segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Capitulo Onze - Segunda Temporada.

Reencontro.


O elevador parou no 3º andar do prédio da ArtDeco, e um jovem de cabelos ruivos entrou. Peter sorriu para o jovem e cumprimentou-o com com um balançar positivo de cabeça.
Peter nunca tinha visto aquele jovem antes.
Deve trabalhar no RH, ou na recepção, pensou ele.
Enquanto o elevador subia, a musiquinha irritante que toca em elevadores foi interrompida pela voz do jovem ruivo.
--- Parabens pelo prêmio. --- disse ele, sorrindo.
Peter olhou para seu rosto, e percebeu como os olhos dele eram bonitos. Vivos. Brilhantes. Esverdeados.
--- Obrigado. --- Peter respondeu.
No que pareceram horas de espera, o elevador continuava subindo. Pelo reflexo das portas, Peter viu, agarrado á lapela do blazer do jovem, um crachá vermelho, escrito "visitante". Abaixo estavam a primeira letra do nome do rapaz e o sobrenome completo.
Peter leu. Depois tentou puxar pela memória.
Não. Não é. Seria muita coincidencia.
Leu mais vez.
As portas do elevador se abriram no 9º andar, o setor encarregado de folhas de pagamento, recrutamento de empregados e entrevista de futuros funcionários.
--- Até logo --- disse o rapaz, saindo do elevador e apressando o passo para onde Peter não conseguiu ver.
A letra e o sobrenome ainda estavam na mente de Peter.
Será? pensou ele. Quem sabe...
Peter era dotado de uma memória assustadoramente excelente. Guardava datas, nomes, diversos numeros e ocasiões.
Mas como a memória guarda informações que nunca as teve?
O elevador abriu as portas novamente, no andar onde Peter trabalhava.
Estava radiante. Sua mente já tinha conhecimento de todos os recursos disponíveis para averiguar se ele estava certo.
Deu "Oi" para sua secretária e entrou em sua sala.
Sentou em sua mesa e procurou o numero na memória do telefone. Quando achou o que procurava, iniciou a ligação.
--- Luis Fernando? Oi, é o Peter. Sabe, eu preciso de folha de cadastro de um candidato chamado de Macfadyen. Isso. C. Macfadyen. Obrigado.
Assim que Peter desligou o telefone, seu aparelho de fax imprimia uma cópia do curriculum de Colin Macfadyen.

--- Alô?
--- Lui, sou eu, Peter. Onde você está?
--- No Archier, com...
--- Arthur está aí?
--- Sim, ele trabalha aqui. Peter o que foi?
Peter se sentia como se fosse um espião da CIA.
--- Por favor, não deixe ele escutar a conversa. Tem como se afastar por uns minutos.
Luigi olhou ao redor e disse "sim".
--- Vou na calçada, espera um pouco --- disse Luigi, se afastando do balcão e saindo para fora do café. --- Pronto. O que houve?
--- Então, como se chamava aquele garoto de programa que o Arthur conheceu quando eu estava viajando?
Luigi demorou um pouco para se lembrar. Mas lembrou.
--- Tom.
Peter ficou menos animado. Não era essa a resposta que ele esperava.
--- Tem certeza?
--- Bom, esse era o nome de guerra dele.
Peter colou o fone em seu ouvido.
Ótimo!
--- E o nome original dele? Como era?
--- Hã... Kyle... Carson... Peter, eu não me lembro. Por que?
Peter arriscou.
--- Colin?
--- Isso! Colin. Colin... Macdenials, MacDonalds, alguma coisa assim.
Peter começou a rir baixinho.
--- O que é? Tá rindo de que?
--- Bom --- disse Peter, se contendo --- Acho que o ex-garoto de programa do Arthur vai virar um funcionário da ArtDeco.
Breve silencio.
--- Sério? Como assim?
--- Nos vemos á noite, aí eu conto direito. Te amo.
Peter desligou antes que Luigi pudesse responder. Ele saíu de sua sala e desceu até o 9º andar.


--- Desculpem a demora --- disse a médica de permanente malfeito no cabelo, quando entrou no consultório.
--- Tudo bem --- disse Will, segurando na mão de Seth.
A médica sorriu para dos dois e abriu o grande envelope marrom que segurava com a mão. Ela cortou com a mão a parte de cima do envelope, fazendo alguns papéis grampeados deslizarem pela mesa.
--- Muito bem ... --- disse ela, passando os olhos pelas folhas --- Willian? Bom ... --- ela leu mais atentamente, como para ter a certeza do que ia falar --- Os resultados dos seus exames deram negativos. Você não está com nenhuma doença sexualmente transmíssivel.
O peso do mundo pareceu se esvair das costas de Will. Ele respirou o mais fundo que pode.
Seth se virou para ele e apertou sua mão.
--- Eu disse que ia tudo ficar bem --- disse ele.
Will levantou a cabeça e deu-lhe um beijo rápido.
A médica continuava alí, como se assistisse um filme com um final feliz.
--- Fico feliz por você, senhor Willian.
Will sorriu, ainda se acostumando á sensação de alívio.
--- E devo alerta-los que se estejam planejando fazer sexo sem preservativo, façam primeiro os testes. O senhor Willian já os fez, então acho recomendável faze-los também, senhor Seth.
Seth assentiu com a cabeça.
--- Marcarei os exames, claro. Doutora, muito obrigado.
Ele e Will se levantaram, apertaram a mão da médica e saíram do consultorio.
Á caminho de casa, Will olhava para fora do carro como se fosse a primeira vez que via aquelas imagens passando diante dos seus olhos.
Tudo parecia mais colirido, mais vivo, como se tudo ao seu redor estivesse iniciando uma vida nova.
Seth olhou para ele.
--- Terra chamando Will...
Will voltou á realidade.
--- Desculpe, estava fora de área.
Seth sorriu.
--- E aí? Como se sente?
Will nem precisou pensar na resposta.
--- Aliviado. Sabe, ver as coisas e saber que não será a ultima vez que irei ve-las. É... Maravilhoso.
Seth sorriu melancólico.
--- Deve ser.
Seth respirou fundo e colocou sua mão na perna de Seth.
--- É maravilhoso. Logo você irá sentir essa sensação. Pode demorar um pouco... Mas você vai sentir.
Seth esbolsou um sorriso.
O celular de Will começou a vibrar em seu bolso.
Era Mick.
--- Oi Mick.
Mick estava cauteloso.
--- E aí? Os resultados? Quais foram?
Will sorriu como se fosse a primeira vez que o fizesse.
--- Estou limpo. Saudável.
Mick vibrou do outro lado da linha.
--- Eu sabia! Sabia! Vão pra casa do Luigi e do Peter quando anoitecer. Temos que comemorar.
Mick desligou, e Will guardou o celular em seu bolso.
--- E aí? O que ele disse? --- perguntou Seth.
Will deu os ombros.
--- Casa do Luigi e do Peter esta noite. Vamos comemorar.
Seth sorriu e assentiu com a cabeça.


40 minutos depois de ter saído de sua sala, Peter finalmente chegara até o 9º andar, o andar do RH da ArtDeco. Ele demorou todo esse tempo pois decidira descer pelas escadas, e encontrou no caminho pessoas que quiseram cumprimenta-lo, perguntar como era a sensação de receber o premio de melhor decorador, e até mesmo um estagiário que pediu para tirar uma foto com ele.
Devia ter usado o elevador, pensou Peter.
Quando chegou ao RH, perguntou pelo Luis Fernando. Peter foi indicado para a sala dele.
Perguntas de respostas óbvias...
Peter entrou sem bater na porta.
Luis Fernando estava atrás de sua mesa, com os olhos colados em documentos. Quando ouviu a porta se abrir, seus olhos cor de chocolate encontraram os olhos azuis de Peter.
--- Mas que honra. Eu pensava que os decoradores não sabiam da existencia desse andar.
Luis sorriu e foi até Peter, dar-lhe um abraço.
--- Parabens pelo premio --- disse ele.
Peter sorriu.
Luis indicou uma cadeira para Peter, e depois sentou-se atrás da mesa.
--- E aí, Peter. Perdido por aqui? Pensei que fossemos raças que não se misturavam.
Peter sorriu meio constrangido.
--- Claro que não. São vocês que nos colocam aqui dentro. O famoso pessoal dos Recursos Humanos. São vocês que não vão até os decoradores.
--- Hahaha, claro claro. Mas em que posso ajuda-lo, Peter?
Peter se arrumou na cadeira.
--- Eu queria saber de um entrevistado que esteve com você á uns 40 minutos atrás. Colin Macfadyen.
Luis puxou pela memória.
Macfadyen...Macfadyen...Macfadyen...
--- Sim, Macfadyen. Ele tentou o cargo de meu secretário. Sabe, a Luciana vai sair de licença-maternidade, então já estou procurando outro assistente. Mas por que?
Peter deu os ombros.
--- Não é nada. Ele é... um conhecido meu.
--- É? Ele não comentou nada.
Claro que não, pensou Peter, ele não me conhece.
--- É uma longa história. Mas ele conseguiu o cargo?
--- Não. Não achei ele de confiança.
Peter sentiu que suas chances haviam ficado menores.
Para ser educado, Peter ficou uns bons vinte minutos conversando com Luis. Depois desse tempo, ele voltou para seu escritório, e afundou-se em sua cadeira giratória.


Ás sete da noite, o som estava ligado, tocando uma musica qualquer, e os meninos se serviam de bebidas e uns salgados que Mick havia comprado no mercado.
Apenas Arthur não sabia da história dos exames de Will, e isso o pegou de surpresa.
Depois de Will acalma-lo, Arthur pegou um copo e o encheu de champanhe, levantando-o para o alto.
Will estava feliz. Parecia que fazia tempos que ele não ficava desse geito.
Seth... Estava pálido. Magro. Usava uma boina vermelha, escondendo sua cabeça lisa. Peter não entendia muito de leucemia, apenas o básico que sei pai lhe explicara anos antes.
Quatro estágios... Quatro tipos de doença... Sangramento nasal... Que geralmente leve á...
Peter tentava não prestar atenção nisso, mas estava dificil. Era como se ele tentasse ignorar um elefante que tocava piano no meio de sua sala de estar.
Quando Arthur foi até a cozinha, Peter o seguiu.
--- Vamos lá em cima. Preciso falar com você --- disse Peter, segurando em sua mão.
Arthur franzil uma sobrancelha, mas não disse nada.
Enquanto subiam as escadas, Luigi disse.
--- Eu sabia que esse dia chegaria. Peter Calledon com outro cara. Eu sabia.
Peter sorriu e mostrou a lingua para ele, como se tivesse seis anos de idade.
Eles chegaram ao quarto, e Arthur sentou-se na cama. Peter foia té sua pasta de trabalho e começou a revira-la.
--- Pensei que você guardasse os preservativos na carteira.
--- Eu guardo na cueca. Mas não é preservativos que eu estou procurando.
Peter revirou a bolsa mais uma vez e achou o que procurava. Tirou dalí uma folha de papel dobrada. Ele sentou na cama, ao lado de Arthur, e começou a falar.
--- Isso talvez possa lhe interessar... --- Ele estendeu a folha para Arthur --- Espero que te ajude.
Arthur pegou a filha e a desdobrou. Leu a primeira linha, e percebeu o que era aquilo.
--- Como... Onde conseguiu isso?
--- Ele deixou na ArtDeco. Tentou um cargo de secretário e...
--- Ele conseguiu?
--- Não. Ele não inspirou confiança.
Arthur baixou os olhos para a folha, lendo-a novamente.
Estava tudo alí. Data de aniversário, numero de celular, endereço... Tudo necessário para encontra-lo.
--- Você tem bom gosto sabia? Eu encontrei com ele no elevador. Ele é bonito.
Arthur sorriu meio sem graça.
--- Que roupa ele estava?
Peter tentou se lembrar.
--- Não me lembro. Estava com roupas comuns.
Arthur ficou em silencio por uns minutos, perdido em pensamentos.
--- Pode ir procura-lo agora.
Arthur levantou a cabeça. Era isso que ele iria fazer.
--- Sim sim. Empresta seu carro?
Peter passou os olhos pelo quarto e encontrou o que procurava.
--- As chaves estão no criado mudo.
Arthur levantou-se e pegou as chaves. Ia saindo do quarto, quando se virou e disse:
--- Vem comigo? Por favor.
Peter sorriu afetuosamente.
--- Claro. Só vou avisar o Lui.
Eles saíram do quarto e desceram as escadas.
Minutos depois, estavam saindo do condominio e seguindo cidade á dentro.


A rua era uma subida reta, as luzes estavam acesas, e ninguem estava á vista. Logo mais acima, um prédio de quatro andares, com algumas janelas acesas, entrou no campo de visão de Peter e de Arthur.
--- É este aqui.
Peter parou o carro e olhou mais diretamente para o prédio. Não havia portaria. Nem estacionamento. Aquilo parecia mais com esses hoteís de beira de estrada. Para se chegar aos demais andares, só era preciso subir uma escada de metal que interligava os quatro andares.
--- Hãã... Bom é bem... --- Peter estava meio sem graça --- É bonitinho.
Um homem apareceu no terceiro andar, saindo de uma das portas. Ele carregava na mão uma garrafa de cerveja, que logo foi jogada para dentro do apartamento, fazendo um barulho de cacos de vidro encontrando o chão.
Arthur olhou para Peter.
Peter olhou para Arthur.
--- Bonitinho? --- disse Arthur.
--- É. Ele é... Todo azul.
O prédio tinha uma cor que um dia já fora azul.
Arthur soltou o cinto de segurança e abriu a porta.
--- Eu já volto --- disse ele, saindo do carro e fechando a porta.
Peter assentiu com a cabeça e olhou para os lados.
Travou o vidro e as portas do carro. Só por segurança.

