sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Capitulo 14.

Triangulo sem pontas.


A rua sinuosa á sua frente já era muito conhecida. Morou naquela rua durante anos. Sabia onde iam dar todas as curvas, sabia o nome de todos os vizinhos, de todos os gatos e cachorros que também moravam ali.
Quando chegou á maior casa da rua, de cor branca e jardim cheio de ervas daninhas, Peter suspirou e girou a chave na ignição, fazendo o motor parar.
Não tinha muitos lugares a ir. Voltar para casa e enfrentar a verdade? Sem chances.
Rodar a noite inteira e ir para o escritório na manhã seguinte? Era provável.
Mais um pensamento passou-lhe pela cabeça. Não sabia bem o que sentir, mas considerou a idéia.
Ir á casa de Christopher e ficar a noite inteira conversando com ele? Poderia fazer isso.
O único medo de Peter era de que fizesse algo que se arrependesse. Ele estaria pronto para atirar pela janela os seus quase cinco anos? Os quase cinco anos mais perfeitos e felizes da sua vida? Estaria ele pronto para desistir de tudo e começar do zero?
Não. Não estava pronto para desistir ainda.
Ainda estava dentro do carro quando tomou a decisão. Não iria correr para a casa dos seus pais, como se tivesse oito anos de idade.
Girou a chave novamente e disparou para longe da sua antiga casa.

Enquanto dirigia, lembrou-se dos últimos acontecimentos.
Não era sobre a camisinha ou a briga sem palavras que tinha tido com Luigi.
Antes de sair do condomínio fechado, Peter passou pela portaria e perguntou ao porteiro daquele turno quem tinha entrado ali durante o dia. Era trabalho do Porteiro registrar em um livro o nome e o numero de telefone de qualquer novo visitante.
Conferindo o tal livro de registros, o porteiro conseguiu apenas informar um nome e um numero de telefone. Tal nome havia visitado sua casa naquela tarde, enquanto Peter estava fora.
Eric Walker.
Peter não fazia idéia de quem poderia ser. Mas o sobrenome não era estranho para Peter.
Walker. Aonde tinha ouvido aquele nome antes?
Tinha anotado em um papel o numero de telefone.
Ligar ou não ligar? E se ligasse o que iria fazer? Pedir explicações?
Acabou não ligando. Não tinha coragem de fazer isso.
Não percebeu para onde estava indo. Estava completamente á deriva.

O celular não parava de tocar. O visor iluminava praticamente todo o carro. E um nome aparecia, acima de uma setinha verde.
Luigi.
Peter não atendeu aquela ligação. Nem as outras seis que se seguiram.
Parou em frente á um hotel de quinta categoria. Estava cansado, e tinha alguma grana no bolso.
Ficou no quarto de numero doze. Não era o que podia de se chamar de bonito. Era... não sabia como descrever.
Peter também não se importava. Só queria que aquela noite acabasse logo. Pela manhã, iria para casa e conversaria com Luigi.
Estava se preparando. Se Luigi estivesse com as malas prontas para ir embora, aceitaria sem se humilhar. Não haveria choro, nem drama, nem perguntas. Apenas aceitação.
Sentou na cama com o celular na mão. Olhando rapidamente para a lista de contatos, um lhe chamou a atenção.
Selecionou o tal numero e apertou o botão verde. Pouco segundos depois, uma voz atendia a ligação.



Luigi estava desesperado. Já havia ligado para todas as pessoas que Peter podia ter ido pedir ajuda.
Nenhuma delas havia o visto naquele dia, muito menos á noite.
Uma idéia absurda passou-lhe pela cabeça. Pegou o telefone da sala e apertou um botão que mostrava todos os números que haviam ligado para a casa nas ultimas semanas.
Considerou a idéia. Era mesmo tão absurda assim?
Luigi trabalhava até tarde, enfrentava um garoto que queria desesperadamente fazer sexo com ele. Tinha deixado Peter sozinho. Peter estava se sentindo sozinho. Seria tão absurdo que Peter tivesse encontrado um amigo e sua solidão fosse amenizada?
Seria mesmo apenas um amigo?
Olhou para o numero e fez a ligação.
--- Eu estava esperando você ligar. Vou conversar com ele. Mantenho-o informado.



Três toques na porta, e Peter já estava abrindo-a.
Christopher sorria quando Peter abriu a porta para ele. Não estava de terno, usava uma camiseta preta e uma bermuda azul-marinho. Pijama, talvez?
--- Obrigado por vir --- disse Peter.
--- Por nada. Você está bem? --- Chris perguntou, enquanto entrava no quarto.
Christopher avaliava o aposento onde se encontrava. Parecia que não era limpo á semanas.
--- Desculpe ter te ligado. Mas é que... Eu não queria ficar sozinho aqui.
Christopher segurou Peter pelos pulsos e o fez sentar na cama.
--- Você não precisa ficar sozinho. Você nunca está sozinho. Você tem o Luigi.
Peter não o olhava nos olhos quando respondeu.
--- Tenho? Será que tenho? Eu não sei... Nunca tive tanta incerteza.
--- Você me ama?
A pergunta pegou Peter de surpresa. Não esperava por essa.
--- Como?
--- Só responde. Me ama? Ficaria comigo, mesmo estando com o Luigi? Só responda.
Christopher estava a centímetros do colo de Peter. Podia sentir seu cheiro doce.
--- Christopher, eu...
--- Peter, responda! Ficaria comigo?
--- Não --- Peter respondeu.
--- Então o que está fazendo aqui? O que está fazendo aqui, e comigo? Olha para este lugar. Você está no lugar errado, com a pessoa errada.
As palavras soaram confusas na mente de Peter.
--- Não com a pessoa errada --- Foi apenas o que Peter conseguiu responder.
Não soube dizer se foram minutos, segundos ou horas. Mas não percebeu quando foi que os lábios de Christopher tocaram os seus.
Macios. Quentes. Revelando um desejo contido.
Poucos segundos, com certeza.
Christopher interrompeu o beijo. Teve que criar muita coragem para fazê-lo. Fazia poucas semanas que conhecia Peter, e já sentia um carinho enorme por ele.
Finalmente estava ali, com ele. Para ele. Apenas os dois, sozinhos em um quarto.
Quantas vezes Christopher imaginara os braços de Peter o envolverem por trás? Nem mesmo Christopher sabia dizer.
Mas não podia ser assim. Se um dia conquistasse Peter, seria em um momento perfeito para os dois. Peter estava machucado, abalado com a possibilidade de perder seu bem mais precioso. Christopher era homem suficiente para não se aproveitar da situação.
Os olhos azuis de Peter o encaravam. Refletiam o intimo de sua alma.
--- Vou ligar para Luigi. Acertar as coisas.
Sua voz saiu firme. Seu coração ainda poderia estar doendo, mas já começara a bater com mais facilidade.
--- Faça isso.
Peter se levantou da cama e pegou seu celular. No visor, a mensagem “Você tem uma nova mensagem de voz” era exibida.
Apertou o botão da secretária e digitou a senha de quatro dígitos.
Ouviu a voz mais linda do mundo. Um pouco chorosa, amedrontada, mas mesmo assim, ainda era dele. O dono daquela voz ainda pertencia de muitas maneira á Peter.
--- Amor, sou eu. Aonde você está? Por favor, precisamos conversar. Eu... Me desculpe. Sei que não tenho sido a pessoa mais dedicada do mundo, mas, por favor, acredite em mim quando eu digo que te amo. Acredite. Eu não estou pronto para desistir de você, ainda. De nós. Volte para casa quando seu coração parar de sangrar. Eu te amo.
Peter não percebeu quando seus dutos lacrimais não puderam mais suportar o peso das lágrimas. Não se importou que estivesse acompanhado naquele quarto.
Chorou como se já tivesse perdido tudo.
Christopher foi até ele e o abraçou. Era o que Peter precisava.
Enquanto as lágrimas de Peter molhavam sua camiseta, Christopher percebeu que perdera a única coisa chance de ter Peter. Quando Luigi chegasse, Christopher seria apenas um objeto de conciliação.
Não existiria um casal chamado Peter e Christopher. Nunca existiu tal casal com tal nome. Dali a alguns instantes, seria como sempre foi: Peter e Luigi. Dois corações que batiam no mesmo ritmo. Mate um coração e estaria matando os dois, porque eles dividiam o mesmo espaço.
Suspirou fundo e aproveitou os últimos momentos que restavam. Passou a mão pela nuca de Peter, depois pelas costas. Não teve coragem de fazer mais do que isso.
Sentiu a textura lisa dos cabelos louros de Peter. Sentiu seu cheiro doce, sentiu seu coração bater forte e ritmado.
Alguém batia na porta do quarto. Christopher sabia quem era. Tinha recebido a ligação de Luigi e o informara que Peter tinha o chamado para conversar.
Como despedida, deu um rápido beijo nos lábios de Peter.
--- Eu estarei livre para você, quando você também estiver.
Peter estava sem reação. Percebeu que aquele homem, de alguma maneira, estava em seu coração. Não da mesma maneira como Luigi. Seu coração pertencia a Luigi. Mas sem saber, Luigi carregava um pequeno sentimento que era destinado á Christopher.
Christopher foi até a porta com a cabeça baixa. Tinha feito tudo que podia.
--- Obrigado --- disse o homem do outro lado da porta.
--- Luigi, cuide bem dele. Ele é... Único.
Luigi balançou a cabeça positivamente.
Christopher saiu do quarto, abrindo passagem para Luigi entrar.
Fechou a porta atrás de si. Em sua memória ficou apenas os breves momentos em que os lábios de Peter tocaram os seus.



Ficaram se olhando por alguns minutos. Nenhum dos dois tinha coragem de iniciar a conversa. Tinham medo de que fosse a ultima conversa amigável que eles tivessem.
Foi Peter que cortou o silencio.
--- Oi.
--- Oi. Como está?
Eles estavam divididos por uma distancia de um metro e meio.
Parecia o oceano atlântico. Podiam ver os campos de icebergs.
Peter não agüentava mais. Correu para os braços de Luigi, querendo senti-lo mais próximo. Quando os braços de Luigi o envolveram, as lágrimas voltaram a cair.
--- Eu te amo --- foi o que conseguiu dizer entre as lágrimas --- Eu acredito em você, eu te amo muito.
--- Tudo bem, meu amor. Tudo bem --- Luigi não queria chorar mais --- Vamos ficar bem. Eu prometo, vamos ficar bem.
Os lábios de Peter encostaram suavemente no pescoço de Luigi. Sentia falta disso. Sentia falta de ter a certeza que ele e Luigi estavam bem.
Os últimos acontecimentos foi uma correnteza fria e impiedosa. Jogou um para cada lado, tentando separa-los.
Mas a calmaria já estava ali. Sentiu paz novamente.
Quando Luigi se afastou e olhou profundamente nos olhos de Peter, ele só via a verdade.
--- Quer me dizer algo? Perguntar algo? --- disse Luigi.
Peter não precisou pensar muito.
--- Quem é Eric Walker?
Luigi suspirou e contou tudo para Peter. Desde quando começou, com aquela primeira tentativa de fazer sexo na sua sala, até mesmo o ocorrido naquela tarde, em que Eric deixou um preservativo usado na casa deles.
Peter não sabia o que dizer. Como um garoto de 17 anos pode fazer todo aquele clima no relacionamento dele?
Luigi o olhava, querendo ter a sua vez de perguntas e respostas.
--- Você e esse Christopher. Tem algo para me contar?
Aquela sentença estava errada. Completamente errada.
Agora Peter podia pensar com mais lucidez. Christopher era apenas um amigo. Um bom amigo.
--- Não existe um “eu e Christopher”.
--- Então acabou?
--- Amor, nunca começou. Nunca houve nada.
Luigi não olhava para Peter. Tinha medo de ainda haver suspeita em seu olhar.
Peter levantou seu rosto com a mão.
--- Acredite. Sempre foi Peter e Luigi. Sempre será.
Era isso que Luigi precisa escutar. Se inclinou para Peter e o abraçou forte.
Sussurrou em seu ouvido.
--- Mesmo quando você estiver em um navio, á centenas de quilômetros de distancia, com Christopher?
Peter tinha se esquecido disso. A viagem estava quase chegando.
--- Mesmo quando eu estiver dentro do próprio Titanic naufragado. Não importa a distancia. Sempre serei seu.
Luigi virou seu rosto para ficar de frente para Peter. Sentia a respiração dele.
--- Vamos para casa --- disse Peter --- Esse lugar é horrível.
Luigi sorriu e se levantou. Quando se dirigiam para a porta, abraçou Peter por trás e deu um beijo na sua nuca.
Quando entraram no carro, ficaram de mãos dadas. Tinham medo de que o oceano atlântico voltasse e os separasse novamente.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Capitulo 13.

Corações Partidos.


O som que acordou Will vinha da janela que alguém esqueceu aberta. A cidade já estava a todo vapor lá embaixo.
Abriu os olhos. Desconheceu o teto que estava acima dele. Desconheceu também os quatro rapazes que tentavam dividir um espaço na mesma cama que ele.
Como uma visão vinda dos céus, a noite anterior rapidamente foi reprisada em sua mente.
Sexo oral. Anal. Frango-assado. Primeiro o rapaz de cabelos pretos. Depois o de barba tipo cavanhaque. Os dois últimos foram ao mesmo tempo. Passivo. Ativo. Passivo de novo. Lábios massageando seu pescoço, seguido por braços que seguravam sua cintura.
E os nomes? Não se lembrava. Nem se lembrava se tinha perguntado.
Olhou no relógio de cabeceira da cama, e percebeu que era para estar indo para o trabalho, naquela hora.
Não moveu um músculo.
O cara de cavanhaque se espreguiçou ao seu lado e abriu os olhos. Olhou para Will.
--- Quem é você?
Olhou ao redor da cama e passou a mão na cabeça.
--- Não responde, já sei quem é. Foi bom pra você?
Will tentava lembrar o nome dele. Era o mais bonito dos quatro, então deveria se lembrar.
--- Foi legal.
--- Legal. Quer tomar banho?
Will levantou da cama, nu, e segurou o homem de cavanhaque pelos pulsos, levando-o para o banheiro.
Nem chegaram a tomar banho. Muito pelo contrário, se sujaram ainda mais.



