quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Capitulo 13.

Corações Partidos.


O som que acordou Will vinha da janela que alguém esqueceu aberta. A cidade já estava a todo vapor lá embaixo.
Abriu os olhos. Desconheceu o teto que estava acima dele. Desconheceu também os quatro rapazes que tentavam dividir um espaço na mesma cama que ele.
Como uma visão vinda dos céus, a noite anterior rapidamente foi reprisada em sua mente.
Sexo oral. Anal. Frango-assado. Primeiro o rapaz de cabelos pretos. Depois o de barba tipo cavanhaque. Os dois últimos foram ao mesmo tempo. Passivo. Ativo. Passivo de novo. Lábios massageando seu pescoço, seguido por braços que seguravam sua cintura.
E os nomes? Não se lembrava. Nem se lembrava se tinha perguntado.
Olhou no relógio de cabeceira da cama, e percebeu que era para estar indo para o trabalho, naquela hora.
Não moveu um músculo.
O cara de cavanhaque se espreguiçou ao seu lado e abriu os olhos. Olhou para Will.
--- Quem é você?
Olhou ao redor da cama e passou a mão na cabeça.
--- Não responde, já sei quem é. Foi bom pra você?
Will tentava lembrar o nome dele. Era o mais bonito dos quatro, então deveria se lembrar.
--- Foi legal.
--- Legal. Quer tomar banho?
Will levantou da cama, nu, e segurou o homem de cavanhaque pelos pulsos, levando-o para o banheiro.
Nem chegaram a tomar banho. Muito pelo contrário, se sujaram ainda mais.



Luigi analisava a caixa de cereal, dando atenção ás informações nutricionais. Não estava entendendo nada.
Esperava Peter sair do banho para poder conversar com ele. Queria explicar o porque de ter feito esperar a noite anterior.
Mas Luigi não sabia se contaria a verdade. Como dizer á pessoa mais importante da sua vida, que tinha passado parte da noite com um jovem de 17 anos que estava louco para fazer sexo? Não tinha maneira de dizer isso sem levantar qualquer duvida.
Luigi sabia que tinha que mostrar á Peter que o desejo sexual não era recíproco. Sabia que tinha que fazer Peter acreditar na verdade, que era a única coisa que Luigi poderia contar.
Luigi não sabia como fazer isso. Esperava que as palavras saíssem na hora.
Tinha organizado uma linha de raciocínio. Primeiro, pedir desculpas. Segundo, explicar a situação. Terceiro, fazer Peter enxergar que um garoto de 17 não significava nada para Luigi.
Ouviu Peter descer as escadas. Quando apareceu na cozinha, tinha o cabelo molhado, que ainda pingava no chão. Usava uma camisa pólo vermelha, bermuda jeans cinza e tênis do tipo MadBull na cor branco.
Fez um sinal com as sobrancelhas quando entrou na cozinha e se aproximou da geladeira.
--- Bom dia, amor --- disse Luigi.
--- Bom dia.
Luigi não era muito ligado á historias em quadrinhos, mas a imagem de um dos inimigos do Batman veio á sua cabeça. O Homem de Gelo.
--- Vai sair? --- perguntou Luigi.
Luigi segurava um bloco de papel e uma caneta nas mãos.
--- Vou ao mercado. Tenho que comprar algumas coisas.
--- Comprar o que?
--- Gilete de barbear, sabonetes, lâmpadas. E pilhas para o controle da tevê e do home-teather.
Luigi estava esperando o momento certo para abordar o assunto, mas achou que essa conversa de dona-de-casa não iria ajudar muito.
--- Hum, sei. Peter, sobre ontem á noite, eu sinto muito. Mesmo.
Peter parou de escrever e encarou Luigi.
--- Ta --- disse apenas.
Por essa Luigi não esperava.
--- Ta? O que quer dizer?
--- Nada, ué. Só que tudo bem.
--- Quer dizer que não sentiu minha falta? Então para você, não faz diferença?
Peter suspirou e voltou a escrever.
--- Apenas estou acostumando com a situação. Parece que sua vida agora é baseada numa revista de moda.
Luigi tentou pensar na linha de raciocínio que havia criado. Estava difícil.
--- Eu tive contratempos ontem, Peter! E da maneira que você fala, parece que eu vivo trabalhando!
Peter terminou a lista e guardou no bolso da bermuda.
--- Contratempos? O que? Alguma modelo se atrasou na maquiadora e acabou ter que fazer as fotos depois das onze?
Luigi deu um passo em direção de Peter.
Pensou em dizer o lance de Eric, mas não teve coragem. Não agüentaria ver nos olhos azuis de Peter a desconfiança ou a duvida.
--- Eu te liguei ontem, e você não me respondeu. Quer dizer, alguém atendeu a ligação, então quer dizer que o celular se encontrava no mesmo ambiente onde você estava. Acha estranho? Você estava ocupado demais para atender o celular?
Luigi visualizou a cena: Ele arrancando a cabeça de Eric com as mãos.
Como um moleque idiota consegue fazer tanta bobagem? Pensou.
--- Não é nada disso que você está pensando.