Arthur subia os degraus das escadas um a um. Sem pressa. Passos leves. Aquela escada não confiava segurança. As chuvas fizeram o favor de deixar o corrimão meio enferrujado.
Arthur parou quando chegou no terceiro andar. Olhou para trás, e viu uma altura relativamente alta. Olhou em direção ao carro --- as mãos de Peter estavam coladas ao volante.
Ele andou pelo pequeno corredor, procurando a porta certa.
E encontrou. Numero nove.
Respirou fundo. Tentou imaginar como seria a situação. Colin correria para seus braços e pediria para que ele o tirasse dalí?
Arthur não sabia.
Bateu na porta três vezes e esperou. Logo ouviu-se passos de dentro do apartamento, e a maçaneta sendo girada.
Ele continuava do mesmo geito que a memória de Arthur o preservou. Seus cabelos ruivos estavam despenteados, e um pouco maiores. Seus olhos verdes ainda continham aquele brilho especial.
Mas parecia diferente. E estava enrrolado apenas em uma toalha branca, segurando-a por trás, para que não caisse.
Seus olhos se encontraram. Pareciam distantes.
--- Oi --- disse Arthur.
Colin não disse nada. Apenas encostou a cabeça no batente da porta. Se os olhos realmente eram as janelas da alma, Arthur poderia ver tantos sentimentos guardados e trancados lá dentro.
--- Lembra-se de mim? --- Arthur arriscou.
Colin sorriu, cansado.
--- Claro... Legal te ver. Como você está?
Arthur deu os ombros.
--- Bem. Tudo normal.
Colin acenou com a cabeça.
--- E você, como está?
Colin olhou para seu próprio corpo e depois olhou para Arthur.
--- Já estive melhor.
Uma voz grossa soou de dentro do apartamento. Colérica. Furiosa.
--- Eu paguei pra uma puta ficar de conversinha com outra pessoa?! Venha aqui agora e termine seu serviço. Estou esperando.
Uma voz diferente, meio modificada por causa de alguma bebida, também exigiu que Colin voltasse.
--- ESTAMOS esperando --- disse a segunda vóz --- E você ainda nem começou a me aliviar.
Colin baixou a cabeça constrangido. Nunca tinha tido vergonha de ser o que era, mas naquele momento, com Arthur ouvindo aquelas coisas, ele desejou que a morte viesse busca-lo e o salvasse daquele destino incerto.
Arthur fingiu não escutar aquilo. Cruzou os braços diante do peito e nada disse.
--- Foi a forma que eu tive de continuar a faculdade. Só mais um ano... E estou livre disso.
Arthur olhou para ele, que apesar de tudo, sorria.
--- Não precisa ser assim. Você sabe que você tem alternativas.
Colin não queria ter aquela conversa, pelo menos naquele momento. Ele levantou a cabeça e disse cheio de altoridade.
--- Foi bom te ver, Arthur. Agora eu tenho que entrar.
Quando Colin ia fechando a porta, Arthur o deteve.
--- Sabe onde eu estou, se precisar de ajuda.
Colin fez que "sim" com a cabeça e fechou a porta. Arthur pode ouvir o chave sendo girada e a tranca sendo acionada pelo mecanismo.

De volta ao carro, Peter destravou as portas quando Arthur voltou até ele.
--- E aí? Como ele está?
Arthur pronunciou apenas uma palavra.
--- Ocupado.
Peter percebeu que Arthur não queria falar sobre aquilo, e respeitou. Ele ligou o carro e pisou no acelerador.
Quando chegou em casa, os garotos ainda estavam alí. Peter chamou Arthur para dormir lá naquela noite, e este aceitou.
Ás três da manhã, lágrimas silenciosas deslizavam pelo rosto de Arthur, que tentava dormir, mas era atormentado por vozes coléricas que trancavam seu amor dentro de um quarto frio e escuro.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Capitulo Dez - Segunda Temporada.

Duas festas. Um Luigi.


O pensamento repetitivo era: Não fique nervoso. Não fique nervoso. Não fique nervoso.
Quando Peter se convenceu, ele correu para a cozinha e bebeu o restante do café que ainda tinha na jarra.
Arthur revirou os olhos quando viu a cena.
--- Peter, eu não vou fazer mais café. Eu passo o dia inteiro sentindo cheiro de café, e hoje é o meu dia de folga.
Will apareceu atrás dele.
--- Acho bom dar calmante. O que você acha?
--- Acho melhor não --- Arthur olhou para Peter como se ele fosse algum espécime raro encontrado perdido bem longe do seu habitat natural --- Acho que só precisamos retirar o café dele. Isso estimula o cérebro, fazendo ele ficar mais agitado.
Todos os garotos estavam na casa de Peter. Eles iam juntos para a premiação do NewCorel, e ficariam na terceira fileira mais perto do palco.
Peter estava com os braços cruzados, se perguntando se ele estava em um consultório médico.
Mick e Seth apareceram na cozinha.
--- Peter, querido --- disse Mick, se aproximando dele --- Vamos fazer um exercício para você relaxar, okay?
Peter franziu a testa, e Mick estendeu a mão para ele, num gesto para que ele fizesse o mesmo.
Seth, Will e Arthur se entreolharam.
--- Vamos repita comigo --- disse Mick, segurando as mãos de Peter e fechando os olhos --- Eu sou uma bicha tranquila, eu sou uma bicha tranquila, eu sou uma bicha tranquila.
Peter abriu os olhos e os revirou.
--- Mick, eu não vou falar essas bobagens. Eu não sou bicha.
--- Tá bom, tá bom --- disse Mick, impaciente --- Vamos, feche os olhos.
Peter fechou-os.
--- Eu sou um heterossexual reprimido, eu sou um heterossexual reprimido, eu sou um heterossexual reprimido.
Seth, Will e Arthur riram em coro.
Peter abriu os olhos mais uma vez e soltou as mãos de Mick.
--- Mick, valeu, mas esquece --- disse Peter.
--- O que? Você tem que escoher entre um heterossexual reprimido ou uma bicha tranquila! --- disse Mick, tentando se justificar.
Luigi entrou na cozinha com as chaves do carro na mão. Estava impecavelmente bem arrumado, assim como todos os outros.
--- Pessoal, vamos --- disse ele, indicando a porta --- Peter tem que estar lá uma hora mais cedo.
--- Por que? --- Mick perguntou.
--- Vai ter uma singela confraternização entre todos os indicados. Sabe, jogar conversa fora e falar mal um dos outros.
Mick sorriu e disse.
--- Adoro decoradores. Pior que decoradores só os estilistas.
--- Costureiros com agulhas nas mão são pessoas perigosas --- disse Seth, tentando irritar Mick.
--- Há-há-há --- Mick riu pausadamente.
Minutos depois, eles se espremiam no carro prata de Luigi, indo em direção ao teatro Sara Said.



Um evento de arte consegue fácilmente reunir todos os tipos de pessoas que são envolvidas com a Arte. Arquitetos, Estilistas, Fotografos, Pintores, Musicistas, Alguns escritores e muitos decoradores.
Claro que a maioria desses artistas eram apenas convidados e amigos dos decoradores que estavam alí para ganhar algum premio, mas isso é apenas um detalhe.
O teatro Sarah Said é um antigo bordel que passara por uma grande expansão, e de 30 metros, ele passara a ter 425 metros quadrados. Seus estilo era moderno, nada daquelas esculturas de anjos escadarias quilometricas que geralmente vem á cabeça quando se fala de teatro.
Peter e os restante dos meninos desceram do carro e foram até a simples porta de entrada do teatro. Eles entregaram seus convites e passaram pelas portas.
Todos se sentiram como se estivessem em uma grande galeria de arte. Logo de entrada, se dá de cara com duas escadarias em espirais que conduzem ao segundo andar. Nesse segundo andar, em frente de cada escada, á uma porta que leva ao palco principal, de modelo Arena, com uma inclinação em estilo estádio.
Quem fosse convidado dos decoradores deveria se sentar na platéia em frente ao palco e esperar até que a entrega dos premios começasse.
Mas os decoradores receberiam antes um pronunciamento de boas-vindas e boa-sorte de Marcell Loui, o diretor chefe da associação de decoradores.
Peter levou os amigos até a porta de entrada do palco, antes de se digigir ao saguão de boas-vindas.
--- Não devo demorar --- disse ele, mais calmo --- São apenas algumas formalidades. A nossa fileira é a de numero cinco, esperem por mim lá, okay?
Todos balançaram a cabeça positivamente.
Menos Mick.
--- Hãã, Peter, posso ir com você?
--- Por que?
--- Ah, eu quero conhecer o circulo social dos decoradores.
Peter franziu uma sobrancelha, mas não pode dizer nada pois Seth o fez primeiro.
--- Traduzindo: Eu quero saber quais as chances de uma transa rápida eu tenho.
Seth não perdia uma oportunidade de irritar Mick, e sempre conseguia faze-lo.
A resposta ríspida estava na ponta da lingua de Mick, mas Peter o segurou pelo pulso.
--- Vamos. Agora.
E assim Mick foi arrastado até o saguão de boas vindas, com a resposta descendo pela garganta.


O salão de boas vindas ficava na parte inferior do prédio --- abaixo das escadas havia uma porta-dupla pintada de um verde-berrante.
Mick e Peter desceram as escadas e entraram na grande sala repleta de decoradores. Mick estava admirado com a porção de decoradores bonitos e atraentes que estavam naquela sala. Todos bem vestidos, ostentavam cortes de cabelo modernos e arrojados.
--- Eu deveria estudar decoração --- disse Mick, olhando para a sala como um historiador que olha para o Santo Graal.
Peter já estava acostumado á esses ambientes.
--- Por que? Os estilistas não são tão bonitos quanto parecem? --- perguntou ele.
--- Sim, são --- respondeu Mick, pegando uma taça de champanhe que foi oferecida por um garçon --- Mas são todos metidos e invejosos. Todos tem medo de que outros estilistas roubem ás suas idéias.
Peter riu.
--- Pensei que o Tom Ford fosse legal.
--- Só quando se está usando uma roupa criada por ele.
Peter pegou uma taça de champanhe e balançou a cabeça.
Durante alguns minutos, Peter observou os outros decoradores no salão. Alguns ele reconheceu dos tempos de faculdade, e mandou um "Oi" bem singelo. Outros ele reconheceu de outras grandes empresas de decoração, como a Zimmer Design, Victorrian Image (esta é especializada em cenários do periodo vitoriano), e a AnyPlaces. E é claro, outras empresas de pequeno porte.
--- Peter, me responda uma coisa --- disse Mick, olhando para os lados --- Existem decoradores heterossexuais?
Peter revirou os olhos.
--- E todos os estilistas são homossexuais?
--- Sim --- disse Mick mecanicamente.
Peter bebeu o ultimo gole de champanhe.
--- Não, nem todos são homossexuais --- disse Peter, como se tentasse ensinar uma matéria á um aluno --- Por exemplo... --- Ele vasculhou o salão com os olhos --- Harry Tier. Deve estar na casa dos 30 e poucos anos, é casado com uma arquiteta e tem um casal de gemeos lindos.
Mick olhou para o decorador que Peter apontava. Moreno, cabelo preto bem curto, usava um terno do Mark Jacobs.
A mente de Mick começou a trabalhar.
--- Hetero? --- disse ele.
--- Sim, claro --- Peter respondeu.
O simples ato de apontar o dedo para alguem desencadeia grandes acontecimentos.
Quando Peter deu por si, Harry Tier estava vindo em sua direção, cumprimenta-lo.
--- Comporte-se, Mick --- disse Peter pelo canto da boca.
Enquanto Harry se aproximava, Mick o media da cabeça aos pés.
A voz macia encheu os ouvidos de Mick.
--- Peter, Olá! Eu sabia que você estaria aqui.
Peter estendeu a mão e cumprimentou Harry.
--- É bom ve-lo, Harry. E eu ainda acho que o premio de Design Revelação devia ser seu.
Harry riu, simpático.
--- Aquela casa noturna não foi lá essas coisa, você sabe. Muito diferente de, sei lá, o maior navio do mundo! Peter, que coisa linda você fez lá!
Peter riu, sem graça, pois sabia que o crédito não era totalmente dele.
Harry se virou para Mick, com uma expressão que demonstrava duvida.
--- Nos conhecemos? Você é decorador?
Peter se lembrou dos bons modos para com Mick.
--- Desculpe, Harry, este é meu amigo Mick.
Mick apertou a mão de Harry.
--- Aonde você trabalha? Tem uma empresa própria?
Mick riu baixo.
--- Não sou decorador, só estou de penetra aqui.
Peter estava com medo de que Mick falasse alguma bobagem.
Harry riu e se virou para Peter.
--- E o Luigi? --- disse ele --- Ainda está na Vogue?
--- Sim, continua lá. Eu falo para ele larguar e tals...
--- E ele?
--- Acha que não é o momento certo.
Harry pegou uma taça de champanhe, mas não a bebeu.
--- Ele é um rapaz corajoso. Trabalhar no meio de tanta futilidade que é esse mundinho pequeno chamado moda... Eu não aguentaria.
Peter olhou para Mick, que estava paralisado.
--- Como é? Mundinho pequeno? --- Mick estava com algumas dobras na testa, ocasionadas pelo franzir.
--- Lógico. Um mundo governado por pessoas que acordam e dizem "isso é bonito" ou "isso é feio" é um mundo pequeno.
Mick olhou para Peter, que estava sem expressão.
--- Eu vou ao banheiro --- disse Mick, com a cara fechada.
Mick pousou o copo em uma bandeja de um garçon e se afastou, com passos rápidos.
Harry ficou olhando, atonito.
--- Eu disse algo errado?
Peter sorriu, simpático.
--- Mick é consultor de imagen na FordModels, e faz faculdade de moda na Anhembi Morumbi.
Harry sorriu meio constrangido.
--- Mas que bola fora.
Peter e Harry ficaram conversando durante alguns minutos, e depois Harry se afastou para ir cumprimentar outro conhecidos.
Enquanto Peter procurava Mick em todas as direções, seus olhos e os olhos de Christopher se encontraram. Christopher disse alguma coisa para as pessoas que estavam ao lado dele e se afastou, indo em direção á Peter.
--- Hey Pet --- disse ele.
--- Hey Chris. E aí?
--- Legal. Cade o Luigi?
--- No anfiteatro com os outros meninos. Mick está aqui comigo.
Christopher tentou puxar pela memória.
--- Mick... ?
--- Um amigo meu. Aquele que te convidou para ir na Times antes de nós viajarmos pro navio.
--- Sim, claro. Garoto interessante. Ele... Ele está solteiro?
Peter riu e tomou um gole de champanhe.
--- O Mick? Com certeza.
Christopher sorriu e balançou a cabeça positivamente.
Minutos depois, o presidente da associação de decoradores subiu em uma pequena plataforma e começou a discursar.
Bem acima deles, um garoto pedindo ajuda ligou para Luigi.