Luigi analisava a caixa de cereal, dando atenção ás informações nutricionais. Não estava entendendo nada.
Esperava Peter sair do banho para poder conversar com ele. Queria explicar o porque de ter feito esperar a noite anterior.
Mas Luigi não sabia se contaria a verdade. Como dizer á pessoa mais importante da sua vida, que tinha passado parte da noite com um jovem de 17 anos que estava louco para fazer sexo? Não tinha maneira de dizer isso sem levantar qualquer duvida.
Luigi sabia que tinha que mostrar á Peter que o desejo sexual não era recíproco. Sabia que tinha que fazer Peter acreditar na verdade, que era a única coisa que Luigi poderia contar.
Luigi não sabia como fazer isso. Esperava que as palavras saíssem na hora.
Tinha organizado uma linha de raciocínio. Primeiro, pedir desculpas. Segundo, explicar a situação. Terceiro, fazer Peter enxergar que um garoto de 17 não significava nada para Luigi.
Ouviu Peter descer as escadas. Quando apareceu na cozinha, tinha o cabelo molhado, que ainda pingava no chão. Usava uma camisa pólo vermelha, bermuda jeans cinza e tênis do tipo MadBull na cor branco.
Fez um sinal com as sobrancelhas quando entrou na cozinha e se aproximou da geladeira.
--- Bom dia, amor --- disse Luigi.
--- Bom dia.
Luigi não era muito ligado á historias em quadrinhos, mas a imagem de um dos inimigos do Batman veio á sua cabeça. O Homem de Gelo.
--- Vai sair? --- perguntou Luigi.
Luigi segurava um bloco de papel e uma caneta nas mãos.
--- Vou ao mercado. Tenho que comprar algumas coisas.
--- Comprar o que?
--- Gilete de barbear, sabonetes, lâmpadas. E pilhas para o controle da tevê e do home-teather.
Luigi estava esperando o momento certo para abordar o assunto, mas achou que essa conversa de dona-de-casa não iria ajudar muito.
--- Hum, sei. Peter, sobre ontem á noite, eu sinto muito. Mesmo.
Peter parou de escrever e encarou Luigi.
--- Ta --- disse apenas.
Por essa Luigi não esperava.
--- Ta? O que quer dizer?
--- Nada, ué. Só que tudo bem.
--- Quer dizer que não sentiu minha falta? Então para você, não faz diferença?
Peter suspirou e voltou a escrever.
--- Apenas estou acostumando com a situação. Parece que sua vida agora é baseada numa revista de moda.
Luigi tentou pensar na linha de raciocínio que havia criado. Estava difícil.
--- Eu tive contratempos ontem, Peter! E da maneira que você fala, parece que eu vivo trabalhando!
Peter terminou a lista e guardou no bolso da bermuda.
--- Contratempos? O que? Alguma modelo se atrasou na maquiadora e acabou ter que fazer as fotos depois das onze?
Luigi deu um passo em direção de Peter.
Pensou em dizer o lance de Eric, mas não teve coragem. Não agüentaria ver nos olhos azuis de Peter a desconfiança ou a duvida.
--- Eu te liguei ontem, e você não me respondeu. Quer dizer, alguém atendeu a ligação, então quer dizer que o celular se encontrava no mesmo ambiente onde você estava. Acha estranho? Você estava ocupado demais para atender o celular?
Luigi visualizou a cena: Ele arrancando a cabeça de Eric com as mãos.
Como um moleque idiota consegue fazer tanta bobagem? Pensou.
--- Não é nada disso que você está pensando.
--- Claro que não --- Peter sorria sarcástico --- Você estava tirando fotos, e um dos estagiários atendeu o seu celular. Normal.
--- Olha, tudo isso é totalmente errado, tá legal? Eu não estava com outra pessoa, se é o que você está imaginando.
Peter estava trabalhando com a margem de erro. Confiava em Luigi, mas aquela historia estava estranha demais.
Peter colocou as mãos no rosto de Luigi.
--- Então me diga o que é. Me diga o que aconteceu. Ou o que estava acontecendo.
O toque das mãos de Peter fez o coração se Luigi bater mais rápido. Estava odiando tudo aquilo. Odiava magoar Peter. Odiava ver seu relacionamento enfraquecendo. Apesar de fazer quase cinco anos que estava juntos, aquilo era inédito para os dois.
As mãos de Peter ainda estavam pousadas sobre os maxilares de Luigi.
--- Não está acontecendo nada. Por favor, acredite em mim.
Peter queria acreditar. Queria olhar nos olhos de Luigi e ter certeza de que não havia motivos para ficar preocupado.
Peter estava momentaneamente cego. Não podia ver nada. Parecia que estava dormindo.
O telefone tocou, na sala. Sobre os ombros de Luigi, Peter viu o numero que aparecia no identificador de chamadas.
Aquela era a pior hora para aquele numero ligar.
Luigi olhou para o identificador, e ficou confuso.
--- A ArtDeco ligando pra você? Hoje não é seu dia de folga?
Peter sabia que não era exatamente a ArtDeco ligando.
--- Vou ver o que é.
Quando ia em direção á sala, sentiu o mão de Luigi pegar no seu braço.
--- Eu te a...
Não deixou ele responder. Voou até a sala e atendeu o telefone.
A voz do outro lado já era bem conhecida. Parecia que desde que aquele cara entrara na sua vida, o trem havia saído dos trilhos.
--- Alô?
--- Peter? Oi. Sou eu, Christopher.
--- Oi, Christopher --- Peter se virou e encarou Luigi, que continuava na cozinha --- Está tudo bem?
--- É, sim, eu acho que sim. Eu só queria saber o que você vai fazer hoje.
--- Compras. Preciso reabastecer a casa.
--- Entendo. Quer companhia?
--- Não precisa, obrigado. E você tem que trabalhar.
--- Meu pai ainda está aqui. Vai sair oficialmente só amanhã.
--- Sim... Bom, obrigado, mas não precisa.
--- Ótimo, então depois das compras, poderíamos fazer alguma coisa juntos.
Peter queria saber quantas vezes Christopher havia usado a palavra “Juntos”
--- Não sei, eu preciso...
--- Ora Peter, vamos. Vai ficar em casa o dia inteiro? Vou fazer assim, mais tarde eu te ligo. Se você quiser fazer algo de interessante, você me diz. Okay?
Quais as alternativas tinha Peter? Se olhasse por certos ângulos, Christopher era o seu chefe.
--- Tudo bem, me ligue.
--- Ótimo Peter Calledon, ótimo. Te vejo á noite.
Desligou o telefone, vitorioso.
Peter colocou o telefone na base e voltou para a cozinha.
Luigi sabia muito bem de quem se tratava.
--- Christopher? --- Perguntou.
--- Sim, ainda está meio perdido na empresa.
Luigi balançou a cabeça, concordando. Não tinha ouvido a parte de Christopher chamando Peter para aproveitar o dia de folga.
Luigi olhou para o relógio. Viu que tinha que se arrumar para ir para a revista.
--- Vou ao mercado. Quer alguma coisa?
--- Está tudo bem, Peter? Por favor, eu não quero que as coisas fiquem estranhas.
Peter se surpreendeu com a pergunta. Não com o conteúdo, mas com a forma que a mesma foi formulada, assim do nada.
--- Tudo bem. Eu... Eu acredito em você.
Peter não tinha certeza quanto á isso.
--- Eu te amo, meu amor --- disse Luigi --- Eu... Eu... Desculpe-me se eu fiz...
--- Lui, está tudo bem. Mesmo.
Peter beijou-o no rosto, carinhosamente.
--- No rosto? --- Perguntou Luigi.
Peter deu um sorriso forçado, e beijou Luigi nos lábios.
--- À noite conversamos --- disse Peter --- Tenho que ir agora.
Pegou as chaves que estavam em cima do balcão da cozinha e saiu, em direção á garagem.
Luigi ficou ali, vendo a figura de Peter se afastar.
Sentiu algo que fazia anos que não sentia.
Medo.
Não posso perdê-lo, pensou ele.



Arthur estava preparando a maquina de fazer café quando o telefone do Archier tocou.
--- Archier Livraria-Café.
--- Oi amor, sou eu, Bob.
Bob era o novo namorado de Arthur fazia algumas semanas.
--- Oi querido, bom dia.
--- Bom dia! Senti sua falta ontem à noite.
--- Também senti a sua. Quer fazer algo hoje a noite?
O pequeno sino dourado acima da porta tocou, e Arthur viu um homem louro entrar e sorrir para ele.
Peter sentou num banco no balcão, e fez um “Oi” com as mãos.
Arthur sorriu e indicou que Peter o esperasse.
--- Cinema? Ou teatro? --- perguntou Bob, no telefone.
--- Cinema. Procure algo que você quer ver.
--- Não sei --- respondeu ele --- O que você quer ver?
--- Também não sei. Qualquer coisa.
--- Um romance? Um drama?!
--- Pode ser. Tenho que desligar agora.
--- Tudo bem, mais tarde eu te ligo. Beijo meu amor.
--- Beijo.
Arthur desligou o telefone antes que Bob pudesse responder.
Virou-se para Peter e o cumprimentou.
--- Oi Pet.
--- Oi, gato. Marcando encontros, é?
--- É, de vez em quando é bom. E você? Cadê o Luigi?
Peter não estranhou a pergunta, pois era sempre visto na companhia de Luigi.
--- Trabalhando.
--- Humm, legal. Vamos ao cinema hoje? Gostaria de te apresentar o Bob.
--- Bob?
--- É, o garoto que eu estou saindo há algumas semanas.
--- O do telefone?
Arthur fez que Sim com a cabeça.
--- Ah, talvez.
--- Chame o Luigi também.
Peter considerou a idéia.
--- Acho que não dá. Ele ultimamente está trabalhando até tarde, todos os dias.
Peter desviou o olhar, como se pensasse em outra coisa. Arthur percebeu isso.
--- Está tudo bem? Quer conversar, Peter?
Peter amava profundamente Arthur. Mas, para Peter, o dom de Arthur de ser perceptivo demais as vezes era um problema. Quando algo chateava Peter ou qualquer um dos outros garotos, Arthur era o primeiro á saber.
--- Eu não sei. Me serve um café, primeiro? Bem forte, com muita espuma.
Arthur fez o pedido, e em poucos segundos entregou uma xícara de café para Peter.
--- Eu e Luigi estamos nos estranhando um pouco.
--- Porque? O que aconteceu?
--- Ele se sente meio... Ameaçado por causa do novo chefe da empresa. E eu... Não sei, acho que ele tem outra pessoa.
Arthur parou, pasmo. Luigi com outra pessoa? Não dava para imaginar.
--- Mas vai ficar tudo bem, né? Quer dizer, vocês vão superar isso.
--- Eu não sei. Nunca passamos por algo parecido. Na verdade, não é bem uma briga. É apenas um pouco de desconfiança.
Arthur procurou pelas palavras.
--- Mas Peter, tipo, vocês tem que se entender!
--- Como é?
--- Vocês são Peter e Luigi. É como se fossem o Romeu e Julieta do mundo gay. Ou a Elizabeth e o senhor Darcy. A Pocahontas e o Smith.
--- A intenção é boa, mas são péssimos exemplos. Digo, eu ou o Luigi vamos morrer, Eu e Luigi nunca nos odiamos, e eu ou o Luigi não somos índios.
Arthur avaliou o que Peter tinha acabado de dizer, e constatou que eram péssimos exemplos.
--- Desculpe. É que o Bob ama Pocahontas e as adaptações dos livros da Jane Austen. Mas o que eu quero dizer é que vocês vão superar essa fase esquisita. Não dá pra imaginar vocês separados. Eu te conheço bem antes de você ficar com o Luigi, e sinceramente, não consigo imaginar você sem ele, agora.
--- Eu sei. Vou conversar com ele hoje. Mas me fale sobre esse tal de Bob. Quando vai levar ele lá em casa?
--- Assim que possível. Eu não quero apressar as coisas, sabe como é.
--- Mas você gosta dele?
--- É... Ele é legal.
As sobrancelhas de Peter se abaixaram, como se perguntassem algo.
--- É que o Bob é... Meio pegajoso --- disse Arthur, respondendo a pergunta não-formulada.
--- Deve ser o começo do relacionamento. Depois ele muda.
--- Espero que sim.
O telefone tocou, interrompendo a conversa. Arthur foi atender.
--- Archier Livraria-Café. Oi amor. Sim, pode ser. Angelina Jolie? Ta, tudo bem. Não, pode ser esse. Não, eu quero ver esse, tudo bem. Não precisa... Sim, okay. Beijo.
Desligou o telefone, e voltou-se para Peter.
--- Era o Bob.
--- Está tudo bem?
--- Ele achou um filme para nós vermos hoje.
--- Bom filme --- respondeu Peter, se servindo do ultimo gole do café.
O sino dourado da porta soou mais uma vez. Will entrava no café, com a roupa toda amassada.
--- Tem café? --- perguntou.
Olhou para Peter e deu-lhe um beijo no rosto. Fez o mesmo com Arthur.
--- Saindo mais café --- disse Arthur, se virando para a maquina.
--- Nossa Will, mas que roupa linda. Chanel?
--- Falta de sono, isso sim.
--- Não tem dormido direito?
--- Mais ou menos. Está tudo meio... Intenso, ultimamente.
--- Me deixa adivinhar --- disse Arthur, voltando com mais uma xícara de café --- Tem feito sexo a noite inteira.
--- Exatamente.
Will se sentou no banco e bebeu um gole do café. Os olhos de Peter e de Arthur pousaram sobre ele.
--- Que é?
--- Nada --- disse Peter --- Esperávamos que você contasse com quem você está saindo. Algum agente secreto?
--- Só alguns caras que eu conheço por aí.
--- Mick me disse que viu você fervendo mais do que uma chaleira lá na Times --- disse Arthur.
--- Apenas vivendo a vida. É bom de vez em quando.
--- Sim, é ótimo --- disse Peter --- Espero que você esteja se protegendo.
O mundo parou. A mente de Will congelou durante alguns instantes. Desde que havia começado a sair com um monte de caras diferentes, não se lembrava de nenhuma vez que tivesse visto alguma camisinha na transa.
--- Claro --- disse ele, editando a verdade --- Sempre.
--- Isso é bom. Meninos, estou indo, tenho que comprar algumas coisas --- Peter se levantou e tirou uma nota de cinco do bolso, entregando-a Arthur.
--- Não precisa querido. Por conta da casa.
--- Anjo --- respondeu Peter, beijando a testa de Arthur.
--- Bob faz a mesma coisa depois que transamos.
Peter olhou de maneira estranha para Arthur.
Arthur ficou vermelho, como se tivesse dito coisas demais.
--- Bob? Quem é Bob? --- perguntou Will.
--- O Arthur te conta. Beijo, querido --- se inclinou para Will e o beijou no rosto.
Peter saiu do Archier, com o sininho soando mais uma vez.
Quando entrou no carro, olhou para o seu relógio de pulso. Luigi estava na revista naquele exato momento.



