quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Capitulo 06.

Sentindo-se Pequeno.


Em uma rua bem simpática, com casas de tijolos vermelhos e tetos de madeira, Arthur acordava e sentia o corpo do rapaz que tinha dormindo na noite anterior.
Lentamente, começou a se lembrar.
Havia saído mais cedo do Archier e seguia em direção á casa de revelação de fotos digitais que ficava á poucos quarteirões dali.
Levava seu pendrive que tinha sessenta e nove fotos diversas, entre elas, dos seus amigos e de alguns familiares.
Não se lembrava muito da conversa, mas recordava muito bem do cara de cabelos pretos que havia o atendido.
Pelo pouco que se lembrava, alguns comentários sobre o numero sessenta e nove ser um excelente numero e uma ótima posição sexual.
Muito menos de sessenta e nove minutos depois, Arthur estava na cama, com esse cara, fazendo muitas posições, não apenas o famoso “meia-nove”. Outros números e nomes de animais haviam feito parte da noite.
Aquele não era um comportamento freqüente de Arthur, mas de algumas semanas para cá, havia se tornando quase um habito. Lembrava-se de quase todos os caras que conhecera de forma inusitada e acabou transando com todos eles.
Vestiu-se, lavou o rosto e saiu da casa de tijolos vermelhos.
Mas se lembrara que seu pendrive ainda estava no bolso do casaco, e que teria que levar na casa de revelação outra vez.
Tal idéia o animou.
No dia seguinte, aconteceu o mesmo. Foi até a local de revelação, ficou com o cara e transou com ele.
O que aconteceu que Arthur não percebeu foi a câmera digital perto da cama, escondida por uma pilhas de livros.
O pior era que a câmera estava no modo gravar.
E a câmera fez seu trabalho. Algumas semanas mais adiante, Arthur seria famoso na internet.


Naquela mesma hora, a muitos quilômetros dali, Peter segurava as pernas de Luigi, enquanto o outro passava a mão em seu peito perfeito.
Ia enfiando com força e com ritmo. Sabia como deixar Luigi louco quando era o ativo da transa.
Quando finalmente Luigi deu sinais que ia gozar, Peter foi enfiando cada vez mais rápido e com mais vontade.
Um minuto depois, gozaram juntos, e se abraçaram cansados, ofegantes.
O esperma que havia ficado na barriga de Luigi agora estava também na barriga de Peter.
--- Demais ... demais ...
Era sábado, e nenhum dos dois trabalhava nesse dia.
--- Mais uma? --- Perguntou Luigi.
--- Só cinco minutos.
Nesses cinco minutos, eles se entrelaçaram ainda mais e se beijavam perdidamente.
Os lábios de Peter foram até o pescoço de Luigi, alternando entre beijos e pequenas mordidas. Desceu até o peito firme e musculoso, e depois para a barriga.
Quando finalmente ia chegar ao ponto principal, a campainha tocou.
Peter e Luigi se olharam como se não acreditassem.
--- É sábado. Só podem estar de brincadeira.
Dimdon. Dimdon.
--- Vamos ficar quietos, e vão embora.
--- O porteiro não chamou pelo interfone, então deve ser alguém de livre acesso.
Só conseguiam pensar em duas pessoas.
Quando Peter desceu até a porta da frente, estava certo.
--- Papai? Que surpresa em vê-lo. Entre.