No anfiteatro, Seth e Will conversavam de mãos dadas, enquanto Luigi e Arthur comentavam sobre o teatro, que mais parecia uma galeria de arte moderna.
Luigi sentiu seu celular vibrando dentro de seu bolso. Ele pegou o aparelho e viu no visor um numero que ele não conhecia.
--- Alo? --- disse ele, aceitando a ligação.
--- Luigi? Luigi! Por favor, Luigi, sou eu, Eric, preciso de sua ajuda!
--- Quem? Eric?
--- Luigi, por favor, você precisa me ajudar.
A voz de Eric era rápida e desesperada. Luigi pensou em desligar, mas algo o fez escutar o que Eric tinha á dizer.
--- Eric, calma. O que foi?
Ao fundo, um barulho de musica alto e uns gritos fazia com que Eric falasse mais alto.
--- Aquela festa que eu dei aqui na minha casa saiu um pouco de controle. Eu chamei só uns amigos, e apareceram mais de cem pessoas que eu nunca vi na vida! Luigi, por favor, vem aqui e me ajude! Por favor!
Luigi coçou a testa.
--- Eric, não dá, o Peter vai receber um premio e...
--- Eu sei, eu sei, mas você é a unica pessoa que eu posso chamar pra me ajudar!
--- Onde está sua mãe?
--- Ela foi pra Paris numa conferencia da Vogue de diversos paises, e ela não pode nem sonhar o que está acontecendo aqui.
Luigi olhou para seu relógio de pulso, que marcava oito horas. Ele revirou os olhos quando respondeu.
--- Tá, estou aí em 20 minutos.
Arthur olhou para ele e perguntou quem era.
Luigi desligou o celular e colocou-o no bolso.
--- Arthur, eu já volto, rapidão.
--- Aonde você vai?
--- Ajudar uma pessoa que mora á vinte minutos daqui. Eu volto á tempo de ir receber o premio com o Peter.
--- Se ele ganhar. Os outros decoradores também fizeram um trabalho incrivel.
Luigi se levantou e disse.
--- Eu não tenho duvidas sobre quem será o vencedor --- disse ele, piscando para Arthur --- Já volto.
Luigi seguiu pelo corredor com passos rápidos, e depois desapareceu porta á fora.



Mike reconheceu uma silhueta conhecida, indo em direção á porta de saída.
Mas que porra ele tá fazendo?
Mick correu até Luigi e enconstou a mão nas suas costas. Luigi se virou rapidamente.
--- Aonde você pensa que vai? --- disse Mick.
--- Já volto, um conhecido meu está precisando de ajuda.
--- O que? Luigi, você tem que acompanhar o Peter daqui á pouco.
Luigi passou as mãos nos cabelos.
--- Eu sei, mas é bem rápido. Eu volto á tempo de ouvir o pronunciamento dos indicados.
Mick pensou durante alguns segundos e enlaçou seu braço com o de Luigi.
--- Eu vou com você. Só para garantir que volte á tempo.
Luigi sorriu e seguiu para o seu carro, na companhia de Mick.


Quando a legião de decoradores entrou do anfiteatro e se acomodaram em seus lugares, Peter notou que faltavam duas pessoas.
--- Cadê o Luigi e o Mick?
--- O Luigi foi não sei aonde, não explicou direito. O Mick eu não faço a minima idéia da onde ele esteja.
Seth se virou para Arthur e Peter.
--- Eu ouvi qualquer coisa sobre ajudar alguem. Agora o Mick eu não o vejo desde que entramos aqui.
Peter franziu as sobrancelhas.
--- Me empresta seu celular? --- Peter pediu á Arthur.
--- Claro --- disse ele, entregando o pequeno aparelho prateado para Peter.
Peter procurou o numero de Luigi na agenda telefonica, e quando o achou, apertou o batão verde.
Dois toques depois, uma voz que não era de Luigi, atendeu.
--- Sim?
--- Luigi?
--- Oi Peter, é o Mick.
Peter ficou mais confuso ainda.
--- Mick? Onde você está? O Luigi está com você?
--- Peter, relaxe. Sim, eu estou com o Luigi, estamos á caminho da casa de um amigo dele.
Luigi virou a cabeça, quando ouviu a palavra "amigo".
--- O que? Que amigo?
Luigi pegou o celular da mão de Mick e disse:
--- Amor, sou eu. Olha, depois eu explico. Não precisa se preocupar.
--- Luigi, o premio de Melhor Decorador vai ser entregue ás dez horas. Esteja aqui antes das nove e meia!
--- Vou estar aí antes das nove --- Luigi tentava acalmar Peter --- Olha, tenho que desligar. Até daqui á pouco.
Peter suspirou fundo, tentando conter seu nervosismo.
--- Até --- disse ele, apertando o botão vermelho e encerrando a ligação.
Peter afundou na cadeira, como se estivesse exausto.
Will curvou o corpo sobre Seth e Arthur, e pegou na mão de Peter.
--- Ele vai estar aqui, fique calmo.
Peter não pode responder, porque no palco, as luzes começaram a piscar, anunciando o inicio da premiação.
Sim, fique calmo, Peter. Ele estará aqui na hora certa.



--- E aí, me conta, quem é esse amigo?
A palavra "amigo" soava estranhamente errada na cabeça de Luigi.
--- Ele não é meu amigo, ele é filho da minha chefe. Ele deu uma festa e a coisa saiu de controle.
Mick ligou os pontos.
Luigi trabalha na Vogue. A chefe de Luigi e diretora da Vogue é Vittoria Walker. E Vittoria tem um filho chamado...
--- Estamos indo na casa de Eric Walker?!
Luigi achou estranho o súbito ataque de reconhecimento de Mick.
--- Sim, esse mesmo. Conhece ele?
--- Claro! É uma bichinha passiva que acha que entende de moda!
Luigi revirou os olhos.
--- Esse mesmo.
--- Esse garoto --- disse Mick --- ele tem um amigo maquiador que trabalha lá na FordModels, e fica indo lá direto para atrapalhar as pessoas.
Luigi não disse nada, mas Mick continuou.
--- Acredita que uma vez ele insinuou que eu não podia usar listrado? Disse que pessoas gordas não podiam usar listrado, como se eu fosse gordo e não pudesse usar listrado!
Luigi deu uma risada baixa.
--- Esse garoto me irrita --- concluiu Mick.
--- Eu também não sou um grande fã dele não. Ah alguns meses atrás, ele fez com que eu e Peter nos desentendessemos.
--- Então porque está ajudando ele?
Luigi deu os ombros.
--- Sei lá. Ele me ligou, e pareceu que realmente precisava da minha ajuda.
Mick franziu a testa.
--- Ele te ligou? E como ele tem seu numero?
--- Ele é filho da diretora da Vogue. Consegue o numero até do Jimmy James.
Mick cruzou os braços diante do peito.
--- Bichas poderosas são más.
Você nem imagina o quanto, pensou Luigi, pisando fundo no acelerador.


Helena Morgado, uma jovem e timida decoradora de 21 anos, subia as escadas em direção ao palco, um degrau de cada vez. Ela tinha ganhado o premio de Designer Revelação, com a decoração de uma livraria especializada em livros juridicos. Era baixinha, ruiva, com o cabelo curto e arrepiado.
--- Caminhoneira --- disse Will para Arthur.
--- Sapa-caixa --- disse Seth, para concluir a afirmação de Will.
Peter ouviu os comentários e se virou para eles.
--- Ela é casada e tem um filho. E dizem as más linguas que tem um caso com o chefe dela.
Will e Seth se olharam e riram baixinho.
--- Sapa-caixa.
--- Caminhoneira.
Eles colocaram a mão na boca para que Peter não ouvisse suas risadas. Mas Peter estava um pouco distante.
Oito e trinta, pensou Peter.


Quando o carro estacionou em frente á casa de Eric, Mick se sentiu como um militar que estava entrando nas linhas inimigas.
O som podia ser ouvido do portão. Uma musica alta, estilo eletronica, com a voz de uma mulher (ou seria um homem?) dizendo o quanto ele/ela quer estar com aquele cara esta noite.
--- E ainda po cima tem gosto ruim para musica --- disse Mick, impaciente --- Quem ainda ouve Gloria Gaynor?
Luigi não deu atenção. Pegou na mão de Mick e o arrastou para a porta da casa.
Bateram três vezes e ninguem abriu a porta.
Mick girou a maçaneta e empurrou a porta impacientemente.
Parecia que a Times havia mudado de endereço. O aparelho de som ultra-moderno indicava que estava no volume máximo. O ambiente era escuro, iluminado apenas por algumas luzes que foram instaladas no teto inexplicavelmente, já que a casa não tinha estrutura para aquilo. No chão havia marcas dos sofás que haviam sido arrastados e sumidos misteriosamente.
Mick notou que havia diversos cacos de vidro no chão, e logo viu três pares de abajur que haviam perdido suas lampadas e suas coberturas.
Enquanto outras pessoas dançavam despreocupadamente, duas travestis brigavam, uma puxando a peruca da outra, e alguns caras se beijavam lascivamente. Alguns estavam com a mão dentro da calça do outro, enquanto um estava de joelhos e fazia sexo oral no outro, que revirava os olhos.
Uma baderna completa.
Luigi avistou Eric, que estava segurando a cabeça de uma garota, enquanto ela vomitava dentro de um vaso de aparencia caríssima. Eric deixou a garota segurando o vaso e foi na direção de dois caras que haviam deixado dois copos de plásticos em cima da televisão de 52 polegadas.
--- Existe lixo para isso, sabiam?! --- disse ele enquanto pegava os copos e colocava um dentro do outro.
Quando Eric viu Luigi parado na porta, ele correu para Luigi, desesperado.
--- Luigi! Eu sabia que você vinha! Ai Luigi!
Eric abraçou Luigi bem forte, e Mick franziu a testa.
--- Que bom que você... --- Eric olhou para Mick --- O que você está fazendo aqui?
--- Ele veio comigo --- disse Luigi.
Eric mediu Mick e depois se virou para Luigi, mas não disse nada.
Luigi começou a pensar, mas foi empurrado por uma mulher alta que tentava entrar na casa. Quando Luigi a olhou, viu que não era necessariamente uma mulher.
--- O que vamos fazer? --- disse Eric.
Luigi pensou durante uns segundos e disse:
--- Aonde fica a caixa de energia?
--- No porão.
Luigi assentiu com a cabeça.
--- Então vamos.
Ele pegou na mão de Mick e seguiu Eric, que mostrava o caminho a eles.



Quando Peter estava mais relaxado e já tinha parado de olhar no relógio á cada cinco minutos, ele sentiu um par de dedos no seu ombro. Quando se virou, viu seu pai Mark e sua mãe Anne sentando-se nas poltronas logo atrás dele.
--- Pai! Mãe!
Eles sorriram, e Anne se inclinou para Peter, segurou uma mecha de cabelo que estava em sua testa e deu-lhe um beijo.
--- Bom ver você, querido.
Peter sorriu e sentiu a mão de seu pai bagunçar seu cabelo.
--- Lugar legal, filho. Já ensaiou seu discurso?
--- Já está tudo aqui --- Peter encostou o dedo endicador na cabeça.
Mark sorriu e fez que "sim" com a cabeça.
--- Querido, onde está Luigi? --- disse Anne, notando a falta do genro.
--- Ele teve que sair, mas logo está de volta.
Peter ouviu uma voz vinda do palco e se virou. Era a vez de premiar o melhor Designer Comercial do ano.
Dalí á quatro categorias seria a de Melhor Designer. Peter tentou não pensar nisso.


