O Fim?
Demorou até o sexto toque para que Will atendesse o telefone. Tinha ficado acordado até tarde na noite passada, pensando.
Mau humorado, atendeu o telefone.
--- Alo?
--- Will?
--- O que é, Mick?
Mick estava ligando da sede da FordModels, seu olho já estava bem melhor.
--- Foi ao médico?
Will fechou os olhos lentamente. Estava com medo de que suas suspeitas estivessem corretas.
14 homens diferentes. 14 chances de estar...
Não. Não podia estar.
--- Ainda não fui ao médico --- respondeu Will --- Quero esperar um tempo.
Mick pareceu ficar também de mau humor.
--- Quer esperar o vírus contaminar mais ainda seu organismo? Dá uma chacoalhada para misturar mais.
Will ficou mudo. Tal comentário não ajudou muito.
--- Desculpe --- disse Mick --- É que... Estou preocupado.
--- Eu sei. Agradeço sua preocupação, mas eu quero esperar até que o Peter vá viajar.
--- Esperar? Por que?
--- Não sei. Talvez com ele indo viajar, as coisas mudem um pouco e eu fique preparado.
Mick suspirou fundo.
--- Will, cara, quanto mais rápido você fazer os exames, mas rápido essa agonia some.
--- Não estou agoniado --- respondeu Will.
--- Mas eu estou.
Nesse momento Will sorriu. Gostou da sensação de ter alguém preocupado com ele.
Mas sabia que isso era só o começo. Dali a pouco tempo, os garotos também estariam preocupado.
Will achou a solução perfeita. Para que fazer Peter ir viajar á trabalho estando preocupado com ele? Era melhor Peter trabalhar em paz e já saber os resultados quando voltasse.
Quais seriam esses resultados? Will não sabia dizer.
--- Mick, valeu, de verdade. Vou hoje fazer os exames.
Mick relaxou um pouco.
--- Isso, faça isso. Geralmente demora umas duas semanas para os resultados ficarem prontos.
--- Eu sei. Você não contou a ninguém, não é?
--- Não. Você praticamente me obrigou a não contar.
--- É melhor assim. Mick, vou desligar. Tenho que tomar um banho e sair depois.
--- Certo. Quer que eu vá com você no hospital?
--- Não precisa.
--- Okay. Ligue-me se precisar.
--- Ainda está na casa do Peter?
--- Sim, mas me ligue no celular.
--- Certo. Beijo querido.
--- Beijo.
Que tipos de idiotas freqüentam festas desse tipo? Pensou Mick.
Não o Will.
Will está procurando companhia nos lugares errados. Ele espera que, quando o cara acordar na manhã seguinte, ele o abraça e beije o seu pescoço.
Mas não era isso que acontecia. Will sempre acordava com um desconhecido que não sabia nem o seu nome.
As costas de Luigi estavam doloridas por ter dormido no sofá a noite inteira. Se sentou e esticou a coluna, colocando os braços para cima. Ainda estava vestido com a roupa da noite anterior. Nem os sapatos ele tirara quando deitou no sofá.
Ouviu o barulho de gavetas sendo abertas do andar de cima. Olhou para a escada e se perguntou se deveria subir e conversar com Peter.
Ou se deveria, pelo menos, dizer bom dia. Não sabia o que ia fazer, mas subiu os degraus um de cada vez.
Quando chegou ao seu quarto, a porta do closet estava aberta e Peter olhava desconfiado para duas camisas sociais.
--- Leve as duas, camisas sociais nunca são demais --- disse Luigi, encostando-se ao batente da porta.
Peter se surpreendeu ao ver Luigi parado ali, não o tinha ouvido subir as escadas.
--- Boa idéia --- respondeu.
Peter começou a dobrar as camisas e depois as colocou em uma mala de viagem que estava próximo da cama.
--- Vai levar muita roupa? --- perguntou Luigi.
--- Sim.
Luigi balançou a cabeça positivamente, desviando dos olhos de Peter.
Vendo Peter fazer as malas, a sensação de perda da noite seguinte o dominou mais uma vez. Tinha medo de que aquela fosse a ultima vez que dividiria o mesmo espaço com ele.
--- Quer conversar? --- Luigi disse.
Peter suspirou alto e pegou três calças jeans que já estavam dobradas dentro do closet.
--- Eu estive pensando --- ele começou a arranjar espaço dentro da mala --- Essa viagem vai ser boa para nós.
--- Vai?
--- Claro. Vamos ficar três semanas separados. Quando voltarmos, vamos saber como a situação vai ficar.
--- Então... Estamos dando um tempo?
Peter parou o que estava fazendo e encarou Luigi. Não era o que estava querendo dizer! Dar um tempo é deixar a pessoa livre para fazer o que bem entende, e Peter não queria isso.
--- Não. Só estamos...
--- Estamos...?
Peter suspirou e respondeu.
--- Não sei, Luigi, não sei. Você quer dar um tempo?
A resposta foi rápida como um raio, sem a necessidade de pensar á respeito.
--- Não.
--- Então ótimo.
--- Tá.
--- Certo.
--- Legal.
--- Ok.
Peter entrou novamente no closet para pegar mais algumas roupas. Não ia precisar de tanta roupa, mas era melhor ir prevenido.
--- Nós vamos na Times hoje á noite? --- Luigi perguntou.
--- Sim, não vamos? Mick está animado.
--- Certo. E em que carro nós vamos?
--- Tanto faz. No seu carro?
--- Certo.
Monólogos. Conversa estranha para um casal de quase cinco anos. Aquela viagem parecia algo como “A Ultima Ceia”, algo que acontece antes de uma grande perda.