Mark Calledon DeWitt era um cirurgião que trabalha no hospital particular mais caro da cidade, ganhando um salário invejado por muitos outros médicos e enfermeiros. Conseguindo se formar bem cedo e um emprego fixo, não demorou muito pare ele se tornar diretor e chefe geral do hospital. Com esse emprego, construiu uma família linda e uma herança bem satisfatória para seus filhos.
Mark era casado com Anne DeWitt já fazia muitos anos, e possuía um casal de filhos gêmeos: Peter Calledon DeWitt e Kirsten Calledon DeWitt. Sua relação com a mulher e esposa era maravilhosa.
Era.
Até que, quando tinha acabado de entrar na faculdade, Peter revelou que era homossexual. Não tinha acabado de completar dezoito anos quando se assumiu para a família.
Mark não tinha problema algum com gay, lésbicas ou bissexuais. Tinha a mente aberta, e entendia a liberdade de escolha de cada um.
Mas se tratando de seu único filho homem, a coisa mudava um pouco.
Apesar de Peter nunca ter sido o atleta vitorioso que andava rodeado de garotas, Mick sempre esperava mais do filho.
Não exatamente um atleta, mas algo um pouco mais do que Peter. Sempre achou-o meio mole, pois preferia ler livros ou ficar dentro de casa.
Quando Peter se revelou gay, Mark achou que seria algo da idade. Acontece com muito garotos daquela idade.
Mas a certeza de que não era apenas uma fase foi quando Peter começou a faculdade de designer de interiores. Mark nunca havia conhecido um, nem mesmo unzinho, decorador que não fosse gay.
Mark tinha grandes planos para Peter, se este tivesse escolhido a carreira de medicina. Pretendia que Peter, depois de Mark, dirigisse o hospital em que trabalhava.
Três anos depois, viu Peter sair de casa para morar com um fotografo que havia conhecido em uma viajem á trabalho.
O rapaz era, aos olhos de Mark, um caipira que tirava fotos.
Desde então, fazia quase cinco anos que Peter se mudou com o fotografo para um condomínio fechado de pequenas mansões.
A relação entre eles havia estremecido muito. Fazia meses que não via ou apenas falava com seu filho.
Certo dia, Mark recebeu um telefonema de sua filha, Kirsten. Ela contava as novidade e aproveitou para informar ao pai a viajem á trabalho que Peter faria para decorar o maior navio do mundo.
Alguns dias depois, lá estava ele, Mark Calledon, querendo saber sobre a tal viajem.