--- Claro que não --- Peter sorria sarcástico --- Você estava tirando fotos, e um dos estagiários atendeu o seu celular. Normal.
--- Olha, tudo isso é totalmente errado, tá legal? Eu não estava com outra pessoa, se é o que você está imaginando.
Peter estava trabalhando com a margem de erro. Confiava em Luigi, mas aquela historia estava estranha demais.
Peter colocou as mãos no rosto de Luigi.
--- Então me diga o que é. Me diga o que aconteceu. Ou o que estava acontecendo.
O toque das mãos de Peter fez o coração se Luigi bater mais rápido. Estava odiando tudo aquilo. Odiava magoar Peter. Odiava ver seu relacionamento enfraquecendo. Apesar de fazer quase cinco anos que estava juntos, aquilo era inédito para os dois.
As mãos de Peter ainda estavam pousadas sobre os maxilares de Luigi.
--- Não está acontecendo nada. Por favor, acredite em mim.
Peter queria acreditar. Queria olhar nos olhos de Luigi e ter certeza de que não havia motivos para ficar preocupado.
Peter estava momentaneamente cego. Não podia ver nada. Parecia que estava dormindo.
O telefone tocou, na sala. Sobre os ombros de Luigi, Peter viu o numero que aparecia no identificador de chamadas.
Aquela era a pior hora para aquele numero ligar.
Luigi olhou para o identificador, e ficou confuso.
--- A ArtDeco ligando pra você? Hoje não é seu dia de folga?
Peter sabia que não era exatamente a ArtDeco ligando.
--- Vou ver o que é.
Quando ia em direção á sala, sentiu o mão de Luigi pegar no seu braço.
--- Eu te a...
Não deixou ele responder. Voou até a sala e atendeu o telefone.
A voz do outro lado já era bem conhecida. Parecia que desde que aquele cara entrara na sua vida, o trem havia saído dos trilhos.
--- Alô?
--- Peter? Oi. Sou eu, Christopher.
--- Oi, Christopher --- Peter se virou e encarou Luigi, que continuava na cozinha --- Está tudo bem?
--- É, sim, eu acho que sim. Eu só queria saber o que você vai fazer hoje.
--- Compras. Preciso reabastecer a casa.
--- Entendo. Quer companhia?
--- Não precisa, obrigado. E você tem que trabalhar.
--- Meu pai ainda está aqui. Vai sair oficialmente só amanhã.
--- Sim... Bom, obrigado, mas não precisa.
--- Ótimo, então depois das compras, poderíamos fazer alguma coisa juntos.
Peter queria saber quantas vezes Christopher havia usado a palavra “Juntos”
--- Não sei, eu preciso...
--- Ora Peter, vamos. Vai ficar em casa o dia inteiro? Vou fazer assim, mais tarde eu te ligo. Se você quiser fazer algo de interessante, você me diz. Okay?
Quais as alternativas tinha Peter? Se olhasse por certos ângulos, Christopher era o seu chefe.
--- Tudo bem, me ligue.
--- Ótimo Peter Calledon, ótimo. Te vejo á noite.
Desligou o telefone, vitorioso.
Peter colocou o telefone na base e voltou para a cozinha.
Luigi sabia muito bem de quem se tratava.
--- Christopher? --- Perguntou.
--- Sim, ainda está meio perdido na empresa.
Luigi balançou a cabeça, concordando. Não tinha ouvido a parte de Christopher chamando Peter para aproveitar o dia de folga.
Luigi olhou para o relógio. Viu que tinha que se arrumar para ir para a revista.
--- Vou ao mercado. Quer alguma coisa?
--- Está tudo bem, Peter? Por favor, eu não quero que as coisas fiquem estranhas.
Peter se surpreendeu com a pergunta. Não com o conteúdo, mas com a forma que a mesma foi formulada, assim do nada.
--- Tudo bem. Eu... Eu acredito em você.
Peter não tinha certeza quanto á isso.
--- Eu te amo, meu amor --- disse Luigi --- Eu... Eu... Desculpe-me se eu fiz...
--- Lui, está tudo bem. Mesmo.
Peter beijou-o no rosto, carinhosamente.
--- No rosto? --- Perguntou Luigi.
Peter deu um sorriso forçado, e beijou Luigi nos lábios.
--- À noite conversamos --- disse Peter --- Tenho que ir agora.
Pegou as chaves que estavam em cima do balcão da cozinha e saiu, em direção á garagem.
Luigi ficou ali, vendo a figura de Peter se afastar.
Sentiu algo que fazia anos que não sentia.
Medo.
Não posso perdê-lo, pensou ele.



Arthur estava preparando a maquina de fazer café quando o telefone do Archier tocou.
--- Archier Livraria-Café.
--- Oi amor, sou eu, Bob.
Bob era o novo namorado de Arthur fazia algumas semanas.
--- Oi querido, bom dia.
--- Bom dia! Senti sua falta ontem à noite.
--- Também senti a sua. Quer fazer algo hoje a noite?
O pequeno sino dourado acima da porta tocou, e Arthur viu um homem louro entrar e sorrir para ele.
