveu a carta mais difícil que teria que escrever na sua vida. Ou pelo menos a carta mais difícil que escreveria no próximo um ano.
Com sua bela caligrafia, Seth escreveu:
Eu não teria coragem de dizer pessoalmente, mas isso é necessário. Eu não poderia deixar você sofrer por mim, mesmo parecendo que a intenção é totalmente inversa.
Eu te Amo.

Depois de dobrar a carta, Seth fez sua mala contendo suas roupas. Tentou não chorar quando viu suas roupas penduradas ao lado das roupas de Will.
Quando saiu do apartamento, seu plano pareceria perfeito: Sumiria pelo próximo um ano, deixando Will magoado. Se conseguisse o que queria, Seth poderia esperar pela morte. Não havia lutas contra ela. Seth não possuía armas para essa disputa.
No dia seguinte, depois de inúmeras ligações de Will e algumas ligações de Peter, Seth estava embarcando em um avião que ia para a Inglaterra. Tinha um amigo lá, e a Inglaterra seria o lugar perfeito para desaparecer.
Mas o desespero de Seth, Will estava insistente. As ligações eram praticamente á toda hora. Com muita relutância e sofrimento, Seth decidiu que o melhor á fazer era ferir profundamente o coração de Will.
Deixou uma mensagem. Apenas uma que era mais do que suficiente para destruir um coração. Palavras colocadas de maneira fria e cruel.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Isso foi suficiente. As ligações cessaram. Por um bom tempo, Seth não pensava mais em Will.
Mas Seth teve que voltar. Sua mãe sentia uma saudade dele, e esse pedido Seth teve que atender.
Seu maior medo de voltar era o de encontrar Will.
O que diria á ele? Teria coragem de admitir as palavras escritas e as palavras ditas?
Esperava que esse dia nunca chegasse. Mas chegou.
Quando olhou para Will depois de quase um ano, um velho sentimento tocou seu coração. Um sentimento que Seth tinha reprimido e destruído. Reprimido para que ele não sofresse, e destruído para que Will não perdesse tempo esperando.
Tal sentimento trancado no fundo de seu coração tomou vida novamente, e se expandiu por todas as direções.



Will estava eufórico.
--- Seth! Meu Deus, por onde, o que você, porque, Ai meu Deus, Seth...
Não percebeu quando começou a chorar. Estava tão feliz de ver Seth novamente, mas teve medo de pensar certas coisas. Tinha medo das respostas.
Quando conseguiu segurar as lagrimas, Will encarou Seth.
--- Seth...
--- Oi Will --- disse Seth, sorrindo --- Não chore, vai.
Will estava respirando fundo para conter as lagrimas.
--- Por onde andou todo esse tempo?!
Will segurava firme nos braços de Seth, como se caso o soltasse, ele sumisse novamente.
Seth disse a primeira coisa que lhe veio á cabeça.
--- Estive viajando com uns amigos do tempo da faculdade.
--- Mas... O que houve?
A parte que Seth desejava que não chegasse se fez presente. E agora? Mais mentiras?
--- Não houve nada.
--- Como não? Você sumiu e...
--- Will, é passado. Já faz tempo.
--- Não para mim.
Seth não conseguia encarar Will, estava pensando em mais desculpas que custavam á aparecer.
--- Bom, passei um tempo lá fora, conheci pessoas novas... É isso o que aconteceu comigo.
--- E eu não mereço nenhuma explicação?
Seth mais uma vez teve que escolher o caminho que o lavava á magoar Seth.
--- William, eu não queria mais, tá legal? Digo, uma hora a gente cansa de acordar todos os dias ao lado do mesmo cara.
Will não sabia o que dizer. A terra tinha parado de girar, assim como o tempo parara de passar. Nada se movia.
--- Will, foi bom te ver --- Seth se inclinou e beijou o rosto de Will --- Mas tenho que ir agora, meu namorado está me esperando. Mande lembranças aos meninos.
Seth sorriu e deu as costas para Will. Caminhou rápido e dobrou a primeira esquina.
Will continuava paralisado. Em sua mente, aquele encontro era difícil de acreditar.