As pessoas saíam da casa que estava em um breu completo. Luigi havia desligado a chave de energia, deixando a casa inteira no escuro. Ele e Mick apareceram com lanternas e disseram que a polícia estava a caminho.
--- Mas que bagunça --- disse Mick, iluminando a sala vazia com sua lanterna.
--- Saiu do controle --- disse Eric --- Estava eu e mais cinco amigos. Bateram na porta e quando eu atendi, umas vinte pessoas entraram, segurando cerveja e vinho. Logo apareceram mais pessoas, e mais ainda, e acabou dando nisso.
Luigi concordou e olhou no relógio.
--- Mick, vamos, se não vamos chegar atrasados.
Mick desligou a lanterna e entregou para Eric, que nem sequer deu atenção. Seus olhos estavam vidrados em Luigi.
--- Hã... Está tudo bem?
Eric fez que sim com a cabeça.
--- Sim, está. Agora só preciso arrumar isso e comprar três abajures novos.
Eric concordou, e Luigi foi em direção á porta. Mas antes dele sair, Eric impulsivamente segurou seu rosto e lhe deu um beijo.
Mick arregalou os olhos.
--- Obrigado, Luigi. De verdade.
Eric se virou para Mick para agradece-lo.
--- Valeu Donatelo.
--- Meu nome é Michelangelo. Mick para os amigos.
Eric deu os ombros.
--- Tudo nome de Tartaruga Ninja. Meu preferido era o Rafael.
Mick revirou os olhos e abriu a porta.
--- Eu gostava do Leonardo --- disse Luigi, e Mick o fuzilou com os olhos.
Luigi disse "tchau" para Eric e saiu da casa.
Dez minutos depois, estavam indo para o Sarah Said.
Depois de alguns minutos em silencio, Mick não aguentou e perguntou.
--- E então... O que foi aquilo?
Luigi deu os ombros.
--- Aquilo o que?
--- Olhares, abraços e... Um beijo.
--- Um selinho, no maximo.
--- Tá, mas o que foi aquilo? --- de repente Mick arregalou os olhos --- Luigi! Não me diga que...
Luigi entendeu que Mick estava fazendo confusão e o interrompeu.
--- Não é nada disso, garoto. Ele é afim de mim, ele é do tipo de cara que se acha gostoso e por isso pode ficar com quem ele quer.
--- Humm. E o Peter sabe?
--- Sabe. Mais ou menos.
Mick suspirou.
--- Luigi...
--- Mick, não significa nada. Eu não trocaria Peter pelo Eric. Nunca.
Mick não pareceu se convencer, mas ficou calado.
Durante o caminho de volta, não trocaram mais nenhuma palavra.



As portas do anfiteatro se abriram sem fazer barulho, e Luigi e Mick entraram sem serem notados. Um decorador de cabelo amarrado num rabo-de-cavalo descia os degrais em direção á plateia, para voltar ao seu lugar. Segurava na mão o trofeu que os vencedores ganhavam. Era prateado, na altura de 20 centimetros. Era a representação de uma luminaria de braços duplos, e em cada braço havia lampada. Em sua base havia o nome do premio, a indicação e o nome do vencedor.
Mick e Luigi se aproximaram e sentaram-se --- Luigi ao lado de Peter, e Mick ao lado de Arthur.
--- Onde você estava?!
Peter respirava forte.
--- Um amigo precisou de ajuda, e eu tive que ir ajuda-lo.
--- Amigo? Que amigo?
Luigi pensou durante uns segundos: Dizer a verdade? Ou inventar uma historia?
--- Eric. Ele precisava da minha ajuda.
O olhar de Peter estava fixo em Luigi.
--- O que aconteceu?
--- Uma festa que saiu do controle. Só isso. Mick foi comigo.
Peter pareceu aceitar o fato mais facilmente agora.
--- Ele está bem?
--- Sim, só vai ter muito trabalho hoje a noite. A sala dele está uma bagunça.
Luigi pegou a mão de Peter e entrelaçou seus dedos com os dele. Peter ficou visivelmente mais calmo.
--- Que bom que está aqui --- disse, se aproximando e dando-lhe um beijo.
Segundos depois, Luigi olhou para trás e percebeu que estava sendo observado.
--- Oi Luigi --- disse Anne, carinhosamente.
--- Anne, Oi! Que bom que pode vir.
Anne sorriu e apertou a mão do marido.
--- Oi fotografo --- disse Mark, desviando os olhos para o palco.
--- Oi... Médico --- disse Luigi, sorrindo.
Peter apertou a mão de Luigi e disse baixinho.
--- Por que não o chama pelo nome?
--- Querido, ainda não estamos tão intimos assim. Por enquanto ele é o médico e eu sou o fotografo. Coisa nossa, não se ofenda --- Luigi sorriu e piscou um olho.
--- Ridiculo. Os dois. --- disse Peter, sorrindo.
Cinco minutos depois, Marcell Loui subiu ao palco e foi aplaudido de pé. Ele, alem de ser o presidente da associação de docoradores, era considerado uma lenda no meio do Designer de Interiores. Seus trabalhos serviam como base para muito decoradores, até mesmo para Peter.
Ele chegou perto do microfone que havia sobre uma mesa alta e quadrada, e testou dando-lhe leves batidas com o dedo. Tudo okay.
--- Boa noite á todos, meus amigos. Alguns rostos eu já conheço de longas datas. E vejo que o futuro do Designer de Interiores está nas mãos e na criatividade de cada decorador aqui hoje. Mais, no ultimo ano, cinco decoradores se destacaram, e através de seus excelentes trabalhos, garantiram a indicação de Designer do Ano.
Todos aplaudiram as palavras de Marcell.
Ele continuou.
--- Eu eu, tenho a honra de apresentar á vocês, esta noite, os indicados ao premio, que são eles: --- Ele se virou para trás, onde um telão exibia um quadrado dividido em cindo partes por linhas verticais. Em cada quadrado havia uma foto de cada decorador indicado. Todas as fotos estavam em tom sépia, e quando Marcell falava de cada decorador, a foto ficava colorida, e automaticamente as outras fotos sumiam, dando lugar á fotografias dos trabalhos do decorador que Marcell estava falando.
Começou com Josh Schwartz, um decorador de 29 anos, com cabelo preto cortado em franja. Quando Marcell começou a falar, as outras fotos desapareceram e a foto da parte de dentro de um avião começou a ser mostrado.
--- Josh Schwartz mostrou como nossas viagens podem ser mais relaxantes, usando tons calmos e frios neste avião. O uso inovador de luzes azul-bebê deu um toque de tranquilidade ao ambiente.
As fotos dos decoradores voltaram a aparecer, e a fotografia de Penelope Lopez ganhou vida.
--- Esta jovem decoradora italiana, conhecida no mundo da decoração como Penelope Lopez, fez um excelente trabalho com um antigo teatro em Londres. Penelope foi inspirada pelo desenho animado " A Bela e a Fera " de Walt Disney, quando pintou as paredes de Azul e as Janelas de Dourado. Uma ótima referencia de que devemos deixar a criança existente em cada um de nós tomar as rédeas da nossa mente, de vez em quando.
As fotos eram impressionantes. Um antigo teatro pintado de Azul e Dourado. Realmente, o salão onde os personagens títulos dançam é caracterizado lindamente com essas cores.
--- Elegancia, sutilidade e muita luz. O jovem Peter Calledon aceitou o desafio de dar novos ares ao maior navio do mundo, o Queen Mary Two, uma cidade que avança pelos oceanos. Com muito estilo e personalidade, Peter Calledon truxe vitalidade ao navio, abusando da idéia de que o navio devia ser uma cidade flutuante. Desde os dormitórios até as areas de comércio, eu ouso dizer que Peter fez com que o Queen Mary Two ganhasse o titulo de " Navio dos Sonhos ". Titulo que pertencia ao trágico transatlantico Titanic.
A foto de Peter dividia espaço com as áreas do navio que ele havia decorado.
Uma enxurrada de aplausos fez Peter corar.
A fotografia de Peter ficou em ton sépia novamente, e a foto de Leon ficou colorida.
--- Como descrever em imagens a sensação de bem-estar e leveza? Simples, durmam uma noite no Hotel The King, decorado pelo nosso querido Leon. Bons sonhos? Boas vibrações e, o mais importante, luxo e elegancia em um lugar só? Hotel The King, decorado por Leon.
Leon era um decorador de quase quarenta anos, calvo, óculos em meia-lua e porte atlético. Ele decorou o The King em estilo renascentista. Alguns diziam que ir até o The King era a mesma coisa que visitar a Capela Sistina.
--- Musica, efeitos de luz e muito bom gosto. Amanda Lucci conseguiu fundir o estilo RockAbilly e a musica eletronica em um só. O resultado? A casa de show conhecida como Bola Oito, que recebe diversos publicos diferenciados. Se Elvis estivesse vivo, ele teria muitas namoradas por lá, pois a casa é rica em diversidade.
Marcell respirou fundo e olhou para a platéia em sua frente. As fotos de todos os decoradores voltaram á aparecer em ton sépia.
Marcell retirou um envelope do bolso e abriu. Tirou um pequeno papel azul e leu o nome inscrito. Sorriu e se dirigiu á plateia.
--- E é com grande prazer que eu tenho a honra de informar que o Melhor Designer do ano é...
Ele ficou segundos em silencio, almentanto a espectativa da platéia.
O coração de Peter parecia uma bomba-relógio.
Por fim, a resposta.
--- Peter Calledon, por seu magnifico trabalho no Queen Mary Two.
Todos se levantaram e aplaudiram Peter, que estava muito feliz. Ele cumprimentou os amigos, Luigi e seus pais. Quando Mark o abraçou, sussurou as palavras " Estou muito orgulhoso, meu filho " em seu ouvido.
Era exatamente aquilo que Peter esperava escutar fazia cinco anos.
Luigi pegou em sua mão, e eles foram até o palco. No meio do caminho, alguem se levantava e cumprimentava-os.
Peter e Luigi subiram as escadas. Peter olhou para Marcell, que já estava com a luminaria em miniatura nas mãos. Ele cumprimentou os dois e deu espaço para que Peter fizesse seu descurso. Luigi ficou á poucos centimetros de distancia.
É agora, Peter. Relaxe.
Peter olhou para frente e respirou fundo.
--- Hãã... É essa a hora em que esquecemos até os nossos nomes? --- Ele sorriu junto com a platéia --- Muito bem. Eu gostaria de agradecer á todos aqui presentes, aos meus amigos e colegas de trabalho e, principalmente aos meus pais, Mark e Anne. Papai, consegui.
Enquanto Peter dava uma pausa para segurar as lágrimas, a platéia aplaudia.
Peter se recuperou e continuou.
--- Gostaria de agradecer á todos os decoradores da ArtDeco, que estiveram comigo durante a decoração. Uma equipe tão maravilhosa que fizeram cada momento ser unico. E gostaria de agradecer também... --- Peter se afastou um pouco e segurou Luigi pelo braço, fazendo-o se aproximar da plataforma --- Á pessoa que é o motivo de eu acordar todas as manhãs, olhar para frente e ver a vida maravilhosa que eu tenho, e de sentir um sentimento tão infinito quanto o oceano. Gostaria de dizer á você, Luigi, que eu sou uma pessoa melhor por te amar.
Luigi sorriu, com os olhos cheios de lagrimas.
--- Obrigado á todos e uma boa noite.
Peter sorriu, pegou na mão de Luigi e se afastou do microfone. Eles desceram as escadas e se dirigiram para seus lugares. Leon, Penelope, Josh e Amanda se levantaram e comprimentaram Peter e Luigi.
Trinta minutos depois, todos se dirigiram para o saguão de saída. Havia muitos reporteres e fotografos no local.
Mark e Anne comprimentaram Peter e se despediram. Christopher também veio comprimentar Peter. E Luigi, claro.
Se seguiu uma verdadeira sessão de fotografia. Todos os ganhadores daquela noite tiveram seus 15 minutos de fama.
Em certo momento, quando Luigi deu um beijo em Peter, um fotografo tirou uma foto. O flash desviou a atenção de Peter e Luigi, que estavam com a visão desfocada.
Uma hora depois, todos estavam na casa de Peter e Luigi. Todos iriam dormir lá naquela noite.
Como atitude final, Luigi pegou sua camera e programou o Times em 10 segundos. Todos se espremeram em frente á lareira, e sorriram quando o flash foi disparado.
Na manhã seguinte, Luigi imprimiu a foto a colocou num porta-retrato em cima da lareira, e ao lado do luminaria prateada que Peter havia ganhado na noite anterior.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Capitulo Nove - Segunda Temporada

Dando Esperança.