Peter sentou num banco no balcão, e fez um “Oi” com as mãos.
Arthur sorriu e indicou que Peter o esperasse.
--- Cinema? Ou teatro? --- perguntou Bob, no telefone.
--- Cinema. Procure algo que você quer ver.
--- Não sei --- respondeu ele --- O que você quer ver?
--- Também não sei. Qualquer coisa.
--- Um romance? Um drama?!
--- Pode ser. Tenho que desligar agora.
--- Tudo bem, mais tarde eu te ligo. Beijo meu amor.
--- Beijo.
Arthur desligou o telefone antes que Bob pudesse responder.
Virou-se para Peter e o cumprimentou.
--- Oi Pet.
--- Oi, gato. Marcando encontros, é?
--- É, de vez em quando é bom. E você? Cadê o Luigi?
Peter não estranhou a pergunta, pois era sempre visto na companhia de Luigi.
--- Trabalhando.
--- Humm, legal. Vamos ao cinema hoje? Gostaria de te apresentar o Bob.
--- Bob?
--- É, o garoto que eu estou saindo há algumas semanas.
--- O do telefone?
Arthur fez que Sim com a cabeça.
--- Ah, talvez.
--- Chame o Luigi também.
Peter considerou a idéia.
--- Acho que não dá. Ele ultimamente está trabalhando até tarde, todos os dias.
Peter desviou o olhar, como se pensasse em outra coisa. Arthur percebeu isso.
--- Está tudo bem? Quer conversar, Peter?
Peter amava profundamente Arthur. Mas, para Peter, o dom de Arthur de ser perceptivo demais as vezes era um problema. Quando algo chateava Peter ou qualquer um dos outros garotos, Arthur era o primeiro á saber.
--- Eu não sei. Me serve um café, primeiro? Bem forte, com muita espuma.
Arthur fez o pedido, e em poucos segundos entregou uma xícara de café para Peter.
--- Eu e Luigi estamos nos estranhando um pouco.
--- Porque? O que aconteceu?
--- Ele se sente meio... Ameaçado por causa do novo chefe da empresa. E eu... Não sei, acho que ele tem outra pessoa.
Arthur parou, pasmo. Luigi com outra pessoa? Não dava para imaginar.
--- Mas vai ficar tudo bem, né? Quer dizer, vocês vão superar isso.
--- Eu não sei. Nunca passamos por algo parecido. Na verdade, não é bem uma briga. É apenas um pouco de desconfiança.
Arthur procurou pelas palavras.
--- Mas Peter, tipo, vocês tem que se entender!
--- Como é?
--- Vocês são Peter e Luigi. É como se fossem o Romeu e Julieta do mundo gay. Ou a Elizabeth e o senhor Darcy. A Pocahontas e o Smith.
--- A intenção é boa, mas são péssimos exemplos. Digo, eu ou o Luigi vamos morrer, Eu e Luigi nunca nos odiamos, e eu ou o Luigi não somos índios.
Arthur avaliou o que Peter tinha acabado de dizer, e constatou que eram péssimos exemplos.
--- Desculpe. É que o Bob ama Pocahontas e as adaptações dos livros da Jane Austen. Mas o que eu quero dizer é que vocês vão superar essa fase esquisita. Não dá pra imaginar vocês separados. Eu te conheço bem antes de você ficar com o Luigi, e sinceramente, não consigo imaginar você sem ele, agora.
--- Eu sei. Vou conversar com ele hoje. Mas me fale sobre esse tal de Bob. Quando vai levar ele lá em casa?
--- Assim que possível. Eu não quero apressar as coisas, sabe como é.
--- Mas você gosta dele?
--- É... Ele é legal.
As sobrancelhas de Peter se abaixaram, como se perguntassem algo.
--- É que o Bob é... Meio pegajoso --- disse Arthur, respondendo a pergunta não-formulada.
--- Deve ser o começo do relacionamento. Depois ele muda.
--- Espero que sim.
O telefone tocou, interrompendo a conversa. Arthur foi atender.
--- Archier Livraria-Café. Oi amor. Sim, pode ser. Angelina Jolie? Ta, tudo bem. Não, pode ser esse. Não, eu quero ver esse, tudo bem. Não precisa... Sim, okay. Beijo.
Desligou o telefone, e voltou-se para Peter.
--- Era o Bob.
--- Está tudo bem?
--- Ele achou um filme para nós vermos hoje.
--- Bom filme --- respondeu Peter, se servindo do ultimo gole do café.
O sino dourado da porta soou mais uma vez. Will entrava no café, com a roupa toda amassada.
--- Tem café? --- perguntou.
Olhou para Peter e deu-lhe um beijo no rosto. Fez o mesmo com Arthur.
--- Saindo mais café --- disse Arthur, se virando para a maquina.
--- Nossa Will, mas que roupa linda. Chanel?
--- Falta de sono, isso sim.
--- Não tem dormido direito?
--- Mais ou menos. Está tudo meio... Intenso, ultimamente.
--- Me deixa adivinhar --- disse Arthur, voltando com mais uma xícara de café --- Tem feito sexo a noite inteira.