Apenas um nome ecoava em sua cabeça.
Seth.



O estacionamento da Times não ainda não estava cheio quando Peter e Luigi chegaram no carro cor prata de Luigi. Quando passaram pelo porteiro, este desejou-lhes boa noite.
Depois de entrar em uma pequena fila, passar pela entrada e serem revistados por um segurança, Peter e Luigi ouviram a musica alta que era tocada e as luzes que não paravam de piscar.
A pista principal não estava lotada. Muitos homens e poucas mulheres dividiam o espaço para dançar.
Luigi logo avistou uma escada que seguia para cima, que dava em um tipo de saguão pequeno, conhecido como Área Vip.
A Área Vip era destinada á aqueles que a alugavam por uma noite e faziam uma lista com diversos nomes. Tais nomes eram permitidos nessa área.
Peter e Luigi seguiram para a escada, mas antes tiveram que dizer seus nomes para um segurança que guardava a entrada.
--- Peter Calledon e Luigi Cortez. --- Luigi informou ao segurança.
--- Estão na lista de quem? --- perguntou o segurança.
--- Michelangelo Bernal --- respondeu Peter.
--- Certo. Podem entrar e boa festa.
Antes de passarem, o segurança deu uma munhequeira azul para Peter e Luigi, aquela munhequeira dava acesso á área vip, assim não era necessário que eles informassem o nome todas as vezes que passassem pelo segurança.
Luigi pegou na mão de Peter, e eles seguiram assim pelos 17 degraus da escada.
Quando chegaram à cima, foram aplaudidos por todos os que estavam ali.
Will estava no canto, um pouco mais afastado. Kirsten também estava lá. Usava um vestido azul com um cardigan, e para completar usava um cinto preto na cintura. Estava linda.
Mick e Arthur estavam radiantes. Gritavam, pulavam e batiam palmas para eles.
--- Finalmente chegaram --- disse Mick quando se aproximou para dar um abraço nos dois --- Pensei que não iam vir.
--- Mick estava quase falando palavrões --- falou Arthur quando deu um beijo no rosto de Luigi e depois outro em Peter.
--- Mas é claro que viríamos --- disse Luigi --- Não íamos perder a oportunidade de ficar na área vip.
--- Com certeza --- disse Peter, sorrindo --- Falando nisso, como conseguiu? Conseguir reservar essa área é quase impossível.
--- Tenho meus contatos --- disse Mick, orgulhoso.
--- Ou seja, ele transou com alguém daqui. Quem foi? --- Arthur riu quando fez o comentário.
Mick não se importou.
--- Eu não transei com ninguém. Apenas fiquei com o segurança.
--- Só ficou? --- disse Peter, fazendo cócegas na barriga de Mick, que tentava se esquivar.
--- SÓ fiquei. Na verdade, ele pediu para eu passar meu numero para ele, e quando eu o vi já estava me colocando contra a parede e segurando na minha cintura.
Peter e Luigi se entreolharam, não muito certos de que era realmente isso que tinha acontecido.
Eles se uniram ao resto do grupo e sentaram em volta da enorme mesa de vidro.
Peter ficou prestando atenção á área vip, pois nunca tinha estado lá.
As paredes eram de vidro temperado em tons de azul. Tinha bancos estofados em todas as partes e ainda possuía um bar próprio, que todas as bebidas eram gratuitas para quem estivesse ali. Os vidros causavam uma boa acústica na área, fazendo a musica da pista ficar bem baixa, mas ainda possível de se escutar.
Apesar de estarem todos juntos, as conversas eram diversas. Will ficou calado a maior parte do tempo, pensativo. Arthur e Mick conversavam bastante com Kirsten, a irmã gêmea de Peter.
Peter e Luigi não conversaram sobre nada em especial. Até certo momento.
--- E então --- disse Luigi --- Animado para ir para o maior navio do mundo?
--- Um pouco. Quero dizer, mais animado porque decorar um navio contribui muito para um portfólio.
--- Claro. Talvez você possa até ser indicado ao premio de Decorador do Ano.