O despertador fez quele barulho iritante na hora que estava programado, exatamente ás oito horas.
Com apenas um toque, Luigi o desligou, e verificou se Peter estava acordado.
Estava ferrado do sono.
Peter havia colocado o despertador mais cedo naquele dia, pois antes de ir para o trabalho, ele passaria no hospital onde seu pai trabalha.
Eram oito e quinze e Peter ainda continuava com os olhos fechados.
Luigi o cutucou no ombro.
--- Peter, oito e quinze.
Peter fez algum barulho incompreensível, pelo menos no nosso idioma.
--- Peeeteerrr... Oiiito e Quiiinzee...
Luigi o cutucava irritantemente.
--- Nããão... Ainda são... Quinze para ás sete.
Luigi riu com a tentativa de Peter de ser coerente mesmo estando dormindo-acordado.
--- Não, meu amor, são oito e quinze. Dezesseis.
--- Luigi... você fica mais bonito --- bocejo alto e longo --- ... Quando está calado, sabia, querido?
Luigi levantou e ficou aos pés da cama, para arrancar o cobertor e fazer Peter se encolher com a súbita mudança de temperatura.
--- Luigi, são quinze para ás sete, já falei!
Luigi deu a vonta na cama e pegou o relógio despertador. Seus ponteiros haviam acabado de mudar.
Luigi abriu um olho de Peter e colocou o relógio em seu campo de visão.
--- São oito e dezessete, Peter. Levante.
--- Nãããão... São --- Peter abriu o outro olho e viu o relógio --- Droga. Oito e dezessete.
O ponteiro ainda não marcava oito e dezoito, mas Peter já havia levantado da cama, tirado a camiseta regata que usara para dormir, e foi para o banheiro tomar banho.
--- Oito e dezenove, querido --- gritou Luigi, que ainda estava deitado na cama.
--- Oito e vinte --- disse ele um minuto depois.
--- Oito e vinte e um --- ele estava se divertindo apressando Peter.
--- Oito e...
--- Não ouse falar nada --- disse Peter, saindo do banheiro enrrolado num roupão azul e abrindo a porta do closet.
Luigi sorriu e se levantou da cama.
--- Minha vez --- disse ele, indo para o banheiro.
Enquanto escolhia o que vestir, Peter sentiu um cheiro diferente vindo da cozinha.
Olhou no relógio.
--- Luigi, oito e vinte e três --- gritou Peter, enquanto colocava as meias.
Luigi gritou do banheiro.
--- Eu não estou atrazado.
Peter revirou os olhos, vendo que a brincadeira irritante não surtira o mesmo efeito sobre Luigi.
Oito e vinte e vinte e seis, Peter e Luigi estavam em frente ao espelho, arrumando o cabelo.
--- Esqueci de perguntar ontem a noite --- disse Luigi, olhando para os olhos de Peter atravéz do espelho --- Aonde você vai antes do trabalho?
--- Vou ao hospital falar com o meu pai --- respondeu ele, arrumando o cabelo com os dedos --- Vou convida-lo para a festa de premiação.
--- Hummm. E você acha que ele vai?
--- Bem, considerando que a ultima vez que eu o vi, eu disse que ele ia morrer sózinho, as chances dele comparecer são pequenas. Mas vou convidar mesmo assim.
Luigi se afastou do espelho e encostou na porta fechada.
--- E o discurso? Já escreveu?
--- Não --- disse Peter, dando uma ultima olhada no espelho --- Não tive tempo.
--- É melhor você pensar em algo --- Luigi se aproximou de Peter e segurou suas mãos --- Ou você vai chegar lá na frente e não vai saber nem o seu próprio nome.
--- Eu sou criativo --- respondeu Peter --- vou pensar em alguma coisa.
Peter deu um beijo em Luigi e os dois desceram para o primeiro andar da mini-mansão.



Os olhos de Peter e Luigi se esbugalharam no mesmo instante quando eles entraram na cozinha.
A bancada do meio estava coberta de pratos e jarras e talheres. Não dava para ver a mesa, apenas o que estava acima dela.
Mick estava parado perto da bancada, com um sorriso de orelha á orelha.
--- Bom dia, margaridas - disse ele, pegando dois copos no armario.
Eles se entreolharam, mas não se moveram do lugar.
--- Oi Mick --- disse Peter.
--- Hei Mick, e aí? --- disse Luigi, ainda com as sobrancelhas arqueadas.
Mick sorriu e colocou os copos nos unicos lugares vazios da bancada.
--- Sentem-se, comam. Eu fiz especialmente pra vocês.
Eles foram até a bancada e puxaram dois bancos altos.
--- Obrigado, Mick --- disse Peter.
--- É, valeu.
--- Por nada. Eu fiz três tipos de sucos diferentes --- ele disse apontando para as três jarras com liquidos em cores vibrantes --- Laranja, morango e limão. Tem também pão francês, pão integral e pão de forma.
Peter e Luigi sorriam como se fossem duas aeromoças.
Aeromoças/comissários de bordo eram criaturas fascinantes e ao mesmo tempo muito esquisitas. Sempre Sorrindo. Sempre Solícitas. Parecia que as aeromoçam não tinham TPM, como se estivessem imunes aos ciclos naturais da mulher.
--- E também --- disse Mick, apontando com o dedo --- Tem geléia de uva, manteiga e e margarina. Sabem como é, sempre é bom ter opções.
Luigi e Peter só balançavam a cabeça positivamente.
--- E só para finalizar, tem bagels, pão de métro, açucar, adoçante, creme de leite e chá gelado e normal. E só para dar um charme na mesa, tem uma cesta com as maçãs mais vermelhas que eu achei no mercado.
Mick parecia que ia fazer furos na cabeça com aquele sorriso enorme.
--- Hããã... Obrigado Mick. Geralmente e eu Peter só comemos cereal direto da caixa e café preto.
--- Está ótimo, Mick. --- disse Peter, pegando uma faca --- Vem comer com a gente.
Mick recusou.
--- Não não, obrigado. Sei lá, estou me sentindo gordo ultimamente. Qual é a formula de vocês para ficarem sempre tão bonitos?
Luigi e Peter se entreolharam e não responderam.
Alguns minutos depois, Mick voltou a falar.
--- Nossa Luigi, camisa preta aberta com regata branca fica bem em você, sabia? Realça seus... Ombros.
--- Hãã... Valeu. Vindo de um consultor de imagem, isso deve ser bom.
--- Claro que é. E olhe só para esse rapaz muito bem vestido ao seu lado!
Quando Peter ouviu "muito bem vestido", ele olhou para o seu lado e viu apenas o vazio.
--- Peter, bobo! É você sim! Olha só. Calça jeans reta, tennis vermelho e camiseta polo. Polo é o tecido da estação.
--- Pensei que você achava pólo uma coisa só para nerds e jogadores de golfe que não saíram do armário --- disse Luigi, mordendo um bagel.
Mick sorriu constrangido.
--- Valeu Mick --- disse Peter --- apesar de eu ter esse All Star desde meus 23 anos, e essa calça já ter os bolsos furados.
--- Furos é a nova tendencia --- disse Mick, colocando um pano de prato no lugar.
Mick ficou parado perto da bancada central, olhando eles comerem.
Luigi e Peter sabiam que tinha algo estranho.
Geralmente Mick era o ultimo a acordar, e sempre comia cereal. Mick tinha um ódio profundo pelos tennis da marca Chuck Taylor, a empresa que produz o Converse All Star, pois dizia que eram tenis que só os jogadores de basquete deviam usar. Mick odiava qualquer roupa rasgada ou com furos. Aquelas calças que os amantes do rock pesado usavam, que tinham furos enormes nos joelhos, faziam Mick ter vontade de vomitar.
--- Tá bom, pode falar Mick --- disse Luigi, na lata --- O que você quer/precisa/fez/quer fazer?
Ele perguntou deste modo, balançando a mão na vertical para separar os verbos.
--- Luigi, parece que eu só faço isso por interesse. Sei lá, se eu estivesse precisando de um quarto para tranformar em atelier, você acha que eu faria todo esse banquete de natal? Hahaha, fala sério né. Sei lá, o quarto que fica ao lado do meu, aquele com janelas que dão para o sul, que seria perfeito para eu colocar meus manequins e tecidos, seria perfeito, mas eu não faria esse café da manhã só para pedir pra vocês.
Mick sorria e olhava o "banquete" como se fosse Michelangelo olhando para a capela Sistina depois de pintada.
Michelangelo tinha virado cozinheiro?
Luigi olhou para Peter, que desviou os olhos para a comida, rindo compulsivamente.
--- Quarto para tranformar em atelier? --- disse Luigi, entendendo o porque de tantos elógios e café-da-manhã exagerados.
--- Olha, eu sei que é pedir demais e é abusar da boa vontade de vocês --- disse ele, se aproximando de Luigi e Peter com as mãos juntas --- Mas é que eu preciso de um lugar, porque eu vou começar o proximo semestre na faculdade, e eu vou ter que começar a fazer minhas proprias criações. Por favor, Pet, Lui, por favor, por favor...
Luigi olhou para Peter, como se pedisse uma opnião.
Peter fugiu do olhar e levantou da mesa apressadamente.
--- Eu tenho que ir no hospital, vocês sabem, consulta médica e tals...
--- Peter, não Peter, vem aqui...
Peter já estava na porta, com as chaves do carro na mão.
--- A noite conversamos, amor. Mick, valeu pelo café-da-manhã, estava lindo, tudo está lindo hoje, o céu, as nuvens, a grama do vizinho que parece que é mais verde que a minha, o que será que ele usa? --- a voz de Peter começou a ficar mais baixa e distante, até se calar totalmente.
Peter saiu da casa, rindo baixinho.



