domingo, 1 de novembro de 2009

Capitulo 15.

Reta Final.


Os braços de Luigi ainda envolviam o peito de Peter pela manhã. Decidiram que iam passar o dia inteiro juntos. Iam faltar ao trabalho, sem se importar com as implicações que isso teria. Precisavam disso.
Mas os planos não teriam futuro.
A campainha da porta da frente tocou.
Tocou de novo.
Mais uma vez.
--- Esse porteiro deveria ser despedido --- disse Peter, sonolento --- ele deixa qualquer um entrar, e á qualquer hora!
--- Vou ver quem é --- disse Luigi, se levantando da cama.
Mas Peter foi mais rápido e puxou-o de volta.
--- Não demore --- disse, passando a mão sobre as costas dele.
Luigi de um beijo delicioso em Peter antes de descer as escadas.
Tinha colocado o roupão e estava fazendo um laço na parte da frente quando chegou até a porta.
Quando a abriu, não fazia a mínima idéia de que fosse.
A garota que se encontrava na sua porta era loura, com a pele um pouco queimada de sol. Os cabelos iam até o queixo, mas pareciam que foram cortados com tesouras infantis.
Usava óculos de armação fina, com lentes vermelhas.
Sua calça estava rasgada nos joelhos, e nos pés usava sandálias de tiras de couro. Uma mochila estufada, que carregava uma pequena frigideira amarrada, balançava para os lados.
Quando a loura tirou os óculos, o reconhecimento era inevitável. Olhos azuis iguais aos de Peter.
Aquela mochileira com cara de modelo era Kirsten Calledon DeWitt, irmã gêmea de Peter.
Sua voz era fina, mas não irritante.
--- Oi! Você deve ser o Luigi, estou certa? Desculpe vir sem avisar, mas o Peter está?
Falava rápido, como se não conhece as vírgulas.
--- Você é a Kirsten?
--- Sim. Também conhecida como a filha desnaturada.
Luigi riu com o comentário.
--- Entre! É um prazer conhece-la!
Kirsten carregou sua mochila gigante para dentro da casa, e depois deu um abraço em Luigi.
Luigi tentou não reparar nas roupas meio sujas que Kirsten usava.
--- Espero não estar atrapalhando --- disse ela.
Uma voz vinda do segundo andar chamou a atenção de Luigi e Kirsten.
--- Amor, quem é?
Peter foi até o ultimo andar da escada e dobrou os joelhos para poder ver. Quando percebeu quem era, quase pulou de lá de cima.
--- Kirsten! Ai, caramba! Kikows!
Em um segundo, Peter estava lá em cima. No segundo seguinte, estava abraçado á irmã, e rodando-a em círculos.
Luigi apenas observava. Tinha ouvi falar muito em Kirsten Calledon DeWitt.
Irmã gêmea de Peter, Kirsten passou os últimos anos mochilando na Europa, dormido em albergues, conhecendo pessoas de todos os lugares do mundo e fazendo muito sexo com alguns caras legais que conhecia entre as viagens.
--- Mas olha só para você --- disse ela, esticando o braço para Peter --- Está bonito. Mesmo com essa cara de que acordou agora, está lindo. E vejo que tem a companhia de um rapaz tão bonito quanto --- Ela olhou para Luigi, que corou com a comparação.
--- Pelo jeito já conheceu o Luigi. Nós moramos juntos.
--- Eu sei --- respondeu ela --- Mamãe atualizou as noticias quando eu liguei para ela. Eu não podia deixar de ver você antes que você fosse para a Califórnia decorar o navio.
--- Fico feliz que veio, senti tanta a sua falta! E o que papai disse quando soube que você vinha para cá?
--- Ele ainda não sabe --- disse ela, corando como uma criança que acabara de ser pega fazendo algo errado --- Ninguém sabe. Eu vim direto para cá.
--- Oh, Kikows --- Peter a abraçou novamente. Estava mesmo feliz em ver sua irmã ali, na sua casa.
Enquanto alguém chegava em casa, em um ponto um pouco longe dali, alguém era “convidado” a se retirar.