--- Exatamente.
Will se sentou no banco e bebeu um gole do café. Os olhos de Peter e de Arthur pousaram sobre ele.
--- Que é?
--- Nada --- disse Peter --- Esperávamos que você contasse com quem você está saindo. Algum agente secreto?
--- Só alguns caras que eu conheço por aí.
--- Mick me disse que viu você fervendo mais do que uma chaleira lá na Times --- disse Arthur.
--- Apenas vivendo a vida. É bom de vez em quando.
--- Sim, é ótimo --- disse Peter --- Espero que você esteja se protegendo.
O mundo parou. A mente de Will congelou durante alguns instantes. Desde que havia começado a sair com um monte de caras diferentes, não se lembrava de nenhuma vez que tivesse visto alguma camisinha na transa.
--- Claro --- disse ele, editando a verdade --- Sempre.
--- Isso é bom. Meninos, estou indo, tenho que comprar algumas coisas --- Peter se levantou e tirou uma nota de cinco do bolso, entregando-a Arthur.
--- Não precisa querido. Por conta da casa.
--- Anjo --- respondeu Peter, beijando a testa de Arthur.
--- Bob faz a mesma coisa depois que transamos.
Peter olhou de maneira estranha para Arthur.
Arthur ficou vermelho, como se tivesse dito coisas demais.
--- Bob? Quem é Bob? --- perguntou Will.
--- O Arthur te conta. Beijo, querido --- se inclinou para Will e o beijou no rosto.
Peter saiu do Archier, com o sininho soando mais uma vez.
Quando entrou no carro, olhou para o seu relógio de pulso. Luigi estava na revista naquele exato momento.



As mãos de Mick alisavam um tecido leve, da cor bege, quando seu celular tocou.
Era seu pai.
--- Alo? Pai?
--- Eu mesmo, Mick.
--- Aconteceu alguma coisa?
Qual o motivo do meu pai me ligar, na hora do trabalho?
--- Não, não aconteceu nada. Quero apenas dizer para que você chegue cedo hoje.
--- Porque?
--- Alguns amigos meus vem aqui hoje, para o jantar. Gostaria que você estivesse aqui.
Nicollas nunca havia feito isso. Nessas reuniões, sempre preferiu não incluir a família. Que mudança estranha era essa?
--- Ta, tudo bem.
--- Você tinha algo marcado?
--- Não, estarei aí.
--- Perfeito. Sabe, um dos meus convidados vai trazer a filha com ele.
Mick já estava entendendo aonde seu pai queria chegar.
--- Hã... Tudo bem.
--- Eu já pesquisei sobre essa moça, e descobri coisas bem legais sobre ela. Eu pensei que...
--- Pensou que poderia conseguir uma garota para mim? Pai, não precisa. Gosto de ser solteiro lembra-se?
--- Sim, claro. Na sua idade eu também era assim. Mas quem sabe?
--- Tudo bem, pai. Agora tenho que...
A atenção de Mick foi desviada para o corpo de um dos modelos, que estava terminando de vestir uma camiseta regata branca, super apertada. Quando o modelo olhou para Mick, fez um sinal com a cabeça, para que ele fosse ao banheiro. Os olhos do modelo diziam muito bem quais eram as intenções.
--- Mick? Michelangelo?!
--- Sim pai, estarei aí. Tenho que desligar, tchau.
Desligou o telefone e correu para o banheiro. Quando chegou lá, o modelo já estava com o zíper aberto, um volume interessante seguia para a parte de cima da sua cueca branca.


Luigi encontrava-se na sua sala, ao lado do estúdio de fotografia. Olhava para a foto que estava na sua mesa; ele e Peter juntos.
Tinha que arrumar as coisas. Não queria ter que voltar para casa e enfrentar um clima estranho. Começou a pensar.
Poderia cozinhar, abrir espaço na sala de estar e ficar ali, com Peter. Colocaria a melhor roupa que tinha, acenderia velas e colocaria uma musica legal, para os dois.
Já tinha resolvido. Olhou para o seu relógio de pulso. Faltavam ainda quatro horas para acabar seu expediente.
Dane-se, pensou.
Pegou sua mochila e correu em direção ao estacionamento.
Enquanto dirigia para casa, já estava com quase todo o plano arquitetado em sua mente. Contaria tudo que NÂO aconteceu entre ele e Eric. Contaria tudo, sem medo de sua reação. Mas sabia que iria ser uma reação positiva. Tinha certeza disso.

Quando já estava em casa, acendeu o fogo e colocou os ingredientes sobre a mesa. A entrada do jantar seria siri com brie, seguida por uma macarronada leve.
Enquanto a água fervia, foi até o quarto e olhou para dentro do seu guarda roupa. Demorou uns minutos pensando, sem chegar a lugar algum. Pensou em até ligar para Mick, para ele poder ajudá-lo, mas desistiu da idéia. Aquela deveria ser uma noite de Peter e Luigi Calledon Cortez.
Estava animado. Sabia que não era um plano genial, mas sabia que daria certo. Era só dizer a verdade.