Peter rodou durante uns 5 minutos no estacionamento do hospital á procura de uma vaga.
Será que todos resolveram ficar doentes ao mesmo tempo? pensou Peter, impacientemente.
Quando finalmente conseguiu estacionar, Peter entrou na recepção e perguntou por seu pai, o diretor geral Mark Calledon. Quando Peter disse que ele era filho de Mark, a recepcionista assentiu com uma expressão que dizia " Então você é o Peter... "
Peter fingiu não prestar atenção.
Peter ganhou um cartão azul, podendo assim circular por todas as áreas do hospital.
Perdido em pensamentos durantes uns minutos, Peter imaginou quais as histórias e comentários que rolavam no hospital, envolvendo o nome de sua familia.
" O filho do Mark? Ah sim, um veado que não sabe nem cortar um tomate ", " Dizem que ele saiu de casa para ir morar num trailler com um pintor ", Ele é um design de interiores, L-I-N-D-O. Mas é gay, que disperdício "
Enquanto andava, Peter recebia olhares curiosos de enfermeiros e médicos, como se todos o conhececem.
Enquanto caminhava, Peter viu duas figuras sentadas em cadeiras, esperando serem atendidos pela médica. Um usava uma camiseta azul sem estampa, calça jeans e tenis branco. O outro tinha uma camiseta de manga longa preta, calça azul marinho e tenis no mesmo tom de azul.
Quando foi se aproximando, reconheceu quem era.
Will estava com os cotovelos encostados nos joelhos, com um olhar distante, analisando o nada. Seth estava encostado na parede, passando a mão nas costas de Will.
--- Seth? Will? O que estão fazendo aqui?
Will não tinha percebido Peter se aproximando, mas Seth sim. Ele sorria quando Peter se aproxiamava.
--- Oi Peter --- disse Seth, se levantando e dando um beijo em seu rosto.
--- E aí Peter --- disse Will, sem se levantar.
--- O que você está fazendo aqui? --- perguntou Seth.
--- Eu vim falar com o meu pai sobre o premio --- Peter respondeu, e mostrou um convite azul que estava no bolso da calça --- Mas e vocês? Está tudo bem com você, Seth?
--- Sim, está. É que...
--- Exame de rotina --- disse Will, cortando Seth --- Estou aqui para acompanha-lo.
Seth o olhou e suspirou fundo. Will devolveu o olhar.
--- Isso, rotina --- disse ele, colocando as mãos nos bolsos da calça --- Faço todo mês.
Um jovem estagiário apareceu na porta e olhou para Will, mas desviou os olhos quando viu que Peter estava alí.
--- Peter?
Peter se virou e deu de cara com um par de olhos verdes fitando-o.
--- Felipe? Oi --- Peter se afastou dos amigos e estendeu a mão para ele.
Felipe Lopez era um estagiário de medicina que tinha 24 anos. Para Mick, pai de Peter, Felipe representava tudo que Peter não era e nunca seria: Um futuro médico, futuro chefe de equipe e futuro presidente do hospital. Mick dizia que Felipe era o filho que ele poderia ter.
--- O que está fazendo aqui? Está tudo bem com você?
--- Sim, está tudo bem. Só estou procurando meu pai.
--- Eu te levo lá --- disse Felipe, saindo pelo corredor --- Você é o proximo, pode entrar --- disse ele, com um aceno de cabeça para Will.
Peter não viu o aceno, estava de costas para os amigos.
--- Depois conversamos --- disse Seth, entrando na sala junto com Will.
Poucos metros depois, Peter era guiado pelos corredores do hospital, em direção á sala que pertencia á Mark Callendon.
--- E então, Peter, você...
--- Eu?
--- Ainda está naquelas de beijar garotos? --- Felipe perguntou, sério.
Peter riu diante á forma como ele perguntou.
--- Sim. Os antibióticos não funcionaram, nem o tratamento de choque. Talvez eu entre pra igreja e deixe Jesus salvar a minha alma. Talvez.
Felipe sorriu, entendendo a idiotice que ele havia perguntado.
--- Desculpe, é que eu me preocupo com essas coisas. Digo, vem em média cinco á treze homossexuais aqui por mês, fazer teste de AIDS ou DST. Aquele mesmo, que aparentemente você conhece, veio coletar sangue hoje.
Peter parrou subitamente, diante da confusão de Felipe.
--- Não não, esse meu conhecido tem leucemia. ele veio fazer testes de rotina.
--- Não veio não --- disse Felipe, tentando esclarecer a situação.
Felipe trazia consigo uma prancheta com vários papéis presos. Ele levantou algumas folhas e procurou uma em especial.
--- Willian Howard Hill? --- disse ele, com uma folha estendida diante dos olhos --- Está aqui. Coleta de sangue ás nove e trinta.
Peter estava confuso.
--- Coleta de sangue?
--- Sim. Ele marcou uma coleta para fazer exames de DST. Era para ter vindo á umas seis semanas atrás, mas não compareceu.
Peter estava atonito.
Peter sabia que antes de Seth voltar, Will tinha feito algumas coisas meio loucas, como transar com qualquer desconhecido e ouvido boatos de que ele tinha marcado presença em fesas Boreback, onde a intenção é fazer sexo sem camisinha e conseguir sair limpo dalí. Quem saísse limpo era considerado inteligente, bonzão, e conseguia respeito entre os participantes daquelas festas.
Agora quem saísse contaminado... Problema dele.
Mas Peter sabia que eram apenas boatos. Will era um cara inteligente, disso ele tinha certeza.
O cérebro de Peter trabalhou como um computador, processando dados rapidamente. Ele guardou aquela informação sobre Will e a salvou numa pasta de " Arquivos para analisar depois ". E rapidamente seu foco foi para a tarefa que estava para fazer alí, naquela hora.
Enquanto caminhavam, Peter e Felipe conversavam sobre assuntos diversos. De alguma forma, Felipe tinha ficado sabendo da indicação de Peter para o NewCorel. Quando Peter perguntou como ele havia sabido, Felipe respondeu que tinha contatos com o pessoal do meio da decoração.
Minutos depois, Felipe deixou Peter na frente de uma porta com o nome " Mark Calledon Dewith " gravadas em uma placa prateada.
Peter deu três soquinhos leves na porta, e logo a voz estridente de seu pai soou lá de dentro.
--- Estou ocupado. Volte outra hora.
Peter girou a maçaneta e colocou a cabeça para dentro.
--- Oi pai, sou eu.
Mark levantou a cabeça e olhou para Peter, parado na porta.
--- Peter? O que faz aqui? Entre e feche a porta.
Assim Peter fez, e se encaminhou para o centro da sala, que era iluminada por uma claraboia de três metros no teto.
A sala parecia um consultorio, só que um pouco maior.
--- Oi pai, tem um minuto?
--- Exatamente um.
Peter balançou a cabeça positivamente, e pela primeira vez que entrou na sala, reparou em seu pai.
Os cabelos, que um dia foram tão louros quanto os de Peter, estavam completamente brancos. Seus olhos já não possuiam aquele brilho jovial que Peter sempre admirou.
--- O que foi? Está tudo bem com você? Precisa de dinheiro?
Peter estava acostumado com a maneira que era tratado pelo seu pai. Desde que Peter assumira sua sexualidade, os carinhos afetuosos e abraços solidários haviam desaparecido e dado lugar apenas á frieza e distancia.
--- Pai, é que tem um evento que eu queria que você, a mamãe e a Kirsten fosse. Kirsten voltou para o Reino Unido, então só sobram você e a mamãe.
--- Evento? Que evento?
--- É uma premiação --- disse Peter, tirando do bolso dois convites e deixando-os na mesa --- Chama-se NewCorel, ele premia os melhores decoradores que se destacaram no ano.
Mark pegou os convite e leu o que estava escrito.
--- E deixe-me adivinhar: Você foi indicado? --- disse ele, olhando para os convites.
--- Sim, eu fui. Indicado na categoria mais importante, a de Decorador do Ano.
Mark riu, colocou os convites na mesa e encostou as costas na cadeira.
--- Um premio de quem escolhe as melhores almofadas! Eu não sabia disso.
Peter balançou a cabeça positivamente.
--- Pois é. Seria muito importante se o senhor fosse.
Peter se sentia como se estivesse conversando com um Iceberg. Até mesmo o iceberg que havia afundado o Titanic e matado mais de 1500 pessoas devia ser mais caloroso.
--- Seria importante? Estranho. A ultima vez que você me viu, você havia dito que eu ia morrer sózinho, não se lembra?
Peter abaixou a cabeça, como se estivesse sendo sensurado por alguma coisa. Suas palavras saíram baixas.
--- Eu sei, me desculpe. Eu... --- Peter se virou e foi para a porta --- Seria importante se você fosse, pai.
Quando ia sair, a voz de Mark o fez ficar.
--- Quem vai estar nesse evento? Aquele seus amigos vão?
--- Sim, todos eles --- disse Peter, voltando á sala.
--- E aquele fotógrafo também vai estar lá?
Peter revirou os olhos.
--- Sim, o fotografo conhecido como Luigi também vai estar lá, pai.
Mark suspirou fundo e voltou sua atenção aos papéis em sua mesa.
--- Se der eu vou. Acho que vou estar ocupado, mas eu aviso sua mãe. Feche a porta quando sair, e pegue preservativos na farmácia. A quantidade de gay que vem aqui fazer testes de DST é impressionante.
--- Talvez marque uma consulta qualquer dia desses --- disse Peter, antes de sair da sala e fechar a porta.




Após uma minunciosa reunião de departamentos da revista Vogue, na qual cada chefe de sessão era obrigado á comparecer, Luigi estava exausto. Ele passara as ultimas duas horas planejando a revista daquele mês e a do mês seguinte. Ele e sua equipe foram designados á cobrir todas as áreas do evento de moda mais importante do ano: São Paulo Fashion Week. Ele e sua equipe estavam preparados para o trabalho, mesmo o evento só acontecendo dalí á quatro semanas.
Quando voltou á sua sala e ligou seu celular --- teve que desliga-lo quando foi para a reunião --- Luigi viu no visor que havia uma mensagem de vóz á sua espera. Ele discou sua senha e ouviu uma voz conhecida.

" Heey lindo, sou eu, Eric. Bom, isso você já devia ter notado, né --- a voz estava petulante como sempre, e Luigi se perguntou como ele havia conseguido seu numero --- Bom, indo direto ao assunto, eu vou comemorar meu aniversário esse final-de-semana, na minha casa. Será algo pequeno, eu, algumas garrafas de vinho e alguns amigos. E eu quero te ver aqui, okay? Depois se você quiser ir para um lugar mais reservado e especial, eu conheço um motel fabuloso. Se quiser trazer o seu gordinho, pode trazer. Não sou grande fã de louros, mas ele não precisa participar do ato, concorda? Te vejo ás nove, gato. "

Sem chances, pensou Luigi.
A premiação de Peter seria naquele final de semana, e a presença de Luigi era importante. Mas mesmo se Luigi estivesse livre, ele não iria. Para que dar mais corda para se enforcar?
Luigi apagou a mensagem de vóz e foi para a lanchonete do prédio. As ultimas duas horas o deixaram com fome.




Mais tarde, depois de cumprir horario na ArtDeco, Peter dirigia em direção á casa de Will, pensando no que havia descoberto aquela manhã.
Muitas idéias vinham á sua cabeça de forma constante e veloz. Ele tentou reorganizar os pensamentos.
Peter entenderia se Will estivesse apenas fazendo um exame de "rotina". Faz parte da obrigação de cada pessoa conciente cuidar da sua saúde e saber á quantas ela anda.
Mas ele havia mentido? Will disse que estava acompanhando Seth em um exame. Porque ele faria isso.
Só se... Ele tivesse motivos para ficar preocupado!
Peter sabia que estava certo, e a confirmação e as provas vieram das lembrnças que ele tinha do estranho comportamento de Will nos ultimos meses.
Will sempre faltava no trabalho, sempre saía com diversos homens e sempre transava com desconhecidos.
Uma lembrança saída do fundo da mente de Peter o refez uma cena em que Will era questionado se ele usava preservativo todas as vezes que ele transava. A cara de dúvida que ele fez quando respondeu que " nem sempre usava " era o ponto que faltava para Peter.
Mas havia mais uma coisa. Porque ele não contou para ninguem?
Se ele tivesse com a suspeita de que estava com alguma doença, os seus amigos deviam ser importantes para ele naquele momento. E por que ele havia omitido o fato?
Medo? Achou que eles iam julga-lo e condena-lo á fogueira?
Os pensamentos começaram á serem processados rapidamente, e Peter teve que organiza-los novamente.
Enquanto começava a separar os fatos, seu celular começou a vibrar em seu bolso. Peter pegou os fones de ouvido e conectou-os no aparelho, e depois apertou o botão verde.
Era Luigi.
--- Oi querido.
--- Peter, aonde você está? Eu pensei em saírmos para comer fora.
--- Eu estou indo até a casa do Will. Eu preciso ir ve-lo.
A voz de Luigi assumiu um tom de preocupação.
--- Ele está bem? E o Seth? Aconteceu alguma coisa?
--- Não não, quer dizer --- aquilo não era um assunto para ser falado ao telefone, no meio do transito --- Olha, quando eu chegar em casa, nós conversamos.
--- Tudo bem, mas... --- a vóz de Luigi deu uma pausa --- Amor, espere um segundo, okay? Tem outra pessoa me ligando.
Claro, estou no meio do transito, dirigindo á 70km por hora.
--- Tá, mas não demore.
Luigi apertou um botão e atendeu a outra ligação. Um numero que ele não conhecia.
--- Alo?
--- Sou eu, Eric.
Luigi revirou os olhos.
--- O que você quer? E como conseguiu meu numero?
Eric riu, como se Luigi tivesse dito alguma bobagem.
--- Luigi, acorda. Eu sou filho da presidente da Vogue. Posso conseguir telefone e endereço de qualquer um em qualquer lugar. Eu até liguei para a filha da Madonna para desejar-lhe feliz aniversário.
--- Ual. Garotos poderosos são impressionante.
Eric ignorou o comentário.
--- Falando em aniversário, você ouviu minha mensagem?
--- Sim, ouvi. Não vou poder ir.
A voz de Eric tornou-se um pouco impaciente.
--- Posso saber porque?
--- Tenho outro compromisso inadiável.
--- O que? Você tem que fazer um transplante do coração ou coisa parecida?
--- É bem por aí. Tenho que desligar agora. Tchau Eric.
Luigi desligou antes que ele pudesse responder.
Com um movimento rápido dos dedos, Luigi voltou á Peter.
Pelo menos assim ele pensou.
--- Pronto Peter, voltei.
--- Não é o Peter. E com certeza eu não tenho nem metade da massa que ele tem.
Luigi esfregou os olhos lentamente. Eric estava segurando sua linha, ou Luigi tinha apertado algum botão errado.
--- Mas tudo bem, está perdoado. Te vejo no sábado ás nove, okay? Beijo e não se atrase. E traga um presente. O meu lubrificante já está acabando.
Eric desligou e deixou a linha livre. Automaticamente, a ligação de Peter já estava na linha.
--- Peter? --- disse Luigi, cauteloso.
--- Sim? Quem era? --- a voz de Peter estava despreocupada.
--- Era do trabalho. E falando em trabalho, prepara-se para trabalhar quando chegar em casa.
Peter franziu a testa.
--- Como é?
Luigi riu e disse:
--- Mick já está pensando em redecorar o quanto, quer dizer, o futuro atelier dele.
Peter achou que Luigi estivesse meio... Chapado.
--- O que? Quer dizer, você deixou ele usar o quarto?
--- Ah, sim, deixei. Depois que você fugiu na maior cara de pau, ele implorou para mim. Por pouco ele quase me ofereceu sexo.
--- Oferta irrecusável.
--- Não para mim. Mas tudo bem, não demore, okay?
--- Vou o mais cedo possivel. Te ligo quando estiver indo para casa.
--- Okay. Eu te amo.
--- Também te amo, Lui. Até logo.
Peter desligou o celular e o colocou no banco ao seu lado. O celular dividia espaço com um estojo de um DVD que Peter tinha alugado na videolocadora que tinha ao lado da ArtDeco.