O olho esquerdo de Mick estava mergulhado em uma dor indescritível. Quando o punho fechado de seu pai o golpeou, Mick caiu no chão, sem imaginar qual cor estaria seu olho. A mãe de Mick, Carolina Bernal estava no quarto de casal, aos prantos. Não podia mudar a situação. A ira de seu marido estava á todo vapor.
Nicollas agarrou Mick pelo colarinho da camiseta e o ergueu. Tinha fogo nos olhos.
--- Eu quero que você saia dessa casa agora, seu verme indescritível!
Nicollas estava decidindo se daria um soco no outro olho do filho. Não o fez, não sabendo o por quê.
Com o olho latejando e sentindo o gosto de sangue na boca, Mick conseguiu pronunciar algumas palavras.
--- Pai... Por favor ... Eu não tenho para onde ir!
--- Pensasse nisso antes de escolher se tornar essa aberração!
As palavras de Nicollas soaram sem sentido na mente de Mick.
--- Escolher? Acha que eu escolhi ser gay? Acha que se eu pudesse escolher, acha que eu não teria escolhido ser hetero?
Nicollas jogou Mick no chão novamente, fazendo a boca do filho ficar com mais gosto de sangue.
--- Não é problema meu. Você não faz mais parte da minha vida. Suma daqui antes que eu te mate!
Mick reuniu todas as forçar que conseguiu e foi em direção ao guarda-roupa que havia em seu quarto.
Nicollas o olhava como se ele estivesse fazendo algo profundamente errado.
--- Que porra é essa que você está fazendo?!
Mick se virou para ele, com a cabeça baixa. A dor era atordoante.
--- Minhas roupas... Eu...
--- Não tem porra de roupa nenhuma! Saia daqui com apenas esse lixo que você está vestindo agora!
Mick não tinha forças para protestar. Muito menos para enfrentar o pai.


Menos de 2 minutos que Mick chegou em casa, o pai o colocara contra a parede. Perguntara ao filho quantos homens ele já tinha chupado desde que virara veado. Foi exatamente essa palavra que Nicollas usou para nomear Mick.
Mick se fez de desentendido no começo.
Mas depois de tantos gritos, tantas ameaças de agressão, Mick dissera ao pai que não sabia quantos caras ele já havia chupado.
Não precisou de muito tempo. Nem os reflexos de Mick foram capaz de enxergar, á tempo, o punho de Nicollas indo em direção ao seu rosto. Quando percebeu, estava no chão, com a garganta denunciando o gosto de sangue.
A mãe de Mick nem tentou entrar no meio da briga. Sempre soube que Mick era homossexual, mas nunca fizera nada á respeito. O medo que sentia de Nicollas era maior.

A cabeça de Mick girava.
Apesar de saber para onde deveria ir, não tinha certeza de que conseguiria chegar ao lugar.
Mas sabia que tinha que chegar. Se conseguisse chegar ao seu destino, teria ajuda e decidiria o que fazer.
Mick não sabia como as coisas iam ser dali para frente.
Não tinha mais o apoio da sua família. E quando se deu conta disso, percebeu que aquela historia de Amor Incondicional era tudo mentira.
Olhando para frente, Mick não via aonde ia parar. Sentia-se perdido no oceano, mas não teve medo. Tinha certeza que o oceano poderia levá-lo á vários lugares.



Luigi cortava as batatas ao meio quando a campainha da porta tocou. Teve que ir atender, pois Peter e Kirsten haviam saído para fazer algumas compras. Kirsten precisava de roupas novas, sapatos e tênis, e uma hidratação no cabelo. Luigi não sabia que se tornar mochileiro era abrir mão de coisas tão simples.
Quando girou a maçaneta e abriu a porta, a visão que teve o fez parar.
O olho esquerdo de Mick estava completamente roxo. Estava tão machucado que não era capaz de abri-lo inteiro.
A boca também estava machucada. Os lábios estavam inchados e completamente vermelhos. As roupas dele também estavam em péssimo estado. Mick não andaria daquela maneira nem mesmo no corredor da morte.
Sua calça jeans azul estava quase caindo do seu corpo, pois estava sem cinto para segura-la. Sua camiseta branca estava com enormes manchas avermelhadas, que com certeza pingaram da sua boca. Seu All Star branco estava completamente cinza.
Mick, com uma mão, apoiava-se no batenta da porta. Sua cabeça estava baixa, seus olhos não conseguiam ficar abertos.
--- Meu Deus. O que aconteceu com você? --- perguntou Luigi.
Mick não conseguiu responder. E também não tivera tempo para isso.
Em uma fração de segundos, Mick estava caindo no chão, desmaiado. Para sua sorte, Luigi conseguiu segura-lo antes que seu rosto batesse no chão de mármore.