As mãos de Mick alisavam um tecido leve, da cor bege, quando seu celular tocou.
Era seu pai.
--- Alo? Pai?
--- Eu mesmo, Mick.
--- Aconteceu alguma coisa?
Qual o motivo do meu pai me ligar, na hora do trabalho?
--- Não, não aconteceu nada. Quero apenas dizer para que você chegue cedo hoje.
--- Porque?
--- Alguns amigos meus vem aqui hoje, para o jantar. Gostaria que você estivesse aqui.
Nicollas nunca havia feito isso. Nessas reuniões, sempre preferiu não incluir a família. Que mudança estranha era essa?
--- Ta, tudo bem.
--- Você tinha algo marcado?
--- Não, estarei aí.
--- Perfeito. Sabe, um dos meus convidados vai trazer a filha com ele.
Mick já estava entendendo aonde seu pai queria chegar.
--- Hã... Tudo bem.
--- Eu já pesquisei sobre essa moça, e descobri coisas bem legais sobre ela. Eu pensei que...
--- Pensou que poderia conseguir uma garota para mim? Pai, não precisa. Gosto de ser solteiro lembra-se?
--- Sim, claro. Na sua idade eu também era assim. Mas quem sabe?
--- Tudo bem, pai. Agora tenho que...
A atenção de Mick foi desviada para o corpo de um dos modelos, que estava terminando de vestir uma camiseta regata branca, super apertada. Quando o modelo olhou para Mick, fez um sinal com a cabeça, para que ele fosse ao banheiro. Os olhos do modelo diziam muito bem quais eram as intenções.
--- Mick? Michelangelo?!
--- Sim pai, estarei aí. Tenho que desligar, tchau.
Desligou o telefone e correu para o banheiro. Quando chegou lá, o modelo já estava com o zíper aberto, um volume interessante seguia para a parte de cima da sua cueca branca.


Luigi encontrava-se na sua sala, ao lado do estúdio de fotografia. Olhava para a foto que estava na sua mesa; ele e Peter juntos.
Tinha que arrumar as coisas. Não queria ter que voltar para casa e enfrentar um clima estranho. Começou a pensar.
Poderia cozinhar, abrir espaço na sala de estar e ficar ali, com Peter. Colocaria a melhor roupa que tinha, acenderia velas e colocaria uma musica legal, para os dois.
Já tinha resolvido. Olhou para o seu relógio de pulso. Faltavam ainda quatro horas para acabar seu expediente.
Dane-se, pensou.
Pegou sua mochila e correu em direção ao estacionamento.
Enquanto dirigia para casa, já estava com quase todo o plano arquitetado em sua mente. Contaria tudo que NÂO aconteceu entre ele e Eric. Contaria tudo, sem medo de sua reação. Mas sabia que iria ser uma reação positiva. Tinha certeza disso.

Quando já estava em casa, acendeu o fogo e colocou os ingredientes sobre a mesa. A entrada do jantar seria siri com brie, seguida por uma macarronada leve.
Enquanto a água fervia, foi até o quarto e olhou para dentro do seu guarda roupa. Demorou uns minutos pensando, sem chegar a lugar algum. Pensou em até ligar para Mick, para ele poder ajudá-lo, mas desistiu da idéia. Aquela deveria ser uma noite de Peter e Luigi Calledon Cortez.
Estava animado. Sabia que não era um plano genial, mas sabia que daria certo. Era só dizer a verdade.
Quando estava quase decidindo que roupa usar, a campainha da porta da frente tocou.
Espero que não seja ninguém importante! Pensou Luigi. Não queria ninguém para interromper os planos.
Desceu as escadas pulando dois degraus. Quando abriu a porta, se arrependeu de ter atendido.
Eric estava ali, usando calça jeans preta e camiseta branca. Tinha o cabelo desarrumado, como se tivesse andado de motocicleta sem capacete.
Os olhos de Eric brilharam quando viram Luigi.
--- O que quer aqui? Como entrou aqui?
--- O porteiro me deixou entrar.
--- Ótimo. E o que quer?
Eric desviou dos olhos de Luigi, e olhou para o interior da sala.
Entrou sem ser convidado.
--- Então é aqui que você mora? Casa bonitinha. Quem é o seu decorador?
Ele girava a cabeça, para ter uma visão melhor.
Luigi estava incrédulo. Não acreditava que o garoto que mais odiava no mundo estava no meio da sua sala, mesmo não tendo sido convidado.
Foi até Eric, e o segurou pelo braço.
--- Garoto, cai fora. Antes que eu chame a policia.
--- Chama, e eu irei adorar dizer a eles como você seduziu um garoto de 17 anos e o obrigou a fazer sexo.
--- E você acha que eles iam acreditar em quem? --- Luigi estava ao ponto de gritar --- Essa sua cara de bichinha que dá para qualquer um não engana ninguém.
Eric chegou mais perto do rosto de Luigi, ficando a poucos centímetros de distancia.
--- Já sei, vamos lá para cima. Para o quarto onde você dorme com aquele decorador gordo.
--- Ele não é gordo, e você vai dar o fora daqui.
Luigi se virou e foi em direção á porta.
Eric aproveitou o momento de descuido de Luigi para tirar do bolso um quadrado cinza meio rasgado. Junto com o quadrado, jogou também a parte que faltava, a que estava rasgada. E como ultimo gesto, jogou uma camisinha usada, escorrendo esperma da sua ultima transa. Escondeu tudo isso debaixo da almofada.
--- Tudo bem --- disse ele, disfarçando --- Tenho mesmo que ir. Diga ao Peter que eu mandei um beijo.
Quando ia sair da casa, conseguiu roubar um beijo dos lábios de Luigi.
Luigi cuspiu no chão, limpando a boca com o braço.
Quando fechou a porta atrás de si, lembrou-se da água que tinha deixado no fogo.
Quando passou pela sala, não percebeu que o gozo da camisinha de Mick já tinha começado a manchar o sofá.


Peter estava no estacionamento da ArtDeco, segurando o celular nas mãos. As compras que tinha feito estavam no banco de trás.
Não queria estar ali. Era o seu dia de folga!
Mas para onde mais iria? Para casa? Iria para casa e enfrentar uma situação esquisita com Luigi?
Pensou em ir ao shopping, mas não teve vontade. Não tinha vontade nem de subir os andares da empresa, para ficar na sua sala.
Ouviu passos vindo da porta do estacionamento. Olhou para trás, e viu Christopher sorrir.
Estava a poucos passos do carro de Peter.
--- Vi quando você chegou. As câmeras estão filmando tudo --- disse ele, quando chegou á janela do carro.
Peter sorriu ao vê-lo. Uma sensação de calmaria e paz tomou seu coração.
--- Não vai subir? --- Perguntou Christopher.
Peter sorriu ao falar. Parecia que não sorria fazia um bom tempo.
--- Acho que não. Só queria ficar sozinho um pouco.
--- Eu aqui atrapalhando. Desculpe.
--- Não tem que se desculpar. Está tudo bem lá em cima?
--- Sim, está. A Aline Bertine me ajudou com uns papéis. Mas eu sinceramente pensei que você estaria lá, para me ajudar.
Peter fez uma careta, como se desculpasse.
--- Mas tudo bem. Eu consegui aprender as coisas.
--- Fico feliz. Espero realmente que você fique na empresa.
Christopher sorriu, e se aproximou mais da janela do carro.
A reação inicial de Peter seria se afastar da janela. Mas não fez isso. Ficou ali, olhando para Christopher.
Era estranho que como aquele homem lhe transmitia uma sensação de que “tudo vai ficar bem”. Nem mesmo com Arthur tinha sentido essa sensação, á algumas horas atrás.
--- Está com fome? Que tal ir comermos alguma coisa? Eu estou faminto --- disse Christopher.
Peter se deu conta que estava com fome também.
--- Sim, estou com fome. Entra, te dou carona.
Christopher sorriu, contornou o carro, entrou e sentou no banco ao lado de Peter.
--- Aonde vamos? --- Perguntou Christopher.
--- Hã... Que tal ao Charles? A comida de lá é deliciosa.
A expressão de Christopher dava a atender que a idéia não foi muito boa.
--- Não? Aonde então? No que está pensando? --- disse Peter, bem humorado.
--- Que tal fritura e cerveja?
--- Perfeito.
Peter girou as chaves na ignição e disparou com o carro para as ruas do centro.


Peter estava se divertindo. Estranhamente, começou a ver em Christopher um amigo. Quer dizer, não era como se fosse com Mick ou Arthur, mas era quase. Apesar de ser um tipo de amizade diferente, Peter gostava da sensação que isso lhe trazia.
Passou o resto da tarde enfiado em uma lanchonete que ficava dentro de um prédio comercial da cidade. O tal prédio era infestado de adolescentes vestidos com camisetas de bandas de rock e piercings no corpo.
Peter nunca havia feito parte de alguma sub-cultura urbana, mas gostava disso.
--- Gótico? Você? --- Perguntou Peter, entre uma cerveja e outra.
--- Sim senhor --- respondeu Christopher, mordiscando um bolinho de queijo --- Com as unhas pintadas de preto e tudo mais.
--- Ual. Não dá para imaginar.
--- Mas é verdade. Eu e sempre uma camiseta do Smiths.
--- Smiths é legal.
--- Demais. Sem falar que o vocalista é lindo.
--- Não lembro do rosto dele. É bonito?
--- Perfeito. Apesar de agora ele estar meio velho, com alguns cabelos brancos na cabeça.
Peter sorriu, meio tímido.
--- Eu acho super sexy --- admitiu.
Christopher formulou a resposta em sua mente.
--- Bom saber. Vou comprar tinta branca e jogar na minha cabeça, hoje á noite.
Apesar de não ser o comentário que Peter esperava ouvir, não achou tão ruim. Era melhor levar as coisas na brincadeira.
--- Mas apenas algumas mechas, okay? Não vai virar o Richard Gere.
--- Que? Não gosta do Gere?
--- Prefiro o Peter Facinelli. Conhece?
--- Sim, conheço. O Peter é lindo.
Peter ficou na duvida sobre qual Peter eles estavam falando. Decidiu pensar que era no ator.
Ficaram conversando mais alguns minutos, até que o celular de Christopher tocou.
Peter aproveitou para pedir mais uma rodada de cerveja e bolinhos de queijo. Estava gostando de relaxar um pouco. Peter era sempre elegante e fino, sempre bebendo ou vinho ou champanhe. Raramente, mesmo com Luigi, se dava ao prazer de beber ou comer coisas mais gordurosas e calóricas.
Quando Christopher desligou o celular, a nova rodada de bolinhos já estava em cima da mesa.
--- Desculpe. Era meu pai.
--- Algum problema?
--- Não, só queria saber aonde eu estava. A Anne ligou para ele e disse que eu tinha sumido sem avisar.
--- Você disse que estava comigo?
--- Sim, ele pareceu gostar de ouvir isso.
Peter não entendeu muito bem.
--- Como assim?
Christopher pareceu ficar um pouco vermelho.
Quase gaguejou ao falar.
--- É que... Meu pai acha você o tipo perfeito de...
--- De... ? --- Encorajou o Peter.
--- Genro.
Peter percebeu que tinha desperdiçado a oportunidade de ficar calado. Não precisava se colocar em uma situação estranha. Não ali, no único lugar e com a única pessoa que conseguira relaxar o dia inteiro.
--- É que... --- Christopher começou a explicar --- Meu pai nunca gostou muito dos meus namorados. Para ele, todos eram caras esquisitos e sem muita massa encefálica. E você, Peter, é totalmente o contrário disso.
--- Olha, Christopher... --- começou Peter --- Você é um cara muito legal...
--- Eu sei, eu sei Peter. Muito legal e tudo mais, mas você já tem alguém e blá blá blá --- Christopher o interrompeu.
--- Sabe, se fosse numa situação diferente...
--- Diferente você quer dizer tipo você não ter o Luigi?
Era a hora de ser sincero, pensou Peter.
--- Exato. Você é um cara ótimo, e bonito, mas...
--- Você me acha bonito? Sério?
Um sorriso torto e tímido passou na face de Christopher. De Peter também.
--- Claro.
--- Obrigado. Posso ser sincero?
Peter não sabia se queria exatamente saber.
--- Claro, pode --- respondeu.
--- Depois daquela reunião, eu... Eu não parei de pensar em você. E quando você me encontrou na sua sala, olhando para o retrato de você e do Luigi, eu desejei estar no lugar dele.
Pareceu que o lugar onde estavam ficara silencioso.
Apesar de ser um homem comprometido, Peter gostou de ouvir aquilo. Não que desejasse que outros homens o desejassem, mas a sensação de ser desejado por outros homens era agradável. Para qualquer um, não importando o estado civil.
--- Eu nunca teria coragem de me intrometer no seu relacionamento, Peter. E quando eu liguei para sua casa para falar que eu também ia para o Navio, foi totalmente sem propósito algum. É que... Fiquei tão feliz em saber que eu ia com você.
De repente, Christopher não era mais o advogado de vinte e três anos que dirigia uma empresa de decoração. Para Peter, Christopher era só um garoto tímido, que acabara de demonstrar seus sentimentos para ele.
Peter não sabia exatamente o que responder. Não queria ser rude, mas também não queria dar falsas esperanças.
Não queria mesmo? Este pensamento passou como um raio pela mente de Peter.
Foco, Peter! Você é comprometido, e adulto!
Christopher esperava por uma resposta.
--- Aprecio seus sentimentos, Christopher, e...
--- Me chame de Chris.
--- Okay. E Chris, infelizmente não posso te dar esperanças. Como sabe, eu já tenho alguém.
O brilho nos olhos de Christopher apagaram um pouco.
--- Eu sei. Fico feliz por você. Não totalmente, mas fico feliz.
Peter apenas balançou a cabeça. Não tinha mais nada a dizer.
--- Mas posso te pedir uma coisa? Um presente?
--- Se eu puder lhe conceder... Peça.
Christopher pareceu mais animado.
--- Quando estivermos no Queen Mary 2, eu gostaria de ter uma noite com você. Não para sexo nem nada disso, pois eu sei que você é comprometido. Mas eu gostaria de passar uma noite inteira, acordado com você.
Tal pedido fez o coração de Peter doer. Lembrou-se de Luigi chegando tarde, deixando-o esperando. Lembrou-se da sensação de vazio que sentiu quando Luigi nem ao menos o abraçou quando foi dormir.
Olhou para Chris, que esperava uma resposta. Não era um pedido impossível. Uma noite de conversa, que mal há nisso?
--- Tudo bem. Quando formos para o Navio. Apenas eu e você, conversando a noite inteira.
Christopher sorriu, radiante. Não era o que ele realmente queria, mas a presença de Peter só para ele era um presente muito gratificante.
Ficaram mais alguns minutos conversando. Para ao alivio de Peter, a conversa girou sobre assuntos mais banais.
Quando deu por si, viu que já era quase 11 horas. Tinha que ir embora.
Deu carona para Christopher até sua casa. Antes de descer do carro, Christopher deu um beijo demorado no rosto de Peter.
Peter não se esquivou. Viu isso como algo normal. Apenas um beijo no rosto.
Quando olhou ara o relógio, já era 11hr25min. Voou para casa.