--- Mas que milagre você por aqui, pai.
--- Resolvi aparecer --- Mark mediu Peter, que havia colocado um roupão azul antes de atender a porta --- Estou atrapalhando alguma coisa? --- E olhou sugestivamente para o segundo andar.
--- Não, acabei de acordar.
--- Onde está o fotografo?
--- Luigi. O Luigi está tomando banho.
Mark, enquanto Peter falava, avaliava a casa enorme que se encontrava agora. Era uma casa realmente bonita.
--- Vem até a cozinha, eu devo ter algo pra te oferecer.
Os dois homens seguiram para a cozinha que ficava no cômodo próximo á sala.
Peter ofereceu água, uísque, limonada e suco de soja, que foram todos negados com a cabeça.
--- Mas o que te traz até aqui, pai?
--- Por que diz como se eu nunca viesse aqui?
--- É porque nunca vem. Nem mesmo quando convidamos.
--- Sou um homem ocupado. Tenho um hospital para dirigir.
--- Eu sei. Aliás, parabéns pelo cargo. Não deu para ir na festa que você esqueceu de me convidar.
--- Você não ia ir de qualquer jeito.
--- Mas obrigado pelo convite. Como está mamãe?
--- Com saudades.
Poderia vir aqui de vez em quando ...
Luigi entrou na cozinha com os cabelos molhados. Havia colocado uma roupa limpa, também.
--- Bom dia, senhor Calledon.
Acenou com a cabeça e abriu a porta da geladeira.
--- Bom dia, Luigi.
Virando-se para Peter, Mark continuou a falar, ignorando a presença de Luigi.
--- Sua irmã me contou sobre o navio que você e sua equipe vão redecorar.
--- Kirsten ligou? Como ela está? Aonde ela está?
Kirsten, depois de terminar a faculdade de historia, estava mochilando pela Europa. Na época que a viagem começou, Kirsten insistiu para que Peter fosse com ela, mas ele decidiu ficar.
--- Em um vilarejo ao norte da Polônia. Não me pergunte o nome do lugar, a ligação estava péssima. Mas me conte sobre o navio.
Mark puxou uma cadeira e s sentou diante de Peter.
--- Bom, não há muito para contar. Havia mais três outras empresas na lista para fazer o trabalho, mas demos uns telefonemas e conseguimos.
--- Quanto tempo vai ficar?
--- No mínimo três semanas.
--- Três semanas? Três semanas só colando papeis de parede e escolhendo almofadas?
Luigi olhou para Peter, esperando sua ira.
Mas isso não aconteceu.
Muito pior. Aconteceu o sarcasmo.
--- Pois é, três semanas. Pelo menos ninguém vai morrer esperando um coração.
--- Claro, porque salvar vidas não é nada importante.
A voz de Peter começou a subir.
--- Pode ser importante, mas fazer uma cirurgia de maneira incorreta e deixar uma menina de nove anos sem controle de suas necessidades fisiológicas é algo sem importância alguma.
O caso havia corrido os jornais á uns dois meses atrás. Um dos médicos da equipe de Mark não fez uma operação cerebral em uma menina da forma correta. A garota que tinha tudo para ter um futuro brilhante, estava agora num leito de hospital, urinando nas próprias calças.
--- Diz como se fosse culpa minha. Eu tentei, juro que tentei, salvar a garota de um destino lamentável. Mas quem é você para me julgar?
--- O que quer dizer com isso? Eu não destruí o cérebro de ninguém.
--- Não ouse falar comigo neste tom! Não aceitarei críticas de um garoto mimado, que sempre tudo que teve, e que agora mora com outro homem e fica escolhendo tecidos e cores o dia inteiro Luigi já estava vendo a hora em que teria que segurar Peter para que ele não batesse no próprio pai.
--- Sempre tive tudo que eu quis? Você deixou de olhar na minha cara quando eu fiz dezoito anos! E parou de falar comigo quando eu conheci a pessoa mais importante da minha vida! Agora, se você não conseguiu que eu e Kirsten fossemos os filhos perfeitos, a culpa não é nossa!
--- Filhos perfeitos? Vocês eram perfeitos até a adolescência! Depois disso, você começou a transar com homens e Kirsten começou a fumar maconha! Agora você está aí, tendo que agüentar um pau de um fotógrafo de quinta categoria entrando em você e Kirsten está dormindo em albergues e fazendo sexo para pagas as viagens!
--- Se todos fogem de você, a culpa é sua! Por que acha que Kirsten saiu de casa? Pór que acha que minha mãe está sempre sob efeitos de tranqüilizantes? Se a família é um fracasso, o culpado de tudo isso é você!
Peter sentia as lágrimas inundando seus olhos, mas sabia que tinha que permanecer firme. Aquelas palavras já haviam ficado muito tempo entaladas em sua garganta.
Luigi apenas observava a cena, sem nada dizer.
--- Você fala tanto em família --- Mark dizia, enquanto se virava em direção á Luigi --- Que família você tem? Esse daí é toda a sua grande família? Se você fosse um homem de verdade, estaria casado com qualquer vagabunda e teria sido pai, igual a eu quando tinha sua idade.
Peter se encaminhou até Mark, ficando a aproximadamente um metro de distancia.
--- Se for para ser um homem igual a você, eu escolho não ser. E quer saber? Posso ter apenas o Luigi, mas não vou morrer sozinho!
Quando Mark ia respondeu, pensou melhor. Já estava velho, e Peter estava no auge de sua força. A raiva pode ser um estímulo muito poderoso.
--- Esqueça. Só vim aqui para lhe entregar isso.
Colocou a mão dentro do bolso do casaco e tirou um envelope tipo oficio, que estava dobrado em duas partes.
--- É um folheto de universidade. Escolha qualquer curso na área de biológicas, que eu pago.
Jogou o papel em cima da mesa e foi em direção á porta da frente. Quando passou pela estante e viu uma foto de Peter e Luigi abraçados, se enojou.

Os olhos de Peter estavam pregados no chão. A cena ainda estava sendo exibida em sua mente.
Luigi ia em direção á sala, mas quando ouviu o barulho da porta bater, voltou em direção á cozinha.
Peter estava sem reação. Apenas olhava para o chão.
--- Amor? Peter, fala comigo.
Ele estava se aproximando aos poucos, pois não sabia exatamente qual seria a reação de Peter.
Quando ele levantou a cabeça, seus olhos estavam completamente molhados, e as lagrimas desciam em direção ao queixo.
--- Eu pareço menor? Eu me sinto tão menor! --- disse, tentando enxugar as lagrimas.
Luigi enterrou o rosto de Peter em seu peito, e ficaram um tempo sem dizer nada.

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