Após a ligação desesperada de Luigi, Peter e Kirsten haviam voltado voando para casa. Quando chegaram lá, Arthur e Will também estavam presentes. Bob, o namorado de Arthur, também estava na casa.
Mick estava deitado no sofá, ainda sentindo a dor do olho machucado. Kirsten preparava algodão molhado com gelo para colocar no olho de Mick. Arthur, Bob e Will estava só olhando, sem falar nada.
Peter interrompeu o silencio. Ajoelhou-se perto de Mick e disse:
--- Mick, o que aconteceu com você?
Sua voz vinha carregada de preocupação com o amigo.
--- Meu pai... Descobriu... Me bateu...
Will se aproximou e mostrou-se preocupado.
--- Descobriu o que? --- perguntou ele.
--- Está meio obvio --- disse Arthur, pegando na mão de Bob --- Nicollas descobriu que Mick é gay.
Todos os rostos na sala se viraram para Mick, como se pedissem a confirmação.
Mick só conseguiu levantar a mão e erguer o polegar positivamente.
--- Mas precisava de tudo isso? --- disse Luigi.
--- Nicollas Bernal é um homem com uma mente muito pequena --- disse Peter --- Lembro-me de quando eu decorei o escritório dele. Quando soube que eu era gay, quase ameaçou cancelar a decoração.
--- E como você fez? --- perguntou Bob, falando pela primeira vez.
--- Não tinha muita coisa á fazer. Já tinha um contrato assinado, a planta do escritório já estava pronta e os móveis já estavam sendo montados. Ele praticamente foi obrigado á continuar com a decoração.
Will estava furioso.
--- Homem ignorante mesmo --- disse ele.
Kirsten chegou com a água e o algodão já umedecido.
--- Meninos, com licença, sim?
Os garotos abriram passagem para ela, que ia em direção ao lugar onde Peter estava agachado.
Sorriu quando chegou perto de Mick.
Mick sorriu de volta, feliz por ver Kirsten novamente.
--- Também é bom ver você, querido. Sabe, ainda continua bonito.
Kirsten colocou o algodão no olho roxo de Mick.
--- Vamos leva-lo lá para cima --- disse Peter --- Luigi, me ajude aqui, por favor.
Luigi correu para ajudar Peter. Levaram para o segundo andar e o colocaram em um dos quartos de hóspedes.
Quando colocaram Mick na cama, este logo fechou os olhos e começou a dormir.
Luigi passou o braço na cintura de Peter.
--- Devia ver como ele estava quando chegou aqui --- disse Luigi --- não agüentava ficar em pé.
--- Coitado --- respondeu Peter --- Para que fazer isso com ele? Vai mudar alguma coisa? Ele vai começar a gostar de mulheres só por causa de um olho roxo?
Luigi sabia o que Peter estava dizendo. A relação de Peter e do pai nunca foi das melhores. Quer dizer, desde que Peter revelou que era gay.
--- Vamos deixa-lo dormir um pouco, Peter. Os meninos estão lá embaixo, esperando. Viu o novo namorado do Arthur?
--- Vi sim, o Bob. Conversou com ele?
--- Um pouco. Quase nada para falar a verdade.
Peter sorriu e deu um beijo na bochecha de Luigi. As coisas estavam começando a voltar ao normal. Pelo menos era o que parecia.
Quando voltaram para a sala, só encontraram Will e Kirsten, sentados no sofá, conversando.
Se dirigiram á cozinha e encontraram com Bob e Arthur encostados na bancada que ocupava o meio da cozinha.
--- Como ele está? --- Perguntou Arthur.
--- Vai ficar bem --- disse Luigi --- está descansando um pouco.
Arthur fez que sim com a cabeça.
Peter se lembrou dos bons modos que haviam sido ensinados á ele. Virou-se para Bob e o cumprimentou.
--- Oi. Sou Peter.
Arthur corou na hora, como se tivesse esquecido do namorado.
--- Ai, desculpem. Amor, esses são Luigi e Peter.
Bob sorriu, simpático.
--- Prazer em conhecê-los. Vocês têm uma casa maravilhosa.
--- Obrigado --- disse Luigi --- Desculpe a situação. Não é uma das melhores para se conhecer o namorado de um dos amigos.
--- Não se preocupe --- Bob respondeu --- Ele vai ficar legal.
--- Espero que sim --- Peter falou --- Estão com fome?
Bob e Arthur balançaram a cabeça negativamente.
Nesse exato momento, Kirsten entrou na cozinha. Tinha trocado de roupa, agora até parecia com uma mulher.
--- Clube da Luluzinha e ninguém me convida? Também não vou emprestar meus esmaltes para ninguém --- Kirsten brincou, fazendo um biquinho.
--- Você não usa esmaltes, Kikows --- respondeu Peter --- Falando em esmaltes, já conhece o Arthur e o Bob?
--- O que esmaltes tem a ver comigo e com o Bob? --- quis saber Arthur.
Kirsten os cumprimentou com um aceno de cabeça.
--- Oi meninos.
--- Oi, e aí --- disse Bob.
--- Onde está Will? --- Arthur perguntou.
Todos olharam para Kirsten, esperando a resposta.
--- Lá em cima com o Mick. Ele ficou preocupado.
--- Aaaah não --- protestou Peter --- Mick tem que descansar agora!
Peter deixou o grupo na cozinha e subiu as escadas. Quando chegou na porta do quarto onde Mick devia estar dormindo, parou. A cena que estava acontecendo ali era nova para ele.
Will estava com a cabeça apoiada na cama, e o corpo deitado sobre a mesma.
Mick estava deitado, com os olhos fechados, na barriga de Will. Dormia tranquilamente.
Will passava a mão nos cabelos de Mick, que parecia estar gostando de tal gesto.
Peter ficou meio confuso. Nunca havia visto tanto afeto entre Will e Mick antes.
Quando eles se viam, sempre surgiam piadas sobre a vida sexual deles. Mick dizia que Will era uma freira louca para dar e Will dizia que Mick era uma passiva que dava pra todo mundo.
Mas não é que eles não se gostassem. Gostavam-se, claro. Mas de maneiras diferentes.
E tal cena foi meio estranha aos olhos de Peter. Mas decidiu não interromper. Deu meia volta e desceu as escadas sem fazer barulho.