Luigi estava na cozinha, admirando seu excelente trabalho culinário. A comida já estava fria.
Diversas vezes ligou no celular de Peter, que só caia na caixa de mensagem.
Tinha tomado banho, colocado sua melhor roupa, e se preparado para o jantar-supresa. Acendeu as velas vermelhas e as espalhou pela sala. Seu cabelo estava penteado para trás, sem gel, apenas com água.
Olhou para o relógio. Onze e trinta.
Foi até o fogão e fechou todas as panelas que estavam sobre ele. Depois foi até o toca CD, que estava na sala, e retirou o CD que estava preparado para tocar. Não chegou a nem executar a primeira musica.
Os pensamentos de Luigi eram diversos.
Aquilo era um tipo de vingança? Não, pensou. Peter não é assim. Peter é adulto.
Aonde ele estava? Passou a tarde inteira no mercado, comprando lâmpadas?
Lembrou-se da ligação da empresa, naquela manhã.
Será?
Será que Peter desperdiçou seu dia de folga dentro do trabalho? Porque faria isso?
A resposta veio como um jato.
Eu o magoei, pensou. Nada mais justo que ele queira ficar longe de mim.
Longe de mim.
Tal pensamento apertou o coração de Luigi. A frase doía no seu intimo. Atormentava sua alma. Fazia seu coração parar de bater.
Eu não fiz nada de errado! Tive a chance de fazer, e NÃO fiz!
Quando sentiu as lagrimas começarem a se formar em seus olhos, sua linha de pensamento mudou.
Eu o amo. Eu nunca conseguiria fazer isso com ele. Não importando com quem fosse! Eu pertenço a Peter!
E Peter? Pertence-me?
Não soube responder.
Enxugou os olhos, e respirou fundo, tentando segurar as lagrimas.
Quando escutou a porta da frente abrir, seus olhos já estavam secos. Correu para a sala, ao encontro dele.
Quando ele entrou em seu campo de visão, todas as duvidas que tinha sumiram. Ele pertence a mim, pensou Luigi.
A visão de Peter o deixou meio desnorteado. Os sofás da sala haviam sido arrastados, junto com a mesa de centro. A lareira estava acesa, o fogo queimando lentamente a madeira.
Várias velas no tom de vermelho estavam espalhadas. Todas acesas.
Viu Luigi, perto da entrada da cozinha. Nos seus olhos, havia muitas perguntas.
O silencio durou apenas alguns segundos.
--- Aonde estava? --- Perguntou Luigi.
--- Na empresa --- Mentiu Peter --- Queria me distrair.
Luigi olhou para a sala cheia de velas, esperando que Peter falasse algo á respeito.
Não aconteceu. Luigi se prendeu a conversa.
--- Se distrair?
Peter viu lágrimas se formarem nos olhos vermelhos de Luigi.
O que está acontecendo aqui?!
--- Você fez isso? --- perguntou Peter.
Luigi enxugou os olhos antes de responder.
--- Era para nós. Mas esqueça.
Dois corações magoados partilhavam o mesmo ambiente.
O coração de Peter estava melhor. Depois das horas que passou com Christopher, seu coração passou a doer menos.
O coração de Luigi estava prestes a congelar. O medo que sentiu algumas horas antes o havia tomado por completo. A cada batimento, pensava que seria seu ultimo.
Estou perdendo-o. Meu amor está sendo levado para longe de mim.
Peter ainda se perguntava como havia deixado sua relação chegar naquele estado.
Luigi ali, á metros de distancia, com os olhos lacrimejados, sentindo seu coração ser mergulhado em um oceano repleto de camadas de gelo.
--- Eu não sabia, se você tivesse me avisa... Luigi!
Luigi estava subindo as escadas, com as lagrimas deixando marcas no tapete que envolvia os degraus.
--- Luigi, por favor! Me deixe explicar...
Peter subia os degraus de dois-em-dois.
Luigi era mais rápido. Quando Peter estava no ultimo degrau, Luigi já estava em frente á porta do quarto.
O barulho da porta sendo batida contra o batente era suportável.
Mas o som do mecanismo da tranca sendo girado era demais.
Quando Peter alcançou a porta, sua mão encontrou apenas madeira dura, que não se mexia.
Luigi havia trancado a porta e deixado a chave ainda na fechadura, fazendo com que não pudesse ser aberta pelo outro lado.
O lado aonde Peter se encontrava.
Tentou gritar.
--- Luigi, por favor, me deixe entrar! Luigi!... Meu amor...
Não percebeu quando seus joelhos dobraram, e sua cabeça ficou a menos de um metro do chão.
Puxando o ar para dentro dos seus pulmões, tentou organizar os pensamentos.
Sua mente era um oceano furioso. Não conseguia pensar.
Não demorou muito para que as lágrimas escorressem pelo rosto. Também não demorou para sentir seu coração doer novamente.
Esse seria o fim? O amor entre Peter e Luigi estava acabando?
E não havia tido palavras acusatórias nessa briga. Nenhum dos dois verbalizou o que estava sentindo.
Esse era o pior. Os dois sabiam o que o outro estava sentindo.
Não queria acreditar. Não queria nem pensar nisso.
Lembrou-se das velas na sala. Era melhor descer e apaga-las, antes que causassem algum acidente.
Peter desceu as escadas lentamente, segurando no corrimão de madeira-lisa.
Apagou as velas uma-a-uma. A cada sopro, pensava no homem que amava que estava trancado no quarto aonde eles dividiram seus melhores momentos juntos.
Quando apagou todas as velas, sentou-se no sofá. Praticamente atirou-se sobre ele.
Uma almofada escorregou do sofá, caindo no chão.
E revelando algo que Peter desconhecia.
Quer dizer, sabia o que era, e como era usado. Mas não sabia de onde tinha vindo aquilo.
O pacote do preservativo já estava rasgado, a outra metade não muito longe da outra metade.
E o pior. A camisinha estava fora do pacote. Usada. O liquido branco exalava um pequeno odor adocicado. E deixava uma mancha no sofá.
Peter não queria acreditar. Não poderia.
Conseguiria viver com a suspeita de traição? Sim, por amor, conseguiria.
Mas suspeita e certeza eram coisas diferentes.
Conseguiria viver com a certeza que havia sido traído? Conseguiria perdoar Luigi, depois de saber que seu corpo havia sido tomado por outro homem?
Não conseguia responder.
Foi até a cozinha e pegou um lenço de papel. A dor que invadia seu coração fazia as lágrimas quererem escorrer pelo rosto, mas Peter era mais forte.
Colocou o preservativo junto com o pacote enrolado no lenço de papel.
Fez sem pensar.
Subiu as escadas e colocou o pacotinho no aparador de vidro que havia perto da porta do quarto.
Enquanto descia as escadas, o barulho das chaves em seu bolsose fez presente.
Não pensou novamente. Saiu até a garagem, entrou no carro e ligou-o.
Saiu da casa em fração de segundos.


No quarto do segundo andar, Luigi estava abraçado ao travesseiro. Por meio dos olhos completamente molhados, via o retrato dele e de Peter que estava ao lado da cama.
Felizes. Sorrindo. Juntos.
Seu coração parecia estar se quebrando em mil pedaços.
Ouviu quando Peter batia na porta, gritando pelo seu nome. Podia ouvi-lo chorar.
E de repente o silencio.
Alguns minutos depois, o barulho de um carro se afastando.
Quando correu para a janela, viu o carro prata de Peter queimar o chão.
Correu para a porta e destrancou-a. Ia correr atrás de Peter, mas um único objeto em cima do aparador o impediu.
Em pacote de preservativo aberto, e o próprio preservativo já usado.
As perguntas borbulhavam em sua mente. Demorou alguns minutos para que as respostas aparecessem.
Ou melhor, alguns minutos para a resposta aparecer. Era apenas uma. Apenas um nome. Apenas a lembrança de, no máximo, três minutos que fizeram seu relacionamento cair tanto.
Eric Walker. Ele havia deixado aquela coisa nojenta ali.
As mãos de Luigi tremiam. E por uns instantes, Luigi achou que fosse capaz de matar.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Capitulo 12.

Dúvida.


Na manhã seguinte, a mensagem deixada secretaria eletrônica havia deixado Luigi um pouco confuso.

"Vamos para o maior navio do mundo, juntos" .
Juntos?
Luigi estava na duvida sobre o significado da palavra, da forma como ela foi inserida na frase.
Juntos de “Vamos juntos, eu e você, para o maior navio do mundo” ou “vamos juntos, com mais uma equipe de pessoas, todos juntos”
???
Sentou em uma cadeira da mesa da sala e fez algumas ligações. Quando terminou-as, ouviu Peter descer as escadas.
Não queria aparentar, mas aquele JUNTOS da mensagem o havia deixado meio... Desconfiado? Vigilante? Preocupado? Luigi não sabia qual palavra usar.
Nunca desconfiara de Peter. Nunca. Mesmo Peter trabalhando em um ramo aonde a maioria dos homens dorme com outros homens, Peter nunca havia feito nada que deixasse Luigi preocupado. Talvez a chave para aquele relacionamento sólido fosse a confiança dos dois. E amor, claro. Amor misturado com confiança.
Quando Peter apareceu na cozinha, ainda passando a toalha nos cabelos louros, piscou para Luigi e se dirigiu a geladeira.
--- E aí, gato. Tem leite? Acho que esqueci de comprar. Falando em comprar --- Peter agora estava procurando o leite dentro da geladeira, e Luigi continuava sentado na cadeira, como telefone sem fio ao seu lado --- Esquecemos de comprar pilhas para os relógios. E controle da tevê também está meio fraco e...
Peter foi interrompido por uma voz vagamente famíliar. E mais estranho era que o dono daquela voz se encontrava á quilômetros de distancia.
Christopher.
Luigi havia acessado a secretária eletrônica e colocara a mensagem no viva-voz. Olhava fixamente para Peter.
Quando a mensagem terminou, Peter compreendeu o olhar de Luigi. Um olhar que Peter nunca dera á Luigi a oportunidade de usar.
--- Não quero parecer paranóico, ou coisa do tipo, mas... Quem é esse cara? É o filho do Harry Mackenzie?
Peter havia fechado a porta da geladeira e se encontrava encostado no balcão do armário.
--- Não me olhe assim --- disse Peter, quase ofendido --- E não. Essa mensagem não quer dizer nada, para mim.
--- Bom, ele pareceu meio animadinho demais para ir decorar o navio. O interessante é que nem decorador ele é. Então toda essa animação é por outro motivo...
Peter sabia que Luigi tinha razão. Porque um advogado ligaria para um decorador animado com a possibilidade de ficar mais de um mês no meio de panos, tintas, cores e texturas?
--- Luigi, não é nada disso. Eu nem sabia que ele ia para o Queen Mary.
--- Tudo bem, acredito em você --- Luigi se aproximou de Peter e passou os braços em sua cintura.
--- Mas há algo que eu quero lhe falar.
--- Sobre esse tal Christopher estar interessado em você?
--- Não existe qualquer interesse da parte dele, e muito menos da minha parte.
--- Eu sei disso. Mas... Nunca se sabe. Mas o que você ia dizer?
Luigi soltou a cintura de Peter e encostou na bancada da cozinha.
--- Ele me disse certas coisas... Meio confusas. Ele já tinha tomado alguns ponches á mais, acho que ele estava meio alto.
--- Que tipo de coisas?
--- Coisas meio sem nexo. Na verdade, eu não entendi direito. Eu estou te contando porque eu não quero que você pense que tenha significado algo para mim.
--- Peter, diga logo: Ele demonstrou algum interesse?
Peter não podia mentir. E nem precisava.
--- Sim, pareceu interessado.
Luigi ficou pensativo durante alguns segundos. Olhou para Peter, quase sorrindo.
--- Bem... Dois pontos. Primeiro: Interessado no tipo de ele querer que você diga a diferença entre veludo e crepe? Ou interessado no tipo de... Interessado?