Quando estava quase decidindo que roupa usar, a campainha da porta da frente tocou.
Espero que não seja ninguém importante! Pensou Luigi. Não queria ninguém para interromper os planos.
Desceu as escadas pulando dois degraus. Quando abriu a porta, se arrependeu de ter atendido.
Eric estava ali, usando calça jeans preta e camiseta branca. Tinha o cabelo desarrumado, como se tivesse andado de motocicleta sem capacete.
Os olhos de Eric brilharam quando viram Luigi.
--- O que quer aqui? Como entrou aqui?
--- O porteiro me deixou entrar.
--- Ótimo. E o que quer?
Eric desviou dos olhos de Luigi, e olhou para o interior da sala.
Entrou sem ser convidado.
--- Então é aqui que você mora? Casa bonitinha. Quem é o seu decorador?
Ele girava a cabeça, para ter uma visão melhor.
Luigi estava incrédulo. Não acreditava que o garoto que mais odiava no mundo estava no meio da sua sala, mesmo não tendo sido convidado.
Foi até Eric, e o segurou pelo braço.
--- Garoto, cai fora. Antes que eu chame a policia.
--- Chama, e eu irei adorar dizer a eles como você seduziu um garoto de 17 anos e o obrigou a fazer sexo.
--- E você acha que eles iam acreditar em quem? --- Luigi estava ao ponto de gritar --- Essa sua cara de bichinha que dá para qualquer um não engana ninguém.
Eric chegou mais perto do rosto de Luigi, ficando a poucos centímetros de distancia.
--- Já sei, vamos lá para cima. Para o quarto onde você dorme com aquele decorador gordo.
--- Ele não é gordo, e você vai dar o fora daqui.
Luigi se virou e foi em direção á porta.
Eric aproveitou o momento de descuido de Luigi para tirar do bolso um quadrado cinza meio rasgado. Junto com o quadrado, jogou também a parte que faltava, a que estava rasgada. E como ultimo gesto, jogou uma camisinha usada, escorrendo esperma da sua ultima transa. Escondeu tudo isso debaixo da almofada.
--- Tudo bem --- disse ele, disfarçando --- Tenho mesmo que ir. Diga ao Peter que eu mandei um beijo.
Quando ia sair da casa, conseguiu roubar um beijo dos lábios de Luigi.
Luigi cuspiu no chão, limpando a boca com o braço.
Quando fechou a porta atrás de si, lembrou-se da água que tinha deixado no fogo.
Quando passou pela sala, não percebeu que o gozo da camisinha de Mick já tinha começado a manchar o sofá.


Peter estava no estacionamento da ArtDeco, segurando o celular nas mãos. As compras que tinha feito estavam no banco de trás.
Não queria estar ali. Era o seu dia de folga!
Mas para onde mais iria? Para casa? Iria para casa e enfrentar uma situação esquisita com Luigi?
Pensou em ir ao shopping, mas não teve vontade. Não tinha vontade nem de subir os andares da empresa, para ficar na sua sala.
Ouviu passos vindo da porta do estacionamento. Olhou para trás, e viu Christopher sorrir.
Estava a poucos passos do carro de Peter.
--- Vi quando você chegou. As câmeras estão filmando tudo --- disse ele, quando chegou á janela do carro.
Peter sorriu ao vê-lo. Uma sensação de calmaria e paz tomou seu coração.
--- Não vai subir? --- Perguntou Christopher.
Peter sorriu ao falar. Parecia que não sorria fazia um bom tempo.
--- Acho que não. Só queria ficar sozinho um pouco.
--- Eu aqui atrapalhando. Desculpe.
--- Não tem que se desculpar. Está tudo bem lá em cima?
--- Sim, está. A Aline Bertine me ajudou com uns papéis. Mas eu sinceramente pensei que você estaria lá, para me ajudar.
Peter fez uma careta, como se desculpasse.
--- Mas tudo bem. Eu consegui aprender as coisas.
--- Fico feliz. Espero realmente que você fique na empresa.
Christopher sorriu, e se aproximou mais da janela do carro.
A reação inicial de Peter seria se afastar da janela. Mas não fez isso. Ficou ali, olhando para Christopher.
Era estranho que como aquele homem lhe transmitia uma sensação de que “tudo vai ficar bem”. Nem mesmo com Arthur tinha sentido essa sensação, á algumas horas atrás.
--- Está com fome? Que tal ir comermos alguma coisa? Eu estou faminto --- disse Christopher.
Peter se deu conta que estava com fome também.
--- Sim, estou com fome. Entra, te dou carona.
Christopher sorriu, contornou o carro, entrou e sentou no banco ao lado de Peter.
--- Aonde vamos? --- Perguntou Christopher.
--- Hã... Que tal ao Charles? A comida de lá é deliciosa.
A expressão de Christopher dava a atender que a idéia não foi muito boa.
--- Não? Aonde então? No que está pensando? --- disse Peter, bem humorado.
--- Que tal fritura e cerveja?
--- Perfeito.
Peter girou as chaves na ignição e disparou com o carro para as ruas do centro.