Arthur, Bob, Kirsten e Luigi estavam na sala, conversando. Não perguntaram o que estava acontecendo lá em cima quando Peter desceu as escadas.
Luigi se virou para Peter.
--- Um dia antes de você viajar, os meninos querem ir comemorar na Times. Vamos?
--- Eu também vou --- Kirsten se convidou.
--- Mick que está organizando tudo --- disse Arthur.
Peter ficou confuso.
--- Organizando? Não é só o pessoal lá na Times?
--- Ele vai alugar a área vip. Já colocou todos os nomes na lista --- Se virou para Bob e disse --- inclusive o seu, amor.
Bob sorriu, contente por ser lembrado.
--- E aí, vamos? --- disse Luigi.
--- Ah, não sei. Você quer ir?
--- Devíamos. Faz tempo que não saímos para dançar.
Peter sabia que não tinha muitas opções. Se Mick estava organizando, ele praticamente obrigaria Peter á ir.
--- Tá legal, nós vamos --- sorriu e pegou na mão de Luigi --- Quem está com fome?
Todos se dirigiram para cozinha, para fazer um lanche rápido.
Não conversaram sobre nada em específico. Kirsten contou mais sobre suas viagens pela Europa, Bob contou casos emgraçados que tinha acontecido com ele. Peter gostou dele logo de cara, era uma pessoa agradável de se ter ao lado.
Arthur estava radiante e feliz de Bob ser aceito pelo seus amigos. Começou a achar que toda aquele grude de Bob era coisa de sua cabeça.
Peter e Luigi ficaram contentes quando todos aceitaram passar a noite ali. Fazia um bom tempo que eles não se juntavam para ficarem juntos.
Quando era quase duas da manhã e todos já estavam dormindo (Bob e Arthur ficaram no quarto de hóspedes, e Kirsten ficou com outro quarto. Aquela casa era enorme, podendo se dar ao luxo de poder colocar cada convidado em um quarto) Peter escutou passos na escada, descendo-a.
Deu um beijo no rosto de Luigi, que já estava ferrado no sono, e saiu do quarto.
Desceu as escadas e foi em direção á cozinha.
Will estava praticamente dentro da geladeira, procurando algo para comer. Se assustou quando viu Peter ali, descalço, sem camisa e com uma bermuda acima dos joelhos.
Sorriu quando o viu parado na entrada da cozinha.
--- Ual. Meu sonho: ser pegado de jeito por um louro enquanto eu faço o jantar.
Peter riu diante o comentário, e percebeu que estava praticamente seminu.
--- Besta --- disse ele --- Com fome?
--- Muita. Desculpe ter invadido sua cozinha sem permissão.
--- Que nada, sabe que não precisa de permissão para fazer nada aqui nesta casa.
--- Bom saber --- Will sorriu maliciosamente e ergueu as sobrancelhas para Peter.
Peter pegou um pão que estava na bancada da cozinha e atirou em Luigi, acertando-o em cheio na cabeça.
--- Besta --- disse ele --- E como está o Mick?
Will passava manteiga no pão quando respondeu.
--- Vai ficar legal. Só meio assustado por ter sido expulso de casa.
--- Coitado --- Peter puxou uma cadeira e sentou --- Ser tratado assim pelo próprio pai? Quer dizer, minha relação com o meu pai não é maravilhosa, mas ele nunca chegou perto de fazer nem o mínino que o pai do Mick fez com ele.
Will se sentou e mordeu um pedaço do pão.
--- E agora? Ele não tem aonde ficar... Ele pode ficar aqui por um tempo?
--- Hã... Acho que sim, não sei. Tenho que falar com o Luigi.
Will olhava para um ponto qualquer quando fez que sim com a cabeça.
Peter lembrou-se da cena que tinha visto no quarto de hóspedes e resolveu perguntar o que significava.
Will não deu muita atenção.
--- Nada, ué. Eu só estava dando um pouco de atenção a ele.
Peter não se convenceu.
--- Sei. William, eu te conheço. Fala logo, vai.
Will sorriu meio constrangido.
--- Que? Sabe o que? Ora Peter, para de ser bobo.
Peter avançou sobre Will, fazendo cócegas na sua barriga.
--- Fala! Fala se não eu não paro!
Will estava vermelho de tanto rir. Tinha manteiga na sua bochecha.
--- Ta bom! Ok! Eu falo!
Peter se sentou corretamente e esperou.