--- Crepe não é tecido, é um... enfim, interessado no sentido de interessado.
Peter balançou a cabeça para dar ênfase á palavra Interessado.
--- Okay. Segundo ponto: O que ele te disse para dar a impressão de que ele estava interessado em você?
--- Algo sobre informações, e sobre os interesses dele já estarem bem claros. Na verdade, querido, eu não entendi muita coisa.
Luigi ficou em silencio por um tempo, olhando para o chão.
Quando finalmente levantou os olhos para Peter, seu olhar não estava mais carregado de duvidas.
Sorriu e voltou a abraçar Peter, que levantou os braços e passou-os pelo pescoço de Luigi.
--- Tudo bem, acredito em você. Só achei estranho.
--- Eu também acharia, se fosse o contrário.
Quando Peter ia dar um beijo em Luigi, o telefone tocou.
Luigi pegou o telefone e atendeu.
--- Alo? Sim. Está. Um momento.
Passou para Peter, que perguntou quem era.
--- Seu novo amiguinho de trabalho.
Luigi se soltou dos braços de Peter e se afastou.
Quando viu Luigi subir meio incomodado para o segundo andar da casa, Peter desejou não ter que trabalhar naquele dia.
Levou o telefone á boca e falou.
--- Christopher? Oi.
--- Olá, Peter. Espero não ter atrapalhado nada.
--- Não, nada mesmo. Pode falar.
--- Só liguei para pedir que me trouxe-se seu passaporte. Como sabe, vamos para a Califórnia em duas semanas e tenho que pegar os dados de todos os decoradores envolvidos no projeto.
Peter prendeu a respiração por um segundo.
Duas semanas para irem para o Navio? Mas em duas semanas...
Peter não tinha visto o tempo passar. Estava animado para que o dia chegasse, mas em duas semanas ele e Luigi fariam cinco anos de relacionamento. Como iria dizer para Luigi que não iam poder comemorar a data mais importante para os dois, juntos?
Christopher continuava na linha, esperando.
Peter retomou a atenção e respondeu:
--- Claro, vou levar. Agora tenho que desligar, tenho que procurar o passaporte. Faz tanto tempo que eu não o uso.
--- Faça isso. Estou ansioso para que o dia chegue. Te vejo na empresa, Peter Calledon.
Desligou sem se despedir.
Peter continuava com o telefone na mão, perdido em pensamentos.
Não que tivesse esquecido o dia de aniversário de namoro, mas os preparativos da viagem de trabalho haviam feito que sua atenção fosse voltada apenas para o trabalho. Pensou nas suas opções.
Poderia não ir. A ArtDeco chamaria outro decorador para o trabalho. Mas se não fosse, estaria perdendo uma grande oportunidade, afinal não era qualquer navio, mas sim o Queen Mary 2!
Poderia ir, esperando que Luigi entendesse. Ele e Luigi não haviam marcado nada de especial, mas ficar separados não estava nos planos.
Muito menos estar separados pelo oceano.
Colocou o telefone na base e subiu as escadas.

Nicollas Bernal, pai de Mick, estava no quarto do filho, perdido em pensamentos. Na verdade, não sabia exatamente o que pensar. O fantasma de anos atrás agora batia em sua porta, louco para entrar.
Olhou para as milhares de fotos que estavam grudadas por imãs em um quadro de metal, pendurado na parede. Havia milhares de fotos. Fotos com os amigos. Apenas os amigos. Amigos homens.
Nicollas procurou alguma foto de Mick ao lado de uma mulher. Não encontrou nenhuma.
Abriu a gaveta de roupas do filho, a procura de algo. Algo que ligasse o que ele tinha visto semanas atrás á conclusão que ele havia criado. Ou a hipótese que ele havia formulado.
A cena ainda não saia de sua cabeça. Viu o único filho, Michelangelo Bernal, beijar outro homem e entrar no carro do mesmo.
Não. Não podia ser isso.
Olhou para as roupas do filho. Nada muito colorido, a maioria sem estampas ou sem cores muito vibrantes.
Mas roupas muito... justas. Para que? Para mostrar os músculos que não existiam? Michelangelo era magro de dar dó.
Talvez justas para atrair aqueles que gostavam de garotos magros?
Nicollas não conseguia compreender. Fechou a gaveta e sentou-se na cama.
Um quarto comum. Cama, aparelho de som, Cd´s. Fotos dos amigos, algumas fotos de família.
Ao lado da cama havia um criado-mudo com uma gaveta. Abriu-a.
Nada demais. Papéis. Umas canetas sem carga, recarregador de celular, prendedores de papel. Nada demais.
Remexeu mais na gaveta e achou alguns pacotes de preservativos. Resolveu vasculhar mais.
Olhando para os papeis que estavam dentro da gaveta, um lhe chamou a atenção. Era um flyer de uma balada.
O flyer mostrava um ambiente grande, com luzes verdes e azuis para quase todos os lados. Na parte de trás, havia dois homens apenas de sunga, em movimentos que davam a idéia de estarem dançando. Viu o nome da casa e sua localização.
The Times.
Respirou fundo e calmamente. Antes de sair do quarto, colocou o flyer no bolso do casaco.

Arthur estava de namorado novo. Conhecera-o pela internet e já estavam juntos há três semanas.
Bob era magro, tinha os olhos esverdeados e cabelos castanho-claros. Mais ou menos alto, nada exagerado. Trabalhava em uma grande imobiliária e era encarregado de organizar festas, eventos de caridade, reuniões de empresas e esse tipo de coisa. Trabalhava naquilo de que as pessoas chamam de “Relações Publicas”
Mas apesar de ser bom para tal serviço, Bob era meio bobo. Podia ser bonito, ter um bom emprego, um apartamento legal, mas era... Fofo demais.
Homens gays gostam de ser tratados com carinho, isso é fato. Mas precisam saber balancear tanto carinho.
E Bob não sabia.
Quando estava em um relacionamento, Bob conseguia ser um príncipe encantado. Daqueles com cavalos e tudo. Mas em certa hora, Bob deixava de ser um príncipe para se tornar um sapo. Um sapo que fica fazendo barulho à noite inteira.
Bob ligava á cada quinze minutos para o namorado para dizer que estava com saudade.
Bob fazia poemas épicos e grava sua voz em CD, recitando-os.
Bob não comprava flores. Bob plantava em seu jardim e entregava com terra e tudo.
Bob gostava de ver as comédias românticas da Sandra Bullock e ficar comentando depois que o filme acabava.
Bob gostava de discutir qual ópera era a mais bonita: Evita, Tosca ou o Fantasma da Ópera.
Bob sempre chorava ao ver Titanic. Ele também chorava com Uma Linda Mulher, Noiva em Fuga, Outono em Nova York e até mesmo no Edward Mãos de Tesoura.
Ver The OC deixava Bob deprimido. Quando a Marissa Coper morreu, ele escreveu uma canção, intitulada de “Ode á Marissa Coper”
No sexo, Bob não era muito diferente. Enquanto transava, Bob gostava de dizer palavras carinhosas ao seu parceiro. Não tinha aquilo que muitos chama de “pegada”
E depois de transar, Bob não queria ficar deitado, ou dormindo. Gostava de ficar acordado, de frente para o parceiro, dizendo o quanto eles eram especiais.
E apesar de Bob ser um romântico-chato pra caramba, Arthur gostava da sua companhia. Gostava de ter alguém tão fofo e delicado ao seu lado.
Estava se preparando para apresentar Bob ao seus amigos. Ligou para Will para contar a novidade.
Will riu até não poder mais.
--- Porque você está namorando o Ursinho Pooh? Quer dizer, não tinha mais ninguém disponível? Aposto que até o Bob Esponja é mais interessante.
--- Will, não julgue antes de conhecê-lo. Ele é legal.
--- Não estou dizendo que não é legal. Pode ser legal e tudo mais, mas chorar vendo Edward Mãos-de-Tesoura? Quantos anos ele tem? Onze ?
--- É uma historia triste --- disse Arthur, tentado justificar o namorado.
--- Claro que é. O cara tem tesouras em vez de mãos. Imagine ele batendo punheta. Sangue pra todo lado.
--- Enfim, Will... Pretendo apresentá-lo formalmente aos meninos na próxima semana. Tem noticias do Peter?
--- Pelo que me lembro, ele vai para a Califórnia em duas semanas. Deve estar eufórico.
--- E o Mick?
--- Não faço idéia de aonde aquela bicha anda. A ultima vez que falei com ele foi quando combinamos de ir na Times, mas ele não apareceu.
--- Sobre isso, ele me ligou uns dias depois. Disse que encontrou um conhecido e passou a noite com ele.
Will murmurou, como se não tivesse nada a dizer.
--- E você, Will? Dando muito?
Will pensou um pouco. Imagens de homens diferentes, lugares diferentes e posições diferentes passaram pela sua cabeça.
--- Um pouco. Sabe como é, só para não criar teias de aranha.
--- Falando nisso, eu vi o Seth.
Will abaixou uma sobrancelha e levantou a outra.
--- O que teias de aranha têm a ver com o Seth? Ele virou mulher? Agora têm super poderes?
--- Só aproveitei para falar dele. Está estranho.
A atenção de Will ficou mais clara.
--- Estranho? Estranho como?
--- Aparência. Está magro, pálido... Mais pálido do que o Peter.
--- Ual. Estão está mesmo bem pálido.
--- Pra você ver... E está careca.
--- Que? Como disse?
--- É, careca. Parece uma lâmpada. Devia ir vê-lo.
Seth raspou a cabeça? Teria entrado em algum grupo religioso ou coisa parecida?
--- Vou ligar para ele, qualquer dia desses. Querido, vou desligar, tenho que resolver umas coisas.
--- Okay. Fazer alguma coisa hoje á noite?
--- Na verdade, vou sim. Uma festa com um pessoal.
--- Bom, divirta-se. Bob vai lá em casa hoje, vamos ver Titanic.
--- Titanic de novo? Por que não alugam um filme mais... Recente?
--- Bob ama Titanic. Tem paixão profunda pela Kate Winslet.
Will balançou a cabeça, incrédulo.
--- Bom, divirta-se você também. Beijo.
Desligou o telefone e viu a pilha de papéis que tinha sobre a mesa.
Não estava com paciência para aquilo. Queria ir para casa e queimar toda aquela papelada.
Aquela noite prometia.
Ah algumas semanas atrás, Will transou com um cara que tinha um amigo que organizava festas. Na verdade, não eram exatamente festas. Eram orgias.
Esse amigo do cara que ele havia transado tinha um apartamento na cobertura de um prédio de trinta e cindo andares. As festas ali, segundo diziam, eram sempre ótimas. Por morar na cobertura, o apartamento maior do prédio, havia espaço para transar á vontade.
Will andara se informando, e descobriu que muitas pessoas que iam ali transavam na varanda.
No começo, Will estava meio relutante em aceitar a idéia de participar de uma orgia. Mas depois de ver alguns vídeos na internet, resolvera ir.
Nos vídeos, era pinto para todos os lados.
Will olhou em volta, e depois para o relógio.
Pegou o casaco que estava preso no encosto da cadeira e saiu do escritório.

Quando chegou ao quarto, Peter viu Luigi olhando concentrado para o calendário que era mostrado na tela do seu celular. Contava nos dedos.
Quando Luigi o viu, seus olhos já diziam algo que Peter já sabia.
--- Daqui a duas semanas...
--- Fazemos cinco anos juntos, eu sei.
--- E você vai para a Califórnia.
Luigi fechou o calendário e pousou o celular no criado-mudo. Esperava encontrar uma solução.
--- Eu posso ficar --- disse Peter.
--- E perder a chance de decorar o maior navio do mundo?
Peter sentou ao lado de Luigi e segurou sua mão.
--- Eu sei. Mas eu não queria ficar longe de você nesse dia.
Luigi suspirou fundo e apoiou a cabeça no ombro de Peter. Ficaram alguns minutos em silencio.
--- Quem era ao telefone? --- Perguntou Luigi, rompendo o silencio.
--- Quer mesmo saber?
--- E por que não?
--- Era o Christopher. Lembrando-me de levar o meu passaporte hoje.

--- Humpf. Ele devia estar no castelo negro onde ele mora, preparando a festa de comemoração por conseguir te levar para longe de mim.
Peter sorriu e deu um beijo na bochecha de Luigi.
--- Eu quero esse cara bem longe de você.
--- Bom, vamos ficar umas três semanas no mesmo ambiente. Acho meio difícil.
Luigi puxou um dos cantos da boca.
--- Tenho que ir trabalhar. E você também. --- disse Peter.
--- Te vejo aqui á noite? Lembra-se, combinamos de ficar a noite inteira acordados.
--- Sim, eu me lembro, e eu estarei aqui. Não demore okay? Estarei te esperando.
Peter beijou Luigi no rosto e desceu as escadas, rumo á garagem.
Luigi olhou para o relógio e viu que tinha alguns minutos. Desceu até a cozinha e preparou uma tigela de cereal. Cereal cru, pois Peter esquecera de comprar leite.
Se dirigiu até a sala, e ficou um tempo admirando-a. Peter havia decorado aquela sala desde o carpete até o lustre que havia no teto.
Enquanto vagava por pensamento, o telefone tocou, despetando Luigi para a realidade.
Quando atendeu, quase caiu para trás.
--- Aqui é Vittoria Walker. Gostaria de falar com o Luigi Cortez.
--- Vittoria, Oi, é o Luigi. Mas que surpresa.
--- Surpresa o que? Que eu saiba usar o telefone? Se acha mais inteligente do que eu?
Luigi percebeu que teria que dosar as palavras.
--- Não, claro que não. Mas diga-me, no que posso ser útil?
--- Bom, meu filho me contou o que aconteceu quando você foi fotografá-lo.
Por essa Luigi não esperava. Imaginou Eric contando para a mãe “Aí eu tirei a roupa e sentei na mesa dele. Mas ele não quis me comer”
--- Contou? --- Luigi estava sem ar --- O que ele contou?
--- Bom, como chefe da equipe de fotografia, você devia estar mais atento ao seu material. Como um fotografo não carrega pilhas extras no bolso?
Claro que ele não contou a verdade, pensou Luigi.
--- Esqueci, juro que esqueci.
--- Espero que isso não aconteça novamente, jovenzinho. Você trabalha na Vogue, e trabalhar na Vogue é assumir grandes responsabilidades.
Luigi se sentiu o Homem-Aranha. Mas a que falava no outro lado da linha não o tio Ben.
--- Mas então, meu filho vai hoje, no fim do expediente, tirar as fotos. Está com todo o equipamento necessário?
Por essa Luigi não esperava. Achava que tivesse assustado aquele menino, mas pelo jeito isso não aconteceu.
--- Sim, estou.
--- Muito bem. Espero ver essas fotos até o fim da semana, entendeu? Pois bem, tenho que desligar. Faça um bom trabalho. Aliás, você já não deveria estar aqui?
--- É segunda. Na segunda eu trabalho a partir das 11.
--- Ótimo. Até logo, Cortez.
Desligou o telefone sem dar o Tchau básico.
Luigi prometeu a si mesmo que, não importando a hora que fosse tirar essas malditas fotos, estaria cedo em casa.
Pegou a chave do carro e foi em direção á garagem.