Toc Toc Toc.
Toc Toc Toc.
Toc Toc Toc.
Peter passou a mão nos cabelos na tentativa de arruma-los. Não que estivessem despenteados, mas...
Depois de mais uma batida, Seth abriu a porta. Parecia que tinha acabado de sair do banho.
--- Oi.
--- Peter? Oi!
--- Posso entrar? --- Peter se convidou.
--- Claro, por favor.
Peter sorriu e entrou na casa. Ele reparou que a ultima vez que ele havia estado alí, foi para se desculpar com Will, que não quis ouvi-lo.
Seth parecia cauteloso.
--- Peter, eu acho que eu sei para que você veio.
--- Sabe? --- Peter fingiu estar surpreso.
--- Sim, eu ouvi o seu amigo médico desmentir eu e o Will.
Peter balançou a cabeça positivameente e se sentou no sofá.
--- E eu lhe peço para que você não comente nada com ninguem. Digo, com os meninos.
--- Tudo bem Seth, tudo bem. Só me diga uma coisa: Ele está bem?
Seth pareceu escolher as palavras.
--- Não sabemos ainda. Só semana que vem, quando saírem os resultados.
Peter balançou a cabeça mais uma vez.
--- Ele me contou o que ele andou fazendo... E eu me sinto responsável por ele.
Peter inclinou a cabeça e curvou o tronco em direção ás costas.
--- Você não sabia. E também...
Uma vóz fria interrompeu a conversa.
--- Eu já disse pra ele que a culpa não é dele. Quem foi em festas Boreback fui eu, por iniciativa minha.
Will entrou na sala, carregando um copo de macarrão instantaneo nas mãos.
Peter e Seth se levantaram do sofá quando o viram.
--- O que? Festas Boreback? --- disse Peter, perplexo.
Will colocou o copo de macarrão na mesinha de centro, e depois chegou perto de Peter.
--- Isso mesmo. Sexo sem camisinha com soropositivos. Pode lançar seu sermão de gay politicamente correto que mora numa mansão num condominio fechado.
Peter achou aquele tom muito hostil. Ele não estava alí para julgar ninguem e muito menos para dar sermão.
A atitude de Peter pegou Will desprevinido.
Peter pegou Will pelos pulsos, e depois o abraçou. Peter sentia falta daquela proximidade com Will.
Will fechou os olhos, sentindo o abraço forte de Peter.
--- Você vai ficar bem --- disse Peter no seu ouvido.
Seth observava sorrindo.
--- Eu sei --- disse Will, como se quisesse convencer a sí mesmo.
Peter se afastou e alisou os cabelos escuros de Will.
--- E se algo der errado, nós estaremos aqui --- disse Peter, sorrindo --- Eu, Seth, o Luigi... Mick sempre estará lá para dizer como nós nos vestimos mal, e Arthur sempre vai ter uma xícara de chocolate quente para nós.
Will sorriu meio envergonhado. Ele não era famoso por demonstrações de carinho tão sinceras.
Peter se lembrou de algo.
--- E... --- ele foi até o sofá e pegou o DVD que ele havia trazido --- Eu pensei que podíamos ver um filme.
Seth e Will pareceram gostar de idéia.
--- O que temos? --- disse Will.
Peter retirou o DVD da sacola branca.
--- Anna e o Rei --- disse ele, estendendo a capa e mostrando aos dois --- Eu sei como você ama a Jodie Foster. E Seth, eu sei como você tem uma quedinha por aquele loirinho que fez o Harry Potter.
Seth e Will deram risada com o comentário.
--- Okay então. Peter, quer macarrão instantaneo? --- disse Will.
--- Por favor, eu ainda não jantei --- disse Peter, se acomodando no sofá e retirando o CD do estojo para entregar á Seth.
Meia hora depois, Peter estava com dois amigos, macarrão instantaneo, Jodie Foster, o garoto louro que fez Harry Potter e mais um monte de crianças chinesas.
Uma hora e trinta minutos depois, Peter dirigia de volta para casa, pensando que o macarrão instantaneo não satisfazera completamente sua fome.
Quando chegou em casa, viu Luigi deitado no sofá, com a televisão ligada em um seriado americano. Ele deitou no mesmo sofá que Luigi passou o barço em volta de sua cintura.
Dormiu alí mesmo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Capitulo Oito - Segunda Temporada.

Indicação.



Os toques, ou melhor, as batidas que vinham da porta da frente não surtira efeito algum em Will, que continuava a dormir tranquilamente. Mas Seth, que estava ao seu lado, olhando para ele, como se guardasse seu sono, virou-se em direção á sala. Pensou que era melhor atender antes que Will acordasse.
Seth colocou o roupão que estava pendurado no cabide e foi em direção á sala, para finalmente abrir a porta e ver uma figura de tamanho médio, cabelos claros e olhos azuis.
Mick se surpreendeu quando viu Seth atender a porta. Não que fosse uma coisa na qual ele não esperasse, mas eram quase onze da manhã.
--- Mick? Oi. Que surpresa.
Mick tentou esbolçar um sorriso, mas sem muito sucesso.
--- Eu que o diga. Hã... --- ele olhou para além dos ombros de Seth --- O Will tá aí?
--- Entre --- disse Seth, dando passagem --- Ele está dormindo.
Quando Mick ouviu essas palavras, ele recuou.
Mick não era um grande fã Seth. Sempre o achou muito sarcástico demais. Mas quem sabe se, depois que ele ficou doente, seu humor salgado pudesse ter sumido? Era uma possibilidade. Remota, mas existente.
--- Hãã... Tudo bem, eu volto mais tarde. Deixe-o dormir... A noite deve ter sido longa.
--- Pois é. Muita conversa para se colocar em dia.
Mick sorriu asperamente.
--- Com certeza. Digo, quem some por quase um ano deixando apenas um bilhete deve ter muita coisa para conversar. Tchau Seth.
Mick se virou, mas antes de começar a andar, a voz de Seth o fez parar.
--- Pelo geito você continua sendo o garoto chatinho que não gosta de mim só porque eu tenho a unica coisa que você não pode ter.
Seth cruzou os braços diante do peito.
--- Pois é, leucemia é algo que ainda não se vende no mercado.
--- Não estou falando sobre leucemia.
--- Não? Sobre o que é, então?
--- Will.
Mick piscou conpulsivamente duas vezes seguidas.
--- Você bebeu? Ou é efeito colateral dos remédios?
Seth riu sem humor e olhou para Mick.
--- Pare de ser idiota. Você sabe o motivo pelo qual você não gosta de mim. O motivo é que eu tenho o coração do Will. E no máximo de partes do corpo que você conseguiu ter foi o pinto dele, há uns três anos atrás.
--- Muito bem, em primeira lugar, eu e o Will somos amigos.
--- E daí? Pense um pouco, garoto. Você não vai muito com a cara do Luigi, pois você tem uma queda pelo Peter. Você não tem vontade de ficar com o Arthur porque ele é muito feliz sendo apenas um micro-empresário que tem sua propria livraria. Coloque ele dentro de um terno do Giorgio Armani, e dentro de uma empresa multinacional. O seu orgulho não permite que você aprecie o Arthur pois ele é uma pessoa de espirito simples.
Mick o encarava sem dizer nada, apenas escutando.
--- Engraçado como as coisas são. Você gosta do Will, mas não tem coragem de ficar com ele e também não quer que ele fique com ninguem. Principalmente comigo, a pessoa que ele ama.
Mick já estava cansado daquela conversa.
--- Você virou analista? Aonde está o divã? E eu acho que você precisa avaliar esses seus conceitos. Will fica com quem ele quiser, eu não me importo.
Antes que um dos dois pudesse dizer algo, os passos de Will foram ouvidos vindo do quarto, e depois passando pela sala. Logo Will apareceu na porta, coçando os olhos e se espreguissando.
--- Mick? Oi, e aí? --- disse ele, quando se aproximou.
--- Mick estava passando por aqui e resolveu nos visitar --- mentiu Seth.
--- Na verdade, Will, eu queria saber sobre os resultados dos exames.
Seth e Will se entreolharam. Seth já estava a par de tudo, até de que Will não fizera os exames.
E para que esconder? Mick era o unico que sabia daqueles exames.
--- Sabe Mick, eu... Eu não fiz os exames.
Mick empalideceu. Suas sobrancelhas se abaixaram.
--- Como é? Do que você está falando?
--- Mick, eu não fiz. Eu... Eu fiquei com medo e acabei não fazendo. Mas eu vou fazer logo.
--- Logo? Devia ter feito antes! Quer companhia? Eu tenho um tempo livre a tarde...
--- Não precisa --- disse Seth, fazendo-se presente --- Eu vou com ele.
Aquilo foi como se um saco de cimento tivesse caido do céu e acertado em cheio a cabeça de Mick.
--- Humm, tá. Qualquer coisa eu... Bom, esquece. Até mais.
Mick praticamente correu de volta para casa.
Enquando ele se afastava, Will o observava ir embora.
--- O que houve? --- disse ele para Seth.
Seth deu os ombros.
--- Vai entender esses universitários.



Peter estava sentado em sua mesa, esperando que um documento do Word terminasse de ser impresso, quando a cabeça de Katherine, sua secretaria, apareceu na porta.
--- É para o senhor, senhor Calledon.
Ela mostrou um envelope branco, que tinha uns desenhos que na hora Peter não conseguiu entender quais eram.
--- Coloque aqui em cima, por favor, Katherine.
Ela tinha um sorriso contido no rosto. Um sorriso que não passou despercebido por Peter.
--- O que foi? --- disse ele.
--- Nada.
Ela colocou o envelope em cima da mesa e ficou alí, imóvel.
Agora mais de perto, Peter pode ver quais eram os desenhos do envelope. Eram plantas. Plantas de projetos arquitetonicos. O envolope era enfeitado com riscos azuis, alguns numeros e centimetros de regua usados para medir e marcar.
Katherine continuava alí, esperando que algo acontecesse.
--- Você quer que eu leia em voz alta, Katherine? --- disse Peter, sorrindo --- Ou eu posso te enviar por e-mail.
Ela riu, sem graça, e saiu da sala, ainda sorrindo.
Antes de abrir a carta, Peter viu seu nome escrito em vermelho no centro do envelope.
Ele abriu o envelope e retirou um papel dobrado três vezes. Era um documento digitado no computador, mas a assinatura do remetente era feita á mão.
Peter começou a ler a carta.

" Caro senhor Peter Calledon,
É atravez desta que a associação de Designer de Interiores do Brasil, fundada em 1991, informa que o senhor está sendo indicado ao premio NewCorel, na categora de Decorador do Ano. Tal indicação refere-se ao seu excelente trabalho como diretor, na redecoração do transatlantico Queen Mary Two. A premiação será no dia onze de fevereiro de dois mil e nove (11/02/2009), ás nove horas da noite, no teatro Sarah Said. Por favor, traga um (a) convidado para acompanhar-lhe durante o discurso de agradecimento, caso o senhor ganhe o premio. Sua presença é muito importante para o ramo de Design de Interiores no país.

Meus sinceros votos de sorte,
Marcell Loui, presidente da Associação de Designers de Interiores do Brasil "

Peter estava imóvel, mas sua mente estava á milhão. Agora ele entendia o estranho sorriso no rosto de Katherine. Aquela carta e aquela indicação já devia estar sendo esperada por todos.
Peter ainda não acreditava no que acabara de ler. O premio NewCorel era destinado á todos os decoradores que haviam se destacado durante o ano. Grandes nomes como Carolina Lankaster, Danyel de Leon, Penelope Lopez e Josh Schwartz já haviam ganhado o premio mais de uma vez. Peter nunca se imaginara naquela premiação, muito menos concorrendo em uma categoria, e muito muito menos na categoria de melhor decorador.
Peter resolveu ir até a sala de Christopher e informar a novidade. Mas não foi necessário nem chegar até o elevador. Quando ele saiu de sua sala, todos os decoradores da empresa se espremiam no minusculo corredor. Alguns gritavam, outros batiam palmas e alguns abriam garrafas de champanhe e jogavam a espuma uns nos outros.
É melhor eu ganhar esse premio, pensou Peter, eles não vão ficar felizes por terem gastado mais de cem reais numa garrafa de champanhe á toa.