Peter terminou de arrumar a mala e fechou o zíper da mesma. Pegou a mala e a colocou no chão, perto da porta do quarto.
Quando levantou a cabeça, encontrou os olhos de Luigi encarando-o. Não sabia o que estava querendo dizer.
Peter sorriu meio sem graça, desviando o rosto para o chão. Ia saindo do quarto, quando sentiu a mão de Luigi segurar o seu braço.
Luigi não conseguiu dizer nada de importante, a não ser duas palavras que pareciam erradas naquela hora.
--- Desculpe-me.
Peter tentou sorrir, mas não conseguiu. Seu único movimento foi o de passar o polegar sobre os maxilares de Luigi, para depois se virar e descer as escadas.
Tal toque fez os olhos de Luigi se fecharem lentamente. Fazia semanas que não sentia o toque suave das mãos de Peter.
Luigi ficou ali, vendo Peter desaparecer. Suas pernas dobraram e ele sentou no chão, com a coluna encostada no batente da porta aberta.
Will estava com as mãos dentro do bolso da calça, enquanto observava a fachada da clinica onde iria fazer o teste de HIV. Abaixo do nome da clinica havia o esquema de DNA pintado de azul e vermelho.
Apenas um teste, pensou Will, e daqui á duas semanas, o resultado.
Duas semanas. Will se perguntou se realmente queria ficar duas semanas mergulhado em profunda agonia e dúvida.
Mas o que seria realmente pior? Saber que estava doente, ou ficar esperando a confirmação de que estava realmente doente?
Will se perguntou o que seriam nossas vidas se não algo profundamente delicado. A vida poderia ser descrita como uma taça de cristal, enquanto o resto do mundo era representado por uma parede revestida de cimento. Se chegar muito perto dessa parede, pode ser capaz de arranhar o vidro, deixando um arranhão que o tempo não ajudaria á apagar.
Will tomou uma decisão. Deu meia volta e caminhou para longe da clinica. Inventaria alguma historia para Mick, se fosse necessário.
Era por esse motivo que não quis que Mick fosse com ele até a clinica. Mick não deixaria Will sair dali sem ter feito a coleta de sangue para o exame.
Caminhou durante alguns minutos, sem realmente olhar para onde ia. Quando deu por si, estava em uma rua bem movimentada do centro. A rua era cercada por cafeterías, livrarias, lojas de DVD e estúdios de piercing e tatuagem.
Enquanto passava por um estúdio de aplicação de Piercing, á alguns metros de distancia, um rapaz saía de uma livraria, bebendo um café feito para viagem e segurando uma sacola com um livro dentro.
Aquele rapaz era muito familiar. Era alto, tinha ombros largos como se tivesse feito natação durante a infância. Mas não foi isso que chamou a atenção de Will. Foram outras duas coisas.
Esse rapaz estava usando, apesar do calor suportável que estava fazendo, um blazer preto, calça jeans azul e um cachecol em volta do pescoço. A ponta maior do cachecol estava sobre suas costas, chegando á altura das sobras do joelho.
Outro detalhe que Will não pode deixar de reparar foi a cabeça completamente raspada do jovem. Uns poucos fios voltavam a crescer.
O jovem acabou se distraindo, fazendo com que seu cachecol desenrolasse do pescoço e caísse na calçada, perto dos seus pés;
Foi o que bastou.
Depois de esse jovem virar para pegar o cachecol caído no chão, encontrou os olhos de Will o observando.
Anos se passaram em segundos. Dias se passaram em milésimos. Emoções e lembranças passaram na mente dos dois como se fosse um vídeo sendo acelerado.
Will sentiu duas pontadas: Uma de alegria, e outra de duvida.
O jovem ainda estava parado, encarando Will. Não sabia o que dizer.
Will deu alguns passos á frente, ficando á apenas um metro de distancia do jovem.
Seus olhos estavam contemplando o seu amor perdido. Will pensava que aquilo nunca mais fosse acontecer. Depois de quase um ano de espera, duvidas e ligações que nunca foram atendidas ou retornadas, Will finalmente teve um breve momento de paz.
Seu coração estava acelerado.
--- Seth?
O jovem encarou-o mais uma vez, decidindo se aquilo era o melhor a fazer.
Não tenho muito tempo mesmo, pensou o jovem, que mal isso poderia fazer? Talvez isso seja o mínimo que ele merece, mas o máximo que eu tenho á oferecer á ele.
--- Oi Will. Você está...
Seth foi interrompido pelo abraço repentino de Will.
Não conseguiu abraça-lo. Teve medo de que se o fizesse, todo esse um ano sumisse da sua mente e ele teria que encarar a vida de frente.
Ficou apenas parado, sentindo Will o abraçar fortemente.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Tal frase fazia a mente de Seth pegar fogo. Na única vez que dera alguma satisfação para Will depois de sumir, ele usara essa frase para fazer Will se sentir magoado.
Seth se sentia um covarde. Um verme.
Lembrou-se da tarde em que descobrira que o seu tempo de vida estava impresso em uma folha de papel. Estava tudo lá: Quanto tempo de vida, as possíveis chances da doença “estacionar”, o quanto de tempo ele teria que aguardar na fila de doadores.
Seth era filho único, e seu pai havia morrido quando ele tinha apenas seis anos. Os possíveis doadores eram apenas seus pais, e se tivesse algum irmão.
Na tinha irmão algum. Seu pai era falecido e sua mãe não era compatível. Como conseguiria aguardar mais de dois anos em uma fila de doadores, se seu corpo agüentaria menos de um ano? Logo seu cabelo, que antes era de um belo castanho-escuro se transformou em uma penugem rala. Logo em seguida, Seth os raspou totalmente.