Quando Peter chegou ao imenso prédio da ArtDeco, não sabia o que esperar daquele dia. O dia nem havia começado, e já estava estranho.
Passou pelos seguranças e os cumprimentou. Depois pelas recepcionistas, para finalmente entrar no elevador.
Quando chegou ao seu andar, avistou logo a sua sala. Era a de portas cor vinho, no fim do corredor.
Sua secretaria Katharine já estava na mesa que ficava perto da porta, segurando um copo de café. Peter nunca pedia isso á ela, mas Katharine sabia do vicio em café que Peter tinha.
--- Bom dia Katharine, e obrigado pelo café.
--- Bom dia, senhor Calledon. Se precisar, me chame.
Quando entrou na sala, Peter achou estar vendo coisas. Não que tal visão fosse impossível, mas já estava começando a achar tudo aqui ridículo.
Christopher estava sentado na cadeira de Peter, com os pés em cima da mesa estilo Georgiano, também pertencente a Peter.
Em suas mãos, estava o retrato de Peter e Luigi juntos.
Christopher sorria quando falou.
--- Formam um belo casal, sabiam?
Peter apenas balançou a cabeça afirmativamente, e disse:
--- Eu sei. Bom dia para você também.
--- Desculpe a invasão, mas é que aqui estava meio chato.
Christopher pousou o quadro sob a mesa e cruzou os dedos.
Peter apenas olhava.
--- É uma empresa --- disse Peter, seco --- Um ambiente de trabalho.
--- E só por isso tem que ser chato? Eu fui tentar conversar com os outros decoradores. Não deu muito certo.
--- Por quê?
--- Eles só sabem de falar de textura e de tecidos. Não é para mim.
Claro que não, você não é um decorador...
--- Você vai se acostumar.
--- Tenho que me acostumar, afinal vou passar três semanas no maior navio do mundo com um monte de decoradores animados. Falando nisso, ouviu minha mensagem?
Claro que ouvi, pensou Peter, meu companheiro quase brigou comigo por sua causa. Sem perceber, Peter estava começando a gostar menos de Christopher.
--- Sim, ouvi.
--- E ficou animado?
--- Para que?
--- Para ir comigo.
Peter estava cansado dessa historia. Devia ser sincero com Christopher ou devia continuar se fingindo de bobo?
--- Bem, vamos em grupo, lembra-se? Eu e mais 21 decoradores. E você.
Christopher pareceu menos animado.
--- Mas pelo menos vamos. O que seu namorado achou de você ir?
--- Ele me apóia, assim em como qualquer decisão que eu tomo. E Christopher, sem querer parecer rude, eu preciso da minha mesa.
--- Ah é, claro --- Christopher se levantou rápido da cadeira --- Desculpe. Quer almoçar mais tarde? Ou beber um café?
--- Vou estar ocupado. Quem sabe em outro dia.
--- Ora, o que é isso, Peter Calledon. Você precisa se alimentar.
Peter ainda perguntava porque Christopher ainda o chamava pelo segundo nome.
--- Se der, eu vou. Mas quero trabalhar bastante hoje, fiquei um bom tempo longe.
--- Tudo bem, então. E me avise se for comer. Ou ... Se quiser comer algo diferente.
Christopher olhou maliciosamente para Peter, e depois saiu.
Cara estranho, pensou.
Sentando-se na cadeira, Peter vasculhou sua mesa com os olhos, tudo no lugar.
Menos um objeto.
Apenas sua agenda de contatos estava aberta, no canto da mesa, com a caneta dentro, marcando a pagina. A pagina marcada era a de contatos com a letra C.
No fim da pagina, um novo nome e uma série de números que Peter não conhecia.
Mas conhecia o nome. O nome pertencente á pessoa que tiraria toda a estabilidade da vida de Peter. E Peter ainda não tinha a mínima noção disso. Ainda.


O transito da cidade ainda estava péssimo.
Will deixou o escritório no meio do expediente sem dar explicação alguma. Estava cansado daquele lugar. Cansado de papéis, arquivos, estagiários incompetentes.
Quando fazia uns cinco minutos que Will não andava no transito, pegou o celular e ligou para um contato salvo na lista telefônica.
Um toque. Dois. Três e meio.
--- Alô? --- Falou uma voz firme do outro lado da linha.
--- Jimmy? Oi, é o Will.
Um silencio perdurou por uns dois segundos.
--- Quem? Que Will?
--- Dormimos juntos faz umas duas semanas. Advogado... Cabelos castanhos levemente despenteados...
Enfim, o reconhecimento.
--- Siim! Claro, lembro sim. E aí?
--- To legal, e você?
--- De boa. Desculpe não lembrar logo de cara, sabe como é.
--- Sem problemas. E aí, o que vai fazer hoje? Estava pensando se...
--- Vou me encontrar com uns amigos e depois ir para uma casa nova que abriu perto do centro. Quer ir também?
--- Casa nova? Qual?
--- Chama-se Newpsies. Grande, fez uma boa divulgação...
Will pensou por um momento. Poderia ficar em casa, sozinho vendo filmes. Ou poderia ir a um lugar legal, com pessoas interessantes e até descolar alguém no final da noite. Ou alguns.
Decidiu ir.
--- Certo, eu vou. Que horas você vai estar lá?
--- Lá pelas nove, talvez. Me liga quando chegar lá. Agora tenho que ir, beijo gato.
Desligou antes mesmo de ouvir a resposta de Will.
Desde que Will deixara de ficar pensando no “amor-perdido-para-sempre”, também conhecido como Seth Austin Lee, sua vida sexual estava mais ativa.

Will não perdia mais tempo pensando no que aconteceu, ou no que ele poderia ter feito para evitar. Resolvera viver intensamente.
Não sabia dizer se estava mais feliz. Dormia com muitos homens, em sua maioria desconhecidos, que nem se lembravam dele quando acordavam de manhã. Para eles, Will era só mais um que dividia a cama.
Para Will não era muito diferente. Estava cansado daquela coisa de “Vou ter o meu final feliz” “O amor vence tudo” e toda essa porcaria. Nem mesmo, quando chegava em casa na manhã seguinte, a sensação de vazio era bem menor. Era administrável. Conseguia viver com ela, mas não tinha forçar para encarar de frente á realidade.
Tinha também novos amigos. Novos contatos, dizendo melhor.
Mesmo tendo se afastado um pouco de Luigi e Peter, Mick e Arthur, amava aqueles garotos. Sabia que eles estariam ali quando precisasse. Mas estava meio saturado deles.
Peter e Luigi estavam juntos fazia uns trezentos anos. Mick era uma bicha fashionista que dava para qualquer um, e Arthur era um micro-empresário que não desistia de encontrar alguém.
Will queria um pouco mais.
Tinha conhecido mais pessoas nas ultimas semanas. Tinha ido a festas, dormido com pessoas bem-dotadas. Seu mundo cresceu de uma forma bem estranha, mas ao mesmo tempo muito libertadora. Ir para casa e ficar conversando com as paredes não eram mais opções válidas para ele. Tinha sempre alguém para ligar, algum lugar para ir.
Não sabia dizer se estava realmente feliz, mas estava menos triste. Isso devia valer.
Quando finalmente seu carro voltou a andar, animou-se para ir para casa. Ainda tinha que tomar um banho, comer alguma coisa e sair para passar a noite inteira fora.

Luigi estava terminando de arrumar a iluminação do estúdio quando o telefone da sua sala tocou. Os modelos já estavam prontos para fotografar, apenas esperando que a luz ficasse legal.
Rapidamente, Luigi foi até as sua sala e atendeu o telefone.
Vittoria Walker. Séria. Mau-humorada.
--- Meu rapaz, está tudo pronto para tirar as fotos de Eric?
Putz! Pensou Luigi. Havia se esquecido disso.
--- Hã... Claro, claro. Quer dizer, só falta as fotos da modelo da próxima capa, aí poderei fotografar com ele.
--- Ótimo. E não demore.
--- Sim senhora.
--- E eu gostaria de lhe pedir uma coisa, poderia levar ele para casa, depois da sessão? Eu estou indo embora agora, e ele já está aqui ao meu lado. Terei que resolver uns problemas na escola dele.
Ele deve ter feito mais um professor ser demitido, pensou Luigi.
Luigi olhou para o relógio. Seis e vinte e um. Tinha que sair dali pelo menos antes das nove. Peter estaria esperando por ele, em casa.
--- Tudo bem, senhora Walker. Eu o levo pra casa.
--- Perfeito, ele já está descendo. Até logo, rapaz.
Luigi colocou o telefone no gancho e saiu da sala.
As fotos de capa geralmente são no máximo sete fotos. Uma vai para a capa, e as outras seis vão para o núcleo da revista, a parte concentrada em falar sobre o assunto proposto na capa. Isso demorava menos de meia hora.
Eric Walker chegou em dezesseis minutos.
Quando Luigi viu o garoto com cara de bebê, encostado na porta do estúdio, teve vontade de sair dali. Depois da cena na sua sala, passou a ver aquele garoto com um asco enorme.
De alguma forma, aquele garoto lembrava Mick.
Interessante. Luigi tinha que aturar duas pessoas que não gostava só por causa da influencia externa de outras pessoas.
Tinha que agüentar Mick por causa de Peter.
Tinha que agüentar Eric por causa de Vittoria.
Teve vontade de gritar.
Quando terminou de fotografar a modelo da capa, viu um sorriso falso no rosto do garoto.
Viu quando o garoto tirou o casaco azul da escola, e jogou para o outro lado da sala.
--- Estou ansioso para começar --- disse Eric.
--- Então é só você.
--- Ora ora, sabe com quem você esta falando? --- ele chegou bem próximo do rosto de Luigi --- Com o filho da sua chefe. É melhor você começar a me tratar direito. Sabe, com mais... amor.
Luigi afastou o corpo e se virou, em direção ao equipamento.
--- Você não sabe o significado dessa palavra, então não a pronuncie. E para falar a verdade, foda-se de quem você é filho, para mim não interessa.
Luigi esperava que depois dessa resposta, a ira de Eric viesse como água caindo de um balde.
Nem chegou perto. Nem longe.
Eric apenas balançou a cabeça e corcordou.
A sessão de fotos foi estranhamente normal. Os únicos pedidos de Eric era de trocar a roupa á cada foto. Luigi concordou, mas isso o fez demorar mais. Quando era quase dez horas, a secretaria de Vittoria Walker apareceu no estúdio e perguntou á Eric se ele ia mesmo para casa com a carona de Luigi. Disse que sim, estranhamente feliz.
Antes de sair, a secretaria chamou Luigi para fora do estúdio, para dar um recado de Vittoria.
Assim que Luigi saiu da sala, o celular dele começou a vibrar em cima da mesa.
Eric aproveitou a oportunidade.
Chegou perto da mesa e olhou no visor. Setas azuis apareciam embaixo de um nome.
Peter.
Eric apertou o botão verde e colocou o celular no ouvido. Ficou apenas ouvindo.
Não demorou muito para que uma voz macia soasse do outro lado da linha.
--- Lui? Amor, você está aí?
Uma ótima oportunidade para Eric. Esperou alguns segundos e encerrou a ligação. Antes que Peter pudesse ligar novamente, Eric abriu o celular e retirou a bateria, fazendo o aparelho desligar.
Guardou a bateria na bolsa que trazia consigo, e voltou para a posição que estava antes de Luigi sair.
Quando Luigi voltou, nem reparou que seu celular estava mais leve.

O silencio que reinava no carro de Luigi era relaxante. Luigi estava cansado, queria ir para casa e encontrar com o seu amado Peter.
Olhou no relógio de pulso e desanimou com a idéia. Eram 11hr47min.
Sabia que tinha falhado. Tinha prometido á Peter que passaria a noite inteira com ele, acordado. Sabia que não ia ser assim. Peter tinha que trabalhar no dia seguinte, e ele também.
Teve raiva de si mesmo.
O silencio foi cortado pela voz do garoto que estava ao seu lado. Eric passou a sessão inteira quieto, e Luigi pensou que seria assim no trajeto para a casa do garoto.
--- Está pensativo. Uma rapidinha por seus pensamentos.
Luigi revirou os olhos.
--- Eu prefiro quando você não está falando. É mais agradável. Ou menos insuportável.
--- Luigi, querido, relaxa. Ninguém precisa saber que você está louco para ficar entre quatro paredes comigo. É o nosso segredo, ok?
--- Garoto, acorda. Eu não transaria com você nem se você fosse o ultimo cara na face da terra.
--- Mas como eu não sou o ultimo cara da face da terra, é bem capaz que você queira transar comigo. Pense bem. Ninguém precisa saber.
Eric se aproximou de Luigi e começou a passar a mão pela sua perna. Tentou subir para a virilha, mas um tapa rápido e ardido de Luigi o impediu.
--- Não toque em mim, esqueceu?!
--- Sabe de uma coisa que eu não esqueci? Dos seus olhos. Seus olhos quando eu estava pronto para você, na sua mesa, naquele dia.
--- Olhos de nojo? Asco?
--- Desejo. Deu até pra ver o volume crescer dentro da sua calça. Aposto que fica maior ainda.
Luigi estava cansado daquele garoto. Considerou a idéia de um soco bem dado no meio do rosto. Desconsiderou rapidamente, pois isso poderia fazê-lo perder o emprego.
Finalmente chegaram ao apartamento onde Eric morava com a mão, Vittoria.
--- Obrigado pela carona --- disse Eric.
--- Espero que não ocorra novamente.
--- Pois é. Espero que da próxima vez você me leve para um lugar mais reservado.
Luigi não disse nada. Esperou que ele abrisse a porta e saísse do carro.
Antes de bater a porta, Eric se virou e disse.
--- Pense. Ninguém saberia. Nem minha mãe, nem o seu Peter. Aliás, ele te ligou.
Quando Eric se afastou do carro, Luigi pensou ter entendido mal.
Sozinho, procurou o celular na bolsa e tentou liga-lo.
Nada.
Bateria descarregada? Pensou. Não podia ser, tinha colocado ele para recarregar na noite anterior.
Notou a estranha leveza no aparelho. Virou-o e abriu a tampa que guardava o chip e a bateria.
Não precisou pensar muito. Todas as linhas de raciocino ligavam á apenas uma pessoa. Eric Walker.
Pensou em ir até a portaria do prédio e pedir para que Eric descesse e devolvesse a bateria. Mas nem chegou a sair do carro.
Dane-se. Amanhã eu compro outro.
Quando olhou para o relógio de pulso, voou para casa.
O relógio marcava 12hr19.