Will respirou fundo e contou.
--- Eu e o Mick já ficamos.
Os olhos de Peter se arregalaram.
--- QUE? Mas quando? Onde?
--- Ah, faz um tempo. Foi logo depois que Seth foi embora.
Peter queria mais explicações.
--- Ual. Mais detalhista do que isso, só dois disso.
Will deu risada e voltou a mastigar o pão.
--- Não tem muita coisa pra contar. Seth tinha ido embora, eu estava deprimido e sozinho. Ele apareceu na minha casa, quase ás quatro da manhã, dizendo que não podia ir para casa dos pais dele porque um cara tinha deixado uma marca imensa no pescoço dele.
--- E...? --- Peter gesticulou com a mão para que ele continuasse.
--- E conversa vai, conversa vem, quando dei por mim, estávamos na minha cama transando.
--- Hahaha, não dá pra acreditar! Você e Mick?
--- Pra você ver. Eu e Mick.
--- Mas por quê não contaram para ninguém?
Will o olhou como se a resposta fosse obvia demais.
--- Peter, acorde. Eu e Mick somos de universos diferentes. Ele é uma bicha fashionista que só tem um amor na vida: As grifes. E eu... Eu nem sei o que eu sou.
--- Você é um romântico que ultimamente dorme com vários caras, mas não conta para ninguém.
Will apenas sorriu sem dizer nada.
--- Caramba. Você e Mick.
--- Pois é. E o que você viu lá em cima... Não era nada. Era apenas carinho.
--- Mas eu achei legal. Sabe, você e o Mick só sabem tirar sarro um do outro.
--- Hahaha, é. Mas gostamos um do outro, só não sentimos necessidade de mostrar isso para todo mundo. Como certas pessoas fazem --- Will começou a cutucar a barriga de Peter.
Peter não entendeu a indireta.
--- Que? O que quer dizer?
--- Você e o Luigi. Mostram o amor que sentem um pelo outro aos quatro ventos.
Peter ficou um pouco pensativo, e Will percebeu isso.
--- O que foi, Peter?
--- Eu e o Luigi estamos nos recuperando de uma briga.
--- Oba, fofoca. Conte-me.
Peter balançou negativamente a cabeça.
--- É bobagem. Só um pouco de ciúmes.
--- Ciúmes faz bem pra relação.
Peter não estava tão certo quanto a isso. Resolveu mudar de assunto.
--- Nós vamos pra Times na véspera da minha viagem. Você vai, não é?
--- Sim, claro. Quem vai?
--- Eu, Luigi, Mick, Arthur e o Bob. Acho que a Kirsten também.
--- Bob? O Bob Esponja?
Will esfregou os olhos e começou a rir da piada.
--- Quem?
--- Desculpe, é piada interna. É o apelido carinhoso do namorado do Arthur.
--- Ele é legal --- Peter se levantou e foi até a geladeira pegar uma caixa de suco de soja --- E Arthur parece gostar dele.
--- Não sei não... Arthur me disse que ele é meio grudento.
--- Todos são --- Peter pegava dois copos no armários e colocava suco dentro deles --- Eu lembro de você e do Seth no começo do namoro, me lembro de que você até...
Peter parou ao ver o olhar de Will. Demonstrava um pouco de amargura e raiva por ter sido abandonado.
Peter queria enfiar a cara dentro do forno e liga-lo.
--- Will, foi mal, eu pensei que...
--- Pet, Pet, tudo bem, eu to legal. É que fazia tempos que eu realmente pensava nele. Tem visto ele recentemente?
Terreno hostil, pensou Peter.
Peter lembrou-se de meses atrás, quando Seth contou para ele que estava doente, e que tinha apenas uns meses de vida.
Seth o fez prometer que não contaria nada a Will. Se Will descobrisse, iria atrás de Seth querendo ajudá-lo. Mas ninguém podia ajudar Seth, sua doença já o tinha condenado.
--- Faz meses que não vejo. Nem tenho noticias.
--- Humm --- Will murmurou.
Ficaram uns minutos bebendo suco, sem dizer nada.
Peter se levantou e arrastou a cadeira.
--- Vou dormir, amanhã eu trabalho.
--- Boa noite --- disse Will, mandando um beijo para Peter.
Will se viu sozinho na cozinha planejada de Peter. Sua mente vagava entre lembranças.
Lembrou-se da tarde em que conheceu Seth. Era uma tarde chuvosa de Agosto. Estavam em uma livraria no centro.