Peter estava gostando que aquela conversa estivesse sendo leve e natural. Sentia falta disso.
--- Eu? Ganhando o NewCorel? Acho difícil.
--- E porque?
--- Por causa dos outros decoradores fabulosos que sempre concorrem. Imagine eu, Peter, concorrendo com a Carolina Lankaster ou com o Marcell Loui.
--- Bom, saiba que eu acho que você ganharia. Eu acredito em você.
Tais palavras lançaram Peter á lembranças de um passado não tão distante: semanas atrás, quando ele e Luigi estavam completamente felizes.
--- Obrigado. Vou pensar no assunto --- Peter sorriu e colocou a mão na perna de Luigi.
Luigi pegou a mão de Peter e entrelaçou os dedos dele com os seus.
Peter segurou no pescoço de Luigi e o puxou para um beijo apaixonado. Seguindo todos os seus desejos, Luigi ficou entre as penas de Peter, enganchando-as na sua cintura.
Se beijaram apaixonadamente, como se fosse a primeira vez. Luigi deixou a mão sobre o peito de Peter, enquanto este o puxava para mais perto. Mais perto do que já estavam.
Quando terminaram o beijo, seus lábios estavam a milímetros de distancia. Sentiam a pulsação do outro em todas as partes do seus corpos.
Peter massageava os cabelos castanhos de Luigi, enquanto este sentia o prazer do toque de Peter.
--- Eu senti falta disso --- disse Luigi, sorrindo timidamente.
--- Eu também --- respondeu Peter, feliz --- Essas ultimas semanas tem sido tão esquisitas.
--- Eu sei. Mas... Vamos conseguir. Quero dizer, podemos entortar...
--- Mas não vamos quebrar, eu sei.
--- É.
Peter e Luigi sorriram juntos. Estavam feliz que aquela antiga química entre eles tivesse voltado. Aquelas discussões sem sentido e fundamento estavam já sendo esquecidas. Aquilo poderia ser perfeito: Peter fica três semanas longe, e quando volta, ele e Luigi estão mais fortes.
Quando ficaram apenas se acariciando e praticamente deitados no sofá da área vip, uma nova figura surgiu no ambiente. Usava um blazer preto, com uma camiseta apertada cor branca, uma calça azul skinny e um tênis estilo All Star branco. No pulso usava a munhequeira azul que tinha ganhado quando passou pelo segurança.
Luigi não queria acreditar.
--- Só pode estar de brincadeira --- Olhou para Peter, como se pedisse explicações.
Peter estava sem palavras. Não achava que aquela pessoa estaria ali.
--- Você o convidou? --- Luigi perguntou baixo.
--- Claro que não.
O rapaz de aproximou do grupo e sorriu ao cumprimenta-los.
--- Oi pessoal.
Peter olhou novamente para Luigi, que já estava com os olhos revirados de mau humor.
--- Oi Christopher. Hã... O que está fazendo aqui?
--- Fui convidado, lembra?
Luigi olhou para Christopher nos olhos pela primeira vez desde que ele chegara.
--- Claro que foi --- disse Luigi --- Você não poderia deixar de estar aqui, não é?
--- Luigi! --- Peter protestou.
Os outros meninos e Kirsten olhavam com curiosidade.
Luigi se soltou das pernas de Peter e se levantou.
--- E não é verdade? Já não basta levar o Peter para longe de mim pela manhã, e ainda vem aqui para apreciar os últimos momentos?!
--- Gente, que isso, relaxem --- Mick disse, se aproximando.
--- Gente, por favor --- Falou Kirsten, cautelosa.
Christopher se defendeu.
--- Eu só vim porque fui convidado. E o que você e o Peter fazem ou deixam de fazer, não me interessa.
--- Acho difícil. Diga na frente de todos que você não tem vontade de estar no meu lugar.
--- Luigi, Christopher, parem vocês dois! --- Peter se levantou e colocou-se entre os dois --- Isso não é conversa adequada.
Christopher e Luigi ficaram se encarando. O profundo ódio que crescia entre eles era visível.
Peter se sentia em uma jaula com dois leões prontos para se devorarem.