E a pior pergunta que pensou: Porque arrastar alguém para o tumulo comigo? Eu quero mesmo fazer-lo perder um ano da vida dele com alguém que não vai sobreviver nem onze meses?
Não podia fazer isso. Não tinha direito. Não era correto sacrificar um coração, sendo que apenas um ia parar de bater.
Seth fez como de costume: Acordou mais cedo, fez o café depois tomou banho. Esperou Will acordar, tomar banho e sair para trabalhar. Por mais doloroso que fosse, ainda disse “Eu te Amo” e lhe deu um beijo na boca, antes dele sair.
Naquele dia não foi trabalhar. Na noite anterior, tinha pedido demissão do trabalho.
O dia demorou a passar. Quando o sol estava se pondo, sentou-se à mesa da cozinha e escreveu a carta mais difícil que teria que escrever na sua vida. Ou pelo menos a carta mais difícil que escreveria no próximo um ano.
Com sua bela caligrafia, Seth escreveu:
Eu não teria coragem de dizer pessoalmente, mas isso é necessário. Eu não poderia deixar você sofrer por mim, mesmo parecendo que a intenção é totalmente inversa.
Eu te Amo.
Depois de dobrar a carta, Seth fez sua mala contendo suas roupas. Tentou não chorar quando viu suas roupas penduradas ao lado das roupas de Will.
Quando saiu do apartamento, seu plano pareceria perfeito: Sumiria pelo próximo um ano, deixando Will magoado. Se conseguisse o que queria, Seth poderia esperar pela morte. Não havia lutas contra ela. Seth não possuía armas para essa disputa.
No dia seguinte, depois de inúmeras ligações de Will e algumas ligações de Peter, Seth estava embarcando em um avião que ia para a Inglaterra. Tinha um amigo lá, e a Inglaterra seria o lugar perfeito para desaparecer.
Mas o desespero de Seth, Will estava insistente. As ligações eram praticamente á toda hora. Com muita relutância e sofrimento, Seth decidiu que o melhor á fazer era ferir profundamente o coração de Will.
Deixou uma mensagem. Apenas uma que era mais do que suficiente para destruir um coração. Palavras colocadas de maneira fria e cruel.
Não poderia mais dar certo. O motivo? Eu não te amo mais. Cresça. Viva sua vida.
Isso foi suficiente. As ligações cessaram. Por um bom tempo, Seth não pensava mais em Will.
Mas Seth teve que voltar. Sua mãe sentia uma saudade dele, e esse pedido Seth teve que atender.
Seu maior medo de voltar era o de encontrar Will.
O que diria á ele? Teria coragem de admitir as palavras escritas e as palavras ditas?
Esperava que esse dia nunca chegasse. Mas chegou.
Quando olhou para Will depois de quase um ano, um velho sentimento tocou seu coração. Um sentimento que Seth tinha reprimido e destruído. Reprimido para que ele não sofresse, e destruído para que Will não perdesse tempo esperando.
Tal sentimento trancado no fundo de seu coração tomou vida novamente, e se expandiu por todas as direções.
Will estava eufórico.
--- Seth! Meu Deus, por onde, o que você, porque, Ai meu Deus, Seth...
Não percebeu quando começou a chorar. Estava tão feliz de ver Seth novamente, mas teve medo de pensar certas coisas. Tinha medo das respostas.
Quando conseguiu segurar as lagrimas, Will encarou Seth.
--- Seth...
--- Oi Will --- disse Seth, sorrindo --- Não chore, vai.
Will estava respirando fundo para conter as lagrimas.
--- Por onde andou todo esse tempo?!
Will segurava firme nos braços de Seth, como se caso o soltasse, ele sumisse novamente.
Seth disse a primeira coisa que lhe veio á cabeça.
--- Estive viajando com uns amigos do tempo da faculdade.
--- Mas... O que houve?
A parte que Seth desejava que não chegasse se fez presente. E agora? Mais mentiras?
--- Não houve nada.
--- Como não? Você sumiu e...
--- Will, é passado. Já faz tempo.
--- Não para mim.
Seth não conseguia encarar Will, estava pensando em mais desculpas que custavam á aparecer.
--- Bom, passei um tempo lá fora, conheci pessoas novas... É isso o que aconteceu comigo.
--- E eu não mereço nenhuma explicação?
Seth mais uma vez teve que escolher o caminho que o lavava á magoar Seth.
--- William, eu não queria mais, tá legal? Digo, uma hora a gente cansa de acordar todos os dias ao lado do mesmo cara.
Will não sabia o que dizer. A terra tinha parado de girar, assim como o tempo parara de passar. Nada se movia.
--- Will, foi bom te ver --- Seth se inclinou e beijou o rosto de Will --- Mas tenho que ir agora, meu namorado está me esperando. Mande lembranças aos meninos.
Seth sorriu e deu as costas para Will. Caminhou rápido e dobrou a primeira esquina.
Will continuava paralisado. Em sua mente, aquele encontro era difícil de acreditar.
Apenas um nome ecoava em sua cabeça.
Seth.
O estacionamento da Times não ainda não estava cheio quando Peter e Luigi chegaram no carro cor prata de Luigi. Quando passaram pelo porteiro, este desejou-lhes boa noite.
Depois de entrar em uma pequena fila, passar pela entrada e serem revistados por um segurança, Peter e Luigi ouviram a musica alta que era tocada e as luzes que não paravam de piscar.
A pista principal não estava lotada. Muitos homens e poucas mulheres dividiam o espaço para dançar.