Peter estava se divertindo. Estranhamente, começou a ver em Christopher um amigo. Quer dizer, não era como se fosse com Mick ou Arthur, mas era quase. Apesar de ser um tipo de amizade diferente, Peter gostava da sensação que isso lhe trazia.
Passou o resto da tarde enfiado em uma lanchonete que ficava dentro de um prédio comercial da cidade. O tal prédio era infestado de adolescentes vestidos com camisetas de bandas de rock e piercings no corpo.
Peter nunca havia feito parte de alguma sub-cultura urbana, mas gostava disso.
--- Gótico? Você? --- Perguntou Peter, entre uma cerveja e outra.
--- Sim senhor --- respondeu Christopher, mordiscando um bolinho de queijo --- Com as unhas pintadas de preto e tudo mais.
--- Ual. Não dá para imaginar.
--- Mas é verdade. Eu e sempre uma camiseta do Smiths.
--- Smiths é legal.
--- Demais. Sem falar que o vocalista é lindo.
--- Não lembro do rosto dele. É bonito?
--- Perfeito. Apesar de agora ele estar meio velho, com alguns cabelos brancos na cabeça.
Peter sorriu, meio tímido.
--- Eu acho super sexy --- admitiu.
Christopher formulou a resposta em sua mente.
--- Bom saber. Vou comprar tinta branca e jogar na minha cabeça, hoje á noite.
Apesar de não ser o comentário que Peter esperava ouvir, não achou tão ruim. Era melhor levar as coisas na brincadeira.
--- Mas apenas algumas mechas, okay? Não vai virar o Richard Gere.
--- Que? Não gosta do Gere?
--- Prefiro o Peter Facinelli. Conhece?
--- Sim, conheço. O Peter é lindo.
Peter ficou na duvida sobre qual Peter eles estavam falando. Decidiu pensar que era no ator.
Ficaram conversando mais alguns minutos, até que o celular de Christopher tocou.
Peter aproveitou para pedir mais uma rodada de cerveja e bolinhos de queijo. Estava gostando de relaxar um pouco. Peter era sempre elegante e fino, sempre bebendo ou vinho ou champanhe. Raramente, mesmo com Luigi, se dava ao prazer de beber ou comer coisas mais gordurosas e calóricas.
Quando Christopher desligou o celular, a nova rodada de bolinhos já estava em cima da mesa.
--- Desculpe. Era meu pai.
--- Algum problema?
--- Não, só queria saber aonde eu estava. A Anne ligou para ele e disse que eu tinha sumido sem avisar.
--- Você disse que estava comigo?
--- Sim, ele pareceu gostar de ouvir isso.
Peter não entendeu muito bem.
--- Como assim?
Christopher pareceu ficar um pouco vermelho.
Quase gaguejou ao falar.
--- É que... Meu pai acha você o tipo perfeito de...
--- De... ? --- Encorajou o Peter.
--- Genro.
Peter percebeu que tinha desperdiçado a oportunidade de ficar calado. Não precisava se colocar em uma situação estranha. Não ali, no único lugar e com a única pessoa que conseguira relaxar o dia inteiro.
--- É que... --- Christopher começou a explicar --- Meu pai nunca gostou muito dos meus namorados. Para ele, todos eram caras esquisitos e sem muita massa encefálica. E você, Peter, é totalmente o contrário disso.
--- Olha, Christopher... --- começou Peter --- Você é um cara muito legal...
--- Eu sei, eu sei Peter. Muito legal e tudo mais, mas você já tem alguém e blá blá blá --- Christopher o interrompeu.
--- Sabe, se fosse numa situação diferente...
--- Diferente você quer dizer tipo você não ter o Luigi?
Era a hora de ser sincero, pensou Peter.
--- Exato. Você é um cara ótimo, e bonito, mas...
--- Você me acha bonito? Sério?
Um sorriso torto e tímido passou na face de Christopher. De Peter também.
--- Claro.
--- Obrigado. Posso ser sincero?
Peter não sabia se queria exatamente saber.
--- Claro, pode --- respondeu.
--- Depois daquela reunião, eu... Eu não parei de pensar em você. E quando você me encontrou na sua sala, olhando para o retrato de você e do Luigi, eu desejei estar no lugar dele.
Pareceu que o lugar onde estavam ficara silencioso.
Apesar de ser um homem comprometido, Peter gostou de ouvir aquilo. Não que desejasse que outros homens o desejassem, mas a sensação de ser desejado por outros homens era agradável. Para qualquer um, não importando o estado civil.
--- Eu nunca teria coragem de me intrometer no seu relacionamento, Peter. E quando eu liguei para sua casa para falar que eu também ia para o Navio, foi totalmente sem propósito algum. É que... Fiquei tão feliz em saber que eu ia com você.
De repente, Christopher não era mais o advogado de vinte e três anos que dirigia uma empresa de decoração. Para Peter, Christopher era só um garoto tímido, que acabara de demonstrar seus sentimentos para ele.
Peter não sabia exatamente o que responder. Não queria ser rude, mas também não queria dar falsas esperanças.