--- Quer saber? Esqueçam. Sei quando não sou bem vindo.
Christopher se virou e foi em direção ás escadas.
--- Christopher, pare com isso, fique --- Peter disse.
--- Como é que é? --- Luigi perguntou --- Quer que ele fique?
Peter se virou para Luigi e tentou pegar em sua mãe, sem sucesso algum. Luigi se esquivou de Peter na hora.
--- Luigi, para com isso, é ridículo!
--- Não, não é. Ridículo é esse idiota querer transar com alguém que já é comprometido!
Quando Christopher ouviu o que Luigi disse, voltou e falou mais alto.
--- É, quer saber? Sim, eu estou a fim de transar com ele sim. E sabe o que mais? Se ele transasse comigo, ele saberia o que é estar com um homem de verdade! E quem sabe ele não tenha a sorte de passar a noite com um homem de verdade no navio.
O ódio nos olhos de Luigi se se espalhou pela área inteira.
Arthur e Will já estavam de pé, prontos para apartar uma possível briga.
Luigi não era um homem de usar a força bruta, mesmo tendo braços definidos. Mas seu ódio por Christopher e pelas palavras proferidas por ele fez com que o agarrasse e o segurasse pela lapela do blazer e o pressionasse contra a parede de vidro.
Com tal pressão, o som de vidro se rachando ecoou pela sala.
--- Luigi! Solte-o agora! --- Peter gritou.
Formar distorcidas começavam a aparecer no vidro enquanto Luigi continuava pressionando Christopher.
Num piscar de olhos, o segurança que ficava na porta da área vip já estava segurando Luigi pelos ombros e o levando para a porta de saída.
Arthur, Mick, Will e Kirsten estavam imóveis como estátuas.
Se debatendo contra o segurança, Luigi ainda tentou se soltar, mas não conseguiu.
Peter se virou para Christopher, preocupado.
--- Você está bem?
--- To legal --- Christopher olhou para as outras pessoas presentes na área --- Oi, e aí?
--- Caramba, o que foi aquilo? --- perguntou Mick.
--- Um típico ataque de ciúmes --- disse Kirsten.
--- E porque você tinha que falar aquelas coisas, Christopher?! --- Peter praticamente gritou.
--- Aquele cara é um idiota. Só disse minha opnião.
--- Muito obrigado --- disse Peter, indo em direção á porta --- Mick, pessoal, valeu pela presença. Agora eu tenho que correr para conseguir alcançar o Luigi.
Peter se despediu e se lançou escada abaixo.
Todos ficaram encarando Christopher, que não soube o que dizer.

Uma chuva começava a ficar mais forte quando Luigi saiu da boate e foi até o estacionamento. Ele estava colocando a chave na ignição quando Peter apareceu na janela do carro.
--- Que porra foi aquela? --- Peter berrou, com a água começando a escorrer pelo seu cabelo.
--- Foi sei chefe retardado admitindo que está querendo transar com você.
--- Cacete --- Peter se afastou do carro e começou a passar as mãos no cabelo, como se não acreditasse naquela cena de poucos minutos atrás.
--- Precisava fazer aquilo com ele? --- disse Peter.
Luigi desceu do carro, e os dois começaram a discutir no estacionamento da Times. Suas roupas e seu cabelo começaram a ficar ensopados.
--- Fazer o que? Faze-lo dizer a verdade na frente de todos?
--- Não, quase estourar o vidro usando ele!
--- Peter, cale a boca e entre no carro. Eu não quero ter essa discussão com você.
--- Não me mande calar a boca --- respondeu Peter, apontando o dedo no rosto de Luigi --- E sim, nós vamos ter essa discussão. Caralho, Luigi! Precisava de tudo aquilo?!
O segurança do estacionamento espiava sob um carro.
--- E você queria que eu fizesse o que?! Deixasse ele dizer aquelas coisas?
--- Não interessa o que ele disse! Porra, estava tudo tão legal entre nós á quinze minutos atrás e agora... --- Peter sentia as lágrimas idiotas rolarem sobre seu rosto.
Então esse seria o fim? Pensou Peter, em um estacionamento de uma boate?