Luigi logo avistou uma escada que seguia para cima, que dava em um tipo de saguão pequeno, conhecido como Área Vip.
A Área Vip era destinada á aqueles que a alugavam por uma noite e faziam uma lista com diversos nomes. Tais nomes eram permitidos nessa área.
Peter e Luigi seguiram para a escada, mas antes tiveram que dizer seus nomes para um segurança que guardava a entrada.
--- Peter Calledon e Luigi Cortez. --- Luigi informou ao segurança.
--- Estão na lista de quem? --- perguntou o segurança.
--- Michelangelo Bernal --- respondeu Peter.
--- Certo. Podem entrar e boa festa.
Antes de passarem, o segurança deu uma munhequeira azul para Peter e Luigi, aquela munhequeira dava acesso á área vip, assim não era necessário que eles informassem o nome todas as vezes que passassem pelo segurança.
Luigi pegou na mão de Peter, e eles seguiram assim pelos 17 degraus da escada.
Quando chegaram à cima, foram aplaudidos por todos os que estavam ali.
Will estava no canto, um pouco mais afastado. Kirsten também estava lá. Usava um vestido azul com um cardigan, e para completar usava um cinto preto na cintura. Estava linda.
Mick e Arthur estavam radiantes. Gritavam, pulavam e batiam palmas para eles.
--- Finalmente chegaram --- disse Mick quando se aproximou para dar um abraço nos dois --- Pensei que não iam vir.
--- Mick estava quase falando palavrões --- falou Arthur quando deu um beijo no rosto de Luigi e depois outro em Peter.
--- Mas é claro que viríamos --- disse Luigi --- Não íamos perder a oportunidade de ficar na área vip.
--- Com certeza --- disse Peter, sorrindo --- Falando nisso, como conseguiu? Conseguir reservar essa área é quase impossível.
--- Tenho meus contatos --- disse Mick, orgulhoso.
--- Ou seja, ele transou com alguém daqui. Quem foi? --- Arthur riu quando fez o comentário.
Mick não se importou.
--- Eu não transei com ninguém. Apenas fiquei com o segurança.
--- Só ficou? --- disse Peter, fazendo cócegas na barriga de Mick, que tentava se esquivar.
--- SÓ fiquei. Na verdade, ele pediu para eu passar meu numero para ele, e quando eu o vi já estava me colocando contra a parede e segurando na minha cintura.
Peter e Luigi se entreolharam, não muito certos de que era realmente isso que tinha acontecido.
Eles se uniram ao resto do grupo e sentaram em volta da enorme mesa de vidro.
Peter ficou prestando atenção á área vip, pois nunca tinha estado lá.
As paredes eram de vidro temperado em tons de azul. Tinha bancos estofados em todas as partes e ainda possuía um bar próprio, que todas as bebidas eram gratuitas para quem estivesse ali. Os vidros causavam uma boa acústica na área, fazendo a musica da pista ficar bem baixa, mas ainda possível de se escutar.
Apesar de estarem todos juntos, as conversas eram diversas. Will ficou calado a maior parte do tempo, pensativo. Arthur e Mick conversavam bastante com Kirsten, a irmã gêmea de Peter.
Peter e Luigi não conversaram sobre nada em especial. Até certo momento.
--- E então --- disse Luigi --- Animado para ir para o maior navio do mundo?
--- Um pouco. Quero dizer, mais animado porque decorar um navio contribui muito para um portfólio.
--- Claro. Talvez você possa até ser indicado ao premio de Decorador do Ano.
Peter estava gostando que aquela conversa estivesse sendo leve e natural. Sentia falta disso.
--- Eu? Ganhando o NewCorel? Acho difícil.
--- E porque?
--- Por causa dos outros decoradores fabulosos que sempre concorrem. Imagine eu, Peter, concorrendo com a Carolina Lankaster ou com o Marcell Loui.
--- Bom, saiba que eu acho que você ganharia. Eu acredito em você.
Tais palavras lançaram Peter á lembranças de um passado não tão distante: semanas atrás, quando ele e Luigi estavam completamente felizes.
--- Obrigado. Vou pensar no assunto --- Peter sorriu e colocou a mão na perna de Luigi.
Luigi pegou a mão de Peter e entrelaçou os dedos dele com os seus.
Peter segurou no pescoço de Luigi e o puxou para um beijo apaixonado. Seguindo todos os seus desejos, Luigi ficou entre as penas de Peter, enganchando-as na sua cintura.
Se beijaram apaixonadamente, como se fosse a primeira vez. Luigi deixou a mão sobre o peito de Peter, enquanto este o puxava para mais perto. Mais perto do que já estavam.
Quando terminaram o beijo, seus lábios estavam a milímetros de distancia. Sentiam a pulsação do outro em todas as partes do seus corpos.
Peter massageava os cabelos castanhos de Luigi, enquanto este sentia o prazer do toque de Peter.
--- Eu senti falta disso --- disse Luigi, sorrindo timidamente.
--- Eu também --- respondeu Peter, feliz --- Essas ultimas semanas tem sido tão esquisitas.
--- Eu sei. Mas... Vamos conseguir. Quero dizer, podemos entortar...
--- Mas não vamos quebrar, eu sei.
--- É.
Peter e Luigi sorriram juntos. Estavam feliz que aquela antiga química entre eles tivesse voltado. Aquelas discussões sem sentido e fundamento estavam já sendo esquecidas. Aquilo poderia ser perfeito: Peter fica três semanas longe, e quando volta, ele e Luigi estão mais fortes.