Não queria mesmo? Este pensamento passou como um raio pela mente de Peter.
Foco, Peter! Você é comprometido, e adulto!
Christopher esperava por uma resposta.
--- Aprecio seus sentimentos, Christopher, e...
--- Me chame de Chris.
--- Okay. E Chris, infelizmente não posso te dar esperanças. Como sabe, eu já tenho alguém.
O brilho nos olhos de Christopher apagaram um pouco.
--- Eu sei. Fico feliz por você. Não totalmente, mas fico feliz.
Peter apenas balançou a cabeça. Não tinha mais nada a dizer.
--- Mas posso te pedir uma coisa? Um presente?
--- Se eu puder lhe conceder... Peça.
Christopher pareceu mais animado.
--- Quando estivermos no Queen Mary 2, eu gostaria de ter uma noite com você. Não para sexo nem nada disso, pois eu sei que você é comprometido. Mas eu gostaria de passar uma noite inteira, acordado com você.
Tal pedido fez o coração de Peter doer. Lembrou-se de Luigi chegando tarde, deixando-o esperando. Lembrou-se da sensação de vazio que sentiu quando Luigi nem ao menos o abraçou quando foi dormir.
Olhou para Chris, que esperava uma resposta. Não era um pedido impossível. Uma noite de conversa, que mal há nisso?
--- Tudo bem. Quando formos para o Navio. Apenas eu e você, conversando a noite inteira.
Christopher sorriu, radiante. Não era o que ele realmente queria, mas a presença de Peter só para ele era um presente muito gratificante.
Ficaram mais alguns minutos conversando. Para ao alivio de Peter, a conversa girou sobre assuntos mais banais.
Quando deu por si, viu que já era quase 11 horas. Tinha que ir embora.
Deu carona para Christopher até sua casa. Antes de descer do carro, Christopher deu um beijo demorado no rosto de Peter.
Peter não se esquivou. Viu isso como algo normal. Apenas um beijo no rosto.
Quando olhou ara o relógio, já era 11hr25min. Voou para casa.


Luigi estava na cozinha, admirando seu excelente trabalho culinário. A comida já estava fria.
Diversas vezes ligou no celular de Peter, que só caia na caixa de mensagem.
Tinha tomado banho, colocado sua melhor roupa, e se preparado para o jantar-supresa. Acendeu as velas vermelhas e as espalhou pela sala. Seu cabelo estava penteado para trás, sem gel, apenas com água.
Olhou para o relógio. Onze e trinta.
Foi até o fogão e fechou todas as panelas que estavam sobre ele. Depois foi até o toca CD, que estava na sala, e retirou o CD que estava preparado para tocar. Não chegou a nem executar a primeira musica.
Os pensamentos de Luigi eram diversos.
Aquilo era um tipo de vingança? Não, pensou. Peter não é assim. Peter é adulto.
Aonde ele estava? Passou a tarde inteira no mercado, comprando lâmpadas?
Lembrou-se da ligação da empresa, naquela manhã.
Será?
Será que Peter desperdiçou seu dia de folga dentro do trabalho? Porque faria isso?
A resposta veio como um jato.
Eu o magoei, pensou. Nada mais justo que ele queira ficar longe de mim.
Longe de mim.
Tal pensamento apertou o coração de Luigi. A frase doía no seu intimo. Atormentava sua alma. Fazia seu coração parar de bater.
Eu não fiz nada de errado! Tive a chance de fazer, e NÃO fiz!
Quando sentiu as lagrimas começarem a se formar em seus olhos, sua linha de pensamento mudou.
Eu o amo. Eu nunca conseguiria fazer isso com ele. Não importando com quem fosse! Eu pertenço a Peter!
E Peter? Pertence-me?
Não soube responder.
Enxugou os olhos, e respirou fundo, tentando segurar as lagrimas.
Quando escutou a porta da frente abrir, seus olhos já estavam secos. Correu para a sala, ao encontro dele.
Quando ele entrou em seu campo de visão, todas as duvidas que tinha sumiram. Ele pertence a mim, pensou Luigi.
A visão de Peter o deixou meio desnorteado. Os sofás da sala haviam sido arrastados, junto com a mesa de centro. A lareira estava acesa, o fogo queimando lentamente a madeira.
Várias velas no tom de vermelho estavam espalhadas. Todas acesas.
Viu Luigi, perto da entrada da cozinha. Nos seus olhos, havia muitas perguntas.
O silencio durou apenas alguns segundos.
--- Aonde estava? --- Perguntou Luigi.
--- Na empresa --- Mentiu Peter --- Queria me distrair.
Luigi olhou para a sala cheia de velas, esperando que Peter falasse algo á respeito.
Não aconteceu. Luigi se prendeu a conversa.
--- Se distrair?
Peter viu lágrimas se formarem nos olhos vermelhos de Luigi.
O que está acontecendo aqui?!
--- Você fez isso? --- perguntou Peter.
Luigi enxugou os olhos antes de responder.
--- Era para nós. Mas esqueça.
Dois corações magoados partilhavam o mesmo ambiente.
O coração de Peter estava melhor. Depois das horas que passou com Christopher, seu coração passou a doer menos.