Will estava sentado em uma poltrona com um livro sobre Leis Estaduais aberto no seu colo. Na única vez em desviou os olhos da leitura, encontrou um jovem em uma poltrona do outro lado da livraria. O jovem olhava para Will com um certo interesse.
Este jovem tinha cabelos castanho claro e olhos pretos. Tinha um nariz bem pequeno, fino. Em seu colo encontrava-se um livros sobre os maiores serial-killers da historia.
Ficaram um tempo se olhando. Will nem sabia mais sobre as leis estaduais.
Will começou a disfarçar, não queria que aquele atraente jovem percebesse seu interesse. Will era meio tímido na época.
Voltou a sua leitura. Conseguiu ler por exatamente nove minutos. Quando olhou para a outra poltrona do outro lado da livraria, a encontrou vazia. Desanimou na hora.
Quando ia devolver o livro sobre as leis para a prateleira, percebeu que aquele jovem havia deixado o livro aberto em cima da poltrona. Will viu esse gesto como falta de educação.
Foi até a poltrona e pegou o livro nas mãos. Quando abriu-o, logo veio a suspresa.
Na primeira pagina havia uma pequena frase, logo seguida por um nome e por um número de telefone.

“Livro interessante. Não tão interessante como Leis Estaduais, mas deve legal ler antes de dormir”

Seth.
XXXX-XXXX


Will sacou seu cartão de crédito e comprou o livro. Quando voltou para casa, ligou para o tal Seth e e conversaram. No fim da ligação, Will tinha um encontro marcado para o outro dia.


Tais lembranças ainda faziam o coração de Will sentir pequenas pontadas de dor.
Pegou o celular e procurou um contato na lista telefônica. Quando encontrou, apertou o botão verde e a ligação foi iniciada.
Nada de novo. Como nas outras vezes, o telefone apenas tocou, sem ninguém atender.
Will não sabia que, naquele exato momento, Seth estava no hospital tomando uma injeção para que seu coração continuasse a bater por mais um tempo.

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