Quando ficaram apenas se acariciando e praticamente deitados no sofá da área vip, uma nova figura surgiu no ambiente. Usava um blazer preto, com uma camiseta apertada cor branca, uma calça azul skinny e um tênis estilo All Star branco. No pulso usava a munhequeira azul que tinha ganhado quando passou pelo segurança.
Luigi não queria acreditar.
--- Só pode estar de brincadeira --- Olhou para Peter, como se pedisse explicações.
Peter estava sem palavras. Não achava que aquela pessoa estaria ali.
--- Você o convidou? --- Luigi perguntou baixo.
--- Claro que não.
O rapaz de aproximou do grupo e sorriu ao cumprimenta-los.
--- Oi pessoal.
Peter olhou novamente para Luigi, que já estava com os olhos revirados de mau humor.
--- Oi Christopher. Hã... O que está fazendo aqui?
--- Fui convidado, lembra?
Luigi olhou para Christopher nos olhos pela primeira vez desde que ele chegara.
--- Claro que foi --- disse Luigi --- Você não poderia deixar de estar aqui, não é?
--- Luigi! --- Peter protestou.
Os outros meninos e Kirsten olhavam com curiosidade.
Luigi se soltou das pernas de Peter e se levantou.
--- E não é verdade? Já não basta levar o Peter para longe de mim pela manhã, e ainda vem aqui para apreciar os últimos momentos?!
--- Gente, que isso, relaxem --- Mick disse, se aproximando.
--- Gente, por favor --- Falou Kirsten, cautelosa.
Christopher se defendeu.
--- Eu só vim porque fui convidado. E o que você e o Peter fazem ou deixam de fazer, não me interessa.
--- Acho difícil. Diga na frente de todos que você não tem vontade de estar no meu lugar.
--- Luigi, Christopher, parem vocês dois! --- Peter se levantou e colocou-se entre os dois --- Isso não é conversa adequada.
Christopher e Luigi ficaram se encarando. O profundo ódio que crescia entre eles era visível.
Peter se sentia em uma jaula com dois leões prontos para se devorarem.
--- Quer saber? Esqueçam. Sei quando não sou bem vindo.
Christopher se virou e foi em direção ás escadas.
--- Christopher, pare com isso, fique --- Peter disse.
--- Como é que é? --- Luigi perguntou --- Quer que ele fique?
Peter se virou para Luigi e tentou pegar em sua mãe, sem sucesso algum. Luigi se esquivou de Peter na hora.
--- Luigi, para com isso, é ridículo!
--- Não, não é. Ridículo é esse idiota querer transar com alguém que já é comprometido!
Quando Christopher ouviu o que Luigi disse, voltou e falou mais alto.
--- É, quer saber? Sim, eu estou a fim de transar com ele sim. E sabe o que mais? Se ele transasse comigo, ele saberia o que é estar com um homem de verdade! E quem sabe ele não tenha a sorte de passar a noite com um homem de verdade no navio.
O ódio nos olhos de Luigi se se espalhou pela área inteira.
Arthur e Will já estavam de pé, prontos para apartar uma possível briga.
Luigi não era um homem de usar a força bruta, mesmo tendo braços definidos. Mas seu ódio por Christopher e pelas palavras proferidas por ele fez com que o agarrasse e o segurasse pela lapela do blazer e o pressionasse contra a parede de vidro.
Com tal pressão, o som de vidro se rachando ecoou pela sala.
--- Luigi! Solte-o agora! --- Peter gritou.
Formar distorcidas começavam a aparecer no vidro enquanto Luigi continuava pressionando Christopher.
Num piscar de olhos, o segurança que ficava na porta da área vip já estava segurando Luigi pelos ombros e o levando para a porta de saída.
Arthur, Mick, Will e Kirsten estavam imóveis como estátuas.
Se debatendo contra o segurança, Luigi ainda tentou se soltar, mas não conseguiu.
Peter se virou para Christopher, preocupado.
--- Você está bem?
--- To legal --- Christopher olhou para as outras pessoas presentes na área --- Oi, e aí?
--- Caramba, o que foi aquilo? --- perguntou Mick.
--- Um típico ataque de ciúmes --- disse Kirsten.
--- E porque você tinha que falar aquelas coisas, Christopher?! --- Peter praticamente gritou.
--- Aquele cara é um idiota. Só disse minha opnião.
--- Muito obrigado --- disse Peter, indo em direção á porta --- Mick, pessoal, valeu pela presença. Agora eu tenho que correr para conseguir alcançar o Luigi.
Peter se despediu e se lançou escada abaixo.
Todos ficaram encarando Christopher, que não soube o que dizer.
Uma chuva começava a ficar mais forte quando Luigi saiu da boate e foi até o estacionamento. Ele estava colocando a chave na ignição quando Peter apareceu na janela do carro.
--- Que porra foi aquela? --- Peter berrou, com a água começando a escorrer pelo seu cabelo.
--- Foi sei chefe retardado admitindo que está querendo transar com você.
--- Cacete --- Peter se afastou do carro e começou a passar as mãos no cabelo, como se não acreditasse naquela cena de poucos minutos atrás.
--- Precisava fazer aquilo com ele? --- disse Peter.
Luigi desceu do carro, e os dois começaram a discutir no estacionamento da Times. Suas roupas e seu cabelo começaram a ficar ensopados.
--- Fazer o que? Faze-lo dizer a verdade na frente de todos?
--- Não, quase estourar o vidro usando ele!
--- Peter, cale a boca e entre no carro. Eu não quero ter essa discussão com você.