Luigi se aproximou rapidamente quando viu as lágrimas em seus belo rosto.
--- Peter, amor, por favor, não ch...
--- Não encoste em mim! Fique longe de mim, Luigi!
O coração de Luigi reagiu á aquelas palavras. Foi como se tivessem mergulhado-o seu órgão vital em uma banheira repleta de gelo.
Tais palavras também causaram dor á Peter. Sabia que eram apenas palavras desesperadas, e que só significavam momentaneamente. Mas e depois? Quais os significados que elas teriam? Conseguiria suportar o peso de palavras ditas em um momento de desespero?
Luigi tentou se aproximar mais uma vez, mas encontrou um Peter que ele não conhecia. Frio, nervoso, furioso.
Em um momento de distração do novo Peter, Luigi agarrou seus pulsos e o forçou a encostar sua cabeça em seu peito.
Peter não resistiu. Não tinha coragem e nem força para tal feito.
Luigi o levou em direção ao carro, mas antes de chegar até lá, Peter se soltou e caminhou até o banco do carona.
Bateu a porta quando sentou ao banco.
Luigi já estava ao seu lado quando tentou pedir desculpas.
--- Amor, por favor, eu não queria...
--- Dirija --- Foi apenas o que Peter respondeu. Seus olhos ainda estavam inundados de lágrimas.
Luigi suspirou alto e ligou o carro.
Tentou conversar, pedir desculpas, mas aquele outro Peter permaneceu frio e calado o trajeto inteiro de volta pra casa.


A chuva estava mais forte quando eles saíram da boate.
--- Alguém quer carona? --- perguntou Will.
--- Eu quero --- disse Kirsten.
--- Dois --- respondeu Mick.
Eles esperavam a resposta de Arthur.
--- Não Will, valeu. Gosto de andar na chuva.
--- Tem certeza? --- disse Will, tentando convence-lo --- Por mim tudo bem.
--- Não, é sério, eu vou caminhando. Falo com vocês amanhã.
Arthur deu as costas e começou a caminhar sob a chuva. Não ligava de ficar molhado, sua casa ficava á menos de vinte minutos dali.
Enquanto caminhava, lembrou-se de Bob. Estava feliz com ele e tudo mais, mas não queria uma relação como aquela. Queria alguém mais... Homem. E Bob podia ser considerado uma criança.
Caminhava pulando sobre as poças de água que se formavam na calçada. A única coisa que o incomodava era a sua meia estar molhada. Sentia agonia de meias molhadas.
Enquanto olhava para baixo, ouviu passos apresados em sua direção. Olhou para frente e não viu nada. Deserto total.
Quando virou a cabeça para trás, uma figura vestida de preto corria em sua direção. Usava um sobretudo estilo gótico que lhe caia até a panturrilha. Seu cabelo, assim como o resto do seu corpo e de suas roupas, estava completamente molhado por causa da chuva que ficava cada vez mais forte.
Os reflexos de Arthur estavam lentos. No mesmo instante que viu esse rapaz, no instante seguinte o rapaz se chocou contra ele.
Seus olhos refletiam o medo. Um pouco de suplica, talvez.
O rapaz segurou nos ombros de Arthur e perdeu o equilíbrio. Arthur passou as duas mãos nas costas e depois na cintura do rapaz, segurando-o.
Com uma mão, Arthur o segurava, e com a outra começou a tocar o rosto do jovem, que parecia estar desmaiando.
Foi quando Arthur sentiu medo. Seus dedos que antes estavam molhados pela chuva, agora apareciam pintados de um vermelho-sangue. Sua mão se encontrava enlameada de sangue vindo das costas daquele rapaz. Percebeu que o sobretudo preto também tinha manchas vermelhas, assim como o cabelo e agora o rosto do rapaz.
Como um ultimo desejo, o jovem apertou o queixo de Arthur com a mão, antes de cair na inconsciência completa.



Peter e Luigi não dormiram na mesma cama novamente. Dessa vez Peter dormiu no quarto, e Luigi dormiu no quarto de hóspedes. Quando chegaram em casa na noite anterior, nada disseram. Peter se mostrou mais fechado, e Luigi ficou com medo de que se dissesse algo, isso pudesse piorar a situação.
