sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Capitulo 11.

Cameron Plaza.


O Cameron Plaza constituía de um enorme prédio de estilo gótico francês, com um enorme homem forte e musculoso nas suas bases, dando a impressão que era o tal homem que sustentava a construção.
Logo de inicio, a escadaria que dava acesso ao salão já era impressionante. Continha 17 degraus revestidos de carpete italiano na cor azul-turquesa. No inicio e no final das escadas, dois anjos, um de cada lado, segurava uma lamparina que continha uma lâmpada dentro.
Quando se entrava no hall, a visão de um domo colossal fazia qualquer um dar um passo para trás. Michelangelo, o mestre renascentista, não ficaria com inveja, pois o criador do Cameron Plaza não chegava nem perto da genialidade do mestre. Mas mesmo assim, era uma visão impressionante.
Peter estava adorando tudo aquilo.
Chegara ás nove e quinze no Cameron, e perdeu uns dez minutos apenas admirando o a fachada e o saguão do Cameron.
Não tinha chegado ainda no salão de festas.
Quando dois seguranças abriram as portas do salão para dar passagem á Peter, este se sentiu transportado para um lugar que nunca estivera. Pelo menos, não nesta vida.
O salão era em formato circular, com quatro pilares em cada lado. As paredes eram pintadas de amarelo-escuro, com alguns detalhes em branco.
O salão também era ladeado por uma varanda com grades de ferro, feita para os convidados que quisessem fumar.
Apesar do lugar ser lindo, e Peter ter adorado desde o primeiro momento, ele já estava de saco cheio.
O salão estava com todos os 124 decoradores contratados, todos os 16 estagiários, vários sócios e mais alguns paisagistas que de vez em quando fazem alguns trabalhos para a ArtDeco.
Alguns riam, outros bebiam sem parar.
Umas duas vezes, Peter se esquivou de alguns grupos que estavam conversando. Não estava com muita pasciencia para conversas.
Enquanto se servia de uma taça de ponche, Peter viu alguém indo a sua direção. Era Chistopher.
Ele vestia um terno em corte italiano, com riscas de giz na cor preta com gravata azul-marinho.
Um advogado bonito. Não um decorador, pensou Peter.
Olhando novamente para o rosto de Christopher, refez o pensamento.
Um não-decorador simpático. Bonitinho, talvez.
Quando chegou perto da mesa que Peter estava se servindo, Christopher abriu um sorriso simpático para ele.
--- Oi --- disse ele --- Não pude me apresentar naquele dia, Sou Christopher Mackenzie.
Estendeu a mão para Peter, gentilmente.
--- Olá, Christopher ---- respondeu, apertando sua mão.
--- Você é o Calledon, né?
--- Isso, Peter Calledon. Mas me chame de Peter, é como todos me chamam.
--- Como quiser. É um prazer conhece-lo, Peter.
--- O prazer é todo meu. Gostando da sua festa?
Ele olhou em volta do salão, que estava cheio de pessoas vestindo trajes sociais.
--- Sinceramente, nem tanto. Eu preferiria uma bagunça com alguns amigos, em um lugar menos...
--- Elegante? --- arriscou Peter.
--- Prefiro a palavra opressivo. Mas elegante também serve.
Peter sorriu, mas sem concordar com o argumento. Gostava de estar ali, mesmo querendo estar em casa com Luigi.
Christopher bebeu um gole do ponche e continuou a conversa.
--- Meu pai disse que é um dos melhores decoradores que ele tem.
--- Ele deve ser um grande contador de historias, suponho.
--- Não não. Ele falava sério. Acho que se eu não tivesse assumido a liderança da ArtDeco, você assumiria.
Conversa estranha, pensou Peter.
--- Na verdade, se isso acontecesse, não sei se eu aceitaria o cargo. Gosto do que faço. Não sei se serviria para dirigir pessoas.
--- Eu estava vendo seu portfólio. Você tem talento. Talento e futuro.
--- Obrigado, Christopher. Se precisar de alguma ajuda, é só me chamar.
--- Bom... --- ele passou as mãos pelos cabelos descaradamente --- Por isso estou puxando conversa com você. Queria, sei lá, conseguir sua confiança para você me ajudar na empresa.
--- Ual --- disse Peter, brincando --- Estou me sentindo usado.
Christopher riu alto.
--- Não, por favor, não se sinta assim. Não que você não seja interessante, mas é que eu não sabia como vir falar com você.
Peter processou as palavras, uma a uma.
Não, não é isso que você está pensando, Peter. Seja razoável! Pensou.
--- Bom --- disse ele, corando --- Estou aqui para o que precisar.