--- Não me mande calar a boca --- respondeu Peter, apontando o dedo no rosto de Luigi --- E sim, nós vamos ter essa discussão. Caralho, Luigi! Precisava de tudo aquilo?!
O segurança do estacionamento espiava sob um carro.
--- E você queria que eu fizesse o que?! Deixasse ele dizer aquelas coisas?
--- Não interessa o que ele disse! Porra, estava tudo tão legal entre nós á quinze minutos atrás e agora... --- Peter sentia as lágrimas idiotas rolarem sobre seu rosto.
Então esse seria o fim? Pensou Peter, em um estacionamento de uma boate?
Luigi se aproximou rapidamente quando viu as lágrimas em seus belo rosto.
--- Peter, amor, por favor, não ch...
--- Não encoste em mim! Fique longe de mim, Luigi!
O coração de Luigi reagiu á aquelas palavras. Foi como se tivessem mergulhado-o seu órgão vital em uma banheira repleta de gelo.
Tais palavras também causaram dor á Peter. Sabia que eram apenas palavras desesperadas, e que só significavam momentaneamente. Mas e depois? Quais os significados que elas teriam? Conseguiria suportar o peso de palavras ditas em um momento de desespero?
Luigi tentou se aproximar mais uma vez, mas encontrou um Peter que ele não conhecia. Frio, nervoso, furioso.
Em um momento de distração do novo Peter, Luigi agarrou seus pulsos e o forçou a encostar sua cabeça em seu peito.
Peter não resistiu. Não tinha coragem e nem força para tal feito.
Luigi o levou em direção ao carro, mas antes de chegar até lá, Peter se soltou e caminhou até o banco do carona.
Bateu a porta quando sentou ao banco.
Luigi já estava ao seu lado quando tentou pedir desculpas.
--- Amor, por favor, eu não queria...
--- Dirija --- Foi apenas o que Peter respondeu. Seus olhos ainda estavam inundados de lágrimas.
Luigi suspirou alto e ligou o carro.
Tentou conversar, pedir desculpas, mas aquele outro Peter permaneceu frio e calado o trajeto inteiro de volta pra casa.
A chuva estava mais forte quando eles saíram da boate.
--- Alguém quer carona? --- perguntou Will.
--- Eu quero --- disse Kirsten.
--- Dois --- respondeu Mick.
Eles esperavam a resposta de Arthur.
--- Não Will, valeu. Gosto de andar na chuva.
--- Tem certeza? --- disse Will, tentando convence-lo --- Por mim tudo bem.
--- Não, é sério, eu vou caminhando. Falo com vocês amanhã.
Arthur deu as costas e começou a caminhar sob a chuva. Não ligava de ficar molhado, sua casa ficava á menos de vinte minutos dali.
Enquanto caminhava, lembrou-se de Bob. Estava feliz com ele e tudo mais, mas não queria uma relação como aquela. Queria alguém mais... Homem. E Bob podia ser considerado uma criança.
Caminhava pulando sobre as poças de água que se formavam na calçada. A única coisa que o incomodava era a sua meia estar molhada. Sentia agonia de meias molhadas.
Enquanto olhava para baixo, ouviu passos apresados em sua direção. Olhou para frente e não viu nada. Deserto total.
Quando virou a cabeça para trás, uma figura vestida de preto corria em sua direção. Usava um sobretudo estilo gótico que lhe caia até a panturrilha. Seu cabelo, assim como o resto do seu corpo e de suas roupas, estava completamente molhado por causa da chuva que ficava cada vez mais forte.
Os reflexos de Arthur estavam lentos. No mesmo instante que viu esse rapaz, no instante seguinte o rapaz se chocou contra ele.
Seus olhos refletiam o medo. Um pouco de suplica, talvez.
O rapaz segurou nos ombros de Arthur e perdeu o equilíbrio. Arthur passou as duas mãos nas costas e depois na cintura do rapaz, segurando-o.
Com uma mão, Arthur o segurava, e com a outra começou a tocar o rosto do jovem, que parecia estar desmaiando.
Foi quando Arthur sentiu medo. Seus dedos que antes estavam molhados pela chuva, agora apareciam pintados de um vermelho-sangue. Sua mão se encontrava enlameada de sangue vindo das costas daquele rapaz. Percebeu que o sobretudo preto também tinha manchas vermelhas, assim como o cabelo e agora o rosto do rapaz.
Como um ultimo desejo, o jovem apertou o queixo de Arthur com a mão, antes de cair na inconsciência completa.
Peter e Luigi não dormiram na mesma cama novamente. Dessa vez Peter dormiu no quarto, e Luigi dormiu no quarto de hóspedes. Quando chegaram em casa na noite anterior, nada disseram. Peter se mostrou mais fechado, e Luigi ficou com medo de que se dissesse algo, isso pudesse piorar a situação.
Peter acordou antes de o relógio marcar sete horas da manhã. Sua mala já estava pronta e encostada perto do closet. Tomou um banho, vestiu uma roupa leve e desceu as escadas, rumo á cozinha.
Luigi se encontrava perto do armário onde eram guardados os copos e taças de bebidas, tirando uma xícara do armário, quando Peter entrou na cozinha.
--- Bom dia --- disse ele.
--- Oi. --- Peter respondeu, abrindo a geladeira e pegando uma caixa de suco de soja. Ele abriu a caixa e bebeu o suco direto dela.
Luigi odiava quando ele fazia isso.
--- Mas que bonito --- disse Luigi, sarcástico.
Peter o fuzilou com os olhos e não disse nada.
--- Use um copo --- Luigi estendeu um copo á ele.
Peter o ignorou.
--- Já terminei.
Peter terminou de beber o suco e jogou a caixa no lixo.