Quando chegou em casa, encontrou Peter já deitado na cama, apenas de cueca. Luigi teria que explicar o porquê de não ter voltado para casa cedo, como havia combinado.
Tomou um banho rápido, tirou toda a roupa e deitou na cama.
Quando se preparava para dormir, não viu que Peter estava de olhos abertos, esperando que seus braços o envolvessem.
Peter não tinha nada para falar. Luigi sim, tinha explicações a dar.
Mas o silencio permaneceu soberano até a manhã seguinte.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Capitulo 11.

Cameron Plaza.


O Cameron Plaza constituía de um enorme prédio de estilo gótico francês, com um enorme homem forte e musculoso nas suas bases, dando a impressão que era o tal homem que sustentava a construção.
Logo de inicio, a escadaria que dava acesso ao salão já era impressionante. Continha 17 degraus revestidos de carpete italiano na cor azul-turquesa. No inicio e no final das escadas, dois anjos, um de cada lado, segurava uma lamparina que continha uma lâmpada dentro.
Quando se entrava no hall, a visão de um domo colossal fazia qualquer um dar um passo para trás. Michelangelo, o mestre renascentista, não ficaria com inveja, pois o criador do Cameron Plaza não chegava nem perto da genialidade do mestre. Mas mesmo assim, era uma visão impressionante.
Peter estava adorando tudo aquilo.
Chegara ás nove e quinze no Cameron, e perdeu uns dez minutos apenas admirando o a fachada e o saguão do Cameron.
Não tinha chegado ainda no salão de festas.
Quando dois seguranças abriram as portas do salão para dar passagem á Peter, este se sentiu transportado para um lugar que nunca estivera. Pelo menos, não nesta vida.
O salão era em formato circular, com quatro pilares em cada lado. As paredes eram pintadas de amarelo-escuro, com alguns detalhes em branco.
O salão também era ladeado por uma varanda com grades de ferro, feita para os convidados que quisessem fumar.
Apesar do lugar ser lindo, e Peter ter adorado desde o primeiro momento, ele já estava de saco cheio.
O salão estava com todos os 124 decoradores contratados, todos os 16 estagiários, vários sócios e mais alguns paisagistas que de vez em quando fazem alguns trabalhos para a ArtDeco.
Alguns riam, outros bebiam sem parar.
Umas duas vezes, Peter se esquivou de alguns grupos que estavam conversando. Não estava com muita pasciencia para conversas.
Enquanto se servia de uma taça de ponche, Peter viu alguém indo a sua direção. Era Chistopher.
Ele vestia um terno em corte italiano, com riscas de giz na cor preta com gravata azul-marinho.
Um advogado bonito. Não um decorador, pensou Peter.
Olhando novamente para o rosto de Christopher, refez o pensamento.
Um não-decorador simpático. Bonitinho, talvez.
Quando chegou perto da mesa que Peter estava se servindo, Christopher abriu um sorriso simpático para ele.
--- Oi --- disse ele --- Não pude me apresentar naquele dia, Sou Christopher Mackenzie.
Estendeu a mão para Peter, gentilmente.
--- Olá, Christopher ---- respondeu, apertando sua mão.
--- Você é o Calledon, né?
--- Isso, Peter Calledon. Mas me chame de Peter, é como todos me chamam.
--- Como quiser. É um prazer conhece-lo, Peter.
--- O prazer é todo meu. Gostando da sua festa?
Ele olhou em volta do salão, que estava cheio de pessoas vestindo trajes sociais.
--- Sinceramente, nem tanto. Eu preferiria uma bagunça com alguns amigos, em um lugar menos...
--- Elegante? --- arriscou Peter.
--- Prefiro a palavra opressivo. Mas elegante também serve.
Peter sorriu, mas sem concordar com o argumento. Gostava de estar ali, mesmo querendo estar em casa com Luigi.
Christopher bebeu um gole do ponche e continuou a conversa.
--- Meu pai disse que é um dos melhores decoradores que ele tem.
--- Ele deve ser um grande contador de historias, suponho.
--- Não não. Ele falava sério. Acho que se eu não tivesse assumido a liderança da ArtDeco, você assumiria.
Conversa estranha, pensou Peter.
--- Na verdade, se isso acontecesse, não sei se eu aceitaria o cargo. Gosto do que faço. Não sei se serviria para dirigir pessoas.
--- Eu estava vendo seu portfólio. Você tem talento. Talento e futuro.
--- Obrigado, Christopher. Se precisar de alguma ajuda, é só me chamar.
--- Bom... --- ele passou as mãos pelos cabelos descaradamente --- Por isso estou puxando conversa com você. Queria, sei lá, conseguir sua confiança para você me ajudar na empresa.
--- Ual --- disse Peter, brincando --- Estou me sentindo usado.
Christopher riu alto.
--- Não, por favor, não se sinta assim. Não que você não seja interessante, mas é que eu não sabia como vir falar com você.
Peter processou as palavras, uma a uma.
Não, não é isso que você está pensando, Peter. Seja razoável! Pensou.
--- Bom --- disse ele, corando --- Estou aqui para o que precisar.
--- Obrigado --- agradeceu ele, passando novamente a mão pelo cabelo.
Um grupo de homens bem vestidos chamou Christopher para um canto, talvez para parabeniza-lo pelo cargo. Antes de se afastar, sorriu para Peter e levantou as sobrancelhas.
Peter resolveu aproveitar que estava só para ligar para Luigi. Ainda queria que ele estivesse ali, para fazer companhia.
Olhou em volta, á procura de um lugar vazio. Longe, ah uns nove metros mais ou menos, achou uma das portas que davam para a varanda do salão. Dirigiu-se até elas.
Quando chegou a varanda, viu que estava completamente só.
Procurou o numero de casa na lista de contatos e apertou o botão verde.
Três toques depois, Luigi atendeu.
--- Oi querido, sou eu.
--- Oi amor. E aí, como está a festa?
--- Bem... Um saco pra falar a verdade. Pessoas bebendo, falando mal umas das outras... Sabe como é.
--- Claro que sei, eu trabalho em uma revista de moda, lembra-se? Falar mal é quase tão comum quanto respirar.
--- Eu sei. Falando em trabalhar, que tal amanhã fazermos alguma coisa? Só nós.
--- Estou deixando você sozinho em casa tempo demais, não é?
--- Não é nem o tempo, mas é que jantar quase todas as noites olhando para a parede é meio chato.
Luigi sorriu, meio constrangido. Tinha prometido a si mesmo que faria de tudo para passar mais tempo com o Peter.
--- Humm... Como posso recompensá-lo? Diga, farei qualquer coisa.
Peter riu um pouco alto, e depois verificou que não havia ninguém por perto.
--- Bom, poderíamos ficar uma noite inteira acordados. Sinto falta de quando fazíamos isso.
--- Amanhã, vamos ficar como dois morcegos, grudados no teto do quarto.
Peter e Luigi riram juntos, provavelmente imaginando a cena.
--- Tudo bem, então. Amanhã eu e você acordados a noite inteira. Tenho que desligar agora. Tenho que parar de ser um cara de poucas palavras e me enturmar um pouco.
--- Vai demorar pra voltar para casa?
--- Acho que não. Harry só tem que fazer o discurso de despedida e depois apresentar o novo presidente da empresa.
--- Que teria que ser você. O que ele estava pensando quando resolveu colocar o filho fracassado na presidência de uma empresa que ele levou anos para construir?
--- Sinceramente, não sei. Mas quem somos nós para dizer o que se passa na mente de um decorador de 57 anos?
--- Vamos esperar alguns anos e eu respondo a pergunta. Amor, vou desligar.
--- Ta certo, mas não demore okay? Eu te amo.
--- Também te amo.
Luigi desligou o telefone, e Peter fez o mesmo.
Quando ia se virando para voltar para o salão, percebeu uma figura parada na porta.
Perguntou-se se ele havia escutado a conversa. Poderia até escutar, menos a parte dele ser um advogado fracassado.
--- Fugindo da festa, senhor Peter?
Tinha um sorriso enigmático no rosto. Seus olhos o analisavam com encanto.
Peter sorriu, meio corado por ser pego escondido.
--- Pois é. Precisava ligar pra casa.
Christopher seu alguns passos para frente e fechou a porta atrás de si, tampando a passagem de Peter.
Peter se sentiu, de alguma forma bem estranha, encurralado.
--- E está tudo bem em casa?
--- Sim, tudo bem. Era só vontade de dar um tempo da festa.
--- Sei como é. Toda essa gente falando sobre tecidos e dinheiro. Bem que meu pai poderia ter contratado um striper.
Ele sorriu, com medo de que tivesse falado demais.
--- Mas Peter, hã... Posso fazer uma pergunta?
--- Claro, fique á vontade.
Christopher colocou as mãos nos bolsos e encostou na grade da varanda.
--- É verdade que você está junto com um cara faz uns cinco anos?
Peter se perguntou de que tipo de pergunta era aquela.
Sorriu ao falar.
--- Sim, é verdade. Mas como sabe disso?
--- Tive que conhecer o prédio hoje de manhã, inclusive todas as salas. Quando passei na sua sala, vi uma foto com um cara de cabelos pretos. E você sabe, as pessoas falam um pouco...
Peter cruzou os braços na frente do peito.
--- Todos falam, eu sei disso. Já ouvi cada absurdo naqueles corredores da ArtDeco.
--- Pois é. E como fazem para ficar tanto tempo juntos? Digo isso porque meus relacionamentos nunca duram mais de seis meses.
A pergunta meio obvia que devia ter aparecido antes, passou pela mente de Peter. Christopher era gay? Por isso Harry o colocou como presidente da ArtDeco? Um advogado gay dirigindo uma empresa de decoração. Seria essa a saída que Harry encontrou para continuar a empresa?
--- Bom... Quer dizer, não sei como se faz para dar certo. Apenas... Apenas dá certo, entende? Digo, quando é com a pessoa certa, o trem permanece no trilho. Se não for a pessoa certa...
--- Aí é queda livre.
--- Por aí.
Christopher sorriu meio tímido.
--- Ele é tão legal assim como você?
--- Ele tenta. Quando está meio de mau humor, você sabe, é meio chato. E para falar a verdade, fico meio insuportável quando não bebo café.
Peter estava se sentindo mais á vontade com Christopher. Não que Christopher fosse uma pessoa realmente super-legal, mas era agradável. Como diria Mick, era “conversável”
--- Quantos anos ele tem?
--- Vinte e cinco. E você quantos anos tem?
--- Vinte e três. Vocês tem planos para o futuro? Digo, casamento, adotar uma criança, coisas do tipo?
Porque tanta curiosidade na minha vida? Refletiu Peter.
--- Você é rápido, heim. E curioso.
--- A curiosidade matou o gato, eu sei. Mas eu não acredito nisso.
--- Que a curiosidade mata? Por quê?
--- Porque a curiosidade ajuda a descobrir coisas sobre as pessoas. E se estou curioso sobre você, então posso descobrir muitas coisas a seu respeito.
Peter resolveu escolher as palavras. Não era hora de falar o que vinha na cabeça.
--- É mais fácil me perguntar, não acha?
Parecia que essa era a pergunta que Christopher queria ouvir. Olhando para os lados, verificando se estava apenas ele e Peter naquela parte do Cameron.
Caminhou alguns passos, e ficou a centímetros de tocar o corpo de Peter.
--- E você seria sincero? Sem ter vergonha, ou peso na consciência?
Peter não disse nada, apenas olhava de forma estranha para o rapaz que estava na sua frente. Bem na sua frente.
Christopher percebeu que Peter estava se sentindo desconfortável, e afastou o corpo.
Peter relaxou na hora.
--- Quero dizer --- continuou ele, passando as mãos nos cabelos. Aquilo era tão coisa de adolescente de seriados dos anos 80! Será que ele não sabia disso? --- Se estamos interessado em uma pessoa, porque não ir coletar informações sobre a mesma? Quando sabemos dos seus gostos, inclinações, hobby´s e motivações pessoais, tais informações ajudam a conseguir aquilo que queremos. E agora, por enquanto, eu sei o que eu quero. E já estou fazendo minha parte, que é coletar informações. Se um dia terei meu objeto de desejo, isso eu não sei. Mas pelo menos sei que estou fazendo minha parte. E geralmente, eu consigo as coisas que eu quero. De um jeito ou de outro.
Peter escutava, mas não queria pensar. Não queria pensar que aquele estranho que conhecera na tarde anterior estava com idéias para cima dele. Enquanto Christopher fazia aquele discurso ridículo, Peter perdeu o fio da conversa.
--- Mas e você, Peter? Sabe o que quer? Já tem informações suficientes?
Peter não sabia responder. E nem pode, pois quando ia colocar o cérebro para funcionar e formar uma frase lógica e inteligente, Harry o interrompeu.
--- Filho venha cá, Vou fazer o discurso de despedida.
--- Estou atrás de você.
Antes de se dirigir até a porta, se virou para Peter e sorriu.
--- Até segunda, Peter Calledon. Eu não vejo a hora. E você?
Saiu da varanda, deixando Peter a sós com os pontos de interrogação que flutuavam acima da sua cabeça.
Quando Peter chegou em casa, encontrou Luigi deitado no sofá, ferrado no sono. Pegou um cobertor que estava próximo e o cobriu. Olhou para as escadas do segundo andar e decidiu tomar um banho.
Quando a água caia em sua cabeça, Peter sentiu um par de mãos em sua barriga, e depois sentiu a barriga de Luigi em suas costas.
Fizeram amor ali mesmo.
Quando ainda estavam no chuveiro, ouviram o telefone tocar. Deu seis toques e caiu na caixa postal.
A pessoa do outro lado da linha resolveu deixar uma mensagem.
--- Oi Peter, sou eu, Chris. Só queria avisar que andei conversando com meu pai, e decidimos que eu devia ir também para o Queen Mary. Não é legal? Vamos para o maior navio do mundo, juntos. Te vejo na segunda, Peter Calledon.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Capitulo 10.