--- Obrigado --- agradeceu ele, passando novamente a mão pelo cabelo.
Um grupo de homens bem vestidos chamou Christopher para um canto, talvez para parabeniza-lo pelo cargo. Antes de se afastar, sorriu para Peter e levantou as sobrancelhas.
Peter resolveu aproveitar que estava só para ligar para Luigi. Ainda queria que ele estivesse ali, para fazer companhia.
Olhou em volta, á procura de um lugar vazio. Longe, ah uns nove metros mais ou menos, achou uma das portas que davam para a varanda do salão. Dirigiu-se até elas.
Quando chegou a varanda, viu que estava completamente só.
Procurou o numero de casa na lista de contatos e apertou o botão verde.
Três toques depois, Luigi atendeu.
--- Oi querido, sou eu.
--- Oi amor. E aí, como está a festa?
--- Bem... Um saco pra falar a verdade. Pessoas bebendo, falando mal umas das outras... Sabe como é.
--- Claro que sei, eu trabalho em uma revista de moda, lembra-se? Falar mal é quase tão comum quanto respirar.
--- Eu sei. Falando em trabalhar, que tal amanhã fazermos alguma coisa? Só nós.
--- Estou deixando você sozinho em casa tempo demais, não é?
--- Não é nem o tempo, mas é que jantar quase todas as noites olhando para a parede é meio chato.
Luigi sorriu, meio constrangido. Tinha prometido a si mesmo que faria de tudo para passar mais tempo com o Peter.
--- Humm... Como posso recompensá-lo? Diga, farei qualquer coisa.
Peter riu um pouco alto, e depois verificou que não havia ninguém por perto.
--- Bom, poderíamos ficar uma noite inteira acordados. Sinto falta de quando fazíamos isso.
--- Amanhã, vamos ficar como dois morcegos, grudados no teto do quarto.
Peter e Luigi riram juntos, provavelmente imaginando a cena.
--- Tudo bem, então. Amanhã eu e você acordados a noite inteira. Tenho que desligar agora. Tenho que parar de ser um cara de poucas palavras e me enturmar um pouco.
--- Vai demorar pra voltar para casa?
--- Acho que não. Harry só tem que fazer o discurso de despedida e depois apresentar o novo presidente da empresa.
--- Que teria que ser você. O que ele estava pensando quando resolveu colocar o filho fracassado na presidência de uma empresa que ele levou anos para construir?
--- Sinceramente, não sei. Mas quem somos nós para dizer o que se passa na mente de um decorador de 57 anos?
--- Vamos esperar alguns anos e eu respondo a pergunta. Amor, vou desligar.
--- Ta certo, mas não demore okay? Eu te amo.
--- Também te amo.
Luigi desligou o telefone, e Peter fez o mesmo.
Quando ia se virando para voltar para o salão, percebeu uma figura parada na porta.
Perguntou-se se ele havia escutado a conversa. Poderia até escutar, menos a parte dele ser um advogado fracassado.
--- Fugindo da festa, senhor Peter?
Tinha um sorriso enigmático no rosto. Seus olhos o analisavam com encanto.
Peter sorriu, meio corado por ser pego escondido.
--- Pois é. Precisava ligar pra casa.
Christopher seu alguns passos para frente e fechou a porta atrás de si, tampando a passagem de Peter.
Peter se sentiu, de alguma forma bem estranha, encurralado.
--- E está tudo bem em casa?
--- Sim, tudo bem. Era só vontade de dar um tempo da festa.
--- Sei como é. Toda essa gente falando sobre tecidos e dinheiro. Bem que meu pai poderia ter contratado um striper.
Ele sorriu, com medo de que tivesse falado demais.
--- Mas Peter, hã... Posso fazer uma pergunta?
--- Claro, fique á vontade.
Christopher colocou as mãos nos bolsos e encostou na grade da varanda.
--- É verdade que você está junto com um cara faz uns cinco anos?
Peter se perguntou de que tipo de pergunta era aquela.
Sorriu ao falar.
--- Sim, é verdade. Mas como sabe disso?
--- Tive que conhecer o prédio hoje de manhã, inclusive todas as salas. Quando passei na sua sala, vi uma foto com um cara de cabelos pretos. E você sabe, as pessoas falam um pouco...
Peter cruzou os braços na frente do peito.
--- Todos falam, eu sei disso. Já ouvi cada absurdo naqueles corredores da ArtDeco.
--- Pois é. E como fazem para ficar tanto tempo juntos? Digo isso porque meus relacionamentos nunca duram mais de seis meses.