Um silencio estranho reinava na cozinha.
Peter encostou-se ao balcão perto do aparelho de microondas, e Luigi ficou parado perto do armário de copos e taças.
Ninguém disse nada. Nenhum olhava nos olhos do outro. Nenhum dos dois tinha coragem de quebrar aquele silencio. Tinham medo de que se tal silencio fosse quebrado, mais coisas pudessem ser perdidas.
Quem precisa de um coração quando a pessoa que habita dentro dele está indo embora sem escolhas?
Quem precisa de uma vida se não á ninguém para dividi-la? É a mesma coisa quando nós morremos. Para que haver uma reprise, se a única coisa que veremos será aquilo que nunca mais poderemos tocar, sentir ou até mesmo amar?
Os olhos de Peter e de Luigi se encontraram. Estavam preparados para ficar um tempo separados? E quando Peter voltasse, tudo seria como antes? O amor entre eles seria algo do passado ou ele continuaram perdidamente apaixonados?
Nenhum dos dois sabia dizer.
Antes que as palavras começassem a se formar, um som de uma buzina de carro interrompeu o silencio.
Luigi franziu a testa.
--- Quem é? --- perguntou.
Peter respirou fundo antes de responder.
--- Christopher. Ele veio me dar carona para o aeroporto.
A testa de Luigi franziu ainda mais. Decidiu não fazer mais perguntas.
--- Okay.
Peter assentiu com a cabeça e saiu da cozinha para pegar a mala que estava no carro. Menos de um minuto depois já estava de volta, na sala.
Luigi estava á poucos metros da porta, parado.
--- Bom, eu te ligo quando eu chegar lá --- Peter disse, pegando na alça da mala.
--- Certo --- Luigi assentiu com a cabeça e cruzou os braços.
--- Certo.
Peter foi até Luigi, mas passou direto por ele, indo até a porta e abrindo-a.
Luigi viu um carro preto, parado perto do jardim. Christopher estava no volante, com os cabelos penteados para trás.
Peter segurou a maçaneta da porta, esperando que algo acontecesse. E ele estava certo. Menos de 2 segundos, Luigi estava com os braços em volta de sua cintura.
Peter virou o rosto para o lado e olhou para Luigi. Seus olhos mostravam toda a tristeza do mundo.
--- Volte logo --- disse Luigi, sussurrando.
Peter respirou fundo para não chorar e respondeu, também sussurrando.
--- Voltarei. Eu te amo.
Peter sentiu a respiração quente de Luigi em seu pescoço. Christopher continuava ali, olhando para a cena em que ele era apenas um personagem secundário, sem falas ou sem ação. Ele nem sequer fazia parte daquele mundo.
Peter se virou e abraçou Peter, passando a mão na sua nuca e sentindo a textura fina de seus cabelos. Quando afastou o rosto, deu um beijo em Luigi.
Christopher continuava ali.
Peter passou o polegar sobre o maxilar de Luigi e se afastou. No segundo seguinte, Peter estava perto do carro, ainda olhando para ele.
Christopher sorriu quando Peter se aproximou. Estava radiante que aquela cena romântica tivesse acabado. Na mente dele, era agora Luigi que virara um personagem secundário.
Quando Peter se sentou ao seu lado, ele arrancou o carro e seguiu em direção á rua.
Luigi ficou ali pelo menos um minuto. Estava vendo o motivo de sua existência sendo arrancado á força. Sentia que uma parte dele, que era vital para sua vida, estava sendo levada para o oceano. E não estava?
Luigi sabia que o oceano levava á muitos lugares. Mas este mesmo oceano conseguiria trazer seu amor de volta? Ele cuidaria bem do seu amado e o traria de volta para casa?
Luigi não tinha tanta certeza.
Quando fechou a porta, sentiu falta de ar. Seus joelhos dobraram e a palma da sua mão encontrou o chão frio de mármore. Luigi ofegava, e sua cabeça dava voltas rápidas e contínuas. Pensou estar desmaiando, mas isso não aconteceu. Quando seu tronco encostou-se ao chão, seguido por sua cabeça, uma onda de dor, medo e angustia tomou seu coração.
Ele fechou os olhos e esperou que sua respiração voltasse ao normal. Ou que o seu mundo voltasse á ser como era antes.
Quando pode respirar melhor, uma lágrima quente correu sobre seu rosto e ele fechou os olhos. Não queria ver mais nada.
Logo quando chegou ao aeroporto, Peter já se sentia melhor. Achou que quando saísse de casa, seria a ultima vez que teria Luigi só para ele. Mas chegando no aeroporto, seu coração já estava mais leve, pois sentia que Luigi continuaria lá, esperando.
Christopher tentou algumas vezes iniciar uma conversa, mas Peter não lhe deu muita atenção, ficando calado a maior parte do tempo.
Encontraram os outros decoradores sentados em cadeiras enfileiradas, e se dirigiram até eles. O avião, disseram os outros decoradores, iria atrasar uma hora.
Peter se sentou em uma cadeira vazia para esperar o tempo passar. Agradeceu por não ter cadeiras vazias ao seu lado; não queria conversar com ninguém sobre tecidos, texturas, cores ou formas. Mesmo antes da viagem começar, já estava cansado.
Peter queria mesmo era estar em casa, com Luigi. Seja dormindo, fazendo amor, ou apenas abraçados enquanto tomavam banho juntos, era isso que Peter queria.
Enquanto pensava no que faria se estivesse em casa, os olhos de Peter se desviaram para uma loja de presentes que estava á poucos metros dele. Ele olhava mais precisamente para um dos presentes que estava na vitrine da loja.