O coração de Luigi estava prestes a congelar. O medo que sentiu algumas horas antes o havia tomado por completo. A cada batimento, pensava que seria seu ultimo.
Estou perdendo-o. Meu amor está sendo levado para longe de mim.
Peter ainda se perguntava como havia deixado sua relação chegar naquele estado.
Luigi ali, á metros de distancia, com os olhos lacrimejados, sentindo seu coração ser mergulhado em um oceano repleto de camadas de gelo.
--- Eu não sabia, se você tivesse me avisa... Luigi!
Luigi estava subindo as escadas, com as lagrimas deixando marcas no tapete que envolvia os degraus.
--- Luigi, por favor! Me deixe explicar...
Peter subia os degraus de dois-em-dois.
Luigi era mais rápido. Quando Peter estava no ultimo degrau, Luigi já estava em frente á porta do quarto.
O barulho da porta sendo batida contra o batente era suportável.
Mas o som do mecanismo da tranca sendo girado era demais.
Quando Peter alcançou a porta, sua mão encontrou apenas madeira dura, que não se mexia.
Luigi havia trancado a porta e deixado a chave ainda na fechadura, fazendo com que não pudesse ser aberta pelo outro lado.
O lado aonde Peter se encontrava.
Tentou gritar.
--- Luigi, por favor, me deixe entrar! Luigi!... Meu amor...
Não percebeu quando seus joelhos dobraram, e sua cabeça ficou a menos de um metro do chão.
Puxando o ar para dentro dos seus pulmões, tentou organizar os pensamentos.
Sua mente era um oceano furioso. Não conseguia pensar.
Não demorou muito para que as lágrimas escorressem pelo rosto. Também não demorou para sentir seu coração doer novamente.
Esse seria o fim? O amor entre Peter e Luigi estava acabando?
E não havia tido palavras acusatórias nessa briga. Nenhum dos dois verbalizou o que estava sentindo.
Esse era o pior. Os dois sabiam o que o outro estava sentindo.
Não queria acreditar. Não queria nem pensar nisso.
Lembrou-se das velas na sala. Era melhor descer e apaga-las, antes que causassem algum acidente.
Peter desceu as escadas lentamente, segurando no corrimão de madeira-lisa.
Apagou as velas uma-a-uma. A cada sopro, pensava no homem que amava que estava trancado no quarto aonde eles dividiram seus melhores momentos juntos.
Quando apagou todas as velas, sentou-se no sofá. Praticamente atirou-se sobre ele.
Uma almofada escorregou do sofá, caindo no chão.
E revelando algo que Peter desconhecia.
Quer dizer, sabia o que era, e como era usado. Mas não sabia de onde tinha vindo aquilo.
O pacote do preservativo já estava rasgado, a outra metade não muito longe da outra metade.
E o pior. A camisinha estava fora do pacote. Usada. O liquido branco exalava um pequeno odor adocicado. E deixava uma mancha no sofá.
Peter não queria acreditar. Não poderia.
Conseguiria viver com a suspeita de traição? Sim, por amor, conseguiria.
Mas suspeita e certeza eram coisas diferentes.
Conseguiria viver com a certeza que havia sido traído? Conseguiria perdoar Luigi, depois de saber que seu corpo havia sido tomado por outro homem?
Não conseguia responder.
Foi até a cozinha e pegou um lenço de papel. A dor que invadia seu coração fazia as lágrimas quererem escorrer pelo rosto, mas Peter era mais forte.
Colocou o preservativo junto com o pacote enrolado no lenço de papel.
Fez sem pensar.
Subiu as escadas e colocou o pacotinho no aparador de vidro que havia perto da porta do quarto.
Enquanto descia as escadas, o barulho das chaves em seu bolsose fez presente.
Não pensou novamente. Saiu até a garagem, entrou no carro e ligou-o.
Saiu da casa em fração de segundos.


No quarto do segundo andar, Luigi estava abraçado ao travesseiro. Por meio dos olhos completamente molhados, via o retrato dele e de Peter que estava ao lado da cama.
Felizes. Sorrindo. Juntos.
Seu coração parecia estar se quebrando em mil pedaços.
Ouviu quando Peter batia na porta, gritando pelo seu nome. Podia ouvi-lo chorar.
E de repente o silencio.
Alguns minutos depois, o barulho de um carro se afastando.
Quando correu para a janela, viu o carro prata de Peter queimar o chão.
Correu para a porta e destrancou-a. Ia correr atrás de Peter, mas um único objeto em cima do aparador o impediu.
Em pacote de preservativo aberto, e o próprio preservativo já usado.
As perguntas borbulhavam em sua mente. Demorou alguns minutos para que as respostas aparecessem.
Ou melhor, alguns minutos para a resposta aparecer. Era apenas uma. Apenas um nome. Apenas a lembrança de, no máximo, três minutos que fizeram seu relacionamento cair tanto.
Eric Walker. Ele havia deixado aquela coisa nojenta ali.
As mãos de Luigi tremiam. E por uns instantes, Luigi achou que fosse capaz de matar.

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