A pergunta meio obvia que devia ter aparecido antes, passou pela mente de Peter. Christopher era gay? Por isso Harry o colocou como presidente da ArtDeco? Um advogado gay dirigindo uma empresa de decoração. Seria essa a saída que Harry encontrou para continuar a empresa?
--- Bom... Quer dizer, não sei como se faz para dar certo. Apenas... Apenas dá certo, entende? Digo, quando é com a pessoa certa, o trem permanece no trilho. Se não for a pessoa certa...
--- Aí é queda livre.
--- Por aí.
Christopher sorriu meio tímido.
--- Ele é tão legal assim como você?
--- Ele tenta. Quando está meio de mau humor, você sabe, é meio chato. E para falar a verdade, fico meio insuportável quando não bebo café.
Peter estava se sentindo mais á vontade com Christopher. Não que Christopher fosse uma pessoa realmente super-legal, mas era agradável. Como diria Mick, era “conversável”
--- Quantos anos ele tem?
--- Vinte e cinco. E você quantos anos tem?
--- Vinte e três. Vocês tem planos para o futuro? Digo, casamento, adotar uma criança, coisas do tipo?
Porque tanta curiosidade na minha vida? Refletiu Peter.
--- Você é rápido, heim. E curioso.
--- A curiosidade matou o gato, eu sei. Mas eu não acredito nisso.
--- Que a curiosidade mata? Por quê?
--- Porque a curiosidade ajuda a descobrir coisas sobre as pessoas. E se estou curioso sobre você, então posso descobrir muitas coisas a seu respeito.
Peter resolveu escolher as palavras. Não era hora de falar o que vinha na cabeça.
--- É mais fácil me perguntar, não acha?
Parecia que essa era a pergunta que Christopher queria ouvir. Olhando para os lados, verificando se estava apenas ele e Peter naquela parte do Cameron.
Caminhou alguns passos, e ficou a centímetros de tocar o corpo de Peter.
--- E você seria sincero? Sem ter vergonha, ou peso na consciência?
Peter não disse nada, apenas olhava de forma estranha para o rapaz que estava na sua frente. Bem na sua frente.
Christopher percebeu que Peter estava se sentindo desconfortável, e afastou o corpo.
Peter relaxou na hora.
--- Quero dizer --- continuou ele, passando as mãos nos cabelos. Aquilo era tão coisa de adolescente de seriados dos anos 80! Será que ele não sabia disso? --- Se estamos interessado em uma pessoa, porque não ir coletar informações sobre a mesma? Quando sabemos dos seus gostos, inclinações, hobby´s e motivações pessoais, tais informações ajudam a conseguir aquilo que queremos. E agora, por enquanto, eu sei o que eu quero. E já estou fazendo minha parte, que é coletar informações. Se um dia terei meu objeto de desejo, isso eu não sei. Mas pelo menos sei que estou fazendo minha parte. E geralmente, eu consigo as coisas que eu quero. De um jeito ou de outro.
Peter escutava, mas não queria pensar. Não queria pensar que aquele estranho que conhecera na tarde anterior estava com idéias para cima dele. Enquanto Christopher fazia aquele discurso ridículo, Peter perdeu o fio da conversa.
--- Mas e você, Peter? Sabe o que quer? Já tem informações suficientes?
Peter não sabia responder. E nem pode, pois quando ia colocar o cérebro para funcionar e formar uma frase lógica e inteligente, Harry o interrompeu.
--- Filho venha cá, Vou fazer o discurso de despedida.
--- Estou atrás de você.
Antes de se dirigir até a porta, se virou para Peter e sorriu.
--- Até segunda, Peter Calledon. Eu não vejo a hora. E você?
Saiu da varanda, deixando Peter a sós com os pontos de interrogação que flutuavam acima da sua cabeça.
Quando Peter chegou em casa, encontrou Luigi deitado no sofá, ferrado no sono. Pegou um cobertor que estava próximo e o cobriu. Olhou para as escadas do segundo andar e decidiu tomar um banho.
Quando a água caia em sua cabeça, Peter sentiu um par de mãos em sua barriga, e depois sentiu a barriga de Luigi em suas costas.
Fizeram amor ali mesmo.
Quando ainda estavam no chuveiro, ouviram o telefone tocar. Deu seis toques e caiu na caixa postal.
A pessoa do outro lado da linha resolveu deixar uma mensagem.
--- Oi Peter, sou eu, Chris. Só queria avisar que andei conversando com meu pai, e decidimos que eu devia ir também para o Queen Mary. Não é legal? Vamos para o maior navio do mundo, juntos. Te vejo na segunda, Peter Calledon.

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