Peter se levantou e caminhou até a loja. Não ouviu quando Christopher chamou sua atenção.
--- Peter, aonde vai? --- disse ele.
Peter só tinha olhos para o tal presente.
O objeto era quadrado e tinha uma série de botões que eram familiares á Peter. Ao lado do objeto havia uma placa dizendo o preço: Novecentos e noventa reais.
Enquanto olhava para o objeto, uma moça alta, com os cabelos presos em um coque veio até a porta e falou com Peter.
--- Quer alguma ajuda, gato?
Ela usava uma camiseta vermelha com o logotipo da loja estampado na parte da frente.
--- Sim --- disse Peter --- Eu vou levar aquela câmera ali.
A mulher olhou para a vitrine e perguntou.
--- Qual? A digital?
--- Não. A profissional.
--- Por aqui, sim?
A atendente fez sinal para que Peter a seguisse até o interior da loja, e ele assim fez.
Enquanto pegava a maquina, a atendente tentou puxar conversa com Peter.
--- Essa é uma boa câmera. Sua mulher com certeza vai ficar linda nas fotos.
Peter olhou de forma estranha para a atendente.
--- Não tenho mulher.
--- Bom, sua namorada então.
Peter sorriu, sem saber o que dizer. Não percebeu que Christopher estava atrás dele, ouvindo a conversa.
--- Na verdade, isso é um presente para o meu namorado.
A atendente achou não ter entendido direto.
--- Namorado?
--- Exatamente --- Peter tinha um sorriso lindo no rosto.
A atendente corou e sorriu meio sem graça ao responder.
--- Bom, espero que ele goste.
Antes que Peter pudesse responder, Christopher pegou na mão dele e disse:
--- Eu amei.
A atendente ficou mais constrangida e terminou de embrulhar a câmera.
Peter ficou sem reação. Pagou a câmera com o cartão de crédito e saiu da loja, com as mãos ainda entrelaçadas com Christopher.
Peter soltou sua mão sem cerimônia ou delicadeza alguma, e Christopher percebeu isso.
--- Nossa --- disse quando viu sua mão ser praticamente jogada por Peter.
Peter o fuzilou e apressou o passo para o grupo de decoradores.
O tempo custou á passar. Mas, para a alegria de todos, passou. Alguns minutos depois, todos estavam passando por um detector de metais.
Quando Peter passou pelo detector, sentiu algo estranho dentro dele.
Perto dali havia uma parede com uma grande janela, da onde era possível ver o avião.
Não sabia o que sentia. Talvez a sensação de estar sendo levado para longe sem a pessoa mais importante da sua vida. Ou pudesse ser a sensação de perda que sentia. Não sabia dizer.
Parou, olhando para o imponente avião. Teve a sensação que suas pernas iriam ganhar vida própria e voltar correndo para casa.
Quando olhou para trás, viu o saguão que estivera minutos atrás.
Praticamente levou um choque.
Luigi estava ali. Sim, era ele, todo lindo e perfeito. Estava ali, á alguns metros do vidro que havia ao lado do detector de metais. Ele sorria, e seus lábios se moviam devagar.
Peter entendeu o que ele estava dizendo.
Você é a minha vida, e eu te amo.
Peter deu um sorriso e deu um passo em direção ao vidro.
Christopher estava atrás dele, sem entender nada.
Enquanto Peter olhava para Luigi, uma executiva usando sapatos Chanel, camisa social e saia cáqui estilo Caroline Herrera passou na frente de Luigi, estragando o momento.
Luigi não estava mais ali. Nunca estivera. Se foi uma ilusão criada por sua mente ou coisa parecida, Peter não sabia. Só o que sabia é que Luigi nunca estivera ali.
Seu coração doeu com a ilusão. Mais do que nunca tinha vontade de voltar para casa e fazer amor com Luigi.
Christopher tocou em seu ombro e disse:
--- Peter, vamos? Estão todos nos esperando.
Peter voltou a realidade e encarou Christopher. Os outros decoradores estavam ali, olhando curiosos para Peter.
--- Sim, vamos.
Peter conseguiu controlar as pernas e seguiu pelo corredor em tons de azul, e logo chegou á porta do avião.
Mais do que nunca, Peter se sentiu sozinho. Olhando para frente, viu o presente desenhado em apenas um símbolo: Um ponto de interrogação.
Achou o seu lugar no avião, que ficava ao lado da janela.
Quando se sentou e olhou para fora, viu a cidade se estender por todo o horizonte.
Pensou no seu amor, em casa, sozinho. Tinha deixado Luigi para... Trabalhar? Ou para...
Não. Não pode ser isso. Estou aqui por motivos profissionais. Christopher não tem nada á ver com isso.
Peter fechou a cortina da janela, pegou os fones de ouvido e o ligou no seu aparelho tocador de musica.
Fechou os olhos e contou as batidas do seu coração. Teve medo de que aquelas batidas um dia cessassem e Luigi não estivesse ao seu lado para segurar sua mão.
Uma lágrima quente correu por seu rosto. Seus belos olhos azuis estavam mergulhado em um oceano.
Tinha medo de se afogar. Tinha de que um dia olhasse para o lado e não visse Luigi ao seu lado.
Quando o avião decolou, seus olhos ainda estavam fechados, e as lágrimas ainda corriam pelo seu rosto.
Afundou-se nas lembranças e ficou á deriva dos seus pensamentos. A lembrança mais viva e forte da mente de Peter era de os lábios de Luigi junto aos seus.
Eu te amo, fique comigo para sempre, foi seu ultimo pensamento antes de adormecer.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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