O Filho do Chefe ?

Quando Harry Mackenzie se olhou no espelho, pode ver todos os seus anos no reflexo. Conseguiu visualizar todas as casas decimais. Sabia que estava na hora de se aposentar e eleger o novo presidente da ArtDeco, sua empresa de decoração. Pensou nas suas opções.
Aline Bertine. Inteligente, bonita, com senso de humor. Mas meio lenta para o trabalho.
Charles Zimmer. Talentoso, mas não era exatamente o que se chamaria de presidente de uma empresa.
Peter Calledon. Talentoso, inteligente, um homem de fibra. Homossexual assumido, mas isso era irrelevante.
Gustavo Bueno. Muito novo, ainda. Precisava aprender muito.
Viu que suas opções estavam acabando. Pensou em incluir seu filho na lista. Mas seu filho não era um decorador.
O tempo está passando... --- pensou Harry Mackenzie, quando voltou a olhar para seu reflexo no espelho.


Quando Luigi entregou o telefone para Peter, este não sabia quem poderia ser.
--- Alo? --- disse Peter.
A pessoa no outro lado da linha ficou feliz em falar com Peter.
--- Peter? Sou eu, Anne, a secretária do Harry. Trago boas noticias.
--- Oi Anne, como está, querida? Mas que noticias? Trabalho? Vamos para o Queen Mary antes da data prevista?
--- Não não, nada de trabalho. O senhor Harry chamou os seus melhores decoradores para uma reunião hoje ás cinco da tarde.
--- Qual o motivo?
--- Bem... --- Anne não conseguia esconder o entusiasmo --- Ele vai decidir hoje quem assume a liderança da ArtDeco. E nós dois sabemos quem são os preferidos para tomar a liderança da empresa.
Peter sabia. Ele e Charles Zimmer eram os preferidos por Harry.
--- Bom, às cinco? Tudo bem, estarei aí.
--- Okay. E prepare-se para ter novas responsabilidades, futuro chefe! Beijos!
Quando desligou, Anne pulava de alegria.

Depois de contar a novidade para Luigi, Peter teve que agüentar o entusiasmo dele também.
--- Amor! Parabéns! Vamos comemorar!
Peter não sabia se Luigi estava pulando, se estava beijando-o ou abraçando-o.
--- Lui, relaxa. Não fui indicado. Posso nem me tornar chefe. E para falar a verdade, nem sei se quero tal cargo.
--- Não quer? Por que?
--- Quer dizer, não sei. Comandar e dirigir uma empresa? Eu? Eu não sei organizar nem meu guarda roupa!
--- Não sabe mesmo. Ainda continua colocando suas meias...
A expressão de Peter fez Luigi voltar ao assunto principal.
--- Enfim, bom, se você for indicado, você tem que aceitar, não é?
--- Bom, se eu não aceitar, sou despedido.
Luigi encarou Peter por alguns segundos.
--- Vamos comemorar, futuro chefe da ArtDeco!
Luigi se dirigiu até a geladeira e pegou uma garrafa de champanhe.


No prédio de nove andares da ArtDeco, a sala de reuniões ficava no oitavo andar.
A sala era toda decorada em estilo contemporâneo, com uma janela bem grande que era possível ver o pôr-do-sol no fim do dia.
No meio da sala havia uma mesa retangular, de madeira de carvalho, polida. Na parede havia o logotipo da ArtDeco fabricado em acrílico preto-brilhante.
Eram exatamente cinco horas quando Harry Mackenzie entrou na sala acompanhado de um jovem que aparentava ter no máximo 27 anos. Seus cabelos eram caídos para os lados, castanhos-claro. Seus olhos eram verdes, e no rosto um pouco de barba para fazer começava a despontar do queixo.
--- Olá, meus amigos --- disse Harry ao sentar-se em seu lugar habitual.
O grupo de cinco decoradores acenou com a cabeça. O jovem continuava de pé.
--- Como devem saber, está na hora de eu me aposentar. Construí essa empresa quando eu tinha só 23 anos, e hoje somos líderes no ramo de decoração.
Peter e o resto do grupo assentiam com a cabeça.
--- Essa empresa, que emprega mais de 100 funcionários, incluindo decoradores, paisagistas, secretários, organizadores de eventos, marketing e ajudantes gerais, precisa de um novo líder. Como sabem, aqui nesta sala estão os preferidos para suceder o meu lugar.
O grupo entreolhou-se. Charles Zimmer estava de frente para Peter, com o nariz empinado.
--- Mas eu sinto em lhe informar, meu caros, que a ArtDeco não será dirigida por nenhum decorador.
Os presentes na sala ficaram mudos.
--- Apresento-lhes, meu caros, o novo presidente da ArtDeco. Por favor, conheçam Christopher Mackenzie, meu filho.
Peter não acreditava. Já ouviu falar em Christopher Mackenzie, o filho do chefe que fizera faculdade de direito. Como não havia conseguido ingressar na ordem dos advogados, Christopher Mackenzie trabalhava em uma vídeo-locadora cinco dias por semana.
Christopher sorriu para o grupo, simpático.
--- Filho --- disse Harry --- Estes são as melhores pessoas para te ajudar aqui. Sei que não entende nada de decoração, mas ficará á salvo com essas pessoas.
Um a um, Harry foi falando e apresentado cada um dos presentes. Quando começou a falar em Peter, este corou e sorriu.
Os olhos de Peter e Christopher não se desgrudaram por alguns segundos que pareceram uma eternidade.
Antes da reunião acabar, Harry chamou a atenção de todos os presentes na sala.
--- Meus amigos, tal acontecimento merece uma comemoração á altura! Amanhã, ás nove horas, Cameron Plaza. Apenas para os funcionários da ArtDeco.
Cameron Plaza?! Peter já havia ouvido falar desse lugar, um dos salões mais finos e elegantes da cidade. Praticamente impossível conseguir marcar algum evento lá. Peter ficou se perguntando como Harry conseguira tal feito. Cameron Plaza? Não conseguia acreditar.
Quando finalmente a reunião acabou e todos foram dispensados para irem para suas casas, Peter foi até a sua sala para pegar sua mala que havia deixado lá.
Entrou no elevador e apertou o botão que indicava o térreo. Antes das portas se fecharem, viu que os olhos de Christopher ainda continuavam fixos nele.


Quando chegou em casa, Peter estava morrendo de fome. Pegou um transito enorme para vir para casa, e não tinha comido nada desde que saíra da ArtDeco.
Quando estava preso no transito, a imagem dos olhos de Christopher Mackenzie, fixos nos olhos azuis de Peter, passara algumas vezes na sua memória.
Um advogado que não conseguira entrar na Ordem dos Advogados dirigindo uma empresa de decoração. Claro, ele poderia cuidar de toda a papelada burocrática, mas como conseguiria avaliar o desempenho dos seus funcionários?
Peter não sabia a resposta.
Depois de estacionar o carro na garagem e parar na frente da porta de entrada principal, Peter enfiou a mão no bolso do casaco e tirou as chaves para destracar a porta.
Mas as chaves se tornaram obsoletas naquele momento, pois já estava destrancada. Quando girou a maçaneta e empurrou a porta, uma chuva de papel colorido caiu sobre ele. Seus ouvidos foram invadidos por um som estridente que saia de um tipo muito estranho de buzina colorida.
E seus olhos focalizaram sua sala completamente enfeitada com mais papéis coloridos, e quatro figuras masculinas fazendo mais bagunça ainda.
Mick e Arthur seguravam um cartaz feito á mão, escrito “Parabéns, Peter!”.
Will era o responsável pelo barulho irritante da buzina colorida, e Luigi segurava um pacote de papel picado e jogava para o alto.
Teve que rir. A cena era ridícula demais. E sem falar que não havia motivos para comemorar.
Quando Luigi correu em sua direção e lhe deu um abraço, Peter ouviu as palavras saírem da boca de Luigi “Parabéns, meu amor”
Aquilo já tinha ido um pouco longe demais.
--- Gente, gente, chega --- disse Peter, com Luigi ao seu lado, segurando sua mão --- Eu não sou o presidente da ArtDeco.
Os meninos olharam para ele, pedindo explicações.
Mick foi o primeiro a falar.
--- Como não? Não vamos ficar ricos?
Arthur deu um tapa na cabeça de Mick, com força.
Will franzia as sobrancelhas. Luigi foi o único a falar algo que valesse a pena escutar.
--- Oque? Harry não escolheu você?
--- Exatamente --- Peter estava super de boa.
--- Não me diga que ele escolheu aquele tal de Charles?
--- Okay, não irei dizer. Ele não escolheu nenhum funcionário.
Agora sim os outros garotos estavam de queixo-caido.
--- Ele colocou o filho dele para dirigir a ArtDeco --- explicou Peter.
--- Mas por quê? Aonde ele estudou? Ele trabalhava lá? --- Disse Will, falando pela primeira vez.
Peter pediu que os meninos se sentassem no sofá para explicar a historia. Luigi ficou de pé, ao seu lado, apoiado nos seus ombros.
Resumidamente, Peter contou o ocorrido. Só pulou a parte dos estranhos olhares de Christopher Mackenzie.
Quando terminou o relato, Mick encostou as costas no sofá e cruzou os braços. Só faltou fazer biquinho.
--- E eu achando que íamos ficar ricos --- disse.
--- Acorda, cara. Nem da família você é --- disse Will.
Mick atacou uma almofada feita de tecido australiano em Will.
--- Hei, essa almofada é caríssima, tome cuidado --- Alertou Peter.
Depois de alguns minutos de silencio, Luigi finalmente falou.
--- Espere. Você disse algo sobre o Cameron Plaza?
Os outros garotos olharam para Peter, esperando a resposta. Também tinham ouvido falar daquele lugar.
--- Sim, uma festa lá, amanhã à noite.
Mick estampou um sorriso gigante no rosto.
--- Ual, nós somos o que podemos chamar de bichinhas finas! Vamos á uma festa no Cameron Plaza!
Peter riu quando foi cortar as asas de Mick, novamente.
--- Apenas para funcionários --- disse.
Mick suspirou fundo, impaciente.
--- Vai tomar no...
--- Não ouse terminar essa frase --- disse Luigi, que depois se virou para Peter --- Eu já tirei fotos nesse lugar. É enorme e lindo.
--- E cheio de processos --- falou Will --- Vira e meche eu escuto boatos que tem alguém querendo comprar o Cameron. Dizem que está atolado em dividas.
--- Não importa --- disse Mick --- O status é o que importa. Se um dia eu me casar, vai ser nesse lugar.
--- Até imagino a cena --- Brincou Arthur --- Você toda de branco.
--- Branco é só para as virgens --- disse Will --- E sabemos que Mick já deu até as orelhas.
Uma guerra de almofadas australianas começara na casa de Peter.


Quando Mick, Will e Arthur foram embora, Peter estava na cozinha com o telefone no ouvido, ligando para um restaurante chinês. Não estava com paciência para cozinhar.
Quando terminou de fazer o pedido e desligou o telefone, sentiu Luigi atrás dele, com os braços envolvendo sua cintura.
--- Oi --- disse Luigi, apenas.
Peter sorriu e apertou Luigi contra ele próprio.
--- Está chateado por não conseguir o cargo? --- Perguntou Luigi.
--- Você sabe que não. Estou mais é preocupado.
--- Com o que?
Peter se virou para ficar de frente para Luigi. Quando o fez, sem o menos aviso, Luigi segurou a cintura de Peter e o ergueu, colocando-o sentado na bancada perto da pia.
Peter sorriu com o susto e deu um beijo em Luigi.
--- Sei lá. Um advogado na presidência da ArtDeco? Quais as qualificações dele? Quero dizer, ele só vai elaborar e transcrever os contratos? Ajudar quando alguma decoradora quando ela ficar grávida e pedir licença-maternidade?
--- Ele pode apenas ler os contratos --- brincou Luigi.
Peter continuava sério.
Luigi sabia que Peter estava preocupado era com o futuro da empresa. Peter não tinha medo de perder o emprego, nem nada parecido. Mas a ArtDeco levou anos para conseguir a confiança de várias empresas de arquitetura e engenharia, e até algumas emissoras de televisão. Peter odiaria ver tudo desmoronar por causa de alguém incapaz.
--- Não que eu queira o cargo de presidente e diretor, mas aquele garoto não sabe aonde ele está se metendo.
--- Garoto? --- Perguntou Luigi.
--- Se tiver mais de vinte e cinco anos é muito.
--- Amor, não se preocupe. Ele deve ser inteligente, pois se não fosse, não aceitaria o cargo.
Peter teve que concordar. Suspirou fundo e sorriu.
--- Vamos amanhã na festa, comigo? --- Peter perguntou.
--- Pensei que fosse só para funcionários.
--- E é --- explicou --- Mas poderíamos dar um jeito de fazer você entrar.
Luigi balançou a cabeça.
--- Entrar de penetra no Cameron? No Cameron? Qualquer estranho que chegasse perto daquelas portas seria atacado pelos seguranças do lugar. Já viu aqueles caras? Dois negões musculosos, até parecem dragões.
--- Bonitos?
--- Até que são. Quer saber, acho que eu vou sim.
Peter começou a beliscar a barriga de Luigi por causa do comentário. Quando deram por si, Luigi estava deitado no chão da cozinha, com Peter fazendo cócegas nele.
Quando finalmente Luigi conseguiu segurar os pulsos de Peter, ainda se encontrada deitado no chão, com Peter sentado na sua barriga. Não conseguia respirar direito.
A campainha da porta tocou, era o entregador de comida chinesa que Peter havia chamado minutos atrás.
Arrumando o cabelo, Peter pegou uma nota de cinqüenta e foi até a porta. Entregou para o entregador e disse que ele podia ficar com o troco.
Luigi havia arrastado a mesa de centro da sala e acendido a lareira. Quando Peter apareceu com a comida, ajudou-o a sentar no chão, sob o tapete azul-marinho, sem estampas.
Comeram ali mesmo. Depois ajeitaram as almofadas no chão e se deitaram.
Dormiram ali mesmo.
Dormiram tranqüilos, juntos.
Nem imaginavam a tempestade que estava á caminho.