Peter acordou antes de o relógio marcar sete horas da manhã. Sua mala já estava pronta e encostada perto do closet. Tomou um banho, vestiu uma roupa leve e desceu as escadas, rumo á cozinha.
Luigi se encontrava perto do armário onde eram guardados os copos e taças de bebidas, tirando uma xícara do armário, quando Peter entrou na cozinha.
--- Bom dia --- disse ele.
--- Oi. --- Peter respondeu, abrindo a geladeira e pegando uma caixa de suco de soja. Ele abriu a caixa e bebeu o suco direto dela.
Luigi odiava quando ele fazia isso.
--- Mas que bonito --- disse Luigi, sarcástico.
Peter o fuzilou com os olhos e não disse nada.
--- Use um copo --- Luigi estendeu um copo á ele.
Peter o ignorou.
--- Já terminei.
Peter terminou de beber o suco e jogou a caixa no lixo.
Um silencio estranho reinava na cozinha.
Peter encostou-se ao balcão perto do aparelho de microondas, e Luigi ficou parado perto do armário de copos e taças.
Ninguém disse nada. Nenhum olhava nos olhos do outro. Nenhum dos dois tinha coragem de quebrar aquele silencio. Tinham medo de que se tal silencio fosse quebrado, mais coisas pudessem ser perdidas.
Quem precisa de um coração quando a pessoa que habita dentro dele está indo embora sem escolhas?
Quem precisa de uma vida se não á ninguém para dividi-la? É a mesma coisa quando nós morremos. Para que haver uma reprise, se a única coisa que veremos será aquilo que nunca mais poderemos tocar, sentir ou até mesmo amar?
Os olhos de Peter e de Luigi se encontraram. Estavam preparados para ficar um tempo separados? E quando Peter voltasse, tudo seria como antes? O amor entre eles seria algo do passado ou ele continuaram perdidamente apaixonados?
Nenhum dos dois sabia dizer.
Antes que as palavras começassem a se formar, um som de uma buzina de carro interrompeu o silencio.
Luigi franziu a testa.
--- Quem é? --- perguntou.
Peter respirou fundo antes de responder.
--- Christopher. Ele veio me dar carona para o aeroporto.
A testa de Luigi franziu ainda mais. Decidiu não fazer mais perguntas.
--- Okay.
Peter assentiu com a cabeça e saiu da cozinha para pegar a mala que estava no carro. Menos de um minuto depois já estava de volta, na sala.
Luigi estava á poucos metros da porta, parado.
--- Bom, eu te ligo quando eu chegar lá --- Peter disse, pegando na alça da mala.
--- Certo --- Luigi assentiu com a cabeça e cruzou os braços.
--- Certo.
Peter foi até Luigi, mas passou direto por ele, indo até a porta e abrindo-a.
Luigi viu um carro preto, parado perto do jardim. Christopher estava no volante, com os cabelos penteados para trás.
Peter segurou a maçaneta da porta, esperando que algo acontecesse. E ele estava certo. Menos de 2 segundos, Luigi estava com os braços em volta de sua cintura.
Peter virou o rosto para o lado e olhou para Luigi. Seus olhos mostravam toda a tristeza do mundo.
--- Volte logo --- disse Luigi, sussurrando.
Peter respirou fundo para não chorar e respondeu, também sussurrando.
--- Voltarei. Eu te amo.
Peter sentiu a respiração quente de Luigi em seu pescoço. Christopher continuava ali, olhando para a cena em que ele era apenas um personagem secundário, sem falas ou sem ação. Ele nem sequer fazia parte daquele mundo.
Peter se virou e abraçou Peter, passando a mão na sua nuca e sentindo a textura fina de seus cabelos. Quando afastou o rosto, deu um beijo em Luigi.
Christopher continuava ali.
Peter passou o polegar sobre o maxilar de Luigi e se afastou. No segundo seguinte, Peter estava perto do carro, ainda olhando para ele.