O garoto subia as escadas em direção ao seu destino, triunfantemente. Sabia que seu ultimo ato, o mais ousado que havia feito, havia surtido alguns efeitos positivos. Positivos para ele, claro.
Enquanto continuava a subir, ele tirou os fones de ouvido (que ficaram pendurados na sua camiseta em gola em V) e desligou o tocador de musica do seu celular.
Chegou ao estudio e entrou, sem pedir permisão ou pelo menos bater na porta. Ele podia fazer isso. Ele não era qualquer um.
Luigi terminava de dispensar as modelos do departamento de fotografia quando viu alguem parado, atrás dele.
Era familiar, mas algo estava diferente.
Em poucos segundos, quando seus olhos se encontraram pelo que pareceu ser uma eternidade, ele lembrou quem era aquele garoto de cabelos claros e olhos castanhos.
A mudança significativa era na altura do rapaz, e nos musculos do braço que as mangas da camiseta apertada faziam a obrigação de exibi-lo mais.
As roupas também eram diferentes. Quase todas as vezes que Luigi viu aquele garoto, ele usava uniforme escolar azul.
A unica vez que o vira sem uniforme foi quando o garoto ficou apenas de cueca na sala dele, em cima da mesa.
Um detalhe saltou aos olhos de Luigi: A gola em V da camiseta super apertada, que exibia o começo do peito totalmente liso.
Qual a graça de ficar com garotos que não estavam na puberdade? Era a mesma coisa que pegar uma mulher.
Eric Walker. Filho da chefe de Luigi, Victtoria Walker.
Esse mesmo garoto causara um pequeno tremor no relacionamento entre Luigi e Peter, á alguns meses atrás.
Dissimulado. Pervertido. Fútil até o ultimo fio do cabelo.
O garoto olhou para o proprio corpo e sorriu, como se olhasse para um troféu.
--- Delicioso, fala sério. E aí... Luigi? Quanto tempo não nos vemos.
Luigi se virou e começou a guardar o equipamento fotográfico.
--- Realmente. Deixe me ver... A ultima vez foi quando você deixou aquele preservativo usado no meu sofá, se eu não estou enganado.
--- Dim dim dim --- Eric bateu palmas --- Sua memória é ótima. E desculpe por isso. Não foi minha intenção.
Pasciencia, pensou Luigi.
--- A não? Então você quer dizer que acidentalmente você transou com um cara e fez o esperma dele para dentro do preservativo?
Eric sorria diante do seu triunfo.
--- O esperma era meu. Eu pensava em você enquanto eu... --- ele sorriu dissimuladamente --- Ah, você sabe, não se faça de santo.
Luigi deu as costas e começou a andar pelo estudio, em direção á sua sala.
--- Mas já vamos para a sala? Eu não sabia que você fazia o tipo moderno --- disse Eric, enquanto seguia Luigi pelo estudio.
Luigi passou pela porta e a fechou. Como se isso detivesse Eric, que entrou assim mesmo.
--- Tá, garoto, o que você quer? --- Luigi foi curto e grosso, mas não sabia se ia querer saber a resposta.
--- Ah, não sei --- disse ele, se aproximando --- conversar... Sabe, eu sou extremamente preocupado com o tratado de paz internacional. Vicêjá leu todas as clausulas? São imperdíveis.
--- Pare de ser idiota, garoto.
--- Não me chame de garoto. Sabe, na verdade eu vim aqui cobrar o meu presente.
--- Presente de que? Você vai para o Camboja e quer algo bonitinho para usar?
Eric sorriu e sentou em cima da mesa.
--- Engraçado, mas não. Bom, como pode perceber, estou mais crescidinho... Fiz 17 anos semana passada e você me deve o meu presente. Se bem que... --- ele começou a passar o dedo indicador sobre o peito de Luigi --- Meu presente não precisa estar embrulhado. E eu falo isso nos dois sentidos.
Luigi deu um tapa na mão de Eric, que fingiu não perceber.
Com os dedos do meio e o indicador, Eric imitou um par de pernas, que começaram a descer pelo peito de Luigi, chegando até a cintura.
Mais um tapa. Dos fortes.
Eric sorriu e olhou para o porta retrato que estava perto do seu joelho.
--- Pelo geito você ainda está com o gordinho. Não cansa de tanta gordura?
--- Ele não é gordo. E ele não precisa estar de camiseta apertada para ser sexy. E isso não é da sua conta.
--- Então quer dizer que você me acha sexy de camiseta apertada? Sinceramente eu fico mais sexy sem camiseta. Sem roupa nenhuma é uma visão do paraiso.
--- Vou te dar um sobretudo no Natal --- respondeu Luigi, frio, começando a arrumar sua mala para ir embora.
Eric riu, pretendo fazer um comentário. Mas sua vontade foi interrompida quando, lá do estudio, uma voz chamava por Luigi.
--- Luigi? Luigiii, Hei. Está aqui ainda?
Luigi olhou para Eric e empurrou-o da mesa.
--- Vai embora, tchau.
--- Não. Deixa eu conhecer seu gordinho.
--- Ele não é...!
Luigi foi interrompido pela cabeça de Peter, que apareceu na porta.
--- Oi, hã, estou atrapalhando?
--- Não amor, pode entrar.
--- É, pode entrar --- disse Eric, maliciosamente.
Peter não sabia quem era aquele garoto alto que estava na sala de Luigi. Eric e Peter nunca haviam se encontrado antes.
--- Eu, hã, tenho que ir --- disse Eric, dando a volta na mesa e indo para perto de Luigi --- Querido, foi bom ve-lo. Eu te ligo para convidar para a minha festa, okay?
Peter estava parado na porta, sem dizer nada. Sorria ingenuamente.
--- Você pode vir também --- Eric se dirigiu a Peter.
--- Hã, claro, seja lá para o que for --- disse Peter, mecanicamente.
Antes de Eric sair, ele se virou mais uma vez para Luigi e colocou a mão na barriga, e com o polegar apontou para Peter.
--- É sim. Sem duvida alguma.
Ele se virou, sorriu para Peter e saiu da sala. Segundos depois estava descendo as escadas.
--- Quem é? Modelo? --- perguntou Peter.
Luigi parecia constrangido, como se tivesse feito algo de errado.
--- Não, não é modelo não.
--- Não? Parecia. Fotografo?
--- Também não.
As sobrancelhas de Peter se abaixaram, indicando que estava confuso.
--- Faxineiro? Conselheiro espiritual? O cara que faz café?
--- Eric Walker --- disse Luigi, de uma vez.
Por um segundo, a cabeça de Peter virou um grande sinal de interrogação que piscava em cor Neon.
Por um segundo.
O nome circulou pela mente de Peter, como se estivesse procurando por um arquivo perdido em diversos documentos. Foi como um raio correndo por uma estação de energia elétrica.
--- Como é? Eric... Aquele?
Peter havia descoberto o nome da pessoa que entrara em sua casa e deixara o preservativo, atravez do porteiro do condomínio, que tinha que anotar os nomes de todas as visitas.
Luigi estava indeciso quando respondeu.
--- É. Aquele... Aquele sim.
Peter não se abalou.
--- O que ele queria?
--- Nada que ele possa ter. Mas que surpresa é essa? Meu namorado nunca vem até o meu trabalho.
--- Como se você fosse até a ArtDeco todos os dias --- disse Peter, abraçando Luigi pelo pescoço.
--- Eu nunca me interessei muito por plantas ou almofadas italianas --- respondeu Luigi.
--- E eu nunca fui muito fã de lentes ou de modelos com cintura tamanho 36 --- Peter rebateu.
--- Eu uso 37.
--- E sei. Você tem que mandar apertar todas as calças que você usa.
Luigi sorriu e deu um beijo rápido em Peter.
--- Mas sério, a que devo a honra?
--- Bem ... --- Peter se afastou e colocou a mão na cintura --- Você está falando com um dos indicados á decoradores do ano.
Luigi arregalou os olhos, e depois explodiu.
--- Eu sabia que você ia vencer! Eu sabia!
Ele correu até Peter e o abraçou, enquanto girava-o no ar.
--- Calma, eu só fui indicado.
--- E já ganhou, com certeza!
--- Não sei, os outros indicados são, digamos que... Fortes.
Luigi enconstou na mesa e puxou Peter para si.
--- Quem são os outros?
--- O Josh Schwartz e a Penelope Lopez estão sendo indicados pela segunda e terceira vez, respectivamente. Tem também o Leon, Eu, e mais uma outra decoradora, que também está sendo indicada pela primeira vez.
--- Um bando de loosers, com certeza. Você já começou a ensaiar seu discurso?
--- Ainda não. Falando em discurso, eu tenho que levar alguem para me acompanhar durante a entrega do premio. Conhece alguem disponivel?
--- Olha, a Madonna já tem compromisso, mas eu acho que o Papa está livre.
Peter deu dois socos leves na barriga de Luigi, que tentou conte-lo com as mãos.
Luigi e puxou para si de novo e disse bem perto do seu rosto:
--- Será um prazer.
Peter sorriu, como se fosse o garoto mais inteligente da turma.
--- Já contou aos meninos?
--- Ainda não. Recebi a carta hoje de tarde.
Luigi pensou durante alguns segundos.
--- Vamos ao Archier. Depois á algum lugar mais reservado.
--- E esse local reservado tem espelhos no teto? --- disse Peter, baixinho.
--- E hidromassagem.
Peter sorriu e passou os lábios no pescoço de Peter.
--- Precisamos ir até o Archier? --- disse Luigi --- Podemos só ligar, ou mandar um sinal de fumaça.
Peter riu alto e puxou Luigi em direção á porta.
--- Quando mais cedo chegarmos, mais cedo saímos.
Luigi concordou com a cabeça e eles seguiram para o Archier.


Parecia que o Archier estava oferecendo comidas de graça, pois parecia que todos os solteiros da cidade tinham ficado de beber café e comprar livros. Mick estava lá, ajudando Arthur. Mick ficava no balcão de livros, enquanto Arthur fazia os cafés.
Vinte minutos depois, o lugar já estava mais calmo. Talvez os solteiros da cidade já estivessem fartos de café ou não queriam mais ler os livros.
--- Depois dessa, eu ganhei massa muscular --- disse Mick, se abanando com as mãos.
--- Trabalhar no meio de tecidos realmente estimula o seu sedentarismo --- responder Arthur, terminando de guardar um dos copos.
Arthur esperava uma resposta de Mick, o que não ocorreu. Mick estava olhando para o nada, fitando o vazio.
--- Coelhos com patas de cavalo, barraca de sorvete no meio do deserto, os desenhos do pernalonga que você via quando era criança, o novo filme do Batman que que estreou dia 36 do mês 15 desse ano...
--- Porque você tem a mania de dizer bobagens quando pega alguem olhando para o nada? --- perguntou Mick, saindo do seu transe.
--- Para traze-lo de volta a realidade. E sempre dá certo.
--- Humpf.
Arthur percebeu algo estranho no olhar.
--- O que houve?
Mick olhou para ele. Precisava conversar com alguem.
--- Seth. Está feliz com a volta dele?
A resposta de Arthur foi altomática.
--- Claro, porque não estaria? Digo, Will está feliz da vida.
--- É que sei lá... Ele sumiu de repente, e quem ficou do lado dele? Nós. E nós sabemos que Seth tem os dias contados.
--- Mick, não fale assim.
--- Mas não é? Digo, quando ele for desta pra melhor, como o Will vai ficar?
Arthur considerou a questão.
--- Então você acha que o Seth não devia ter voltado, aí quando ele morresse, o Will não ia ficar sabendo e continuaria tudo como antes?
--- Sim --- respondeu Mick, como se Arthur tivesse acertado bem no alvo.
--- Então o fato do Will estar feliz com o cara que ele ama não é importante? --- disse Arthur.
--- Não se o cara estiver com os dias contados. Que tipo de amor é esse que tem prazo para acabar ?
Antes que Arthur pudesse respondeu, seu celular vibrou em seu bolso, uma unica vez.
Arthur pegou o celular e viu no visor um envelope fechado. Uma mensagem havia chegado.
Segundos depois de ler a mensagem, e ficar sorridente, Arthur virou para Mick e perguntou.
--- Mick, você tem baton, aí ?



Pouco tempo depois, uma outra mensagem era enviada, dessa vez para Will. Foi Seth que a leu.
--- Vamos para o Archier --- disse ele para Will --- Algum tipo de comemoração para o Peter.
Will, que estava procurando um CD na sua estante, se virou e fez uma careta.
Seth revirou os olhos.
--- Você e o Peter tem que voltar a se tratar normalmente. Qual é, Will, vocês são amigos há anos.
--- Seis anos --- disse Will, virando-se de costas para Seth.
Seth ficou calado e cruzou os braços em frente ao peito.
Cinco munutos depois, o silencio já estava irritando Will.
--- Okok, vamos --- disse Will, se convencendo.
Seth sorriu e pegou na mão dele. Minutos depois, eles estavam indo para o Archier.



Quando Luigi abriu a porta e deu passagem para Peter entrar primeiro, o sino acima da porta fez o barulhinho habitual.
Peter sorriu quando percebeu o que estava acontecendo alí.
Algumas folhas de papel sulfite haviam sido coladas uma á outra, formando uma unica folha. Estava pendurada na parede que ficava de frente para a porta.
De uma forma bem despreocupada, as palavras " Parabens, Peter! " foram escritas nessa grande folha, com algum tipo de tinta vermelha. A textura dessa tinta lembrava muito á baton.
Seth, Will e Arthur estavam do lado esquerdo, com chapeuzinhos de festa de criança na cabeça. No lado direito estava Mick, que também usava um chapelzinho, e com uma travessa de muffins. No meio do muffin que estava no centro, havia uma vela quebrada ao meio para ficar menor.
--- Eu sei que é ridiculo --- disse Mick --- Mas foi o que conseguimos fazer em 10 minutos.
--- Oito minutos e doze, para ser mais específico --- disse Arthur.
Peter riu alto, junto com Luigi.
--- Bom, então... Parabens! --- disse Mick, erguendo o prato de muffins.
Seguiu-se um coro de palmas e pequenos gritos.
Quando todos se acalmaram, Peter conseguiu abraçar cada um deles.
Quando foi abraçar Will, foi meio estranho. Nenhum dos dois estavam totalmente á vontade um com o outro.
--- Mas como vocês souberam? --- disse Peter, servindo-se de um muffin e mordendo as beiradas.
--- Luigi mandou uma mensagem pelo celular --- disse Arthur, terminando de comer um muffin.
Peter riu e segurou a mão de Luigi.
--- Valeu, pessoal. Adorei tudo. Até mesmo a faixa de papel sulfite.
--- Idéia minha --- disse Arthur --- Mas o batom foi o Mick que arranjou.
--- Como? --- disse Will.
Mick terminou de engolir um muffin e respondeu.
--- Não queiram nem saber.
Meia hora depois, Luigi pagava a suíte " Diamante " com o seu cartão de crédito. A atendente estendeu uma caixa de preservativos para Luigi.
--- Não, obrigado --- disse ele, pegando na mão de Peter e subindo as escadas, em direção á suite mais luxuosa daquele motel.