Christopher sorriu quando Peter se aproximou. Estava radiante que aquela cena romântica tivesse acabado. Na mente dele, era agora Luigi que virara um personagem secundário.
Quando Peter se sentou ao seu lado, ele arrancou o carro e seguiu em direção á rua.


Luigi ficou ali pelo menos um minuto. Estava vendo o motivo de sua existência sendo arrancado á força. Sentia que uma parte dele, que era vital para sua vida, estava sendo levada para o oceano. E não estava?
Luigi sabia que o oceano levava á muitos lugares. Mas este mesmo oceano conseguiria trazer seu amor de volta? Ele cuidaria bem do seu amado e o traria de volta para casa?
Luigi não tinha tanta certeza.
Quando fechou a porta, sentiu falta de ar. Seus joelhos dobraram e a palma da sua mão encontrou o chão frio de mármore. Luigi ofegava, e sua cabeça dava voltas rápidas e contínuas. Pensou estar desmaiando, mas isso não aconteceu. Quando seu tronco encostou-se ao chão, seguido por sua cabeça, uma onda de dor, medo e angustia tomou seu coração.
Ele fechou os olhos e esperou que sua respiração voltasse ao normal. Ou que o seu mundo voltasse á ser como era antes.
Quando pode respirar melhor, uma lágrima quente correu sobre seu rosto e ele fechou os olhos. Não queria ver mais nada.



Logo quando chegou ao aeroporto, Peter já se sentia melhor. Achou que quando saísse de casa, seria a ultima vez que teria Luigi só para ele. Mas chegando no aeroporto, seu coração já estava mais leve, pois sentia que Luigi continuaria lá, esperando.
Christopher tentou algumas vezes iniciar uma conversa, mas Peter não lhe deu muita atenção, ficando calado a maior parte do tempo.
Encontraram os outros decoradores sentados em cadeiras enfileiradas, e se dirigiram até eles. O avião, disseram os outros decoradores, iria atrasar uma hora.
Peter se sentou em uma cadeira vazia para esperar o tempo passar. Agradeceu por não ter cadeiras vazias ao seu lado; não queria conversar com ninguém sobre tecidos, texturas, cores ou formas. Mesmo antes da viagem começar, já estava cansado.
Peter queria mesmo era estar em casa, com Luigi. Seja dormindo, fazendo amor, ou apenas abraçados enquanto tomavam banho juntos, era isso que Peter queria.
Enquanto pensava no que faria se estivesse em casa, os olhos de Peter se desviaram para uma loja de presentes que estava á poucos metros dele. Ele olhava mais precisamente para um dos presentes que estava na vitrine da loja.
Peter se levantou e caminhou até a loja. Não ouviu quando Christopher chamou sua atenção.
--- Peter, aonde vai? --- disse ele.
Peter só tinha olhos para o tal presente.
O objeto era quadrado e tinha uma série de botões que eram familiares á Peter. Ao lado do objeto havia uma placa dizendo o preço: Novecentos e noventa reais.
Enquanto olhava para o objeto, uma moça alta, com os cabelos presos em um coque veio até a porta e falou com Peter.
--- Quer alguma ajuda, gato?
Ela usava uma camiseta vermelha com o logotipo da loja estampado na parte da frente.
--- Sim --- disse Peter --- Eu vou levar aquela câmera ali.
A mulher olhou para a vitrine e perguntou.
--- Qual? A digital?
--- Não. A profissional.
--- Por aqui, sim?
A atendente fez sinal para que Peter a seguisse até o interior da loja, e ele assim fez.
Enquanto pegava a maquina, a atendente tentou puxar conversa com Peter.
--- Essa é uma boa câmera. Sua mulher com certeza vai ficar linda nas fotos.
Peter olhou de forma estranha para a atendente.
--- Não tenho mulher.
--- Bom, sua namorada então.
Peter sorriu, sem saber o que dizer. Não percebeu que Christopher estava atrás dele, ouvindo a conversa.
--- Na verdade, isso é um presente para o meu namorado.
A atendente achou não ter entendido direto.
--- Namorado?
--- Exatamente --- Peter tinha um sorriso lindo no rosto.
A atendente corou e sorriu meio sem graça ao responder.
--- Bom, espero que ele goste.
Antes que Peter pudesse responder, Christopher pegou na mão dele e disse:
--- Eu amei.
A atendente ficou mais constrangida e terminou de embrulhar a câmera.
Peter ficou sem reação. Pagou a câmera com o cartão de crédito e saiu da loja, com as mãos ainda entrelaçadas com Christopher.
Peter soltou sua mão sem cerimônia ou delicadeza alguma, e Christopher percebeu isso.
--- Nossa --- disse quando viu sua mão ser praticamente jogada por Peter.
Peter o fuzilou e apressou o passo para o grupo de decoradores.
O tempo custou á passar. Mas, para a alegria de todos, passou. Alguns minutos depois, todos estavam passando por um detector de metais.
Quando Peter passou pelo detector, sentiu algo estranho dentro dele.
Perto dali havia uma parede com uma grande janela, da onde era possível ver o avião.
Não sabia o que sentia. Talvez a sensação de estar sendo levado para longe sem a pessoa mais importante da sua vida. Ou pudesse ser a sensação de perda que sentia. Não sabia dizer.
Parou, olhando para o imponente avião. Teve a sensação que suas pernas iriam ganhar vida própria e voltar correndo para casa.
Quando olhou para trás, viu o saguão que estivera minutos atrás.
Praticamente levou um choque.
Luigi estava ali. Sim, era ele, todo lindo e perfeito. Estava ali, á alguns metros do vidro que havia ao lado do detector de metais. Ele sorria, e seus lábios se moviam devagar.
Peter entendeu o que ele estava dizendo.
Você é a minha vida, e eu te amo.
Peter deu um sorriso e deu um passo em direção ao vidro.
Christopher estava atrás dele, sem entender nada.
Enquanto Peter olhava para Luigi, uma executiva usando sapatos Chanel, camisa social e saia cáqui estilo Caroline Herrera passou na frente de Luigi, estragando o momento.
Luigi não estava mais ali. Nunca estivera. Se foi uma ilusão criada por sua mente ou coisa parecida, Peter não sabia. Só o que sabia é que Luigi nunca estivera ali.
Seu coração doeu com a ilusão. Mais do que nunca tinha vontade de voltar para casa e fazer amor com Luigi.
Christopher tocou em seu ombro e disse:
--- Peter, vamos? Estão todos nos esperando.
Peter voltou a realidade e encarou Christopher. Os outros decoradores estavam ali, olhando curiosos para Peter.
--- Sim, vamos.
Peter conseguiu controlar as pernas e seguiu pelo corredor em tons de azul, e logo chegou á porta do avião.
Mais do que nunca, Peter se sentiu sozinho. Olhando para frente, viu o presente desenhado em apenas um símbolo: Um ponto de interrogação.
Achou o seu lugar no avião, que ficava ao lado da janela.
Quando se sentou e olhou para fora, viu a cidade se estender por todo o horizonte.
Pensou no seu amor, em casa, sozinho. Tinha deixado Luigi para... Trabalhar? Ou para...
Não. Não pode ser isso. Estou aqui por motivos profissionais. Christopher não tem nada á ver com isso.
Peter fechou a cortina da janela, pegou os fones de ouvido e o ligou no seu aparelho tocador de musica.
Fechou os olhos e contou as batidas do seu coração. Teve medo de que aquelas batidas um dia cessassem e Luigi não estivesse ao seu lado para segurar sua mão.
Uma lágrima quente correu por seu rosto. Seus belos olhos azuis estavam mergulhado em um oceano.
Tinha medo de se afogar. Tinha de que um dia olhasse para o lado e não visse Luigi ao seu lado.
Quando o avião decolou, seus olhos ainda estavam fechados, e as lágrimas ainda corriam pelo seu rosto.
Afundou-se nas lembranças e ficou á deriva dos seus pensamentos. A lembrança mais viva e forte da mente de Peter era de os lábios de Luigi junto aos seus.
Eu te amo, fique comigo para sempre, foi seu ultimo pensamento antes de adormecer.